Eu Gosto de Você escrita por Kitty


Capítulo 7
Capítulo 7




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Capítulo sete

1

Queria poder dizer que estava tranquilo, mas não era verdade. Estava ansioso. Seu coração, de vez em quando, palpitava com mais velocidade e seu estômago se remexia. Não tinha dormido direito, sabendo que, quando despertasse, faltariam poucas horas para finalmente aquela palhaçada toda terminar. E que também faltariam poucas horas para Okura estar em um cinema escuro com Tegoshi. Droga, deveria ter mandado ele o levar a um lugar mais cheio de gente e que, de preferência, não fosse escuro. Sim, havia recomendado ao outro que não beijasse, mas... E se ele se atrevesse?

Imaginar Okura tentando beijar o inocente Tegoshi... Certo, isso não condizia com a realidade. Muito provavelmente seria o caçula quem tomaria alguma iniciativa. Isso era o mais certo. E o mais perigoso. Tegoshi iria abusar do inocente Okura. Por outro lado, Okura também não era tão inocente assim. Era tímido, mas muito malicioso. Droga. Não havia nenhum Johnny inocente afinal?

Sacudiu a cabeça, não era nisso que ele deveria estar pensando agora, enquanto se dirigia para o restaurante em que havia marcado com a pessoa misteriosa. Ele deveria se concentrar em seu próprio encontro. Primeiro, deveria dar uma broncar e xingar a pessoa pela maldita ideia das cartas. Segundo, teria que ser sincero com ela. Não era possível corresponder aos sentimentos. Sentiu-se mal ao imaginar que logo mais estaria machucando um amigo, mas não poderia mentir em relação a isso.

Não mais.

Não depois do escândalo que Jin fez. Se até mesmo Bakanishi foi capaz de perceber, não havia mais motivos para continuar mentindo a si mesmo.

Estava apaixonado pelo Tegoshi. Oh, céus, quando isso aconteceu?

Ele, Nishikido Ryo, apaixonado por um homem? Um homem que era seu colega de trabalho, diga-se de passagem. Um homem que gostava de se vestir de mulher e que era um grande pervertido. E esse pervertido faria perversões com outra pessoa tão pervertida quanto e, o pior, não era ele!

Quando foi que tudo se tornou complicado desse jeito?

Bem, era melhor acabar logo com isso. Abriu a porta do carro e desceu. Respirou fundo antes de entrar no restaurante. Disse seu nome ao funcionário na porta e ele indicou a mesa que havia sido reservada a ele.

– Seu acompanhante já o espera. – informou o atendente, fazendo o coração de Ryo bater mais forte.

Era agora. A hora da revelação.

– Por aqui, por favor. É uma sala privada.

– Un. Arigatou.

Ryo ficou ainda mais tenso quando o viu colocar a mão na maçaneta e abrir a porta. Engoliu em seco e entrou.

– Oh! Ryo-chan, sempre pontual!

Surpreso, Ryo não conseguiu responder de imediato.

2

Kamenashi estava preocupado há vários dias. Jin não atendia suas ligações, não respondia suas mensagens. E ele não podia visitá-lo porque a agência havia pedido o afastamento de todos os artistas para evitar a contaminação da Influenza A. O caçula só queria entender como é que seu namorado havia se contaminado com a doença.

O pior de tudo, porém, foi aquela estranha ligação que ele recebeu antes de Jin adoecer. O namorado ligou, em prantos, algo que o surpreendeu, e começou a se desculpar por uma série de coisas. Pelo intercâmbio, pelo namoro em segredo, por fazê-lo não se sentir uma prioridade, por dormir sempre depois do sexo, por sempre pedir posições novas, por sempre querer mais uma vez quando Kame já está esgotado, por desarrumar a organização irritante do namorado – então era por isso que muitas coisas suas apareciam fora de lugar e ele não entendia o motivo! –, por esquecer as datas importantes do relacionamento, por sempre comer a melhor parte da carne do Kamenashi quando ele não está olhando – algo que Jin sempre praticou com Yamapi quando este passou uns meses na casa dos Akanishi –, por pegar as roupas do namorado sem permissão, muitas vezes alargando-as, igualmente por ter perdido inúmeros acessórios de Kamenashi nas baladas em que ele ia sem a companhia do dono deles e que agora Kame tinha a confissão de que ele realmente ia a muitas baladas sozinho, ou, pior, com Yamapi!

