Diário de Um Nelliw escrita por Uriu


Capítulo 14
Terror em Lighthalzen




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Hoje o dia estava mais ameno. A neve cobria o chão, mas a tempestade passara, e o sol raiava em todo seu esplendor naquela manha de inverno atípica. Recebi visitas de Tristan e sua esposa, e também meu filho veio me visitar. Pobre Raiga, mal sabe ele o que passei naqueles dias de inverno, e tão pouco o que ele é na verdade. Ele veio com uma notícia fantástica para mim, e me deixou mais animado nesses dias cansativos e longos para um velho de bexiga frouxa, memória volátil e sem a maioria dos dentes. Meu neto, filho de meu filho, iria nascer em breve. A esposa de Raiga, uma sacerdotisa bela e adorável, estava grávida havia já uns oito meses, e em breve teria um filho. Espero que eu sobreviva para vê-lo, é claro. Isso me lembrou um pouco de Tristan. Ele contou que sua família é conhecida por ter uma maldição antiga, em que o filho primogênito morre, e que sempre teriam essa maldição. Pobre Yuki, talvez essa maldição nos assolasse, mas mesmo assim, me sinto feliz pelo que aconteceu, mas não devo me esquecer que, assim como hoje estamos em final de inverno, quando o mais terrível ato do destino aconteceu, também era final de inverno.

Todos estavam tristes, de luto durante dias pela morte de Seyren, noticiada pelos espectadores de sua batalha travada em Lighthalzen, ao lado dos nossos maiores guerreiros, mas depois a notícia veio oficialmente do gabinete do presidente da república ao Rei Tristan III. Ele mesmo havia contado que Seyren deixou sua casa em Prontera aos cuidados de sua empregada, que ele sempre dizia, faz mais bem em servir-me dignamente do que a um senhor impiedoso. O humor dele nunca foi bom. Eu tive o difícil trabalho de relatar aos familiares dos mortos sobre o acontecido, como era de costume de um homem de meu posto. Primeiro foi aos pais de Margaretha. O seu pai abraçava a mulher, tentando esconder suas próprias lágrimas e abafar os soluços dela. Depois fui até a casa de Howard, onde seu filho mais velho me atendeu. Pobre garoto, ele não queria chorar e ficou segurando a saia de sua mãe, enquanto encorajava-a, e também ao seu irmão mais novo a serem fortes. Alissia me surpreendeu ao me receber em sua casa tão tranqüila como sempre a tinha visto. Era uma casa escondida, nas fronteiras de Izlude, uma região pacata da cidade. Em sua sala repleta de fotos dele e de sua filha, ela me serviu chá e ouviu a minha história sobre o que tinha ocorrido.

-Eu...tenho de informar a Academia sobre esses detalhes. – Disse-me ela, enquanto ia ao parapeito da sua janela e ficou observando sua filha já crescida cuidando do jardim cultivado ao lado da casa. Por um breve momento, eu a vi morder o lábio inferior e uma gota escorreu pelo rosto. Ela não olhou para mim quando eu disse que estava de partida, apenas continuou olhando. – Obrigado, por me contar tudo.

Eu não consegui contatar nenhum familiar de Kathryne nem de Seyren, embora seu irmão Shen estivesse hospedado no castelo, mas ele já sabia de tudo, e não dizia outra coisa se não “temos de aceitar a verdade”. E por fim fui a casa onde Cecil e seu namorado cavaleiro morava. Ele caiu de joelhos após eu contar a ele o ocorrido, e até ameaçou-me de não ter cumprido com meu dever, mas eu dei um forte golpe nele e ele mudou a opinião, alegando que ele mesmo falhara.

