Já fazia um bom tempo o qual Annabeth pouco ouvira falar de Thalia, “Desistiu da escola de vez”, brincavam seus amigos. Ela simplesmente desaparecera. Bem... não exatamente como um caso de policia apenas... desaparecera.

Thalia vinha de família rica, sendo assim, para ela, o estudo pouco importava, o que não era o mesmo para Annabeth. Vinda de família humilde, a loira acostumara-se às noites intermináveis de encontro a um livro, até agora parecia estranho demais que pudesse ter uma mãe. E ainda mais uma tão rica.

Ela se lembrava das noites em que passara acordada com as mesmas perguntas na cabeça: “Quem” e “Por que” pareciam nunca abandoná-la. Quem seria sua mãe e por que ela nunca aparecera para suas festas de aniversário? Foi quando completou 12 anos, na noite após o natal, que finalmente arrumara coragem para dizer qualquer coisa.

- Queria que mamãe estivesse aqui – ela sussurrou tão baixo que ao menos pode saber se seu pai ouvira.

Mas ele ouviu.

Frederick sabia que um dia Annabeth teria tal curiosidade, mas ele não estava pronto. Abraçou-a de modo protetor – como quando a garota ainda tinha medo do escuro –, ressonando levemente na cama ao seu lado. Ela não deveria saber, ainda não. Aquele fora seu maior erro. Sim, ele não se perdoara. Nunca se perdoaria. Mas ainda assim... Ainda assim ele esperava que um dia ela o perdoasse.

Annabeth sacudiu a cabeça, não era hora para pensar nisso. Nunca era hora para pensar nisso, mas ela jamais o admitiria.

Como um dia comum como outro qualquer, com loira sendo a última a sair de classe, com os mesmo amigos com os quais ela, agora, pouco parecia conversar, e o mesmo motorista com a mesma limusine – que Annabeth tanto odiava – esperando na mesma esquina há 3 quarteirões depois do colégio.

O motorista que a mãe de Annabeth, Atena, contratara pouco parecia falar. Era sempre: “Bom dia, Senhorita Chase” ou “Boa tarde, Senhorita Chase”, “Até mais logo, Senhorita Chase”, mas antes era pior. De certo modo, a garota já estava acostumada às poucas palavras do Sr.Weder. No inicio ela até tentara conversar, mas as palavras dele eram curtas e duras, enquanto as dela gentis e confusas.

Annabeth já não insistia. Se ele não queria falar, então que não falasse. Quem sempre implicava com tal coisa era Thalia. Ah, Thalia... Simplesmente não lhe importava suas palavras diretas, ela nunca desistia. Era como se suas frases curtas e palavras que apenas se encontravam em dicionários muitos fies à língua, fossem um desafio realmente interessante.

Se tivesse uma coisa que Thalia adorava, eram bons desafios.

- Está tudo bem, Senhorita Chase? – a garota demorou alguns instantes para processar as palavras.

Uma voz tão pouco usada, que era grossa e firme, agora demonstrava preocupação.

- O... O quê?

Ele estava... preocupado com ela?

- Está tudo bem, Senhorita Chase? – perguntou novamente, desta vez formal e controladamente.

- Ótima – sua voz, porém, a traiu.

Mas ao contrário do que Annabeth esperava, ele não insistiu. Ignorou o fato como se jamais tivesse ocorrido. Foi quando chegaram ao hotel, com o Senhor Weder dizendo o mesmo “Até mais logo, Senhorita Chase”, que a loira começou a se perguntar se tal coisa realmente havia acontecido. Parecia impossível agora cogitar tal possibilidade.

Deitada em sua cama, a garota se perdeu em meio às questões de física que, até então, a entretinham. O que Thalia estaria fazendo agora? Estaria lendo o caderno? Afinal, o que há de tão interessante nesse caderno? As respostas da próxima prova?

Um pensamento lhe ocorreu.

Não. Impossível. Não poderia ser. Poderia?

Antes que pudesse pensar em qualquer coisa, ela já discava impaciente o número de sua amiga.

O telefone tocou uma vez.

Ainda havia tempo para desistir, por que persistir por um simples caderno idiota? Afinal o quê ela estava pensando? Que o caderno poderia prever o futuro? Que bobagem!

O telefone tocou pela segunda vez.

E, ao mesmo tempo em que Annabeth desejava que Thalia atendesse, almejava que não, que talvez em um curto circuito milagroso o telefone meramente ficasse mudo.

O telefone tocou pela terceira vez.

Um calafrio passou pelo corpo da loira quando um resmungo surgiu no outro lado da linha, sendo seguido por um silêncio e uma risada cômica.

- Ora, ora... Se não é a senhorita educadinha?

Annabeth engoliu em seco.

- E-eu... – gaguejando? Afinal o quê ela estava fazendo?

- Sabe que ele até que é profundo? Apesar de todos esses comentários sobre lideres de torcida e fans da escola ele é... problemático. – concluiu.

- Oquê?

- Hãn? Mas não era isso que você queria saber?

- Do que você esta falando?

- Tudo bem. Vamos ao que interessa, não? – mas a loira ainda estava confusa – Aliás, é isso que eu mais gosto em você Annabeth, é pratica, vai direto ao ponto.

- Não estou entendendo.

E então a morena começou, citando dramática e cheia de sentimentos cada linha que ela se orgulhara de ler e tanto queria um dia poder compreender.

- “Olhos de um cinza sem igual, cabelos de um encaracolado angelical e rosto tão delicado em uma perfeita escultura a qual tanto anseio saber o nome. Ela parece um anjo”.

E mesmo diante a sua confusão o rosto de Annabeth queimou em rubro.

- Thalia.

- “Sou agraciado com sua presença mesmo que ela não me note ou simplesmente ignore. E eu quero beijar seus lábios... Ah, diário eu devo ser um monstro por desejar tal coisa, mas mesmo assim eu-

Foi quando Annabeth explodiu.

- DIÁRIO?

Silêncio.

- O QUE VOCÊ QUER DIZER COM DIÁRIO, THALIA??? EXPLIQUE-SE E MELHOR QUE SEJA JÁ!

Ela demorou um pouco a responder, coçando o ouvido, desconfortável.

- Você está gritando demais, meus tímpanos já estão doendo.

- THALIA!

- Ué? Não era isso que você estava esperando? Quero dizer, o modo como ele te descreve-

- Descreve? A mim?

A respiração de Annabeth estava acelerada.

- Thalia...? – a loira decidiu arriscar, sua voz era fraca.

- Eu. Não. Acredito. – a voz da morena era desapontada e surpresa –Annabeth Chase! Diga-me: Você realmente não fazia idéia de que o caderno era um diário? – não ouve resposta – Eu estou tremendamente decepcionada com você! Como pode ser a melhor da turma depois disso?

- Thalia... – a loira tentava manter a calma – Só explique ok?

***

End of chapter 02.