A lista era longa e cansativa e Kamenashi quase adormeceu com o aparelho no ouvido, mas seu sono logo foi empurrado bruscamente para longe quando ele escutou aquilo.

–... E é por isso que estou terminando com você. Até aqui, obrigado por tudo! Arigatou, né... Por ter cuidado de mim durante todo este tempo... Sayonara!

– Ehhh?? Jin? Jin, espera, o que você quer...

– Sayonara, Kazu.

– Jin?? Jin, para com isso e vamos conversar direito e...

E ele encerrou a ligação, deixando um abismado Kamenashi do outro lado. Desde então, Jin não atendia mais os telefonemas, nem respondia suas mensagens ou e-mails.

O que tinha acontecido com aquele imbecil?

Kamenashi respirou fundo, não queria ter que recorrer a isso, mas, quando ele não sabia mais o que fazer com Jin, quando havia algo que ele não conseguia entender algum comportamento seu e quando não havia mais ninguém além dele para ajudá-lo, ele recorria a... Yamapi!

Era frustrante, humilhante, e irritante ter que pedir ajuda a seu principal rival, mas... Quando se tratava do bem-estar de Jin, Kamenashi deixava o seu orgulho de lado. Não que isso fosse fácil. Mas tinha que admitir que a pessoa que mais conhecia seu namorado e mais o compreendia era seu melhor amigo.

Repetiu milhares de vezes em sua mente que era para o bem de Jin, até criar coragem e apertar o botão de discar. Esperou, tenso, ser atendido.

3

Yamapi notou o seu celular vibrar em sua calça antes da música começar a tocar. Ele deixou o garfo e a faca na mesa e fez uma cara de quem sabia que ia tomar uma bronca. Atendeu.

– Moshi, moshi! Kamenashi! Tudo bem?

– Sabe que nada pode estar bem. O que aconteceu com o Jin?

– Eh? Não é você o namorado dele? – Yamapi gostava de provocá-lo um pouco.

– Imbecil, sabe do que eu estou falando. Ele não me atende, não responde minhas mensagens... Você deve saber o que está acontecendo! Vamos, eu quero saber o que foi que aconteceu, me diga logo!

Yamapi fechou um olho, apreensivo, mas rindo ao mesmo tempo. Sabia que ganharia o ódio mortal de Kamenashi, mas precisava esclarecer a brincadeira que tinham feito com Jin. Respirou fundo, abriu a boca, e contou.

Um silêncio do outro lado da linha, sendo substituído pouco depois por uma respiração agitada e, a seguir, uma voz alterada.

– Eu não acredito nisso!! – ele explodiu – Por que fizeram isso? Você quer me fazer terminar com o Jin, não é verdade?

– Não é nada disso! Você pode não acreditar, mas eu não sou apaixonado pelo Jin! O motivo é outro e eu não posso te revelar por enquanto, mas eu vou te explicar algum dia! A gente precisava deixar o Jin ocupado!

– Ora, então que tivessem dado aquele cubo mágico, ou uma revista de sudoku, ou um mapa do tesouro com as instruções de vire sempre à esquerda! Ele levaria dias, até meses, para conseguir resolvê-los! – parou para respirar – Vocês sabem o que vocês fizeram?

– Ora, ora, Kamenashi! Owe! Não fique tão irritado com isso! Foi apenas uma brincadeira. Ninguém esperava que aquele tonto reagisse dessa forma... O normal não seria que ele ficasse puto e batesse no Koki? Pelo menos tentasse bater?

– Você queria que eles brigassem??

– Ah... Não, não queria que eles se machucassem... Há, há, há... Claro que se ficasse sério a gente interviria, além disso, o Koki está no meio também! Ele sabia de tudo e concordou, ele não ia pegar pesado com o Jin... De novo!

– Em todo caso, essa não é a questão! Você sabe muito bem que quando o Jin coloca uma idéia na cabeça ele vai ficar com ela por muito tempo! Que droga, nosso relacionamento já estava muito tumultuado sem isso!

– Owe, Kame... Se existe alguém que consegue tirar uma ideia fixa de dentro da cabeça oca do Jin, esse alguém é você! Vá lá e explique tudo para ele e...

