Amor na Escuridão escrita por Marcela


Capítulo 6
Capítulo 6




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     O ginásio estava quase cheio. As duas escolas se concentravam cada uma em um lado da arquibancada. As jovens se aprontavam no vestiário feminino enquanto a capitã do time falava sobre as estratégias que seriam usadas naquele dia decisivo.

     Mariana olhou para Alice, que lhe deu uma piscadela. Após a noite anterior, a única pessoa que foi capaz de acalmar a morena fora sua melhor amiga. Difícil fora conseguir convencer a moça a se concentrar no jogo e tirar da cabeça outros devaneios.

     Os dois times se posicionaram em fila antes de entrarem na quadra. Todos os corações pulsavam freneticamente; estavam ansiosas, pois aquele era o último jogo do campeonato. O jogo que decidiria o vencedor da competição.

     O barulho que os alunos faziam era estrondoso e podia ser ouvido muito bem até fora do ginásio mesmo com a chuva que caía. Ocupando suas posições, as jogadoras começaram a lutar por um título. O de vencedoras.

     Na arquibancada, Bernardo procurava por uma posição em que pudesse assistir ao jogo com clareza, mas quase todos os lugares já estavam ocupados. O moreno desceu um pouco até a terceira fileira, percebendo que no meio da segunda haviam cinco lugares vagos.

     — Bernardo? — a voz de Amanda surpreendeu o rapaz.

     — Ah, oi. — ele esboçou um sorriso gentil.

     — Procurando um lugar para sentar? — ela teve que aumentar o tom de sua voz para Bernardo poder ouvir.

     — É, acho que sim. Cheguei um pouco tarde.

     — Pode se sentar ali ao meu lado. — ela apontou para os lugares vazios. Porém, percebeu que ele estava desconfiado, assim completou: — Eu sou a líder do conselho da nossa escola. Aqueles lugares estão reservados para o conselho todo, mas, depois da noite de ontem, não sei se eles virão. — suas palavras fizeram os dois rirem.

     A gritaria das pessoas fez sua cabeça vibrar e doer. Assentindo para Amanda, acomodou-se no banco. O lugar era realmente bom, se ele procurasse por outro, não encontraria melhor. A visão que tinha do jogo era espetacular.

     Em campo, Lívia, do time adversário, estava com a posse da bola. Porém, ao tentar passar por Alice, acabou perdendo-a para a moça. Mariana vibrou ao ver a amiga focada. Pensou que ela não conseguiria após o acontecimento da noite anterior. A marcação veio para cima da morena e sua amiga sentiu necessidade em ajudá-la, chamando sua atenção.

     Ao virar, os olhos de Alice se encontraram com os de Bernardo na arquibancada. Seu corpo estremeceu com o encontro e, por um curto instante, a bola estava desprotegida. Lívia sabia que não podia deixar seu erro se tornar um ponto adversário, assim aproveitou a situação e empurrou Alice, pegando a bola de suas mãos e marcando um ponto para o seu time.

     Mariana gritou inconformada com o descuido da amiga, mas decidiu que não iria brigar. A dona dos cabelos longos sentiu-se culpada por ter permitido que o outro time as alcançasse no placar. Voltou a sua posição para tentar recuperar o jogo.

     A ruiva parecia tão irritada, que até mesmo as suas companheiras tinham medo de se aproximarem para ajudar, mas não foi algo ruim, pois com sua raiva o time ganhou vários pontos.

     Perdendo de três pontos, Alice percebeu que a partida estava chegando ao fim. Os alunos estavam tensos. O jogo estava difícil para ambos os lados. No meio de campo, com a posse da bola, Mariana foi bloqueada por uma das meninas do time adversário. Fez a jogada para a capitã, que passou para Alice. Sem escolha, a moça arremessou para a cesta como fizera no dia anterior na quadra do colégio. A bola acertou a tabela e rodou pela borda da cesta.

     Então ela entrou, marcando ponto para seu time. Porém, o placar estava empatado ao final do jogo. Foram necessários mais cinco minutos para que Mariana viesse correndo e abraçasse Alice por mais aquela vitória.

     Enquanto as vencedoras recebiam as medalhas, Bernardo se virou para falar com Amanda novamente. A loira estava massageando as têmporas, o que fez o rapaz rir.

