Scars escrita por jesskhn


Capítulo 4
Capítulo 04 - Sensações que uma criança desconhece


Notas iniciais do capítulo

Pessoal, vou apenas terminar os capítulos da primeira fase da história! Estou entrando de FÉRIAS finalmente!Quando eu voltar, postarei o resto! Não abandonem a história povo, vai ficando cada vez melhor!

Gostam de mortes, anjos, demonios e essa coisa toda??
hein? hein?
AGUARDEM.



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Não havia cheiro ou cor. Não havia sons ou algo para tocar. Sem chão ou paredes para me segurar, ninguém para gritar.

E então...um grito.

De onde vinha? Como eu poderia saber?

“Olá?”, chamei.

Silêncio.

Estava escuro, não dava para saber quem gritava ou porque gritava.

Em sua voz a agonia, algo estranho, sensações estranhas me encheram como se fizessem parte de mim, mas como se não fizessem no momento. Como se fossem sensações das quais eu já sentira, mas não sabia. Tentei me livrar delas, mas como arrancar algo que não se materializa, que está dentro de mim, tão longe do meu alcance e tão perto para sentir sua presença.

“Tem alguém ai?”.

Abraçando meu próprio corpo, me encolhi e esperei por algo. Não sei se havia algo para esperar, talvez eu ficasse lá para sempre. Onde era o “lá” eu não sabia. Havia muitas coisas que eu parecia saber, mas não compreendia. Talvez estivesse prestes a voltar, ou talvez, eu ficaria na curiosidade até não haver mais nada.

Até tudo simplesmente desaparecer.

Tive medo do escuro, quis chorar.

Consegui.

“Não chore”, pediu a voz.

“Por que?”, questionei. Chorar talvez fosse a única coisa que me restara, eu não tinha mais nada.

“Não chore”, repetiu a voz. Era doce e suave, como se cantasse. Em meio a escuridão ela ecoava, e tão depressa, ecoou dentro de mim, como se ali estivesse. Como se fizesse parte de mim.

Ela faria?

Talvez.

“Quem é você?”, perguntei.

“Espere”, respondeu ela e, então, desapareceu.

“Onde você está?”, chamei por ela, mas já não havia ninguém. Talvez ela nunca tivesse existido. Talvez fosse minha vontade de ter alguém ali que a criou. Era provável, mas não era certeza. A certeza já não havia mais. Ela não existia, ou talvez, nunca existisse.

Quem sabe...

Luz.

Meus olhos ardiam enquanto eu observava o teto do quarto. Piscaram confusos e turvos. Meu corpo estremeceu com um brisa gelada que entrava. Levantei a cabeça e encarei uma janela aberta, as cortinas esvoaçando e um cabelo sendo agitado frente a ela. Era vermelho. Como fogo.

- Bom dia – disse Reese notando que eu a observava.

- Bom dia – disse um tempo depois.

E então silêncio. Não tínhamos muito o que dizer, estávamos no estágio de especulação. Eu era estranha. Ela era estranha. Heike era estranhamente não estranha.

- Liah! Você acordou! Bom dia, como passou a noite? O café vai sair em alguns minutos, apronte-se logo! – tantas palavras, sorrisos, gestos e movimentos não apenas em uma única pessoa, mas em poucos segundos.

- Ahn – tentei responder qualquer coisa que ela disse, mas cheguei a me sentir meio confusa – Bom dia – preferi por assim dizer.

Reese olhou apenas e sorriu. Virou-se para a janela e continuou parada como um obstáculo para a brisa que entrava. Seus olhos em algum lugar, ou em nada.

Levantei e fui para o banheiro carregando algumas peças de roupa comigo. Ajeitei-me e coloquei apenas a saia, a camisa social e a gravata somente. Sentia-me cansada, parecia não ter dormido nada. Deixei o cabelo solto e sai encontrando as duas frente à porta.

- Vamos? – perguntou Reese.

- Sim – respondi seguindo-as.

Ao chegar ao refeitório encontramos os vários internos. O número de pessoas que morava naquele orfanato continuava a me impressionar. Depois de nos servirmos, passamos por três longas mesas até encontrar um lugar para as três. Sentamos-nos e, enquanto Heike fazia discursos sobre seus mais diversos sonhos estranhos, Reese comia em silêncio e eu olhava para uma xícara que fora colocada em meu prato.

Um cheiro delicioso vivia na fina camada branca que esvoaçava à minha frente, subindo sem limites até desaparecer. Um cheiro conhecido, do qual eu não me lembrava. Talvez fosse mais um detalhe que eu estava recobrando.