– Ótimo, era o que me faltava. Vocês querem que eu conserte a merda que vocês fizeram??

– Não, não estou dizendo para você consertar a merda que nós fizemos, é só que ele só vai escutar você e mais ninguém! Não adianta a gente ir lá e dizer que era mentira, ele não vai acreditar, de qualquer jeito. Além disso, não é uma boa lição a ele? Assim ele vai se comportar direitinho com você daqui pra frente e o namoro de vocês...

– Epa! Como você sabe disso?

– Como eu sei o quê?

– Como você sabe que estamos namorando?

            Yamapi não acreditou na pergunta que ouvia. Pensou que Kamenashi já estava há muitos anos na companhia de Jin e seus neurônios acabaram sendo afetados. Depois dessa ligação enraivecida, a tartaruga queria que ele pensasse o que?

– Como é que eu sei sobre vocês? Ah... Não, é claro que o Jin não me contou! Na verdade, eu suspeitava e quem acabou de me confirmar foi você. Bang! – ele recordou do gesto típico de seu personagem Kurosaki. E não se importou em mentir.

–...

– Moshi, moshi?! Kamenashi? – tirou o aparelho do ouvido e o encarou – Ele desligou na minha cara... Acho que ele está um pouco bravo! Bem, não há o que se fazer quanto a isso!

Yamapi balançou os ombros e riu. Definitivamente, Kamenashi merecia Jin e Jin merecia Kamenashi. Não há outra pessoa que agüentaria os ataques de ciúmes de Kame que não fosse Bakanishi e não há ninguém além da tartaruga que cuidaria com tamanha dedicação de seu amigo distraído. Além disso, não havia outro casal tão divertido de se acompanhar!

            Ainda rindo, ele voltou a jantar despreocupadamente.

4

Estavam sentados um diante do outro. A cabeça de Ryo estava preste a explodir. Não conseguia acreditar que era ele quem estava sentado à sua frente, com o seu sorriso sempre tranquilo e aquele ar maduro que ele emanava, embora soubesse ser mais infantil e travesso quanto Tegoshi se fosse preciso.

– Wahhhh... Está surpreso? – ele perguntou, esticando os braços para frente, alongando os dedos. Um gesto que talvez camuflasse a sua timidez.

– Não posso dizer que não. –  Ryo mantinha a expressão irritada –  Por que toda essa bagunça, Keii? Porque não disse logo o que queria me dizer? Cara a cara?

Koyama Keiichiro riu, inclinou o rosto para o lado e coçou a cabeça. Sabia que tinha aprontado e não tratou de esconder sua expressão marota, o que enervou ainda mais a Ryo, que se sentia como uma marionete. E isso era ultrajante!

– Mas assim... Que graça teria? – ele deslizou o dedo polegar pelo seu lábio inferior.

Esse cretino tá tentando me seduzir?

Ryo tinha que admitir que ele tinha um olhar atraente. Koyama era um rapaz doce e gentil e seu olhar refletia essas qualidades. Como o mais velho do News, ele tinha por hábito cuidar e se responsabilizar por todos. Um irmão mais velho. Era essa a imagem e o sentimento que Ryo tinha por ele. E nada mais. E por isso mesmo aqueles olhos estavam fazendo aquele momento ser ainda mais doloroso. Não foi capaz de sustentá-los. Fitou a taça de vinho.

Droga, porque é que todos os Johnnys tem que ter esse ar tão sexy e galanteador? Até mesmo os de aparência de bonzinho, como Keii, até ele tem esse ar de conquista... Porcaria!

– Né, Ryo-chan? O que você quer comer?!

Koyama agia naturalmente, mas Ryo notou sua mão tremendo de leve quando ele abriu o cardápio. Finalmente, percebeu que não era algo fácil para o amigo também. Estava encarando seus sentimentos e se arriscando em abrir o jogo dessa maneira. Suspirou, pensando que não devia prolongar aquele encontro, não deveria alimentar falsas esperanças e nem brincar com a ansiedade de Koyama. Era o mínimo que deveria fazer.

– Gomen, Keii.

