Depois dos vários desastres que aconteceram comigo desde a hora que eu acordei, pensei que Deus me daria uma pausa quando fui mandado para a secretaria por 'assediar' uma garotinha.

Pena que eu sempre estou errado.

Aparentemente, a bêbada da minha diretora ainda não chegou e por isso cá estou eu nessa sala sinistra olhando pra última pessoa que eu queria ver hoje: Orochigay.

Não que eu tenha algo contra o fato dele parecer ter aversão ao sol, ou não gostar de lavar a cabeça. Mas ele precisa ficar olhando pra mim?

Sério, se fosse mulher eu achava que tava me dando mole...

Oh, céus.

Era só o que me faltava.

- Vejamos, Sasuke-kun... - reprimi uma careta quando ele se levantou da cadeira da Tsunade e quase rastejou pra perto de mim. Acho que ele pensa que é uma cobra. - Não sabia desse hobby seu.

- Oh, por favor! - quase rosnei irritado. - Quer dizer, você viu a cara daquela criança! Porquê eu ia assediar aquela tábua?

- Diga-me você, viram os dois no chão numa posição um tanto... reveladora.

E você tem cara de estar precisando de uma mulher mas nem por isso eu to jogando na sua cara! pensei fervorosamente, mas é claro que eu não ia falar em voz alta.

Aha! E depois dizem que eu não sei ficar de boca fechada.

- Olha, sensei... - fiz questão que ele notasse o tom irônico. - Você não é o diretor da escola, então eu sinceramente não entendo porquê deveria me justificar com você.

- Que língua tão afiada, Sasuke-kun. - okay, eu nunca fui mentiroso e não é agora que eu vou começar a ser. Eu to me borrando de medo desse traveco. - Gostaria de ver o que faria com ela quando...

- Já é o suficiente, Orochimaru. Pare de assustar a criança! Itachi-san e Sakura-san já me explicaram o que aconteceu. - relaxei contra a cadeira quando a porta se abriu e por ela passou a diretora Tsunade.

Deus, eu prometo que nunca mais a chamo de bêbada. Essa semana pelo menos. Já é um começo, não?

Foi então que meu cérebro computou outra coisa. Como assim o Itachi e a Sakura explicaram o que tinha acontecido? Eles não tinham insinuado que...

Okay, eu sou um idiota lesado.

Eu aqui me preocupando dela me achar um maníaco sexual e ambos rindo da minha cara.

- Então... - comecei fazendo minha melhor voz inocente. - Isso quer dizer que eu já posso ir, Tsunade-sama?

- Não, eu queria mesmo falar com você. - bufei cruzando os braços enquanto ela se sentava na cadeira, enchendo uma caneca com algo que eu nem quero saber o que é. - A Sra. Haruno disse que pediu para ambos 'tomarem conta' da Sakura, não é?

Quando Itachi entrou e se sentou ao meu lado, assentimos para ela. Bom, eu não tava sabendo de nada mas...

- Shizune e eu estavamos conversando e, como Sasuke tem as mesmas aulas que a Srta. Haruno, queriamos saber se tem problema acompanhá-la até que se adapte.

Nem tentei esconder o sorriso que se formava no meu rosto. Oportunidade de ouro, hn?

- Claro que não! - dei meu sorriso mas simpático dando uma piscadinha para ela. - Será um prazer apresentá-la à escola.

Tsunade pareceu satisfeita com minha boa reação, mas logo nos expulsou da sala dando uma desculpa qualquer.

Porque eu tenho a sensação de que vamos vê-la mamada no intervalo?

Bati na porta da sala, esperando pacientemente que a Anko se desse ao trabalho de calar a boca e vir abrir.

Se eu estivesse sozinho, tinha aberto a porta e entrado como se fosse a coisa mais normal do mundo. Mas como eu já dei uma ótima primeira impressão pra Sakura, eu tinha que fazer algo pra compensar.

Bem, em todo caso tentaria perguntar suavemente se ela tem tara por maníacos sexuais. Vai que ela diz que sim e me manda abusar dela?

Eu ia ficar um pouco traumatizado, não que eu não fosse gostar mas... Cara, ia ser muita pressão pro meu Uchiha Jr.

Fui me sentar no fundão enquanto Anko fez a Sakura se apresentar para toda a turma, franzi o cenho quando todos os meus amigos - ênfase para o todos, porque inclui os comprometidos - começaram a comentar sobre ela... E sobre meu pequeno acidente do lado de fora.

- Teme! - como sempre, Naruto tinha que ser o primeiro a comentar naquele tom baixo dele. - Cara, a Karin tá uma fera! Ela quase cuspiu fogo na cara de uma garota que disse que você tava com aquela garotinha.

Gemi derrotado me afundando na cadeira, Karin é uma garota que... Bem, no mundo imaginário dela nós somos noivos.

- Foi um acidente! - falei alto para todos que estava próximos de mim. - A faxineira estava passando pano e a idiota veio correndo pelo corredor carregando três livros monstros.

