Deitado na cama hospitalar, nunca quarto branco. O tempo passava devagar. Henrik sabia, estava acordado, mas não queria estar. Não queria ouvir as explicações do norueguês. Não queria ouvir o dinamarquês choramingar pedindo desculpas. Não queria. E ficou três dias assim, acordando de olhos fechados e dormindo. Num quarto branco, não se tem noção de tempo. Num quarto preto, o tempo passa mais rápido. E num quarto branco, você pode ficar louco.

You say you really know me. You're not afraid to show me, what is in your eyes

Em uma hora do terceiro dia – Os médicos consideravam que Henrik estava ‘em coma’ – ouviu outras vozes. E sabia quem eram. Tino, Berwarld e Peter. A pequena família não fora avisada do acidente com o albino. E todos os nórdicos – e Sealand – estavam reunidos no quarto. Acompanhando silenciosamente cada movimento, cada barulho que os aparelhos grudados ao corpo do islandês, faziam. O aparelho que o auxiliara a respirar, o que media as batidas do coração, tudo.

So tell me about the rumors; Are they only rumors? Are they only lies?

Um sussurro. Sabia de quem era; Denmark. Um grito; Norway. Não abriu os olhos, permaneceu do mesmo jeito, imóvel. O norueguês chamou o dinamarquês de todos os insultos presentes em sua língua, todos. E Henrik entendia tudo. “Pervertido! Sem coração! É tudo culpa sua, maldito!”. Mas não era culpa de Denmark, por que Norway havia correspondido ao gesto. Os dois começaram a discutir e a gritar. O finlandês, sueco e sealandês tentavam acalmá-los, não funcionava. Eles gritavam cada um em sua respectiva língua.

Falling out of a perfect dream. Coming out of the blue.

Iceland não agüentou mais; levantou o máximo que podia, inutilmente por que mal era perceptível. Estufou o peito e disse com todas as forças, o que ficou quase impossível de se ouvir, seu corpo ainda estava fraco;

- Kennt á tveggja, traitors þess! – Seu grito saiu com um risco de voz.

Is it true? Is it over? Did I throw it away?

O silêncio foi quase mortal. Um silêncio desgraçado como se alguém estivesse a beira da morte. Aleksander se retirou da sala branca, enquanto Hugin contornava a cama, ajoelhando-se no chão para fitar o albino. O mesmo com os olhos cansados, afetados pela luz repentina. Ninguém gostaria de ser chamado de traidor na frente da própria “família”. O norueguês aproximou os dedos finos até os cabelos brancos de Henrik, acariciando-os de leve. E então, recebeu a seguinte resposta do islandês;

- O que Hong Kong disse era verdade. Você não me ama, você só ama o Denmark. Eu só sou o seu irmãozinho idiota! – Apertou os olhos com todas as forças, desviando o rosto.

Did you tell me you would never leave me this way?

Hugin arregalou os olhos. Não era verdade, mas até ele mesmo considerava isso. Sempre insistiu para Iceland chamá-lo de ‘Onii-chan’. Deveria ter pedido para chamá-lo de ‘Meu amor’. Era tarde demais; retirou-se do local, esperando que o dinamarquês não estivesse lá. Abriu a porta lentamente, desviando a cabeça para dar uma ultima olhada para o albino. O mesmo tossiu violentamente, deixando que o líquido avermelhado manchasse o travesseiro.

If you really knew me. You couldn’t do this to me. You would be my friend

O finlandês se apressou para socorrê-lo, enquanto o sueco chamava uma enfermeira próxima ao corredor juntamente levava Peter; Preferia que o menor não visse aquilo. Hugin foi se aproximar do irmão, e foi afastado por Tino. O mesmo disse que era melhor sair de lá, pelo próprio bem de Henrik. Correu, e muito. O norueguês nunca fugia, mas aquilo era um caso à parte. Correu por que não podia mais fazer nada. Não podia salvar Henrik!

If one of us is lying. There's no use in trying. No need to pretend.

Mal Hugin poderia salvar à si mesmo. Ele não sabia mais o que era amor e o que era amizado, tudo agora estava confuso. Então, o norueguês se ausentou por algum tempo.

Falling out of a perfect dream. Coming out of the blue, is it true?