“Café”, estava escrito do lado de fora da xícara branca.

Um gole do líquido negro e quente. O melhor gosto de todos. Desceu pela minha garganta queimando graciosamente, seu sabor e seu cheiro espalhando-se. Era perfeito, sem mais definições.

- O que houve Liah? – perguntou Heike.

- Nada – disse estranhando sua pergunta – Por que?

- Faz um tempo que você está de olhos fechados sorrindo depois que tomou um gole de café – disse Reese – Não é algo que se vê com freqüência.

Algo em meu rosto esquentou, senti-me pequena e ao mesmo tempo como se todos olhassem para mim. Paranóia estranha. Chamava-se vergonha.

- Desculpe – soltei sem consciência.

- Está pedindo desculpas por apreciar o sabor do café? – perguntou Reese erguendo a cabeça no mesmo instante – Isso também não é muito normal.

Fiquei em silêncio, talvez fosse melhor. Abaixei a cabeça e voltei a tomar um gole de café enquanto ouvia o comentário de Heike que sorria simpática.

- Você é engraçada Liah – disse com uma risada graciosa.

Observei meu reflexo deformado na xícara e apreciei, agora discretamente, o aroma agradável do café. Tive vontade de fechar os olhos, os senti fechando-se, mas logo os obriguei a permanecerem abertos.

Por algum motivo, levantei a cabeça de repente. Algo que chamava a atenção. Uma impressão, como se estivesse sendo observada. Reese estava concentrada em um livro enquanto tomava seu café e Heike conversava com uma garota ao seu lado que enrolava uma fatia de queijo diversas vezes no pão, mas por não estar concentrada, fazia isso repetidas vezes deixando-a se soltar ao fim.

À esquerda.

Tantas pessoas na mesma mesa, ninguém olhando.

Olhei para o café e, tão rápido, para a esquerda novamente. Algo mudara na mesa. Um olhar fora do lugar.

Era um olhar diferente.

Um olhar que veio diretamente a mim.

Aquela sensação de vergonha me tomou novamente. Quis recuar,virar o rosto, mas por algum motivo não consegui. Algo naqueles olhos me prenderam, e então um sorriso. Era brilhante e perfeito.

Porque ele está sorrindo?

Eu não sabia. O que eu poderia dizer é que ele olhou, sorriu, olhou novamente e se levantou, desaparecendo por um corredor, em meio às centenas de cabeças que se espalhavam pelo refeitório. Sem entender, continuei olhando para onde estavam aqueles olhos e aquele sorriso. Havia algo neles. Algo que me causou sensações, novas sensações. Era algo bom, mas um pouco incômodo. Como se algo saísse do lugar, ou como se algo se instalasse dentro de mim. Não estava lá, mas agora estaria. Por quanto tempo, eu não fazia idéia.

- Vamos? – perguntou Heike – Logo vai começar a aula.

Levantamos-nos e chegamos até o corredor que nos levaria ao quarto.

- Liah! – ouvi uma voz gritar meu nome.

Girei a cabeça para trás e sorri.

- Lely! – disse sorrindo parando onde estava. Ela corria em minha direção com seu gracioso sorriso.

- Encontrou novas amigas e se esqueceu de mim, é? – disse ela com as mãos na cintura parando na minha frente – Vem cá, me dê um abraço.

- É claro que não me esqueci – disse aos risos jogando-me à sua cintura para um abraço – Pensava em ir lá esta tarde.

- Acho bom – disse ela sorrindo – Brinen está com saudades de você, fica reclamando como um louco dizendo que você encontrou outro admirador.

- Ele não precisa se preocupar com isso – disse rindo – Vou vê-lo hoje de tarde.

- Está se dando bem com suas colegas de quarto? – perguntou ela olhando para as duas que esperavam pouco atrás de nós, conversando.

- Sim, elas me acolheram muito bem. A escola também é muito divertida.

- Sei bem, minha época lá foi ótima.

- Estudava aqui? – perguntei surpresa, não esperava por isso.

- Sim, cheguei aqui com a sua idade e fiquei desde então – disse contente – Uma vez que você conhece o Orfanato Vedette, nunca mais quer ir embora, na maioria das vezes pelo menos. Um colega ou outro da minha época foi embora, o resto porque procurou por outras profissões, mas a maioria se especializou em áreas para trabalhar aqui dentro, como eu, por exemplo.

- Isso é incrível, quero dizer, não fazia idéia de que você estava aqui há tanto tempo.