Tudo foi muito triste para toda a Rune-Midgard. E como se não bastasse a perda de meus melhores amigos, no dia em que Yuki teria nosso filho, houve uma complicação no parto e nós o perdemos. Ele teria se chamado Keen, e nós o amaríamos muito, se não já tivesse nascido com a alma levada para o céu. E para piorar, Yuki teve de fazer uma arriscara cirurgia, pois ela não poderia mais ter filhos, e morreria se não retirassem o útero. Eu a encontrei em seu quarto no hospital, em recuperação. Sentei-me ao seu lado e ela me olhou desesperada, começando a soltar gotas que escorriam pelas suas bochechas, e convidando-me a compartilhar sua dor. Foi o maior golpe que eu já levei na minha vida. O pior ferimento que qualquer ser humano poderia ter levado, eu levei, que era perder meus amigos, e mais ainda, perder meu filho.

Porém, algo extraordinariamente assustador aconteceu no final daquele inverno, e como eu queria estar certo de que não passava de um sonho. Em uma manha atipicamente ensolarada, duas semanas depois do ocorrido em Lighthalzen, eu estava perambulando no castelo, preocupado com o estado de saúde de Yuki, quando a algoz Julianna, que eu havia salvado no incidente, apareceu correndo em minha frente. Ela vinha ofegante pelos corredores e teve de respirar fundo antes de falar comigo.


-Senhor Uriu. Tenho notícias de Lighthalzen.- A simples menção da cidade me fez ter um calafrio. Disse para ela contar o que houve, e aí veio a bomba. – Seyren, ele foi visto na cidade, há poucas horas.

Eu não acreditei no momento. Demorou um pouco para que caísse a ficha, e balancei a cabeça negativamente, tentando tirar aquele pensamento de minha mente.

-Não, isso é impossível.

-É verdade senhor Uriu, ele foi visto. Porém...- Eu estava querendo acreditar, mas a feição dela dizia que algo mais sombria procedia. – Ele fora visto dentro do laboratório abandonado da Rekember, e quando eu e Shen fomos investigar lá, encontramos vários corpos de guerreiros no terceiro piso, onde ele foi visto.

-O que significa isso? – Eu achei aquilo muito estranho. Ele tinha sido morto, mas pensando bem, eu não vi os corpos de ninguém, e poderia ser mesmo ele vivo por lá. Mas por que os corpos? Eu queria acreditar que talvez alguém o tivesse ameaçado. Mas fiquei atônito, pois o próprio presidente da república tinha enviado uma carta confirmando a morte deles, e todos os documentos que comprovavam inclusive um pergaminho onde ficavam vestígios mágicos do corpo deles, e todos foram estudados e analisados, até chegar à conclusão óbvia de que eles realmente haviam morrido.

-Eu não sei senhor, mas Shen disse que deveríamos investigar. Ele tem um mau pressentimento.

Realmente, por ser um monge, um Windsor, e alguém que treinou em Umbala e obteve o conhecimento superior, deveria ser levada em consideração a sua opinião. A tarde, diante Tristan, eu havia me apresentado e contado sobre essas revelações, e solicitei para que eu, Shen e Julianna fossemos até Lighthalzen novamente.

-Está certo. Confirmarei com o prefeito da cidade que vocês estão para investigar isso, e manterei sigilo com o restante da população. Qualquer coisa, conte comigo.

E sob a proteção e apoio direto do jovem Tristan III, nos adiantamos e fomos para Lighthalzen. Deixei Yuki no hospital, ela queria ter ido junto, mas não estava recuperada física e emocionalmente, e se conformou quando eu lhe disse que era pelo nosso filho. E com isso pude ir mais tranqüilo.

Chegamos a Lighthalzen muito rápido, pois Shen possuía a habilidade dos Sacerdotes, o dom do teletransporte. Com apenas uma gema azul, um cristal raro que são usados como catalisador em algumas magias divinas, ele abriu um portal no chão, e de repente, estávamos no meio da cidade de Lighthalzen. O povo da cidade, talvez já acostumado com a chegada de estranhos por meio de magia, nem sequer fez menção de prestar atenção em nós. Shen nos mostrou o caminho até a entrada da favela, que tinha um guarda dormindo em sua entrada. Na favela, foi a vez de Julianna mostrar o caminho por entre as pobres casas de madeira e papelão que seus moradores haviam construído para se protegerem das chuvas, e depois de alguns minutos, chegamos até onde havia alguns canos de esgoto, grandes o suficiente para caber um adulto.