     — Ressaca? — ele perguntou divertido.

     — Ai, não fale comigo. Minha cabeça está preste a explodir. — a moça riu baixinho.

     — Preciso de um favor seu. — sua expressão ficou tempestuosa repentinamente.

     — Qualquer coisa que não envolva álcool.

     — Ele já me trouxe muitos problemas. — disse para si mesmo — Preciso que me leve até o vestiário feminino.

     Amanda virou o rosto para encará-lo e franziu as sobrancelhas soltando uma risada histérica logo em seguida. Bernardo a fitou enquanto ela ria. Ofegante, a loira respondeu com uma pergunta. — Uau, não imaginava que você era tão pervertido assim. Um beijo já fez sua cabeça?

     — O quê? Não! Você entendeu tudo errado! — o moreno tentou se esquivar da pergunta dela.

     — Não tente me enganar. Sou mulher e nós mulheres sabemos que os homens são todos iguais. — ela disse mostrando a língua pra ele.

     — Isso é papo de quem está desesperada à procura de um homem. — ele revidou.

     — Homem bom, você quer dizer.

     — Você acabou de dizer que nós todos somos iguais.

     — Pois existem as exceções. — ela sorriu.

     — Sim, e eu sou uma exceção. — Bernardo devolveu o sorriso. — Agora, me leve até lá.

     — Pedindo assim, não tem como ignorar. — Amanda fingiu um outro sorriso.

     Os dois caminharam até a entrada para a quadra e pararam no corredor para o vestiário. A loira indicou o caminho e apontou a porta correta. Despediu-se do colega com um tapa leve no ombro e com um “vai lá, Don Juan!”, que Bernardo achou melhor fingir que não tinha escutado.

     A premiação já havia acabado e as meninas estavam se trocando no vestiário. Lá de dentro, Bernardo podia ouvir a risada delas se misturar com o barulho da chuva que caía do lado de fora. Decidiu esperar para que todas saíssem e, quando visse Alice a puxaria para um canto e pediria perdão pela noite anterior. Talvez ela não aceitasse, mas pelo menos havia tentado.

     Teve que aguardar durante quase dez minutos até que a porta se abrisse. Correu se esconder no vão de outra porta para que não o vissem. Observou cada uma das meninas, mas não viu Alice nem Mariana no meio delas. Quando a porta se fechou novamente e as jovens se afastaram, Bernardo tentou descobrir se as duas ainda estavam lá dentro.

     — Vamos, Alice. Vai ser divertido. — reconheceu a voz de Mariana.

     Não conseguiu ouvir nenhuma resposta da morena. Colou o ouvido na porta e se concentrou.

     — Todas vão comemorar nossa vitória. Você devia ir também. Garanto que vai se divertir. — a ruiva insistia.

     — Igual ontem à noite? Você me garantiu que ia ser legal. — as palavras frias da garota fizeram Bernardo sentir raiva de si mesmo.

     — Eu não iria imaginar que aquilo ia acontecer. — o rapaz imaginou Mariana suspirando — Tudo bem. Eu estou indo. Se mudar de idéia me ligue.

     — Não será necessário.

     Então Bernardo correu novamente para se esconder e, após Mariana se retirar, ele entrou no vestiário. Abriu a porta com cuidado para não fazer barulho.

      Ao entrar, se deparou com Alice meio curvada, com o rosto enterrado nas palmas de suas mãos e sentiu seu coração vacilar. Não aceitava o fato dela estar chorando, não por causa do motivo, mas por ele não merecer uma daquelas lágrimas se quer. A moça havia confiado nele quando ninguém mais o fez. E ele jogara tudo fora.

     Não se deu conta de que entrava em um local para meninas. Talvez não se importasse com esse fato tão bobo, pelo menos no momento. Um passo errado fora o suficiente para que a morena notasse sua presença no local.

     Seus olhos negros se encontraram rapidamente com os dela. Alice possuía uma expressão assustada; as pálpebras estavam arregaladas e sua boca aberta, libertando o ar que saia ofegante de seu corpo. A face estava manchada pelas lágrimas.

