O Filho da Noite escrita por RudolfLT


Capítulo 3
Um grande amigo e o meu caminho




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Acordei novamente. A luz do sol enchia meus olhos. Lacrimejando me levantei, e só então dei minha primeira olhada no quarto. Era um lugar bonito, com uma cama, um guarda roupas, uma televisão e uma fonte de água, que formava um arco-íris. Eu tinha sido colocado dentro de uma túnica de algodão e perto da minha cama havia um par de chinelos. Coloquei-os e abri a porta, sendo recebido por um homem com vários olhos por todo corpo. Ao seu lado estava Lauren, que vestia a mesma camiseta do dia anterior e pude ver que usava jeans negros.

- Até que enfim molenga! – ela disse sorrindo – estou encarregada de te mostrar o acampamento, então trate de botar roupas! – disse ela apontando para o guarda-roupa.

Certamente eles sabiam minhas medidas. O guarda-roupa tinha várias peças de várias cores, mas todas as camisetas tinham os dizeres ACAMPAMENTO MEIO-SANGUE. Por fim peguei uma camiseta verde-escura e um jeans preto no mesmo do de Lauren. Sempre gostei de coisas escuras, minha mãe dizia que meu pai tinha o mesmo gosto.

Cinco minutos depois, eu e Lauren saiamos porta afora. A visão enchia os olhos. Um bosque, uma imensa parede, vários chalés, um quadra, algumas outras construções e ao longe um leve brilho de sol refletindo na água.

- Sobre oque você quer saber primeiro? – disse ela olhando meu rosto espantado.

- Oque você gostaria de me mostrar primeiro? – disse virando meu rosto para encará-la.

- Bem, há o arsenal, a quadra, os chalés, o bosque, o lago – listou ela, dando um leve toque de carinho quando falou a ultima palavra. Então minha escolha foi feita quase que imediatamente.

- O lago seria ótimo – falei eu e ela sorriu e iniciou uma corrida na qual me guiava e apontava para vários outros campistas, apresentando-os. Lotin, Merc e Hilla, filhos de Ares; Fran filha de Atena; Circe e Helen, filhas de Afrodite; Sert, filho de Poseidon; Trik, filho de Zeus; e dois campistas que ela esqueceu de me apresentar. Chegando ao lago, eu vi uma das cenas mais belas de toda minha vida, que ficaria marcada para sempre. Lauren deitou da grama, e eu logo me juntei a ela.

Ela tinha chegado ao acampamento um ano atrás, só que como chegara alguns dias após a cerimônia de reconhecimento de partenidade/maternidade ela teve que esperar até a cerimônia deste ano, que aconteceria daqui a três dias. Ela falou que toda cerimônia tinha a presença de um deus, além de claro Dionísio, ou Sr. D., o diretos do acampamento. Passamos algumas horas conversando sobre nossas vidas, ela me contou como era a vida no acampamento, como eram as divindades etc. O sol estava no seu pico quando finalmente levantamos e ela me guiou até oque ela contara ser o refeitório.

O lugar era totalmente aberto, possuía uma mesa para cada chalé (foi oque Lauren me contou), além de uma mesa extra para os que ainda não tinham sido reconhecidos. Ao centro havia uma enorme churrasqueira de pedra, na qual todos deveriam fazer suas oferendas aos deuses. Eu pedi uma deliciosa lasanha, como só minha mãe sabia fazer, alem de um suculento pedaço de porco. Separei as melhores partes e joguei no fogo, então voltei a mesa com Lauren. Na mesa fui apresentado e mais dois campistas ainda não-reconhecidos: Ângela e Caim, que assim como Lauren, chegaram ano passado, só que após a cerimônia, que, alias, não tinha data definida no calendário, logo eles ficavam sabendo da mesma apenas uma semana antes de ela ocorrer, e na mesa também estava Mayk, que havia sido guiado por Ângela toda a manhã. Ao fim da refeição, um enorme centauro se dirigiu a nós, e Lauren sussurrou para mim que aquele era Quíron, e que ele era quem cuidava realmente de quase todo o acampamento.

