Diário de Um Nelliw escrita por Uriu


Capítulo 15
Absoluto! Adeus Irmão...




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-Seyren, onde foi que eu errei? Ou será que você errou e eu é que senti o peso da sua culpa?

Uma breve pergunta que me veio à cabeça hoje à tarde. Estou cansado, meio fraco, mas como o prometido, contarei o final das minhas façanhas e peripécias, pois a história precisa ser contada, e tocada para frente.

Seyren ria diante minha mudança repentina de pensamentos. Agora, ele seria tratado por mim como seu rival, não como amigo ou meu comandante. Seyren estava na minha frente, com uma mão na cintura e a outra segurando sua espada enorme de duas mãos, enquanto o restante do grupo que morreu com ele nos observava como se estivesse em um camarote. As várias almas daqueles que morreram nas mãos de meu grupo, agora se reuniam em volta de nós, preenchendo todo o terceiro piso, e tomando a forma de seus assassinos, como se eles copiassem todo o ódio das almas penadas. Atrás de mim, Julianne estava seriamente ferida, e sob as mãos poderosas de Shen, estava sendo curada pouco a pouco. Eu era quem estava em situação mais crítica, agora que o calor da batalha chegava ao meu corpo, tão quente quanto uma erupção vulcânica.

-Seyren, eu vou arrastar essa sua cara no chão, e vou fazer você engolir essa sua espada. – Eu estava ficando um tanto agitado com a rivalidade que subia à minha cabeça. O Lorde não se conteve.

-O que? Você? – Ele apontou a ponta da espada para mim. – Você não passa de lixo, insolente.

Em questão de segundos, Seyren estava apenas a alguns centímetros de mim, e com a espada levantada, pronta para me fatiar. Rapidamente joguei meu escudo para frente, firmei-me no chão e forcei o máximo que pude para bloquear o impacto, mas surpreendentemente, aquele golpe de espada fez com que eu caísse de joelhos, por mais que eu o tenha bloqueado com o escudo. Seyren urrou, debochando de minha inútil defesa, enquanto desferia golpes rápidos e violentos com sua espada. Cada golpe me fazia erguer mais o escudo, pois ele mirava em minha cabeça, até que chegou a tal ponto onde eu estava recebendo os golpes vindos do alto com o escuto em cima de minha cabeça. Nessa hora, o Lorde me chutou no estomago, com uma força descomunal.

-Eu sou um fantasma!Eu estou morto! Eu sou feito de ódio! – Ele dizia com prazer imenso. -Esse é o fim, Uriu!

Com meu escudo, eu joguei meus braços com toda a força que consegui reunir e jogar para frente de meu corpo novamente, por que Seyren agora atacaria com uma estocada. Eu não acreditei em tamanha força que ele tinha. A única estocada que ele deu para me matar, teve força para atravessar meu grosso escudo, meu braço esquerdo, e perfurar meu flanco. Senti a lâmina fria rasgar a pele e afundar na minha carne quente, enquanto perdia uma grande quantidade de sangue. Olhei desacreditado para o fantasmagórico Seyren, que exibia um sorriso assustador. Ele puxou a espada com a mesma força, me fazendo cair para frente, e sem poder ver, só ouvi a lâmina ia descendo veloz e foi bloqueada por algo. Com a morte a poucos centímetros a minha frente, eu consegui me concentrar para ver o que tinha bloqueado a espada. Era um pilar de pedra grosso e conjurado para impedir minha morte. Shen, presumi, usou a sua verdade. Ouvi passos virem de trás de mim correndo e depois o tilintar de uma espada atingindo o chão. Usei toda a minha força para ficar de joelhos e levantar o meu busto, enquanto meu braço esquerdo e o ferimento causado por Seyren iam se fechando pouco a pouco. Usar a magia da Cura requer tempo e muita energia. Certamente, eu não teria muita energia de sobra.

Shen estava lutando contra seu irmão, e eu pensei que ele tentaria apenas me proteger, mas estava lutando com suas forças. Ergueu verdadeiras muralhas de pedra, convocou os poderes elementais, desferiu golpes de punho fechado e manejou suas mãos como espadas e lanças. Porém, Seyren sempre tinha um passo à frente, e conseguia escapar dos golpes de seu irmão. Eu estava quase terminando de me recuperar quando eu vi algo desesperador. Shen errou seu golpe mais forte, o Punho Supremo de Asura, e acabou caindo no chão, em frente ao seu irmão, que ria freneticamente. Descontrolado, o Lorde mirou a lâmina de sua espada e girou o braço com violência, porém, eu já estava curado.