     — O que você está fazendo aqui? — ela perguntou, a voz nervosa, mas em baixo tom.

      — Quero... Conversar. — Bernardo respondeu pausadamente.

     — Não temos nada pra conversar.

     A dona dos olhos verdes começou a se levantar, porém seu ato possuía uma certa hesitação que o colega percebeu rapidamente.

     — Está com medo... De mim? — deu alguns passos em direção a morena. Sua respiração começava a acelerar também.

     — Estou com nojo de você.

     Aquelas palavras saltaram tão repentinamente como se a pessoa que as pronunciara não tivesse controle do que falava. Atingiram Bernardo de surpresa, que deu mais alguns passos. Alice reagiu jogando seu tênis em sua direção. Não queria que ele chegasse perto, mas ele não ligou; ignorou-a por completo.

     — Não ouse se aproximar. — Alice falou com as mãos estendidas na frente.

     O dono dos olhos pretos não respondeu, porém continuou se aproximando até deixar a jovem sem saída. Ela encostou-se no armário, sem opções de fuga. Então eles estavam frente a frente. As respirações quase se misturando.

     — Vá embora. — ela sussurrou abaixando a cabeça.

     — Não antes de você ouvir o que eu tenho a dizer. — suas mãos se apoiaram no armário deixando Alice presa.

     — Nenhuma palavra que saia da sua boca vai mudar o que aconteceu ontem à noite. — a morena cuspiu as palavras tentando não olhar para cima e encarar os olhos obscuros do rapaz.

     Bernardo dobrou um pouco as pernas para poder ficar na altura da moça e sua boca ficou na direção da boca dela. Ambos corações estavam pulsando freneticamente, lutando para não se entregarem. Porém, eles não sabiam que já tinham mordido aquela isca.

     — Sinto muito pelo que te fiz ontem na festa. As coisas não estão muito claras e...

     — Ah! As coisas não estão muito claras, é? — Alice explodiu quando a imagem de Bernardo caindo em cima dela vieram à tona em sua mente. O cheiro de álcool da boca dele ainda estava impregnado em suas narinas e em seus lábios. — Quem sabe não é porque você desmaiou em cima de mim?!

     O moreno sentiu um nó em seu peito quando percebeu que a jovem lutava para não chorar. Notou sua boca tremer e os olhos fartos de lágrimas de um choro que ela engoliu.

     — Por que teve que vir atrás de mim? — a dona dos olhos verdes começou a falar compulsivamente novamente. — Por que não está lá com seus amigos agora? Se é que posso chamá-los de amigos, não é?

     — Pare de gritar. — Bernardo pediu com calma enquanto ela continuava a jogar palavras em sua cara. Suas mãos ainda a prendiam entre ele e o armário.

     — Parar de gritar? — Alice soltou uma risada nervosa. — Por quê? Quero que me escutem!

     — Quer que me peguem aqui?

     — A última coisa que eu quero é ficar aqui com vo...

     Antes que pudesse completar a frase, Bernardo a beijou. Selou ambos os lábios com o intuito de calá-la como fizera na biblioteca quando ela gritara assustada com a noite do lado de fora. Suas mãos escorregaram para seus braços delgados, apertando-a com força. Alice gemeu e tentou se esquivar, mas não conseguiu. Era como se o moreno estivesse mais forte, como se tivesse alguma coisa deixando-o mais forte.

     Tentou e conseguiu resistir à fúria daqueles lábios lascivos. Em um ato repentino, seu joelho foi parar nos países baixos do moreno, que a soltou gemendo de dor.

     — Por que fez isso?! — perguntou entre gemidos.

     — Porque você simplesmente não tem o direito de me beijar. — ela respondeu limpando a boca com as mãos.

     Com impaciência e raiva, Bernardo tentou se colocar em pé novamente e avançou em direção a jovem, abriu o armário e a colocou dentro. Alice começou a gritar pedindo para sair enquanto ele segurava a porta com as mãos.

     — Não pode me prender aqui para sempre! — a morena berrou.

     — E você não pode gritar para sempre. — respondeu mais calmo — Poupe sua voz.

     Bernardo esperou alguns minutos para que ela se acalmasse, até que o silêncio dominou o local. Respirando fundo e se preparando para ser xingado ou até levar alguns tapas e socos, ele abriu a porta.