- Vocês devem ser os novatos – disse Quíron estendendo a mão, que eu educadamente cumprimentei – Temar nos contou que foram atacados por uma quimera. Foi muita sorte saírem vivos, apesar de ninguém saber como conseguiram isso.

- Eu também não sei, – respondi a ele – simplesmente quando aquele monstro estava quase nos matando tudo escureceu, e então eu estava na Colina do Velocino. Lauren me explicara a história curiosa daquela colina. Por muito tempo fora chamada de Colina Meio-Sangue, pois lá, Thalia, uma filha de Zeus, havia sido transformada em um pinheiro ao chegar perto da morte, mas milagrosamente ela retornou a sua forma humana graças ao poder do Velocino de Ouro, desde então a colina recebeu o nome de Colina do Velocino.

- Sei, - disse Quíron, parecendo ter entendido algo – mas agora quero lhes apresentar nosso arsenal, e nossos mascotes. – disse indicando-nos um prédio perto da plantação de morangos e dos vinhedos. Outra coisa que descobri deitado na grama com Lauren, era que Dionísio tinha sido condenado por Zeus a um século de abstinência de álcool e um século como diretor do acampamento, porém teve a pena primeiramente reduzida a metade, e então retiraram a parte da abstinência. Caminhamos até o arsenal, e então eu reparei que não era a única construção do lugar. Ao lado, havia uma espécie de lugar onde se alimenta animais, mas impecavelmente limpo. Havia cinco grandes bacias, grandes o bastante para suportarem comida suficiente para pelo menos 10 cavalos cada uma.

- Aqui é onde comem nossas mascotes – disse Quíron – e eu tenho uma sensação que eles gostaram de você Krion.

- De mim? – perguntei assustado – Porque acha isso?

- Bom, não tenho certeza, é só minha opinião. – acalmou-me Quíron – Geralmente Percy é quem os alimenta, mas como ele não esta aqui... Acham que podem me ajudar?

- Claro – disse Lauren – será um prazer Quíron!

Eu não tinha tanta certeza, mas mesmo assim ajudei a encher de ração as cinco bacias. Quíron foi buscar os – que agora eu tinha certeza de serem gigantes – mascotes do acampamento. Cinco minutos depois ele voltou, e eu tive uma visão, que embora possa parecer estranho, senti que estava em uma ótima companhia. Cinco cães gigantes caminhavam em direção as bacias, bom seriam cães se não tivessem um pequeno detalhe. Asas enormes projetavam-se nas costas dos animais.

- Esse foi o resultado da ultima grande aventura de Blackjack, o pégaso negro de Percy, e de uma Sra. O’Leary bêbada de vinho – anunciou Quíron – os únicos da raça: Odin, Thor, Loki, Hel e Eir, três machos e uma fêmea.

Surpreendentemente senti que aqueles cães-pégasos seriam grandes amigos. Me aproximei do cão com o nome de Thor, e já éramos grandes amigos. Ele me lambeu, ou melhor, me deu um banho – claro, imaginem o tamanho da língua de um cão que tem quatro metros e meio de comprimento por dois de altura. Me apresentei á Thor, e ele foi o primeiro a ir comer. Enquanto isso, apresentei Loki a Mayk, e eles se tornaram uma espécie de amigos (pelo menos por parte do cão). Acalmei Lauren, e a guiei em direção a Eir. Não sei dizer qual tremia mais. Parecia até que as duas tinham uma ligação, já que quanto mais Lauren se sentia segura, mais Eir se soltava. Quíron me olhava atentamente, como se tivesse confirmado suas suspeitas. Apresentei Ângela e Hel, e por fim, fiz um completamente relutante Caim dizer que Odin era um bom cão. Então fomos forçados a deixar os cães sozinhos, e nos dirigimos ao arsenal. Lá descobri ser um bom lutador. Como nenhuma arma do arsenal era boa para mim, fui forçado a treinar com uma espada um pouco mais pesada do que eu gostaria. Eu fiquei observando vários minutos os outros treinarem, Mayk foi antes de mim e quando chegou minha vez eu tive que lutar contra Caim. Ele usava uma espada igual a minha e como eu parecia não gostar muito da arma. Quíron nos explicou que isso era normal. Cada meio-sangue tem uma especialidade com armas diferentes, muitas vezes dependendo do seu parente divino. Por isso sempre o deus que presenciaria a cerimônia pessoalmente levava geralmente as armas que os deuses sabiam ser a perfeita para os seus filhos ou filhas.