A sua voz saiu mansa, algo que retirou a atenção de Keii do cardápio e a dirigiu para si. Cogitou dizer algumas palavras amigáveis a ele, mas percebeu que soaria cruel. Dizer que o considerava como amigo, um irmão, no momento em que ele estava se declarando seria um desrespeito com o mais velho. Sabia que Koyama o compreenderia apenas com aquele pedido de desculpa. Ele viu o olhar de Keii se transformar e ele se sentiu mal. Não queria ver aquelas lágrimas.

Ele se levantou e quis ir embora. Chegou mesmo a se virar e, então, aquele peso caiu sobre as suas costas e ele foi envolvido pelos braços cumpridos e finos de Koyama Keiichiro. O rosto dele se aconchegou por cima de seu ombro.

– Ryo-chan... – a sua voz estava baixa e hesitante.

Que inferno! Eu não queria conhecer esse lado frágil de Koyama! Por favor, não vá chorar!! Eu não sei o que fazer se você chorar!! Todos do News vão me matar se eu fizer você chorar! O Pi vai me bater, o Tegoshi nunca mais fala comigo, o Massu não vai mais me dar comida e o Shigue vai me dar bronca para o resto da vida! E eu... Eu nunca serei capaz de me pedoar, Keii. Por favor, não chora!

– Eu realmente... Gosto de você, Ryo. – sussurrou em sua orelha e Ryo pode sentir um leve contato dos lábios dele.

Ele o apertou um pouco mais. O corpo de Keiichiro proporcionava um calor agradável, mas, realmente, não despertava nada em Ryo. Ele tocou gentilmente a mão do mais velho com a sua e, aos poucos, foi escapando de seus braços. Virou-se e teve a dignidade de encontrar aqueles olhos pequenos.

– Arigatou, Keii.

Gomen e Arigatou. Talvez parecesse cruel dizer tão poucas coisas, mas, afinal, era Koyama o seu admirador secreto. Sabia que se fosse Shigue, teria que esperar umas duas horas até conseguir uma brecha para dizer seus próprios sentimentos. Caso fosse Massu, ele teria que esperar o amigo se alimentar devidamente, não era bom provocar ou magoar Masuda de estômago vazio, e dizer com calma e de forma bastante clara que não o amava, caso contrário, a confusão poderia estar armada. Afinal, o que esperar de uma pessoa que, se combinam de jogar basebol, aparece com uma bola de basquete?

Se a pessoa fosse Yamapi, talvez fosse uma opção melhor. Tinha liberdade o suficiente para ter uma boa conversa com ele, mesmo que não fosse fácil, e saberia que o amigo entenderia. Yamapi diria apenas um “un”, sacudiria a cabeça e forçaria um sorriso. “Me dê apenas um tempo para poder digerir isso”, ele pediria. E, então...

Se fosse Tegoshi a pessoa a quem ele deveria dar um fora... Como seria?

Não conseguia imaginar.

Mas era Koyama afinal. O rapaz podia ser tão falante quanto Shigue, mas ele era mais atento às reações dos outros. E, maduro, sabia sempre como correspondê-los. Portanto, Ryo sabia que mais palavras seriam desnecessárias.

– Oh, droga... Isso está ficando constrangedor. – disse Koyama, tentando quebrar o clima.  Colocou a mão atrás da cabeça. – Tem certeza de que não quer comer nada? Eu pago.

– Não, tudo bem. Fica para a próxima.

– Ok...

Ryo sacudiu a cabeça e já estava na porta quando se virou e disse:

– Keii... Fique bem.

– Ah... Pode deixar. Você não é tão inesquecível assim. – ele piscou o olho. – Arigatou, né, Ryo?

– Pelo que?

– Por não ficar com raiva de mim... Não muito, pelo menos!

– Baka... – riu e foi embora.

A porta se fechou e os ombros de Keiichiro caíram. O mais velho girou o pescoço, sentindo-se cansado. Um sorriso brotou em seus lábios. 

5

E uma cara embriagada no espelho do banheiro...*

Encarou-se no espelho e o reflexo que viu era o de um zumbi. As marcas das noites mal dormidas eram visíveis em seu rosto. Um rosto cansado e triste. Jin fungou, as lágrimas não paravam de transbordar em seus olhos e, para piorar, havia contraído a maldita gripe dos porquinhos. O que mais podia piorar? Agarrou a sua enorme tartaruga de pelúcia e voltou para o quarto mal-iluminado por um abajur.