-É aqui. – Disse ela, quando viu minha cara de espanto. Eu fiquei apreensivo, pensando o que meu amigo faria ali dentro, mas foi Shen quem respondeu.

-Entrando por aqui, nós vamos acabar saindo no laboratório subterrâneo de pesquisas abandonado da Rekember. E como você me mostrou aquele dia, ele se estende até fora das muralhas, por baixo da terra.

Com um golpe poderoso, o sempre sério monge entrou primeiro após ter feito um buraco para nós entrarmos, depois foi a vez da quieta Julianna, e por fim eu entrei. O cano de esgoto era bem largo, o que possibilitou nossa movimentação até outro buraco, que foi feito cuidadosamente por uma pessoa especialista. Invadindo o local, nos deparamos com algo incrível. O laboratório ali havia era o maior que eu já tinha visto. Era escuro, mas não era impossível enxergar ali, e havia várias salas e celas, que certamente faziam estudos com prisioneiros sobre a gênese humana e o mecanismo que move o nosso corpo. Entre uma sala e outra, havia prateleiras e mesas, e foram em uma delas que achei vários papéis jogados, e então fomos investigar.

-Parece que eles saíram às pressas daqui. – Disse Julianna, recolhendo os papéis e olhando para a bagunça da sala. Shen, que passou calmamente por entre as cadeiras caídas, e começou a recolher alguns relatórios caídos. Ele me entregou sem dizer uma única palavra, e comecei a ler.

Eram registros de experiências que deram errado no laboratório. Os cientistas tinham como objetivo, entender o mecanismo humano e a forma de como criar um corpo semelhante ao dos humanos, uma experiência que foi o estopim para os projetos futuros de um cientista chamado Kiel Hyre. Porém, passando os olhos pela lista, chamou a minha atenção pelo nome que iniciava o registro. Estava escrito “Cobaia: Seyren Windsor”. De repente, meu coração disparou e minha respiração ficou ofegante. Aquele registro contava exatamente o que ocorria lá dentro. As cobaias, como estava escrito, foram levados às pressas para o hospital após a batalha contra os lacaios do cientista, e após uma barganha com os doutores, foi feito um laudo médico falso, que comprovou a morte de Seyren e dos outros sem que as autoridades e os chefes soubessem da verdade. Levado em segredo para o laboratório subterrâneo, foram feitos dezenas de testes e exames, dos mais variados e horrendos tipos, levando à morte definitiva de todos. Seyren foi o primeiro a morrer, seguido de Howard, Cecil, Margaretha e Kathryne. Eremes, conforme fui lendo, foi ó único a ter seus testes e exames diferentes por causa de seu corpo resistente aos venenos, mas logo depois ele foi executado, e todos os seis corpos foram jogados no terceiro piso do subterrâneo, o setor de experimentos descartados, antes dos cientistas abandonarem o local por falta de verba.

Por algum tempo, senti meu sangue ferver, sentia todo o ódio do mundo por terem mentido, por terem feito coisas horríveis com as pessoas mais próximas de mim, e com raiva, destruí uma cadeia que tinha por perto, assustando Julianna.


-Senhor Uriu, por favor, não fique assim.

-E como eu ficaria? – Eu estava muito nervoso. – Hein? Acha que é legal ter seus amigos tratados como simples cobaias? Como marionetes?

A algoz calou-se e se reprimiu, enquanto eu a encarava ofegando de tanto nervosismo. Mas a mão de Shen alcançou meu braço, e quando o encarei, ele estava com um olhar complacente.