Apesar de não ser a melhor arma, Caim tinha muito mais experiência. Apesar de eu me ver sendo um guerreiro nato, eu perdi varias vezes antes de conseguir algo com que até Quíron se surpreendeu,

Caim avançou contra mim, e eu me esquivei por um triz do seu ataque. O escudo que eu segurava em uma das mãos começou a me pesar, então decidi fazer algo completamente inesperado. Joguei meu escudo fora e tomei outra espada, afinal o escudo era pesado mas eu ficaria muito mais desprotegido se apenas o joga-se fora e não pegasse nada para me proteger no seu lugar. No momento em que eu peguei a segunda espada, descobri que acertara. Com duas espadas eu me sentia bem, tão bem que poderia fazer qualquer coisa. Eu esperei Caim avançar e simplesmente me movi com uma extrema leveza, ao mesmo tempo que movia as espadas nas minhas mãos, fazendo Caim perder tanto o escudo quando a espada. Fiquei ainda mais surpreso que os outros. Eu sabia pra que tinha nascido, e sabia como fazer isso. E então, como lendo meus pensamentos Quíron disse:

- Parece que sabemos qual o seu caminho Krion. Nada de escudos, nada de defender. Você foi criado para o ataque, esse é o seu caminho.

Após algum tempo em silencio, Quíron decidiu que bastava pelo dia, e nos mandou ao nosso chalé. Antigamente os não-reconhecidos ficavam no chalé de Hermes, afinal ele era deus dos viajantes e qualquer pessoa que precisasse de um abrigo. Porém foi aceito a construção de um chalé apenas para os não-reconhecidos, Nós rumamos para o nosso chalé, que era no nº 0, afinal ali ninguém havia sido reconhecido ainda. O chalé era dividido em duas áreas, o lado esquerdo era das garotas, o direito dos garotos. Haviam três beliches de cada lado, uma decoração simples nas paredes (um quadro e alguns desenhos em relevo) e uma fonte para mensagens de Íris, a forma de passar mensagens usadas pelos deuses. Deitei na parte de cima de um dos beliches, e vi que embaixo não havia ninguém, Mayk e Caim deitaram os dois no outro. Ângela e Lauren foram cada uma em um beliche. Ouvi todos sussurarem boa noite, e dormirem. Apesar de estar evidente que Mayk roncava, o som não chegava até mim. Achei isso uma ótima idéia, preservar o sono. Fechei os olhos e tentei dormir. No meio da noite, porém percebi que Ângela e Lauren conversavam entre si.

- Eles são muito legais não? – perguntou Ângela.

- Sim, ele é incrível. – respondeu Lauren.

-Ele é? – riu Ângela.

- Ah, droga... Você entendeu. – disfarçou Lauren.

- Sim eu entendi. – disse Ângela sem mostrar o leve sorrisinho que dava.

- Tomara que ele não seja meu irmão – disse Lauren.

- Bom, acho que ele não é seu irmão LK.

- E porque acha isso? – questionou Lauren.

- Simples – disse Ângela olhando para Lauren – isso é muito mais que afeto de irmãos. – finalizou ela rindo e voltando a se deitar.

- Sua filha da mãe! – disse Lauren rindo e deitando também. Fechei novamente os olhos e sorri. A segunda noite no Acampamento foi perfeita como a primeira. Não, foi muito melhor. Por fim adormeci, e sonhei. Um sonho que me deu um grande aviso e que me deixou tão confuso quanto um aluno do primário ficaria ao receber uma prova de álgebra avançada.


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