– Ao menos você sempre estará comigo, não é, Kame-chan? – ergueu a tartaruga a sua frente, fazendo-a encarar seus olhos. – Não vai vir nenhuma outra tartaruga macho chamado Koki te roubar de mim, né?

Fungou novamente e, com o controle remoto, ligou seu aparelho de som. Um bolero começou a tocar. El vino es mejor en tu boca, te amo es más tierno en tu voz*. E ele alcançou a sua taça de chá de morango no móvel ao lado da cama. La noche en tu cuerpo es más corta, me estoy enfermando de amor... Sim, taça. Não podia beber vinho por causa de sua doença, mas podia criar um clima do mesmo jeito, era só ter imaginação. E a de Jin sempre foi muito grande! Quisiera caminar tu pelo, quisiera ser noche en tu piel. Bebeu e abraçou a tartaruga com mais força.

– Que música linda! – se emocionou.

Pensar que fue todo un sueño, despues descubrirte otra vez...

– Sim, podia ser tudo um sonho e, quando acordar, o Kazu... Ainda estaria comigo...

Y amarte como yo lo haría, como un hombre a una mujer,

– Bem... Nessa coisa de homem e mulher, a gente improvisa! Depende do dia!

Tenerte como cosa mía, y no podermelo creer...

– Sim... Seria inacreditável tê-lo de novo...

Tan mía, mía, mía,mía,

Que eres parte de mi piel,

Conocerte fue mi suerte

Amarte es un placer, mujer...

– Te conhecer foi a minha sorte, Kame...

Sentindo-se cada vez mais deprimido, ele decidiu ligar para aquela pessoa que sempre o animava. Discou a chamada rápida e esperou ser atendido. Assim que ouviu a voz do outro lado da linha e sendo justamente quem ele procurava, despejou:          

– Mãe, a senhora sempre vai me amar, não é?

– Ah-ah! – ela parecia entediada – Você e Kazuya-kun brigaram de novo? Eu sempre avisei aquele menino que você é um cabeça-dura! O que foi desta vez? O que foi que você fez de errado?

– Owe... Mãe! – Jin fez uma careta ao celular e depois o recolocou na orelha – A senhora é a minha mãe, lembra?

– Escute, Jin... – a voz dela se suavizou – Pare de ficar chorando em seu quarto no escuro... Porque você é tão sensível quando é sobre Kazuya-kun? Onde fica o espírito destemido e impulsivo do Jin que eu criei?

– No momento, esse espírito está do lado de fora do quarto.

– Então abra a porta, oras.

– Kaa-san... Não é assim. Não posso ser sempre assim. Tenho que ser mais racional e pensar mais no Kazuya... No que é melhor para ele.

– Meu Deus, eu sempre esperei o dia em que você diria essas coisas para minha futura nora. Não pensei que fosse tão rápido e não pensei que seria para aquele menino franzino tagarela. Bem, como dizem, a gente cria os filhos para o mundo. Mesmo que seja para o mundo alegre e colorido. – ela riu escandalosamente da própria piada.

Era nesses momentos que às vezes Jin desejava não ter uma mãe tão nova, que não fosse a sua melhor amiga, e que o bronqueasse por ser gay. Mas era um desejo passageiro, obviamente.

– Mou... Okaa-san! Tente agir como uma mãe tradicional de vez em quando!

– Você quer que eu seja contra seu homossexualismo, então? Eu posso ser, se quiser. Posso te ameaçar divulgar seu romance se você não virar homem de verdade!

– Mãe... Fale sério... E onde ameaçar o próprio filho é ser uma mãe tradicional?

– Ah é, né? – ela riu.

– Mãe, eu liguei para você me animar. – ele reclamou, manhoso.

– Desculpe, Jin... Tenho certeza de que Kazuya-kun e você logo vão se acertar! Agora preciso ir! Seu pai reservou hora naquele motel em que você foi concebido!! Bye-bye!

Jin congelou no celular.

–... Eu não precisava saber disso. Não precisava mesmo!