-Devemos lembrar-nos da nossa missão, meu amigo. – Suas palavras eram fortes, mas eu sabia que no fundo, ele estava irritado, mas queria ao menos honrar seu irmão. –Devemos ao menos ir atrás de seus corpos, e resolvermos essa situação.

Respirei fundo, pensei um pouco, e concluí que era mais sensato aceitar o pedido do monge. Pela primeira vez, senti que podia confiar nele, e ao ver o olhar amigável e reconfortante de Ju, sabia que não deveria desistir. Agora que eu sabia o terrível acontecimento que envolvia, não só Seyren e o restante do grupo, mas sim muitas pessoas que foram deixadas para morrer ali, era meu dever ir longe. E tomando novo rumo, decidimos descer até o nível três, o Setor de Experimentos Descartados.

O caminho era tortuoso, mas chegamos até o centro do laboratório de somatologia, como era classificado e nomeado pelos cientistas em seus relatórios. Quando atravessamos o portal e descemos até o terceiro nível, nos deparamos com entulhos de maquinas e ossos, e várias algemas jogadas pelo chão. Shen e Ju começaram a descer o monte de velharias em que nós viemos parar pelo portal, quando eu senti uma presença hostil atrás de mim. Instintivamente, me virei para dar um forte soco, mas o que eu soquei de longe era hostil, ao menos, não era quando eu o conhecia.

Era Eremes, pelo menos a aparência era dele.

-Eremes, você está vivo, que bom te ver. – Eu não podia conter a emoção. A felicidade jorrava em meu peito, mas ao mesmo tempo em que esse sentimento desmoronou quando eu me lembrei do laboratório, fui surpreendido por um forte golpe do algoz em meu peito. Ele usou sua velocidade e me derrubou de forma que eu não enxerguei nada. Quando eu caí, Shen avançou com a mão pronta para esmagar Eremes, mas ele saiu em sua furtividade e evitou o golpe do monge. Em seguida, Eremes voltou a aparecer e desferiu golpes muito velozes com suas katares. Eu ainda estava caído quando eu ouvi um grito atrás de mim. Era Ju, e havia sido surpreendida por uma rajada de flechas, que feriu suas pernas, fazendo-a cair de joelhos. Levantei-me a tempo de ver Cecil chegando por trás de Ju e olhando para ela com muita frieza.

Percebi que os dois pareciam transparentes, como se a vivacidade de seus corpos tivesse sido retirada deles. O fato é que agora eles estavam nos atacando, e eu estava com medo de lutar contra eles, pois eram meus amigos queridos.

-Cecil, sou eu, Uriu! Pare com isso! - Cecil iria acertar uma flecha certeira em Ju, mas eu a impedi jogando meu escudo contra ela, que se distanciou um pouco. Ouvi um estouro atrás de mim e vi Shen desencadeando uma Ira de Thor onde o algoz deveria estar. Aquela enorme tempestade de raios e trovões devastou o solo, mas não havia ninguém ali no meio, e então, Eremes surgiu atrás do monge, e o acertou com as Lâminas Destruidoras. – Eremes, pare. Somos seus amigos! -Eu tentei arremessar meu escudo novamente, desta vez contra Eremes, mas uma nuvem verde translucida surgiu na frente dele e impediu meu escudo de chegar até ele, e presenciei a vinda de Margaretha, também na mesma situação dos dois.

-Uriu! – Ouvi atrás de mim a algoz, rastejando para perto de meus pés, enquanto uma figura grotesca aparecia do meio das sombras, arrastando um enorme machado.

-Howard! Você também? – Eu fiquei desesperado, pois agora com os quatro reunidos ali, seria difícil de derrotá-los em grupo, mesmo com Shen sabendo todas as magias. Howard deu um urro terrível e avançou descontrolado pra cima de mim. Com Julianna aos meus pés, tive de forçar minha perna para frente e sustentar o escudo com todo o meu corpo, mas mesmo assim o impacto do machado gigantesco de Howard fez com que eu perdesse o equilíbrio e caísse novamente. – Howard, não se lembra de mim?