- Sim, estou, mas nem por isso sou velha, ok? – disse rindo – Já conheceu o diretor Frau?

- Quem?

- Pelo jeito não – disse ela rindo com graça – Quem conhece o diretor Frau nunca mais o esquece.

- Por que? Quem é ele?

- É o diretor do Vedette High School, o diretor Frauden, mas quando conhecê-lo ele certamente vai sorrir para você, dar uma piscadela e dizer que você pode chama-lo de Frau. Ele é incrível, apenas conhecendo para entender.

- Bom, vou avisá-la assim que conhecer ele – disse sorrindo – Preciso ir, a aula começa logo.

- Está bem, a gente se vê querida, comporte-se.

- Está bem, até mais – respondi sorrindo e voltando para onde estava Heike e Reese.

- Como conhece a enfermeira Lely? – perguntou Heike – Vocês pareciam amigas de infância – ela sorriu.

- Ela cuidou de mim quando cheguei – respondi enquanto caminhávamos.

- O que houve com você? – perguntou Reese.

- Não sei exatamente – disse a elas sentindo o gosto da frustração em cada palavra – Algo aconteceu e eu perdi minha memória. A ultima coisa que me lembro é de acordar na enfermaria e ver Lely e Brinen.

- Brineeeen? – gritou Heike, seus olhos pareciam brilhar. Olhei assustada para ela sem entender enquanto ela resmungava várias coisas com a voz melosa em uma velocidade impressionante. Voltei-me para Reese na tentativa de entender o que estava acontecendo. Sua expressão era de puro tédio. Ela olhou para mim e se aproximou.

- Heike caiu em um jogo uma vez e Brinen a socorreu. Ela teve uma torção e ele a carregou no colo até a enfermaria e cuidou dela. Desde então ela tem uma paixão platônica por ele.

- Entendo – respondi assim que chegamos na porta do quarto. Na verdade, não entendia.

Chegamos no horário da aula em ponto. Os portões que davam acesso ao colégio se fecharam as nossas costas. Caminhamos pelo extenso gramado observando os prédios de aula há alguns metros. Espalhados pela grama, diversos alunos esperavam o sinal bater para entrar. Alguns agrupavam-se em rodas conversando, outros jogavam bola ou corriam como loucos. Meninas escandalosas gritavam enquanto chamavam a atenção de muitos e outros fugiam da atenção o máximo possível. Nesse meio de várias idades estávamos nós, com nossos cinco ou seis anos indo para as séries iniciais e olhando os “grandões” se divertirem como loucos. Um dia chegaríamos lá.

Conversávamos tranquilamente quando, não sei como, algo me jogou ao chão. Veio tão de repente que não soube explicar o que fora ou de onde viera. Caí com força no chão vendo meus livros se espalharem pela grama úmida pelo orvalho da manhã. Uma tontura me acertou, tudo rodou. Fechei os olhos.

- Liah, você está bem? – perguntou Heike preocupada ao meu lado.

- Estou tonta – respondi com a voz estranha.

- Tente se levantar – disse Reese estendendo a mão. Apertei os olhos e, assim que minha visão voltou ao normal, segurei sua mão e me sentei – Está enxergando bem?

- Está um pouco embaçado – disse a ela enquanto ouvia a voz de Heike, não muito longe. Ela parecia discutir com alguém.

- Você é um idiota! – gritou ela para um garoto do mesmo tamanho que o nosso.

- Deixe de ser escandalosa – disse ele parecendo não se importar com a gritaria dela – Não foi de propósito.

- Jogou a bola de propósito sim! Fez isso comigo semana passada!

- Fiz em você, não nela – disse ele secamente. Reese me ajudou a levantar e caminhei até eles. Assim que Heike me viu em pé, sua expressão passou de agressiva para preocupada.

- Como você está? – perguntou ela vindo em minha direção.

- Estou bem, só um pouco de dor de cabeça – respondi e então olhei para o garoto que se virava.

Devo confessar. Eu não esperava por isso. Eu me lembraria daquele dia pelo resto da minha vida.

- Desculpe, não joguei a bola de propósito – disse o garoto do refeitório. Novamente aqueles olhos e aquele mesmo sorriso.

- Ahn – disse um tempo depois. Sentia-me um tanto extasiada ao vê-lo tão perto dessa vez – Tudo bem.

- Vamos embora Liah, deixe esse idiota para lá – disse Heike extremamente protetora. Fiquei feliz ao vê-la se preocupando assim, pude ver em seus olhos preocupados que era sincera.