     Porém, nada do que esperava veio à tona. O dono dos olhos negros encontrou a colega preste a desabar em choro. Calmamente, ele pegou suas mãos e a puxou para fora do vestiário. Os passos de Alice eram lentos, mas quando ela viu que ainda havia gente no ginásio, decidiu correr, acompanhando os passos do moreno.

     Bernardo se esquivou das pessoas do local dando de cara com a chuva gelada que caía lá fora. Sem medo de se molhar, ele guiou a jovem até o campo de futebol mais próximo. Naquele lugar havia muitas quadras e campos de jogos. O conjunto de piscinas não ficava muito longe donde eles estavam.

     Com os pés na grama, Alice perguntou: — Por que me trouxe até aqui?

     — Pra você poder gritar à vontade. — ele respondeu com um sorriso nervoso.

     — Agora não quero mais. — cabisbaixa, ela fitou os pés descalços.

     O jovem não havia percebido que ela estava sem os tênis, sendo que um deles voara em sua direção minutos atrás. Não notara também o quanto a morena ficava sexy com aquele shorts colado em suas coxas e aquela blusa regata branca, que agora grudava em sua pele por causa da água. Bernardo sorriu com a visão.

     — Ta olhando o que? — a moça perguntou sentindo o olhar pesado do colega em cima dela.

     — Nada. — o moreno respondeu ainda sorrindo.

     — Quero ir embora. — confessou.

     — Quero que fique comigo.

     As palavras de Bernardo machucaram seu coração. Ela estava apaixonada por um cara que nem conhecia direito e um dia chegou a confiar cegamente. Sabia que estava se metendo em coisas que não devia. O ódio das lembranças da noite anterior queimou seu peito novamente.

     — Você perdeu todos os seus pontos comigo! — gritou.

     — Mas eu posso recuperar! — Bernardo pareceu entrar em desespero novamente.

     — Não! Não pode! Eu confiei em você e você estragou tudo! Como pôde ser persuadido daquele jeito? — Alice avançou, colocando-se cara a cara com ele.

     — Eu...

     — Eles não são seus amigos, Bernardo! Antes mesmo eles te maltratavam como se você fosse um nada!

     A chuva já ensopava os dois. Os cabelos longos e castanhos de Alice grudavam em sua face e cada gota gélida e fria dificultava abrir os olhos.

     — Não posso continuar de cabeça baixa para sempre! — ele respondeu gritando.

     — Mas não pode fazer o que fez! Não é assim que se consegue amigos, não deixando eles mandarem em você!

     — Você não estava lá pra ficar comigo!

     — Não?! Eu cheguei foi em má hora! E Você estragou tudo! — lágrimas começaram a rolar dos olhos verdes da moça.

     — Eles me desafiaram a te beijar. — confessou de cabeça baixa.

     — Então é isso que eu sou pra você, Bernardo? Um desafio? — perguntou entre soluços.

     — Não! Claro que não! — respondeu desesperadamente.

     Suas mãos avançaram para as mãos dela. Alice ignorou o ato e se afastou.

     — Não chegue perto de mim.

     — Eu preciso de você, Alice! Perto de você eu me sinto tranqüilo, como se todos os problemas desaparecessem! — aumentou ainda mais o tom de sua voz.

     — Por que continua insistindo em mim?

     — Porque eu te amo! — suas mãos envolviam o rosto da jovem perfeitamente, como se fossem feitos um para o outro. — Merda, eu te amo!

     Nem a chuva foi mais capaz de interromper qualquer ato. As bocas se encontraram frenética e ansiosamente. Foi como um choque, mas não repeliu nenhum dos dois. Pelo contrário, os uniu.


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Notas finais do capítulo

Para a felicidade de muitos, eu me empolguei ao escrever o capítulo, que ele acabou ficando grande demais para eu colocar tuuuuudo o que precisava e terminar a fanfic.
Então, com certeza absoluta, eu garanto que a história se concluirá no próximo capítulo. :)

Espero, de coração, que tenham gostado dessas cenas hahaha!
Comentem, ok? Só assim poderei saber o que estão achando.
Beijinhos!