Se o Mundo Ruir escrita por MillaSnape


Capítulo 6
Capítulo 6 - Confronto (PDV do Seiya)




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O Irmãozinho do Inimigo


Capítulo 6 – Confronto (PDV do Seiya)

Era por volta das onze da noite quando Seiya marchou até o apartamento em que o irmão de Ikki supostamente vivia. Hyoga e Shiryu vieram com ele, mas os três haviam decidido que seria melhor um deles subir só – afinal, eles ainda acreditavam em uma batalha justa, um contra um. O escolhido para a tarefa de lutar contra Shun e trazê-lo vivo até o carro foi Seiya. Os outros dois esperariam no carro, estacionado na frente do prédio.

Seus amigos haviam insistido que deveriam pelo menos ficar por perto para cobri-lo, em caso de Shun ser mais poderoso do que esperavam, mas Seiya havia se ofendido com aquilo; ele era homem o suficiente para lutar sozinho. Ele era um dos Cavaleiros de Atena, pelo amor de Deus! 'Digo, pelo amor da Deusa'. Não importava o quanto forte Shun fosse, Seiya iria enfrentá-lo e derrotá-lo, ou morrer tentando! Seus dois amigos haviam finalmente concordado em fazer as coisas do seu modo, mas desde que ele subisse no prédio vestindo sua armadura de Pégasus.

É agora,” ele pensou, parando na frente da porta, perguntando-se quanto difícil essa batalha seria. Não que ele estivesse preocupado ou com medo, obviamente – essas coisas ele quase nunca sentia. O problema era que Atena havia ordenado que trouxessem Shun tão ileso quanto possível, já que a sua pele seria marcada mais tarde, deliberadamente, para manipular Ikki. Mas como ele iria lutar sem machucar o cara? Isso poderia ser bem difícil. Ele não poderia simplesmente agarrar o rapaz, amarrá-lo e trazê-lo para baixo, a não ser que o pegasse dormindo, e pesado... ou se estivesse muito bêbado. Não, isso seria ter esperança demais. O guerreiro se defenderia ferozmente, sem dúvida atacando Seiya com tudo o que tinha, furioso por ser atacado em sua própria casa. E daí Seiya teria que se defender, evidentemente.

Ele soltou um suspiro fundo. Teria que ir em frente e ver o que acontece.

Com esse pensamento, girou a maçaneta e abriu a porta, que nem estava trancada. As luzes estavam apagadas e o lugar estava bastante escuro. Seiya entrou e atravessou a cozinha, parando na porta que dava para o outro cômodo. Viu que era a sala de estar, e a escuridão era quase total, salvo por um pequeno abajur localizado no lado oposto do recinto. A pequena fonte de luz iluminava as páginas de um livro (que provavelmente continha táticas de guerra ou algo ruim, Seiya adivinhou). O livro estava nas mãos de uma figura magra de cabelos compridos, sentado sobre as próprias pernas em uma postura relaxada no sofá, e parecia completamente absorvido na leitura. Seria aquele o Shun, ou alguém que dividia a casa? Ele não sabia como era a aparência do rapaz, mas esperava por alguém de mais porte, como o Ikki.

Ele viu o instante em que a figura no sofá enrijeceu os ombros em tensão, e abruptamente moveu a cabeça em direção a ele. Então viu uma mostra de dentes.

Nii-san!!! Mano, você está aqui!!!” Aquilo foi praticamente gritado, com entusiasmo demais. “O que está fazendo parado aí?”

Sua voz era macia, quase feminina. Obviamente ele não podia enxergar bem o visitante no escuro, e supôs que era o irmão. Com certeza ele se referia a Ikki; agora Seiya tinha prova que haviam achado o cara certo. Mas se ele supunha que era Ikki quem estava ali a lhe visitar, por que estava tão entusiasmado? Em sua opinião, ninguém com um pingo de juízo jamais deveria ficar feliz em ver o Fênix – nem mesmo a peste do irmão. A ideia era absurda!

E que fantasia ridícula é essa que você colocou dessa vez? Algum tipo de cosplay, por acaso?” o homem riu. Riu! “Nii-san, essa sua namorada parece gostar mesmo de coisas estranhas…”

Como ousa rir da minha armadura sagrada?” Seiya falou devagar e perigosamente, pronunciando cada palavra, raiva despejando de sua boca. O homem deixou o livro cair no chão e se levantou depressa. “Fantasia ridícula, é mesmo?”

Você—você não é o Ikki!” ele exclamou, apontando um dedo ao visitante.

'Brilhante dedução!'

Ali estava. A prova definitiva de quem ele era. E também, todo mundo instintivamente sabia que apenas pessoas muito agressivas apontavam o dedo na cara das outras. Qualquer livro sobre linguagem do corpo diria isso. Não que Seiya tenha lido algum, mas Hyoga leu, e depois dividiu seu conhecimento com ele. “Impressionante habilidade de observação, guerreiro. Não, eu não sou Ikki, graças a todas as estrelas.”

