Entre Linhas Tortas. escrita por mokoli-me


Capítulo 3
(In-) Felicidade.


Notas iniciais do capítulo

O+ vulgo sangue O positivo.

Bloody Mary é uma lenda urbana muito conhecida, mas se você não conhece é porque aqui no Brasil ela sofreu alterações e ficou conhecida como A Loira do Banheiro.



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(in-) Felicidade.

Segunda-feira.

Felicidade, uma palavra infeliz que está me fazendo querer vomitar neste exato momento.

A única coisa que realmente existe é momento feliz, porque esse lance de que “Ai, eu sou muito feliz” só existe em estórinhas melosas que nos iludem a buscar uma coisa que não sabemos se existe mesmo. Compliquei tudo agora.

Olha só, só existem duas opções: 1ª a vida é feliz e tem momentos infelizes ou 2ª a vida é infeliz e tem momentos infelizes. Eu fico com a segunda.

Em uma hora tudo é um mar de rosas (expressão brega, eu sei) e na outra tudo é um mar de sangue.

Quando você está em um relacionamento, você está feliz, daí você se apaixona e fica felicíssima, mas o cara termina com você e você fica muito mais que infeliz, a infelicidade cobriu a felicidade. É ruim admitir, mas somos seres infelizes.

O motivo da minha revolta ultimamente já é outro, uma vez que o problema do bv eu já resolvi (beijei um gótico lindo e to me achando... cof, cof!). O problema é que eu acho que eu fiz uma besteira, uma vez que ele não atende meus telefonemas e eu não consigo tirar aquele meu 1º beijo da cabeça (tá que os outros foram bem melhores e comparação com o 1º, mas o mais marcante foi ele).

Eu bem que tentei, mas não consigo não ficar com esperanças dele me ligar só que não deu mesmo. Tanto não deu que eu me pego olhando para o papel de parede do meu celular.

Pensando bem eu quero que ele se foda, ou foda alguém, sei lá, eu só não quero ficar pensando nele porque a história da minha vida tá ficando feminina demais. Daqui a pouco eu vou pensar em um mundo cor de rosa com o fundo musical do High School Musical.

Sem comentários o mundo cor de rosa, mas ultimamente eu estou tão infantil, bobinha, enjoadinha, tudo com inha, que eu não duvido nada de que alguns dias daqui pra frente eu troque meu visual rock pra colocar um chapéu de cowboy, uma fivela ridiculamente grande e vá pra um show do Luan Santana e ficar gritando “Lindo!”, junto com outras garotas retardadas.

Bem que dizem que a adolescência é a fase de descobrir nossa personalidade, mas é também a fase de clichês e é claro, a época de extravasar (♫libere e joga tudo pro ar♪).

Uma coisa que eu li recentemente é que quando você beija pela primeira vez é como se tivesse uma plaquinha na sua testa dizendo: estou no mercado!. Se você parar pra pensar, após o primeiro beijo, sempre vem um segundo pedido e aí você não fica meses sem beijar. Tomara que aconteça isso comigo (fiquem na torcida please!).

Essa conversa está muito reflexiva, mas agora chegou as partes boas (pelo menos pra mim).

Bom, as meninas (vulgo piriguetes) lá da sala, estão se organizando para ir a uma matinê no find. Por incrível que pareça elas me convidaram, mas eu não sei se quero ir, porque toca funk e eletrônica, nada a ver comigo neh, e eu odeio dançar. Elas vão outras vezes, então eu acho que só vou da próxima mesmo.

Cara, você nem sabe o que aconteceu. Segunda, quando eu estava no intervalo eu encontrei uma garota muito louca, não igual a mim, sabe bem mais louca, tipo louca mesmo. Ela viu que eu estava com a camiseta do Aerosmith e saiu gritando em minha direção:

―Ah não! Eu quero essa camiseta pra mim, por favor. Eu amo eles! Onde você comprou? Vamos trocar de camiseta? Garota eu adorei você só por gostar de Aerosmith. Te amo, quer ser minha amiga?- What the hell! Eu não sabia o que falar, respondia a primeira pergunta ou a última? Qual foi a primeira pergunta mesmo?

―Senta aqui e vamos conversar com calma, não quero chamar toda a atenção das pessoas pra mim. Combinado? – eu não sei se você sabe, mas é horrível sentir os olhos de quase toda a escola te fuzilando por causa de uma descontrolada.

―Combinadíssimo!

―Fala devagar e não precisa gritar certo? – eu nunca imaginei que poderia passar algum tipo de calma a alguém.

―Certo. Oi, meu nome é Maria, mas esse nome é muito feio e comum, então você pode me chamar de Mary.

―Oi Mary, o meu nome é Alice.

―Alice como em Alice no país das maravilhas.

―E Mary como em Bloody Mary.

―Bloody Mary, a mulher da brincadeira em que não podemos chama-la 3 vezes no espelho se não ela aparece?

―Ela mesma.

―Gostei. Então Bloody Mary, você poderia me dar sua camiseta agora? - que mandona! Peraí, ela me chamou de Bloody Mary? Tá que eu to mais pra isso do que pra Alice, mas eu não quero ser chamada assim.