Peguei o livro próximo ao meu pé e segui o caminho pelo gramado enquanto olhava o garoto parado. Ele me observou indo embora e, quando dei-lhe as costas, ele desapareceu com a bola na mão e um sorriso no rosto.

Chegamos à entrada do prédio alguns minutos depois. O sinal devia ter batido já, mas os alunos continuavam dispersos. Nos corredores não se via nenhum dos professores, apenas alunos e alguns funcionários espalhados.

- O que será que houve? – perguntou Heike.

- Talvez seja uma reunião de última hora – comentou Reese – Acho ótimo, dá tempo para fazer a tarefa da primeira aula.

- Tem razão! – gritou Heike com pavor nos olhos – Me esqueci completamente! Liah, você fez?

- Fiz – respondi sorrindo – Está aqui no meu...

“...livro?”

Oh, meu Deus.

- O que houve? – perguntou Reese notando minha expressão.

- Meu livro – disse a ela – Não está aqui.

- Deve ter ficado no gramado quando você caiu – disse Heike – Aquele idiota...

- Preciso ir buscá-lo, meu dever está lá.

- Pode correr o risco do sinal bater e não poder mais entrar – disse Reese.

- Ou levar um grande sermão por não ter feito o dever – disse a ela – vou o mais rápido que posso.

- Corra! – disse Heike, mas eu já estava longe o suficiente para duvidar se ela realmente teria dito isso.

Senti algo próximo do que poderia ser adrenalina enquanto via a grama passar como um borrão a minha volta. Todo o movimento de antes concentrava-se atrás dos portões do colégio. O que havia agora era uma vastidão solitária de verde vivo. Tentei me lembrar em que ponto do gramado eu teria caído, mas era difícil saber, quando caí não vira absolutamente nada além da grama no meu rosto de repente.

Parei no meio do gramado sem já não saber mais o que fazer. Tinha a impressão de estar há horas correndo pelo gramado sem resultado algum. Talvez eu devesse voltar e encarar o sermão, não encontraria o livro tão cedo. Talvez um esperto da minha turma tenha encontrado o livro e pego para si. Sendo assim, enquanto eu corria desesperada pelo gramado atrás do meu dever, ele estava sendo apresentado para a professora no mesmo momento.

Eu realmente estava ferrada.

Vendo que não adiantaria correr por todo o gramado, resolvi voltar. Estava prestes a me virar quando avistei, em uma última olhada ao redor, um garoto e um livro. Ele estava sentado na grama de costas para mim. Não notara que eu estava lá. Tirei proveito disso e me aproximei em silencio. Quando estava as suas costas, senti a raiva subir pela minha garganta, dar cor ao meu rosto e ser expelida em minha voz.

- O que está fazendo com meu livro? – perguntei com a voz dura.

  O garoto se virou.

Olhei no fundo de seus olhos e senti, por alguma razão, toda a raiva se esvair de mim e da minha voz. Vendo que era eu ele pareceu surpreso, levantando-se na hora com meu livro nas mãos.

- Desculpe, encontrei seu livro agora.

- Não é desculpa para lê-lo – respondi sem saber exatamente como.

- Bom – começou ele parecendo sem jeito – Desculpe por isso, fiquei curioso.

- Deveria controlar melhor sua curiosidade e parar de mexer nas coisas dos outros.

- Você é brava – comentou ele olhando-me nos olhos, o que me deixou um tanto atordoada por um momento.

- Não sou – respondi instantaneamente sentindo meu rosto corar – Mas você estava lendo meu livro, isso é feio!

Sem dizer mais nada, o garoto fechou o livro e o estendeu fechado para mim. Peguei o livro, ainda corada, e o abracei, não sei porque. Pareceu-me uma boa reação no momento.

- Você está magoada? – perguntou-me.

- Não – respondi surpresa. Algo em seu rosto mudou, pareceu aliviado até surgir o que faltava: o sorriso.

- Sou Ryuu – disse ele estendendo-me uma das mãos. A alcancei e ele sorriu – É um prazer conhece-la Liah.

- Como sabe meu nome? – perguntei surpresa e rosada.

- Ouvi você conversar com a enfermeira Lely, além de ter ouvido a chata da Heike te chamar pelo nome quando você caiu mais cedo – disse com um sorriso traiçoeiro – A propósito, desculpe por isso, não foi intencional. Você chegou a se machucar?

- Não, estou bem. Só me senti um pouco tonta na hora, caí sem ao menos ter a dignidade de saber o que me derrubou – comentei sorrindo enquanto observava Ryuu dar risadas, achando graça em meu comentário.