-Shen! – Gritei, surpreendendo os irmãos, que pararam para me olhar. Shen entendeu rapidamente e ergueu mais um pilar a sua frente, mas não para se proteger de Seyren, e sim de mim. Seyren, que me encarava, olhou para o irmão que conjurava o pilar de pedra, e quando voltou para me ver, eu estava bem próximo dele, com a Crux Magnum ativada. A luz da magia atingiu em cheio o Lorde, que caiu de joelhos no chão, quando a luz cessou.

-Então, finalmente ficou no chão.

-Seu maldito...-Eu não o deixei se levantar. A segunda Crux Magnum também o deixou gravemente ferido. – Como você consegue lutar tão ferido?

-Eu fechei as minhas feridas, carnais ou não. – A luz cessou de repente, e ao menor movimento dele, eu ativei uma terceira vez a cruz luminosa. – Você mesmo disse que tinha morrido, se tornado um fantasma, e era movido pelo ódio. – A cruz acabou novamente, e quando vi Seyren caído tentando se reerguer, mais uma vez usei a Crux Magnum. – Então, você se tornou o ser mais fraco diante minha magia.

Seyren levantou-se com dificuldade e caiu novamente, agora esparramado na coluna de pedra. Mais uma onda de luz corroeu seu corpo, e o fazia gritar. Cada vez que eu usava a Crux Magnum, mais energia eu perdia, mas no momento, eu não sentia diferença, pois era meu esforço final. Quando achei que ele tinha sucumbido diante a luz, ele ressurgiu, levantando-se rapidamente e correndo em minha direção com a espada apontada em minha garganta, enquanto eu reunia forças para usar a Magnum máxima. Ele cravou a espada em meu abdômen, e a ponta chegou a trespassar meu corpo, mas eu o segurava pela garganta com minha mão direita, e agora não tinha mais defesas. A Crux Magnum em força máxima brilhou no seu corpo, e o fervilhou com sua luz potente, conseguindo até desintegrar a espada fantasmagórica que ele usava. Talvez, foi o poder sagrado que livrou aquela espada e também trouxe de volta a consciência dele e dos demais mortos, pois eu o havia derrotado, e percebi, ele facilitou pra mim, pois ainda havia humanidade em seu resquício de vida.

Quando me dei conta, Seyren estava parado de pé, ereto na minha frente, e tanto ele quanto o restante de meu grupo estava próximo, sorrindo para mim. Eu olhei nos olhos de cada um, e mesmo com os fantasmas dos mortos ao redor, nenhum deles foi agressivo, todos olhavam para aquela comunhão final. Meus olhos lacrimejaram.

-Seyren, Kathryne, Eremes, Howard, Cecil, Margaretha. Perdoem-me. Eu falhei com vocês. – Eu estava tão machucado em minha alma, que quis carregar o peso do mundo em minhas costas. Estava desabando em tristeza. – Eu quis acreditar que poderia ser útil. Sempre achei que fosse forte, mas eu estava enganado. Perdoem-me.

Eu estava abaixando os olhos lacrimosos, quando ouvi aquela voz firme e altiva, que cativava e trazia à tona a confiança de qualquer pessoa.

-Uriu, meu caro amigo. Você não é culpado pelos nossos erros. – Seyren dizia calmamente, como sempre fazia comigo. – Você é o melhor dos meus guerreiros, e agora deve seguir em frente.

Eu estava cada vez mais perto da morte, mais perto do medo, mas aquele sorriso meu deu ânimo. Olhei para os demais, e cada um concordou comigo.

-Seja sempre o mais forte. Carregue nossa força com você. – Howard disse em seu sotaque forte, enquanto ia desaparecendo aos poucos. Quando ele sumiu, grande parte das almas que nos rodeavam sumiu junto.

-Você tem um dom incrível. É alegre, espontâneo, digno de alguém que caça a própria liberdade. – Cecil, a sempre gentil Atiradora me olhava tranqüila, tentando me reconfortar, enquanto também desaparecia, levando com ela parte das almas dalí.

