Abri a porta do quarto, meu corpo estava tenso. Olhei para os cômodos externos apenas para enxergar a escuridão. Fui até a entrada. Com um susto, senti braços me
agarrando por trás. Tentei lutar, mas depois recebi um beijo carinhoso.
- Jared. - Suspirei - Você me assustou.
Abracei ele, conseguindo enxergar apenas seus olhos azuis em contraste com todo aquele preto.
- Desculpa - Pediu vendo que eu estava assustada e depois fechou a porta.
Acendi a luz, o que causou uma cegueira momentânea em nós dois. Não acreditei no que via.
- Você pintou o cabelo denovo?
Jay sorriu. Agora seus cabelos estavam pretos e meio repicados, mas arrumados cuidadosamente. Dei um monte de tapas nele.
- Ai!
- Porque você sempre faz isso quando eu estou começando a me acostumar? - Cruzei os braços, indignada. Ele ainda ria.
- Não faz essa cara. Você fica muito linda desse jeito.
- Sai fora. - Falei, fazendo pirraça enquanto Jared tentava me abraçar.
- Tá bom, você que sabe.
Deitei novamente na cama, mas como havia perdido o sono, peguei um livro que já estava quase na metade e comecei a ler. Jared apareceu uns minutos depois, com
uma toca que ele tinha desde criança, com orelhinhas de gato. Ele se deitou de bruços e apoiou o queixo na minha barriga.
- Own. - Falei apertando as bochechas dele. Tem noção de como ele fica irresistivelmente fofo?
- Miau. - Fez igualzinho a um gato e depois ficou rindo loucamente. Acompanhei-o e depois o agarrei, apertando-o.
- Hmm, pra quem estava de mal humor, até que melhorou.
- O que orelhinhas de gato não fazem? 
Fiquei mordendo Jared durante vários minutos. Simplesmente é uma coisa que não dá pra enjoar. Porém, tudo que é bom dura pouco, sendo assim, meu celular tocou,
interrompendo-nos. Atendi, aguardando a pessoa se pronunciar antes de mim.
- Mellanie? - Reconheci a voz de Kennan.
- Pois não? - Respondi formalmente
- Você e seu, hum...
Percebendo que ele procurava um atributo para Jared, ajudei.
- Eu e meu namorado.
- Sim... Você e seu namorado precisam vir a delegacia imediatamente.
- Do que se trata? - Perguntei, meu coração disparando um pouco.
- Saberá assim que chegar aqui.
O delegado desligou e eu repeti o gesto, começando a me levantar.
- Que foi? - Jared puxou-me pela mão, de volta pra cama.
- Nós precisamos ir para a delegacia. - Anunciei soltando minha mão da dele suavemente. Ele observou o movimento com atenção.
- Mas eu acabei de sair de lá. - Reclamou, sua voz era manhosa.
- Eu sei, amor. Faz um esforço, vai... - Pedi me aproximando e beijando-o levemente. Jay não movimentou os lábios, o que me surpreendeu e doeu um pouquinho,
mas não disse nada, apenas afastei-me e comecei a me despir, pegando roupas quentes no armário.
- Jared, por favor... Colabora... - Pedi, de costas enquanto fechava o zíper de uma calça jeans.
- Eu vou assim. - Respondeu, cruzando os braços.
- To falando sério. - Adverti.
- É claro que está.
Não sei porque ele resolveu ficar implicante de uma hora para outra, mas, para evitar uma briga iminente, fiquei quieta. Assim que acabei de me calçar saí, sem falar
absolutamente nada. Assim como prometido ele me seguiu, apenas de pijama. As pessoas que passavam pelo saguão do hotel nos olhavam incrédulas e, para piorar Jared
ainda sorria de volta.
Dei graças a Deus quando entramos no carro. Fiquei fitando a paisagem cinzenta. Após algum tempo percebi que ele não havia dado partida. Podia sentir seu olhar
queimando minha nuca. Virei-me para ele. Encontrei seus olhos azuis um pouco angustiados.
- Podemos ir? - Perguntei, já muito irritada, por sinal.
- Só se você me der um beijo.
Saí do carro, uma chuva fina começava a cair. Ele me seguiu e puxou-me pelo pulso, impedindo-me de continuar a andar.
- O que tem de errado com você!? - Gritei, soltando-me.
- Eu só quero um pouco de atenção! - Berrou ele de volta, uma veia já estava saltada pelo seu pescoço, indicando que também havia perdido a cabeça.
- Se você quer atenção, era só pedir! Porque precisou fazer tudo isso?
- Porque eu te amo!
- Ah, é!? Não parece tão sério vindo de alguém com pantufas de pelúcia! - Percebi o conflito em seus olhos e então, entendi o que se passava - Jared, não é hora pra ficar
com ciúmes! Seu irmão precisa de você, ele está internado e pode morrer a qualquer momento... - Uma lágrima caiu assim que pensei nessa possibilidade - Não pode exigir
nada de mim nessa hora!
Ele não respondeu, então virei as costas e saí andando, sem olhar pra trás. Peguei o primeiro táxi que vi pela frente e pedi que me levasse até a delegacia. Chegando lá,
a secretária de plantão me indicou uma sala. Entrei e fui recebida com um sorriso sarcástico vindo do delegado.
- Seu namorado não veio, é?
- Bom... Ele...
Nesse momento Jared entrou na sala. Para meu alívio, ele vestia roupas normais. Sua expressão era friamente calculada. Kennan nos indicou duas cadeiras que ficavam
atrás de uma mesa de madeira lustrosa. Ele ocupou um lugar à frente de ambos, de modo que pudesse nos olhar com atenção.