- Bem, eu realmente sinto muito. Estava jogando bola quando fui passá-la para um amigo. Acabei jogando alto demais e tive que vir atrás dela.

- Difícil acreditar que realmente não foi intencional – comentei com um sorriso de canto. De alguma forma, começava a me sentir mais a vontade de falar com ele. Era como se ele me desse essa liberdade.

- Por que? – seu sorriso desapareceu, ele pareceu ofendido com meu comentário.

- Ouvi você conversar com Heike quando me derrubou. Inclusive quando você confessou que jogara a bola nela de propósito semana passada.

- Ela me incomoda muito, mas temos uma boa relação, como se fossemos irmãos. Chegamos juntos no orfanato há alguns anos atrás, nos tratamos como irmãos desde então. Apenas faço o papel de irmão mais velho dela, incomodando o máximo possível – ele terminou sorrindo.

- É mais velho? – perguntei surpresa – Quantos anos tem?

- Quase dez – disse ele.

- Está mentindo – disse a ele semicerrando os olhos – Você é muito pequeno para dez anos, é do meu tamanho!

- Fase de crescimento ainda – explicou ele sem se abalar – Não é algo que me incomode, mas daqui a alguns anos provavelmente vai incomodar você.

- Porque diz isso? – perguntei incomodada.

- Vou ser maior que você.

- Espero estar viva para ver – disse sorrindo.

- É claro – disse ele com seu sorriso encantador – Acho melhor irmos, o sinal não bateu ainda, mas agora não dá pra saber quando vai bater.

- Meu Deus, tem razão! – disse lembrando-me apenas naquele momento do sinal, me esquecera completamente.

Caminhamos juntos pelo gramado, ou melhor, corremos praticamente. Quando estávamos próximos o suficiente do prédio diminuímos o ritmo.

- Quer dizer que além de ler o livro dos outros, você também escuta as conversas – disse a ele tentando provocá-lo e ao mesmo tempo tentando entender seus motivos para ser assim.

- Eu estava por perto – disse ele parecendo não se importar, mas sorrindo de canto – Mas devo confessar uma coisa. Achei muito interessante a forma como você toma café - Lembrei-me do exato momento em que o peguei observando-me quando eu “descobria” o café. Senti meu rosto corar novamente. – Sempre faz isso? Quero dizer, aquele ritual todo de cheirar o café, passar um tempão olhando pra ele e pra fumaça, ou coisa assim?

- Não – respondi apenas – Só... estava distraída.

- Entendo – disse sorrindo – Achei que iria fazer algum feitiço.

- Está me chamando de bruxa? – perguntei zangada.

- Acho que estou – disse ele semicerrando os olhos.

- Seu pirralho chato!

- Sou mais velho, me respeite! – disse ele claramente me provocando e conseguindo.

- Cresça primeiro idiota! – respondi irritada. O que acontecera com a pessoa simpática de alguns minutos atrás?

Quando ele chegou ao corredor o sinal tocou. Enquanto todos se distraíam com suas conversas e entravam para as salas, ele voltou-se para mim.

- A propósito – começou – Eu te derrubei de propósito.

- Idiota, porque fez isso?

- Para ter a oportunidade de dizer pessoalmente a você que está condenada a me aturar pela eternidade – disse ele olhando nos meus olhos, a indiferença clara em seu rosto. E então, ele desapareceu no corredor sem ao menos esperar uma resposta ou uma reação.

Eu não sabia porque ele fizera aquilo ou por que me tratava assim, mas certamente eu sabia de duas coisas.

O QUE LIAH SABIA

1º Ela não falaria mais com ele por ele ser muito grosso.

2º Ele devia ter sérios problemas de dupla personalidade ou algo mais grave.


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Notas finais do capítulo

PRÓXIMO CAPÍTULO!
"Capítulo 05 - Aquilo em que se decide acreditar"


"Não fora apenas um acidente. Ela não fora encontrada e levada para a enfermaria. Não era necessário. Ela estava morta." (...)


"- Irmã Elain – disse levantando-me e indo em sua direção. Ela virou para me encarar. Seus olhos queriam dizer algo – O que aconteceu? Por que isso a perturba?"(...)


"- Não havia freiras ontem à noite fazendo a ronda."(...)


"Como era possível? E porque bateram apenas no nosso quarto? Seria porque apenas nós, aquela hora da noite, ainda estávamos acordadas? E de qualquer forma, quem teria sido e como saberia das exatas duas batidas?" (...)



"- Reese, vocês estão escondendo algo de mim?"(...)


MUAHAHAHA aguardem.