Eu sabia que não ia adiantar nada ficar me explicando, eles iam me zuar sobre isso sempre que possível. Seja fazendo pequenas insinuações ou até comentando isso com as alunas novatas.

Pelo resto da minha vida.

- Que seja, a gente não tá nem ai pra isso! - levantei a sobrancelha pro Neji, que se sentava no meu lado e estava quase caindo da cadeira pra falar comigo. Ele até semana passada não estava apaixonado pela Tenten?

- Que feio, Neji. - balancei a cabeça negativamente dando um sorriso malicioso. - Se já tá assim com a namorada na mesma sala, quero ver quando ela estiver longe...

Se ver o Naruto corando tinha sido o primeiro ponto alto do meu dia, ver o Neji era bônus pro mês inteiro.

- Até parece que ela ia notar. - Gaara, namorado de Yamanaka Ino, comentou apontando para uma roda de garotas que rodeava a Sakura. - Sério, se eu não soubesse que a Ino é apaixonada por mim, nesse momento eu estaria dando um ataque de ciúmes.

Como se combinado, todos nos viramos para as garotas examinando o rosto de cada uma atentamente. Temari - namorada do Shikamaru -, Ino - namorada do Gaara - e Tenten - hum... Namorada, eu acho, do Neji - estavam olhando para a rosada com um sorriso quase doente no rosto.

Pobrezinha, se ela não tivesse rido de mim mais cedo eu teria ido ajudá-la.

Se bem que ela parece estar gostando, não tirou o sorriso do rosto nem quando perguntas indiscretas como: "Você pinta o cabelo, né?" começaram.

E eu achando que só existiam tintas que deixavam o cabelo loiro, ruivo ou preto. Vivendo e aprendendo.

Depois das perguntas, ela começou a varrer os olhos pela sala quase como se estivesse procurando algo. Quase sorri quando seu rosto se aliviou ao me ver.

Yeah, papai te protege bebê.

Ignore a frase acima.

Anko mandou a Sakura se sentar atrás do Lee mas antes que ele pudesse ficar feliz com a escolha (bem, a cadeira atrás dele era a única vazia), a rosadinha sussurrou algo no ouvido da professora que a fez mudar de idéia.

Ergui a sobrancelha curioso e quando ela virou o rosto pra mim, deu uma leve piscadinha. Oh, não! Porque meu rosto de repente ficou quente?

- Sr. Inuzuka, poderia ajudar a Srta. Haruno à colocar sua cadeira atrás do Sr. Uchiha? - Anko perguntou pro Kiba, que se levantou instantâneamente aproveitando pra se apresentar pra Sakura dando um beijo na bochecha dela.

Que inferno, porque todos fazem isso? O Itachi também se despediu dela com um beijo na bochecha. Na minha vez eu vou lascar um beijo na boca dela só de sacanagem.

Me encostei na cadeira, quase deitando a cabeça na mesa dela depois que ela se sentou. Se ela quisesse fazer um cafuné eu nem ia reclamar... Talvez um pouco, só pra ela não ficar convencida.

- Sasuke? - senti minha coluna gelar quando o hálito quente dela tocou meu pescoço. Oh, desgraça. - Hey, Sasuke? - senti algo pontudo espetar minhas costas.

Credo! Ela me espetou com o lápis?

- Hn? - resmunguei tentando parecer indiferente, mas na verdade eu não tava é conseguindo formular palavras com mais de uma sílaba.

- Sua camisa não estava rasgada? - sério, essa era a última pergunta que eu esperava dela. Talvez um: "Você está livre hoje à tarde." ou "Posso me sentar do seu lado?"

- Eu sempre trago uma extra na mochila. - respondi ainda chocado, virando para olhá-la com o canto do olho.

- Bem, eu não trouxe. - riu, fazendo seu pequeno e arrebitado nariz se franzir levemente. Será que ela sabe como fica linda rindo? - Desculpe, não sou muito boa em inventar assunto.

Okay, se eu ainda estava tentando esconder a surpresa, agora eu não esconderia nem se tentasse com toda a minha vontade.

- Não precisa inventar assunto. - sorri de canto deitando minha cabeça na mesa dela. E, cara! Que visão dos peitos dela, hn?

- Se importa em me amostrar a escola no entervalo? - sussurrou, passando a mão quase inconscientemente no meu cabelo enquanto a gente conversava. - Assim eu não vou precisar te apurrinhar todo dia pra perguntar.

- Claro. - sorri pra ela, rezando silenciosamente pra que ele não parecesse malicioso. - Tem vários lugares que você vai gostar. - e eu também, se forem escuros, apertados...

Foco, Uchiha!

Ela sorriu pra mim mais uma vez antes de levantar minha cabeça com as mãos para fazer anotações da aula da Anko.

Aluna aplicada, hn?

