A Pedra da Noite escrita por luizaac


Capítulo 18
Explicações.


Notas iniciais do capítulo

O bloqueio criativo mandou oi. KKKKK Bom, desculpa a demora, espero que gostem.



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    Vi pela visão periférica o olhar de interrogação de Jane. Olhei para ela e olhei para o celular, indicando que tinha recebido uma mensagem. Ela me olhou como se soubesse do que se tratava a mensagem e eu apenas confirmei de leve com a cabeça. Ela arregalou os olhos. Para minha felicidade, o sinal do intervalo tocou em menos de 5 minutos. Levantei rapidamente, seguida por Jane, para procurar Leon. Mas não foi necessária tanta procura.

    - Algum problema faltar a aula ? – sussurrou ele no meu ouvido, me fazendo pular.

    - Não. Ele descobriu mesmo ? – ele assentiu, olhou pra Jane e sorriu. Jane sorriu de volta.

    - Fique sabendo que eu vou junto.

    - Eu já sabia – deu de ombros. – Vamos, pra minha casa. – fiquei levemente corada. A lembrança da casa dele... Sorri.

    Saimos andando em direção ao carro de Leon – sim, ele tinha um carro, apesar de não ter, aparentemente, idade suficiente. Carteira falsa, é claro. -, uma BMW preta linda. Eu e Jane nos entreolhamos e deixamos nossos queixos caírem para aquela beleza de carro.

    - As pessoas não babam em cima dele não ? – Leon riu do comentário de Jane. Entramos no carro, ele dirigindo, eu de carona e Jane na parte de trás.

    - Por favor, não voa que nem na moto. – ele me olhou e revirou os olhos.

    - Aham, pequena. – Leon ajeitou os retrovisores e sorriu para mim. Cruzei os braços, tentando fazê-lo mudar de idéia. E, como eu previra, sem resultado. Leon pisou fundo no acelerador, me fazendo colocar o cinto que nem uma desesperada.

    - Leon, você tá indo rápido demais, assim você vai bater ! – reclamei, quase gritando. Ele me olhou, se divertindo em me ver ali, assustada. Olhei-o de canto de olho, prestando atenção na rua a frente.

     - Até parece que você não sabe que eu sou sobrenatural. – eu encarei, não entendendo muito bem o que ele queria dizer. – Eu tenho reflexo... Bem, como dizer ? Sobrenatural. – ele sorriu para mim e deu uma piscadinha. Voltei a olhar para a rua, um pouco mais relaxada.

     - Mesmo assim, você nem tem 18 anos, Leon.

     - Verdade, eu tenho 866. – ele deu de ombros.

     - Quantos anos ? – Jane finalmente deu sinal de vida, arregalando os olhos com a exclamação. Ela estava claramente com medo, já que estava se agarrando no banco com as duas mãos, fora o cinto de segurança.

    - 866. – eu ri da cara dela.

    - Isso daí é pedofilia, isso sim. – rimos.

    - Mason também é velho. Tem 902 anos... – Leon falou bem baixo, e eu olhei pra ele, com muita vontade de rir. Jane ficou perplexa.

    - E daí ?

    - Nada, só estou comentando... – Leon encarava a rua, mas eu vi divertimento no olhar dele. Olhei para frente também, sabendo que Jane nos fuzilava com os olhos.

    - Ah tá... – ela encostou no banco de novo, olhando pela janela. – É muito longe ?

     - Não. – falamos juntos. Olhei-o e virei, sabia que estava corada.

     Lá, Leon saiu do carro apressado e foi abrir a porta para mim e para Jane.

    - E ele é um gentleman também. – Jane desceu do carro, dobrando levemente os joelhos e segurando uma saia imaginária, agradecendo Leon. – Claire, não tinha como escolher um cara mais perfeito não ?

    - Ter até tinha, mas tá bom esse aqui mesmo. – sorri para ele e lhe dei um beijo rápido. Jane sorriu para a cena.

    - Gente, que cuti-cuti. Parece casalzinho de filme adolescente, bem americano, sabe ? Dá vontade de apertar.

     - Exagerada.

    Subimos as escadas em relativo silêncio. Leon me abraçava como sempre, Jane ia na frente, rindo. Minha amiga era meio louca, com certeza.

    - Talvez... – Jane balbuciou bem baixo.

    - Talvez o que ?

    - Talvez o que o que ? – paramos na escada. Jane me encarava, com a cabeça tombada de lado.

    - Você disse talvez... e não completou. – Dei de ombros.