-Meu gato, você é um homem de fogo intenso. Sua esposa realmente tem sorte em tê-lo. Foi o único que eu realmente gostaria de ter tido como marido. – A teimosa e atraente Kathryne desaparecia, e mesmo assim, parecia que o perfume dela pairava ainda no ar, rodeando-me.

-Não se esqueça de dizer para minha filha o quanto a amo. Eu não pude dizer um adeus decente a ela. Confio a segurança de minha querida esposa e de minha filha a você, Uriu. – Com as palavras de Eremes, eu comecei a me sentir ruim. Ele confiou a mim seu maior amor. Na verdade, cada um deles estava confiando a mim seus maiores bens.

Margaretha se aproximou de Seyren, e ela ia desaparecendo aos poucos, enquanto o Lorde vinha até mim calmamente.

-Uriu, eu tenho um presente para te dar, antes de partir para sempre como humano. – Ele veio andando até perto de mim, e levantou seu punho esquerdo. Achei que me daria algo, mas ele me deu um fraco soco no rosto, enquanto ia caindo. Eu o segurei, mas não o senti, apenas sua mão que continuava fechada em meu rosto. Só pude ouvi-lo, pasmo. – Eu sei que você perdeu seu filho. Lamento, mas se pode cuidar do fruto de meu amor, saiba que eu e Margaretha tivemos um filho, saudável e forte, que decidimos esconder nos aposentos de Tristan antes de nossa partida. – Eu comecei a suspirar forte. Ele estava realmente confiando seu resquício de vida a mim. – O tome como seu filho. Tenho certeza que ele será melhor que nós dois.

Ao dizer aquilo, eu vi Margaretha desaparecer com um sorriso no rosto, e lágrimas nos olhos. Seyren estava quase partindo quando ele forçou o seu punho mais uma vez, chamando minha atenção.

-Me perdoe Uriu, mas já que não posso mais ser humano, leve-me com você, em sua alma, e nossa força será parte de um futuro melhor. – E ao dizer aquilo, eu chorei com sua despedida, pois toda a sua humanidade e essência agora estavam em minhas mãos, e me entristeci quando vi que agora carregava sua alma em uma carta, tal como os monstros deste mundo. Lorde Seyren, era o que a carta dizia. Eu a segurei firme e abracei. Não havia mais almas ali para impedir nossa saída, e depois daquilo, aquele laboratório foi tomado pelas almas raivosas de Seyren e dos outros. Mas naquele momento, incapaz de compreender o ser que eu era, chorei como nunca havia chorado. Perdi tudo, ganhei tudo. Foi a troca mais devastadora de minha alma. E tudo que pude lembrar foi que Shen,e a recém acordada Julianna me tiraram daquele horror e me levaram para casa.

Tudo isso aconteceu comigo. O que veio depois, não teve tanta história. Como foi dito, falei com Tristan, e de fato Seyren tivera um filho algum tempo antes de partir na jornada final. Ele sabiamente deixou-o aos cuidados do rei, pois não sabia o que lhe aconteceria. Raiga Windsor, ou melhor, Raiga Nelliw, foi como ele ficou conhecido após eu o levar para casa, onde eu e Yuki passamos a tratá-lo como nosso filho, mesmo tendo os olhos azuis, que eram diferentes dos meus negros e os da Yuki que eram verdes. O tempo passou, vimos ele crescer, se tornar um guerreiro formidável, e mesmo quando eu fui acometido por uma doença terrível, ele nunca deixou de permanecer ao seu lado. Agora ele tem sua família, e em breve terei um neto. Esse foi o meu conto, bem curto, talvez até mal explicado, mas a Rainha que me perdoe, pois já sou um velho caduco e de bexiga frouxa que precisa dormir. Vou tirar uma soneca agora, já que acabei esse grande trabalho. Quem sabe eu não encontro meus amigos, em sonhos...


....Boa noite...querido diário...


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Notas finais do capítulo

Nota do Médico, registro numero 25334: Uriu Nelliw, 69 anos, morreu logo após deitar-se em cima de um documento cujo destino era para a Rainha e o Rei Tristan III. Por pedido de seu filho legítimo Raiga Nelliw, e do rei, não foi divulgada a sua história. Uriu faleceu por um ataque cardíaco ameno, logo após terminar o documento, e paralelamente, no mesmo horário em que seu neto, filho de Raiga Nelliw e Yurina Marshal nasceu, chamado de Kem Nelliw.



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