Sabe, eu adoraria narrar sobre como eu fui amostrando a escola pra ela de mãos dadas e que acabamos nos agarrando num canto qualquer.

Mas quem diz que a vida é justa comigo?

Pra começar, Itachi nos abordou logo que o sinal do intervalo bateu. Porque eu tenho a leve desconfiança de que ele estava esperando atrás da porta? Que seja.

Depois, todo o resto do pessoal grudou na gente e começou a falar com a Sakura sobre as atividades extras. A única coisa boa nisso tudo é que a Ino convenceu a rosadinha a fazer o teste para as líderes de torcida.

Oh, pecado...

Acabou que eles foram arrastando-a pelo colégio, eu e o Itachi ficamos largados no meio do corredor a ver navios.

Trocamos um olhar desolado.

Com certeza isso não estava nos nossos planos.

Logo Itachi se distraiu com os colegas dele e eu decidi ir procurar aqueles traidores roubadores de rosadinhas alheias.

E foi ai que eu ouvi a voz da segunda pessoa mais odiada por mim e que só perdia pro Orochigay: Karin

Gemi derrotado disparando pelos corredores até encontrar uma cabeleira rosa sozinha, onde estava todo mundo?

Vi os olhos dela se arregalarem quando me viu correr até ela, mas eu ainda conseguia ouvir os passos irritados no meu encalço.

Agarre-a pelo pulso e nos tranquei no armário do zelador.

- Deus, Sasuke! Quase me matou do coração. - a sanidade retornou vagarosamente quando ouvi o som dos passos se afastando. Ai eu notei que estava agarrado à Sakura numa posição nada inocente.

O quartinho do zelador era apertado e, como a parte de trás era cheia de caixas, só tinha espaço para um ser humano sentar.

Na pressa, eu peguei-a pela cintura e as pernas dela estavam uma de cada lado meu, suas mãos agarradas à minha camisa enquanto minha mão segurava sua coxa e a outra se escorava no seu seio.

Alguém mais sofreu um déjà vu?

- Karin, aquela ruiva sentada ao lado da Ino, estava correndo atrás de mim e eu não queria falar com ela.

- E por isso você resolveu se trancar num armário comigo? - bom, ela tinha um ponto. Pensei sobre isso por um instante, apertando o peito dela quase inconscientemente. - Hey, tira a mão!

- Querida, não é como se eu conseguisse fazer qualquer movimento além de respirar. - suguei o ar ruidosamente para das ênfase. - Continuando... Ela é uma maluca que me persegue, se ela nos visse juntos ia fazer o maior escândalo que você já viu. Acredite em mim.

Ela pareceu debater por um tempo consigo mesma e depois deu de ombros.

- Acho que está tudo bem. - sorriu pra mim, respirando profundamente (algo que fez o decote da blusa dela quase encostar no meu nariz. Só pra registro). - Não é como se você estivesse planejado isso.

- Oh, obrigada por não me socar e gritar o mais alto possível que eu era um maníaco violador de garotinhas alheias. - foi então que eu lembrei de algo. - Falando nisso, você e o Itachi ainda me devem pela brincadeira de mais cedo!

- Sim, eu sei. - sorriu sem a mínima vergonha. - Primeiro vamos sair daqui.

As suas mãos largaram a minha camisa e tatearam no escuro a procura da maçaneta. Mas ao invés de abrir, ela se virou para mim com os olhos arregalados.

- O que foi agora? - gemi irritado.

- A porta só abre pelo lado de fora!

Oh, destino...

Te fode e me esquece!

Acho que ficamos o intervalo quase inteiro trancados naquele cubículo, e pra completar lá era muito quente. Não quente no sentido excitante (apesar de eu estar agarrado na garota mais gata que eu conhecia), o lugar era quente mesmo.

Só tinha um pequeno buraco quase no teto que pelo menos não nos deixaria morrer de asfixia. Mas não mandava nem um ventinho sequer.

Fechei os olhos esfregando minha testa suada no pescoço da Sakura, não que eu estivesse fazendo de propósito mas eu não conseguia mecher as mãos.

Sua respiração quente e pesada me deixava com mais calor ainda, e eu acho que já estava ficando um pouco tonto.

Assoprei sua testa, tentando resfriá-la um pouco e recebi um leve sorriso pela tentativa.

Foi então que escutei passos se aproximando, seguido de uma rajada de vento gelado e, de repente, estavamos caídos no chão.

Pelo menos, ao contrário da outra vez, eu estava em cima dela apoiado pelos cotovelos. Eu estava feliz com a sensação do chão gelado que levei alguns intantes pra vez dezenas de cabeças olhando pra mim curiosamente.

Até o Itachi estava ali, parecendo se segurar pra não cair no chão dando risada.

Será que alguém acreditaria que eu nos tranquei ali com a melhor das intenções?

Não, é claro que não.

Eles nunca acreditam em mim.

Mais uma dessas e eu corto meus pulsos.

Cara, não acredito que eu disse isso!