Ele bradou novamente o machado e tentou me acertar, mas foi arrastado para trás com o peso do corpo de Eremes. Shen o arremessou e depois conseguiu enganar Margaretha, fazendo a Suma-Sacerdotisa também ser jogada para trás com a técnica do golpe de palma. Agora estávamos de frente para quatro dos maiores guerreiros existentes, e eles queriam ver nosso sangue jorrar, e eu me perguntava o que teria feito eles agirem desse modo. Eu olhei para o rosto de cada um, vendo aquelas faces sérias e frias lembrei-me do tempo em que estávamos juntos, e todos eles eram meus amigos. Estranhamente, senti falta de uma pessoa do grupo, e justamente ela, agora apareceu bem na minha frente, após um sopro de uma brisa que vinha do alto. Ju e Shen estavam atrás de mim e também foram pegos de surpresa quando viram Kathryne aparecer diante de mim. Ela também estava séria, fantasmagórica e assustadoramente enigmática.

-Kathryne, sou eu o Uriu! Por favor, você tem que se lembrar...- Tentei falar com ela, mas o que recebi foi sua mão atravessar meu estômago, com o auxilio da magia das lanças de fogo. Aquela dor foi terrível, mas não era física, e sim uma ferida na própria alma. Sem nenhum remorso, a arquimaga começou a remexer em minhas entranhas com sua mão ardente, e eu, sem saber o que fazer a abracei. –Por favor, Kat, não quero lutar, não contra vocês. Ouça-me, por favor.

Por um momento, eu vi seus olhos brilharem, e ela parou de mexer em meu corpo. Sua mão ia sendo retirada lentamente, enquanto eu segurava toda aquela dor para não fazer um ruído hostil. Eu arriscaria tudo para que eles percebessem que era eu ali.

-U...ri..u! – Eu a escutei dizer. Eu comecei a ficar aliviado, enquanto eu a abraçava e esquecia a minha dor. Aquela respiração sutil da Kat parecia estar em equilíbrio com meus batimentos cardíacos, e estranhamente os outros quatro também pararam e me encaravam, com os olhos brilhando. Porém, Ju começou a se mexer muito bruscamente, por que uma sombra estava vindo ao longe, e aquela agitação fez com que Kathryne espalmasse rapidamente um Trovão de Júpiter nela, derrubando a algoz no chão, inconsciente.

-Kat, não. São meus amigos. – Eu forcei o braço dela para que não arremessasse outra, enquanto Shen corria para o lado da algoz, para reanimá-la. Kat não fez nenhum outro movimento, mas eu vi os outros quatro abrirem caminho para a sombra que vinha andando devagar, até que a arquimaga se afastou de mim e me deixou ali, sangrando e observando a figura que se mostrava imponente a minha frente. Não poderia ser outra pessoa se não Seyren, meu melhor amigo e o Lorde mais poderoso de Midgard. Mas por incrível que pareça, ele era o único que pareceu se lembrar de mim.

-Uriu, é bom vê-lo novamente, ainda que sejam tristes as condições. – Ele falava muito diferente de quando estava vivo, por assim dizer. Sua voz era fria, áspera, e mesmo assim, ainda mantinha aquela tonalidade de confiança que sempre passava para os seus amigos.

-Seyren, o que houve com vocês? Por que estão assim? – Eu estava confuso e desorientado. Não sabia mais o que estava acontecendo. Era hora de ter alguns esclarecimentos.