Nos primeiros dias, ele preferiu se isolar do mundo, mas havia se esquecido que odiava a solidão. Agora necessitava urgentemente de companhia. Ao menos, de alguém para conversar. Tentou ligar para Yamapi, mas ele simplesmente desligou o celular na sua cara. Jin chorou. E depois ligou para Ryo.

– O Pi não me atende...

– Você ignora todo mundo e agora acha que todos estão a sua disposição?

– Não seja tão cruel comigo você também. Eu não tenho mais namorado, não tenho uma mãe que não me conte de seu relacionamento amoroso com meu pai, não tenho um melhor amigo que me atenda...

            – Namorado? – franziu a testa e riu. Jin era mesmo um distraído. – Escuta, qual é o seu problema? Descobriu que engordou de novo?

            – Não me chame de gordo!

            – Não estou. Só fiz uma pergunta simples. Aliás, seu rosto está mais redondo ultimamente, não?

            – Mou, Ryo! Eu tô precisando de carinho, me dê carinho!!

            – Eu não. Não sou sua puta. Se me ligou para isso, esqueça!

            – Owe, Ryo, eu... Ryo? Que droga! Que porcaria de amigos eu tenho? Aaaatchim! Que porcaria de gripe é esta também... Ah, Kame-chan, me dê carinho! – abraçou sua pelúcia com força e deitou na cama, de olhos fechados e um grande bico.

            6

           

            Não iria escutar Jin chorando. Não gostava de vê-lo ou ouvi-lo chorar. Isso porque sempre acabava ficando com vontade de chorar também. Ryo não era bom para consolar as pessoas. Normalmente, preferia agredir Jin e fazê-lo se irritar para deixar de ficar triste. Era uma tática que funcionava quase 100%, mas, desta vez, percebeu de imediato que não seria eficaz. Até porque, ele próprio não estava se sentindo bem o suficiente para isso. E sentia que se ouvisse Jin chorando, ele não conseguiria segurar as suas próprias lágrimas.

            Era duro, era difícil ferir um amigo e agora Ryo sabia que tinha ferido dois. Jin não costuma guardar mágoas por muito tempo. Ele se esquece de suas raivas. Ele é uma pessoa pura, afinal, embora não no sentido ortodoxo da palavra. Ele era puro não por ser inocente, mas por ser simples. Se você o irritar, ele certamente vai se zangar, mas se você pedir perdão, ele vai esquecer imediatamente qualquer coisa. Ele é do tipo sincero. Ele é puro nesse sentido. E somente nesse.

           

            Os pensamentos de Ryo logo se afastaram de Jin e o que quer que o tenha deprimido. Ele voltou a se concentrar em Koyama. Estava mal por ele. Queria fazer algo por ele, mas sabia que qualquer coisa seria inútil. E esse sentimento de impotência era o pior.

            – Porque minha vida tem que ficar bagunçada desse jeito? – reclamou.

           

            Estava em seu carro estacionado na frente do prédio em que morava Tegoshi. Se lhe perguntassem, Ryo não teria resposta pronta do porque havia ido até ali se sabia que o rapaz estava em um encontro com Okura. Sentiu uma pequena irritação ao se recordar disso.

Queria saber se o encontro continuava. Ainda era cedo, provavelmente estavam juntos ainda. E como estariam se divertindo? Será que Okura seguiu os seus conselhos? Talvez não. Talvez, neste momento, ele esteja deslizando suas mãos pelos braços de Tegoshi, enquanto este ria suavemente, deliciado com aquela carícia e mantendo uma expressão maliciosa. Okura devolvia um olhar cheio de cobiça. Seus rostos estariam se aproximando, seus lábios desejando um ao outro e, então...

            A buzina ressoou pelo quarteirão inteiro quando Ryo caiu com um soco no volante. Era torturante pensar essas coisas, mas, por uma força inexplicável, não conseguia deixar de fazê-lo.

            Escutou alguém bater no vidro. Ergueu o rosto. Tegoshi acenava com a mão de forma agitada e, então, parou-a próxima ao seu rosto em seu típico gesto de “Tegoshi desu”. Exibia um grande e brilhante sorriso.


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Notas finais do capítulo

*Frase da música “Refrão de Boleto” – Engenheiros do Hawaii

* A partir dessa frase, todos os trechos em itálico são da música “Amarte es un placer”, de Luis Miguel.



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