Quem diabos é você? E o que faz no meu apartamento?” Sua voz soava... o quê? Exigente. Controlada. Calma. Perigosa.

Sou Seiya Ogawara, mas pode me chamar de Seiya de Pégasus,” ele trovejou com orgulho, “um dos três Cavaleiros de Bronze e servo fiel da Deusa Atena. E você quem é?”

O outro recusou a responder logo, fazendo Seiya esperar. Tanta falta de respeito! Seiya fechou os punhos numa tentativa de controlar seu temperamento. Ele percebeu a silhueta de Shun na meia-luz, um pouco magra demais para um cavaleiro. Ele não podia ver muito no escuro, mas Shun não era muito musculoso. Seiya guardou aquela informação para referência futura. Isso provavelmente significava que a maior habilidade do outro era a agilidade, ou talvez outro talento que não exigisse força brutal. Mas não significava que ele não fosse forte; Seiya tinha certeza de que era. Muitos cavaleiros eram magros, mas tinham uma força impressionante, e esses às vezes eram os mais poderosos.

Depois de longos momentos, o homem finalmente falou, ainda com uma voz calma e perigosa (mesmo sendo um pouco afeminada): “Nunca ouvi falar disso.”

Agora o homem irritante o estava insultando ainda mais! O que quis dizer, nunca ouviu falar daquilo? Ele se referia ao próprio Seiya, à Atena, ou aos Cavaleiros de Bronze? Não era possível que não fosse bem familiar com os três, qualquer cavaleiro era, então a intenção do comentário foi obviamente um insulto, uma forma de fazer pouco caso de Seiya e seus amigos, de dizer que não eram importantes.

Ah, por favor – então os Cavaleiros de Bronze estão abaixo de você, ãhn? Posso perguntar de que grupo faz parte, que é tão superior ao meu?”

Grupo?”

É, grupo, ordem. Você é um cavaleiro?”

“…”

O miserável infeliz se recusou a responder! Se havia uma coisa que Seiya odiava, era ser ignorado. Cerrou os punhos novamente. “Ainda não respondeu à minha outra pergunta: quem é você?” Mesmo sabendo seu nome, era considerada uma cortesia básica um guerreiro se apresentar a seu oponente. Não fazê-lo era mesmo muita falta de respeito.

Olha aqui cara, seja lá quem você for, não tem o direito de invadir o meu apartamento desse jeito – no meio da noite, ainda por cima – falando coisas sem sentido e exigindo saber o meu nome. Então saia já daqui.”

Insultos, de novo! Ele estava insinuando que Seiya era um ninguém, muito desimportante para chegar e confrontá-lo. Ele não estava discutindo, ficando bravo, atacando – estava simplesmente o mandando embora. Ninguém o mandava embora desse jeito! “Seu nome é Shun Amamiya, eu já sei. Apenas queria ouvi-lo de sua boca.” Sua voz estava cheia de sarcasmo e raiva. “Se você não pretende me dizer a que ordem pertence, tudo bem! Não me importa. Mas pelo menos tenha a cortesia de dizer qual é a sua constelação, guerreiro!”

Constelação?” o outro repetiu. “Você está perguntando sobre o meu signo do zodíaco, ou algo parecido? E como sabe meu nome?”

Seiya estava furioso, soltando fumaça pelo nariz, ou pelo menos assim se sentia! Até agora não havia obtido respostas de Shun. Não precisava delas, mas o que o aborrecia era a falta de respeito. Esse cara não tinha maneiras, ou talvez não as usava de propósito para insultá-lo.

Saia daqui. Por favor,” Shun disse, sua voz no mesmo tom calmo e firme. “Não sei o que está se passando, e não me importa. Apenas volte de onde veio, por favor, e vamos fingir que isto nunca aconteceu, ok?”

Será que ele soou um pouco... assustado? Poderia ser? Seiya balançou a cabeça para si mesmo. Claro que não! Shun continuava se portando como um imbecil, com falta de vontade de lidar com Seiya, achando que poderia dispensá-lo e ficar por isso mesmo. Engraçado que disse ‘por favor’ duas vezes... mas devia ser puro sarcasmo. Ele próprio usou aquela palavra com sarcasmo em várias ocasiões; por exemplo, às vezes quando ele queria ficar só e Shiryu insistia em conversar, dizia algo como: “Seu chato, larga do meu pé e me deixa em paz, por favor, vai?”

Você não vai se livrar de mim tão facilmente, guerreiro!” Seiya disse, assumindo uma pose de ataque. “Você se acha tão superior a mim: então o prove! Coloque sua armadura, e mostre-me do que é capaz!”

Páre de me chamar assim!” Shun gritou. Essa era a primeira vez que elevava a voz, à parte do momento em que pensou que estava falando com Fênix. “Eu não entendo o que você quer de mim!”

Que bom que finalmente chegou ao ponto, Amamiya: o que quero de você. Vou dizer. Vim aqui para o levar comigo, e pode crer, você vai vir comigo, ou não me chamo Seiya de Pégasus. Agora, chega de conversa! Prepare-se para lutar!”