―Ei, Bloody Mary é você.

―Não é não. Quem estava com cara de que acabou de sair do caixão e está saboreando um delicioso sangue O positivo no café da manhã. Sou eu? Acho que não! – vampira, sangue O+, nossa eu só estava bebendo suco de morango!

―Fica me zoando, você não sabe com quem está mexendo -o que me deu pra falar isso?

―Aé? O que você vai fazer Bloody Mary?

―Sabe, na minha casa tem muito sangue guardado, eu não me importaria de gastar esse que eu estou bebendo no cabelo de uma... uma....

―Uma o que Bloody Mary?

Essa foi demais! Saí correndo atrás dela com o suco na mão. Ela corria e dava gargalhadas estrondosas, tipo aquelas risadas que você ouve e quer rir também. Mas ao contrário dela, eu não conseguia correr e rir ao mesmo tempo.

Do nada a chatinha Maria (não sei do que a chamo agora) parou, sentou e cobriu a cabeça com os braços.

―O que foi May?

―May?

―É. – não sei da onde tirei esse apelido.

―Cansei me dá um pouco do seu sangue, quer dizer suco.

―Só vou te dar porque O+ realmente é muito bom. – então, ela começou a rir de novo e eu fiquei literalmente boiando.

―Sabe, dizem que quando a Mary aparece, ela está coberta de sangue, por isso colocaram o Bloody no nome dela.

―Interessante... – só então percebi que ela não estava bebendo o suco.

Não deu nem tempo de reagir, ela apertou o suco na minha cara e falou:

—Agora sim você está a caráter.

Eu poderia ter a derrubado, poderia ter ficado brava de verdade porque eu estava literalmente coberta de suco, mas só dei risada. Sei lá, foi divertido.

Ela me ajudou a levantar e nós fomos ao banheiro, afinal eu precisava limpar todo aquele líquido de morango em mim.

Entrei em uma cabine, mas não para fazer necessidades. Peguei uma caneta e um pedaço de papel no bolso da minha calça (é só uma caneta quebrada no meio então cabe no bolso) escrevi “Eu quero ser sua putinha” e guardei.

Quando saímos do banheiro, coloquei um chiclete na boca e comecei a mascar.

Eu e a May conversamos para nos conhecermos melhor e apesar dela ser bem diferente de mim, tem quase os mesmos gostos.

Fomos interrompidas pelo sinal do fim do intervalo, foi aí que coloquei meu plano em prática. Ela começou a conversar com uma menina, daí eu tirei o chiclete da boca e grudei no papel com aquela frase que você conhece muito bem.

Despedi-me dela com um abraço sem jeito e o papel que estava na minha mão escondido foi parar nas costas dela.

Naquele momento decretei que nós estávamos quites.

Essa segunda foi um dia de grandes acontecimentos, o primeiro foi eu ter sido convidada pra matinê, segundo o fato que eu me diverti muito com a May no intervalo e o terceiro, bem esse eu vou contar agora.

Das três últimas aulas restantes, a pior foi a última. Chamei o professor de Física de insuportável metido a besta, ganhei uma advertência e vou ter que varrer o pátio antes de ir embora.

Não estou deprimida porque não costumo varrer em casa, mas se você visse o tamanho do pátio da escola, ficaria deprimida junto comigo.

Droga, eu sabia que estava esquecendo alguma coisa. Minha mãe disse que se eu recebesse mais alguma advertência ela não iria comprar meu ipad. Agora assim eu estou triste de verdade.

Assim que terminou a última aula, fui direto para o almoxarifado e peguei uma vassoura. Assim que eu fechei a porta, encontrei a May.

―Alice, o que aconteceu que você tá com uma vassoura e com essa cara de bunda.

―Levei uma advertência, vou ter que varrer o pátio e não vou ganhar meu ipad.

―Eu não acredito que a garota marrenta está quase chorando por causa de um ipad. De um jeito ou de outro você vai ganha-lo, sua mãe não vai deixar de te dar o grande presente de 15 anos. Você pediu de aniversário neh?

―Sim.

―Então, deixa essa cara de lado. Vai dar o braço a torcer?

―Nunca.

―É assim que se fala.

Ela simplesmente saiu sem nem dar um tchau, como pode? Acho que se nem se nós fossemos amigas de infância eu não a entenderia.

Começo a varrer contra minha vontade e posso sentir a raiva saindo pelos meus poros, mas ainda assim continuo, não quero levar uma punição maior.

Sinto batidinhas nas minhas costas e viro com a pior cara do mundo pra ver quem é, quando vejo a May sorrindo e segurando uma vassoura. Isso me comoveu a tal ponto, que eu senti uma vontade imensa de abraçá-la e foi o que eu fiz.

Dei-lhe um abraço realmente sincero, já com lágrimas nos olhos.

Naquele momento eu recebi uma amostra do que é ter uma amiga de verdade.


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Notas finais do capítulo

Me desculpe se você gosta de Luan Santana, nada contra, mas a Alice não sou eu, ela é apenas uma personagem com gostos e pensamentos fictícios.

Se assim como eu você gostou desse capítulo, deixe um review.Obg.



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