- Veio para avaliar minha beleza ou para falar sobre o caso? - Perguntou Jared, com um humor-negro evidente.
- Certamente não te chamei para que descontasse seus problemas pessoais em mim, sr.Leto. - Rebateu ele na mesma moeda.
- Querem parar, por favor? - Pedi, percebendo que aquilo podia continuar durante algum tempo, caso eu não intervisse. - O que tem para nos dizer?
- Constance deixou o país esta noite. Infelizmente, está foragida da polícia. A única informação útil que nós temos no momento é que ela está em algum lugar
da Itália.
- Como assim? Porque ela fugiria? - Jared estava completamente chocado.
- Eu é quem te pergunto! - Replicou Kennan. - Liga pra ela.
- Se ela está mesmo foragida, porque me atenderia?
- Como vou saber? Apenas ligue para descobrirmos.
- Não acho que seja uma boa ideia.
O delegado suspirou.
- Olha aqui o babaca, você não acha que já tem problemas demais com a polícia? - Jay ficou quieto e me fitou, procurando algum suporte. Deixei minha mão sobre a dele
enquanto o homem ainda continuava com sua série de "elogios" - Então pega essa merda de telefone e liga agora pra sua mãezinha. - Ironizou a última palavra e jogou
o próprio celular em cima de Jared, que conseguiu agarrá-lo de última hora, com um susto.
Um pouco hesitante, ele discou o número, apertando a mão na minha. Após um momento tenso e longo, ouvimos a voz eletrônica.
- O telefone procurado se encontra desligado ou fora de área . Deixe seu recado após o sinal, ou tente novamente dentro de alguns minutos.
- Satisfeito? - Jared retribuiu, sarcástico e jogou o celular com alguma agressividade sobre a mesa.
- Tem mais. Anna foi presa na Inglaterra. Contatamos a embaixada americana, ela já está sendo escoltada para o país de origem, onde será interrogada e julgada.
Suspirei, aliviada, e percebi Jared repetindo o movimento.
- Só isso?
- Sim.
Quando estávamos prestes a sair pela porta, ele disse:
- É melhor que vocês não estejam envolvidos nisso, pois se estiverem, eu vou descobrir e vocês irão passar o resto da vida numa prisão.
- Bom saber. - Disse Jared, para então sair e me levar com ele.
Apenas quando chegamos no portão da delegacia, foi que percebi que ainda estava de mão-dadas com ele. Com algum desconforto, afastei-me e procurei o táxi, que me
esperava em alguma vaga disponível do estacionamento.
- Mell? - Chamou Jay. Me virei em sua direção - Onde você vai?
- Eu não sei.
- Não vai embora - Implorou.
Seus olhos azuis brilhavam com intensidade e ele esticou os braços em minha direção, semelhante à uma criança pedindo colo. Sem poder resistir, fui até lá e o abraçei.
Ficamos algum tempo daquele jeito e depois ele me guiou, com um braço por cima de meus ombros, até o carro.
O trajeto inteiro foi silencioso. Assim que chegamos em casa, me joguei no sofá e fiquei fitando o teto. Soltei um suspiro cansado. Ainda não acreditava que aquilo estava
acontecendo. Jared foi em direção ao quarto, depois voltou com uma nova blusa em mãos. Ele tirou a primeira e depois parou para me olhar.
- Que que você tem? - Se aproximou, sentando na beirada do cômodo.
Observei-o naquele instante. Seu olhar era preocupado e carinhoso e em seus lábios brincou um sorriso assim que percebeu que apenas por poder ver o quanto ele cuidava
de mim, aquilo me animava, de alguma maneira. Sorri de canto e afaguei sua nuca, juntamente com os cabelos lisos. Jay deitou em cima de mim e apoiou o queixo no
colo dos meus seios. Seus lábios se mecheram, formulando a frase "eu te amo", sem nenhum som ser pronunciado. Retribuí e beijei sua testa. Ele ainda estava sem
camisa, por isso aproveitei pra afagar levemente ali. Sua pele era macia e perfeita demais para ser verdade. Ele fechou os olhos tranquilamente. Com a outra mão
acariciei seu rosto. Fui passando a ponta dos dedos por sua pálpebra e descendo até os lábios. Levantei um pouco estes, exibindo alguns dentes brancos. Baguncei seu
cabelo e comecei a fazer alguns penteados estranhos. Quando senti que Jared havia dormido abraçei-o com força e me preparei para fazer o mesmo.
Acordei com o barulho insuportável do telefone do hotel. Para minha sorte, Jared acordou e atendeu-o, acabando assim com aquele som dos infernos. O sol batia em meu
rosto, de maneira que quase me deixava cega.
- Hmmm. - Reclamei puxando-o para perto de mim. 
Jay desligou e se deixou puxar, voltando a me abraçar.
- A polícia está aí.
Nesse momento bateram na porta. Nos levantamos e Jared atendeu. Haviam três homens. Dois com uniformes policiais comuns e Kennan, com o típico terno e gravata.
Todos nos olharam da cabeça aos pés e percebi, tarde demais, que Jay estava sem camisa e com o cabelo bagunçado. E minhas roupas, bem amassadas já que ele havia
dormido em cima de mim. Corei rapidamente e escondi meu rosto atrás do ombro de Jared. Ele riu e abriu passagem para os homens.
- O que vocês querem tão cedo? - Perguntei, aborrecida.
- Nós podemos dar uma checada na casa de vocês, ou teremos de conseguir um mandato formalmente?