    - Disse nada. – ela continuou a andar como se nada tivesse acontecido. Estranho... Já era a segunda vez que acontecia isso. Acho que a morte me afetou um pouco.

    Entramos na casa de Leon que estava, definitivamente, mas arrumada que da última vez que eu estivera lá. Jane pareceu até levemente impressionada com tamanha organização. Era pequena, mas aconchegante.

    - Surpreendente para um cara sobrenatural. – ela observou ao redor e Leon deu uma piscadela para ela. Eu, enquanto isso, procurava Mason. Para minha surpresa, ele estava bem atrás de mim, sorrindo, apesar dos olhos preocupados o desmentirem.

    - Você descobriu mesmo ? – ele cerrou os olhos por um momento, depois me encarou.

    - Sentem. – fizemos o que Mason mandou, eu e Jane um pouco assustadas. Seja o que for, não era uma coisa comum. Claro, eu só ressuscitei. Se fosse alguma coisa comum, eu devia ir pra televisão urgente.

    - O que é, Mason ? Você tá me deixando curiosa.

    - Claire, é o seguinte. Eu ainda não tenho cem por cento de certeza. Vou precisar fazer uma coisa... Para descobrir. – pulei na cadeira.

    - O que ? – falei, pausadamente.

    - Uma... – ele hesitou, olhando para Leon. Leon arregalou os olhos, um pouco confuso. Mason bufou e revirou os olhos. – Uma hipnose.

    - Uma o que ?! Uma hipnose ?! – ele confirmou com a cabeça. Parei um tempo para analisar. – Isso vai realmente te fazer descobrir o que aconteceu ? – ele assentiu de leve.

    - Confirmar, na verdade.

    - Então você tem teorias ? Quais ?

    - Não vou dizer, prefiro confirmar. Pode hipnotizar ou não ? – assenti. – Então, senta na cama, num lugar bem confortável. Isso, está confortável ? – me ajeitei mais uma vez. Sim, estava confortável. – Agora, feche os olhos. Vamos brincar de relaxar. Inspire e expire, lentamente. – Mason respirava junto comigo, bem devagar. – Está relaxada ? – fiz que sim, bem devagar, para não sair do estado de tranqüilidade. – Bom. Agora, pense em um lugar, em uma coisa tranqüilizante. Imagine que você está lá, totalmente segura de tudo e de todos.

     De primeira, o que eu imaginei foi a minha casa. Eu e meu pai, juntos, rindo, nos divertindo, apenas gastando tempo. Mas esse pensamento logo se voltou para Leon. Involuntariamente, me vi nos braços dele, com carinho nos cabelos, eu quase dormindo, tranqüila, numa clareira repleta de flores. Sorri.

    - Agora... – a voz de Mason estava baixa e suave. – Você vai se lembrar. Lembrar do que aconteceu depois de Lizzie te colocou a faca no peito. Lembrar do que aconteceu e que nós não vimos. E vai narrar o que está acontecendo. Lembrar...

    Me vi numa floresta. Uma floresta com árvores altas, que quase impedia a penetração de luz embaixo das copas. Estava um pouco sombrio. Olhei ao redor. Não havia nada nem ninguém, só uma luz fraca que estava um pouco longe. Semi-cerrei os olhos. Aquela luz estava se aproximando. Fiquei observando seu movimento, certa de que isso não ia ser uma boa coisa.

    A luz já estava nas árvores mais próximas. Esperei-a aparecer. Para minha surpresa, a luz era de uma mulher. Uma mulher de cabelos compridos dourados como a própria luz, branca, mas não pálida, e linda. De seu lado, tinha uma mulher de cabelos curtos e olhos esverdeados que me lembravam alguém.

    - Claire ?

    - Sou eu. – recuei um passo.

    - Não tenha medo. – a dos cabelos dourados sorriu para mim.

    - Como ? Eu não sei onde eu estou, muito menos quem são vocês. E como sabem meu nome ? Como eu vim parar aqui ? – um trovão estrondoso assustou-me.

    - Em primeiro lugar, fica calma. Todos os seus sentimentos vão refletir no lugar.

    - Co...

    - Fique tranqüila. – tombei a cabeça de lado, prestes a dizer que ela estava maluca. Mas, mesmo assim, me tranqüilizei. No mesmo instante, a floresta sombria e o céu escuro e repleto de nuvens carregadas deu lugar à uma clareira iluminada, com mata verdinha e baixa, flores e barulho de passarinhos cantando e um sol leve e agradável. Deixei meu queixo cair lentamente. Era impressionante o poder da mente nesse lugar. Um sonho...