-Não é óbvio Uriu? Estamos mortos. Mas algo nos prende aqui nesse mundo. O que será? – Ele fez a pergunta em tom animado, parecendo tomado pelas mesmas questões que eu. Coçou o queixo e ficou olhando para cima, murmurando algo, enquanto os demais se posicionaram atrás dele, com os olhos fixados em mim. – Certamente, agora me lembrei. – Ele abriu os braços e sua face demonstrava uma ira irradiada em um sorriso malévolo. – O ódio, Uriu, é o que nos prende aqui. São tantos anos em guerras, tantos anos, que nossas almas estão presas pelo elo do ódio daqueles que nós tiramos as vidas.

Com um movimento brusco, ele estendeu todo o seu corpo para que todo o terceiro nível fosse assolado com suas palavras. Diante de meus olhos, as almas de todos aqueles que foram mortos por Seyren e ou outros apareceram, e começaram a tomar a forma de cada um, como se fossem clones. Seyren novamente olhou para mim.

-Não é magnífico, Uriu? Agora toda a nossa ira se contempla à nossa imagem. – Ele olhou sério para mim novamente, sacou sua enorme espada e lambeu sua lâmina, com um sorriso sádico em sua face. – Meu amigo, esse aqui é nosso lar. Viveremos para todo o sempre com esse rancor, e você vai ter que me derrotar para sair daqui. – Ele novamente abriu os braços e fez todo o nível três saber de suas palavras. – Àqueles que me escutam agora, eu vou lutar com meu melhor amigo, e se por acaso eu perder, nós o deixaremos ir, mas será a nossa única gentileza. – Ele olhou com felicidade pra mim. – Já que justamente agora, me lembrei de você.

Eu estava atônito. Tudo estava acontecendo tão rápido que eu comecei a ficar enjoado. Tentei falar algo, mas o que senti foi um peso enorme esmagando meu estômago. Rápido como um relâmpago, Seyren desferiu um golpe com o cabo de sua espada, e eu caí encolhido. Ele riu de seu próprio golpe.

-Acho que estou sendo bonzinho demais.

Shen, como eu esperava, estava usando seus poderes para recuperar a Julianna, para poder-mos fugir, já que Seyren deu essa oportunidade. Mas ele não estava facilitando. Estava sedento por sangue, e quando eu tentava me levantar, ele me dava chutes ou golpes com a borda da sua espada.

-Parece que você não é mais aquele garoto que eu conheci no teste de espadachins, não é mesmo? Uriu! – E com essas palavras, veio a minha vontade de volta, uma vontade a muito tempo perdida, e que eu queria nunca ter esquecido, mas agora ela vinha com toda a minha força de volta. Quando Seyren iria descer sua espada para me matar, eu consegui me esquivar para o lado e me levantar. Fechei bem o meu punho e o trouxe para trás, tencionando bem meu músculo. E como eu havia feito uma vez na caverna de treinamento de Izlude e como havia jurado para ele, eu o soquei na cara, com toda a minha força. Desta vez, Seyren foi arremessado para trás e caiu no chão, enquanto eu me reerguia. Ele me olhou e se levantou também, surpreso com o golpe. E então, eu pensei, não era mais o Seyren que eu havia me tornado amigo e seu aliado, era o Seyren jovem, o meu rival, que estava a minha frente.

-Está bem, Seyren. Pode vir! Eu vou chutar a sua bunda, e você vai engolir seus dentes, seu rato safado. – Eu gritei em desafio pra ele, como um urro de valentia que surgia em eu peito desde a minha infância. Estava prestes a entrar em combate com meu amigo, mas eu já o via mais assim, agora ele era meu rival, eu iria devolver toda aquela mágoa e angústia do passado. Me posicionei na frente dele, segurando firme meu escudo e a Vingadora Sagrada firmemente, e encarava-o com um sorriso malicioso, com nos velhos tempos. Seria a verdadeira luta contra ele.

-Agora é o espadachim que eu conheci havia tanto tempo.

-Seyren, seu demônio, diabrete alado de Morroc, vou te dar o mesmo soco que no passado, pra que não se esqueça de mim no inferno, miserável!


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