    - Eu estou sonhando ? Onde eu to ? Só posso estar sonhando. – a loira olhou para a morena de cabelos curtos, sorrindo.

    - Ela sempre foi assim, é ? – a morena sorriu e confirmou com a cabeça.

    - Ela tem a quem puxar, não é ?

    - Ei, vocês duas. Vocês me devem explicações, né ?

    - Ah, sim. Por onde começamos ?

    - Que tal dizerem seus nomes ? – coloquei a mão na cintura.

    - Sim, sim, sou Dhana e essa é Bridge. – Bridge, a dos cabelos curtos, sorriu para mim, acenando. – E agora ?

    - Que tal onde eu estou ? – elas se entreolharam.

    - A filha é sua, se vira aí. – Dhana jogou os cabelos dourados para trás.

    - P-peraí, filha ? Que história é essa ? Dá pra vocês me explicarem alguma coisa ? A única coisa que tá acontecendo aqui é mais confusão na minha cabeça. – Dhana revirou os olhos e respirou fundo. Bridge deu um passo a frente, me fazendo recuar. Ela deu de ombros.

    - Olha, Claire, pode parecer loucura, mas eu sou sua mãe.

    - Como é que é ? Você é minha mãe ? Minha mãe que eu não conheci porque morreu no meu parto ? Minha mãe morta ? – ela assentiu com a cabeça - Q-quer dizer que eu to morta ? – meu coração começou a pular. Bridge abriu a boca, meio hesitante ao me explicar.

    - Não, você não está morta.

    - Então, me explica como eu to vendo minha mãe morta e enterrada na minha frente ?

    - Posso explicar à ela ? – Dhana deu de ombros.

    - Pode, vou apagar a memória mesmo. – Bridge voltou seu olhar para mim.

    - Claire, você está em uma outra dimensão. A dimensão das “pendências”. – tombei minha cabeça de lado. Ela entendeu minha falta de compreensão. – Quem precisa fazer alguma coisa ainda, depois da morte, fica preso aqui. Eu estive presa por esses anos, se é isso que você quer perguntar. Para poder te encaminhar de volta.

    - O que isso significa ?

    - Você vai voltar a viver.

    - Como é ? Por que ?

    - Bem... É uma lenda antiga dos anges... E eu não sabia se era verdade, arrisquei e aqui estamos. Você tendo que pagar pelo que eu fiz, pelo o que eu sou. Eu engravidei, você nasceu e morreu, e agora vai voltar, voltar diferente. Culpa minha. – ela abaixou a cabeça em sinal de vergonha.

    - Isso não é vergonha, eu estou adorando ter que voltar.

    - Não depois de uma semana...

    - O que você quer dizer com isso, mãe ?

    - Filha, - ela sorriu ao dizer isso - Você é sobr...

    Abri meus olhos. Leon, Jane e Mason me olhavam, boquiabertos. Passei meus olhos pelos três e encarei o teto, corada. Suas expressões me deixavam, bem, constrangida. Ficaram me olhando por um momento.

    - O que foi, gente ? Por que vocês tão me olhando desse jeito ? – eles se entreolharam, depois que eu cansei de seus olhares assustados.

    - Você não se lembra do que você viu e nos disse ? – tentei puxar na memória o que tinha acontecido. Escuro.

    - Não, não me lembro de nada.

    - Nada ? Nem uma cena, uma sensação ?

    - Bem, me lembro de uma tranqüilidade, uma paz... Eu acho. É tudo meio inebriado. – parei um segundo. – Esse papo tá muito cabeça.

    - Concordo. – Jane ainda estava meio conturbada. Seja lá o que eu tinha dito, tinha abalado emocionalmente eles.

    - Mas, aí, você descobriu por que, Mason ? – ele me olhou. Entendi a resposta.

    - Descobri. – meu estômago revirou.

    - O que houve ? – queria saber o que tinha acontecido, mas estava muito nervosa. Afinal, ressuscitar não é uma coisa normal, portanto, sua explicação não era nada natural. Mason olhou para Leon, suplicando sua ajuda.

    - Claire – Leon deu um passo a frente, tomando o lugar de Mason a minha frente. Ele sorriu para mim, eu para ele e segurou meu rosto entre as mãos. – Isso pode ser difícil de ouvir... Mas você é... – ele dizia pausadamente.

    - Leon, diz logo, antes que meu coração saia pela boca aqui. – ele sorriu mais uma vez, colocando um fiapo de cabelo meu para trás da orelha.

    - Minha pequena, você é sobrenatural. – deixei meu queixo cair, em dúvida entre acreditar ou torcer para que fosse uma brincadeira.


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