Eu—Eu não quero lutar!”

Isso já ficou claro, mas você não tem escolha! Agora, vai colocar a sua armadura, ou vai facilitar isso demais para mim?”

Por favor. Deixe-me em paz. Ou eu—ou eu grito!”

Gritar? Ele devia estar se referindo a algum golpe. Seiya também tinha que gritar seu Meteoro de Pégasus para que funcionasse. Mas “eu grito” era uma forma estranha de falar...

Shun fez um movimento, não para ir encontrar a sua armadura, mas meramente para juntar o livro do chão. Seiya suspirou. Organizar a bagunça da casa não podia esperar, é claro; era uma prioridade sobre coisas menos relevantes, tipo dar a Seiya sua atenção completa. “Muito bem. Já que se recusa a vestir sua armadura, vou tirar a minha. Eu não preciso de uma vantagem para te derrotar, Amamiya.” E nem queria ser chamado de covarde.

Seiya removeu sua armadura, parte por parte, até estar vestido apenas em sua roupa favorita: camiseta vermelha colante e jeans desbotados. Então ele se posicionou de frente a Shun, que estava se movendo de fininho para o lado esquerdo da sala. “Estou pronto para você, cavaleiro. Vem me pegar!”

Já disse que não quero lutar! Me deixe em paz!”

Sua voz estava alta e aguda agora, e se Seiya não soubesse melhor, acharia que soava como... pânico? Que noção absurda! Pirralhinhos também chiavam daquele jeito, protestando quando não se lhes faziam a vontade... Shun estava sendo irritante tal e qual. Bem, Seiya estava cansado de discutir. “Se você não atacar primeiro, eu o faço!”

Começou a perseguir Shun, que parecia determinado a evitar um confronto (depois daquela insinuação toda sobre seus poderes superiores!), correndo em direção ao quarto adjacente. Ele provavelmente tinha armas ali, e queria alcançá-las, Seiya deduziu. De qualquer modo, Seiya foi mais rápido e alcançou a porta primeiro.

Com isso, Shun arremessou o livro que trazia nas mãos em direção a ele, atingindo-o no peito. Que tipo de ataque idiota era esse??? Estaria o livro envenenado, talvez, feito para soltar o veneno se atingisse a alguém de um certo jeito?

Encorajado com o sucesso de sua mira, Shun começou a pegar os livros da estante e jogá-los em sucessão em Seiya. Seiya estava pasmo demais com aquele absurdo para reagir, então se limitou a ficar ali parado por vários momentos, deixando que os livros o atingissem. Ele não entendeu o significado daquilo.

Shun aproveitou a oportunidade e agarrou um vaso de vidro da mesa de centro, e o arremessou à sua cabeça, mas Seiya se esquivou a tempo. O vaso voou de encontro ao espelho atrás de si, os dois partindo-se em um milhão de pedacinhos e causando um barulhão enorme. Seiya distraiu-se com aquilo, e quando deu-se por conta, a sala estava imersa em escuridão total, não mais enxergava um palmo diante do nariz. 'O Shiryu que não se importaria,' ainda pensou. Seu oponente obviamente havia feito algo com a luz do abajur. Um segundo mais tarde, algo metálico o atingiu na canela – devia ser o abajur – e ele ouviu Shun disparando em direção à cozinha. Seiya correu atrás dele no escuro, e não tendo familiaridade com a sala, deu de encontro a um sofá e passou por cima, virando-o no processo.

Levou apenas um momento para chegar à cozinha, onde podia ouvir Shun mexendo nas fechaduras, tentando abrir a porta para escapar. Ah não, ele não o deixaria! E como estava tão escuro, Seiya não sabia se Shun iria o golpear primeiro, mas não iria levar chances. “Meteoro de Pégasus!!!”

Seiya correu até Shun e cegamente desferiu vários socos rápidos, atingindo diversas partes do seu corpo – barriga, peito, costas, ombros, rosto, cabeça. Antes de muito, seu oponente jogou-se no chão; certamente uma estratégia para evitar mais golpes e ganhar distância do oponente por um nível mais baixo. Então Seiya não perdeu tempo e continuou atacando Shun no chão.

Mas então parou de repente. Isso estava extremamente estranho, e Seiya levou um momento para analisar o que estava acontecendo. Percebeu que Shun não estava mais se movendo, mas apenas deitava-se ali quieto, recebendo os golpes. Tornou-se óbvio que seu oponente estava desmaiado.

Mas como isso era possível? Aqueles tinham sido simples meteoros; nenhum cavaleiro decente teria sido derrotado por uns poucos deles, e Seiya nem havia empregado muita força! E este era o irmão de Fênix, por lógica ele tinha que ser um guerreiro poderoso, certo?

Tarde demais Seiya percebeu outra coisa: enquanto ele distribuía socos em Shun, sentiu braços agindo como escudos na frente dele. Shun estivera se defendendo, não atacando de volta. Tudo aconteceu tão rápido, que apenas agora ele percebia esses detalhes.

Seiya tocou as paredes cegamente, procurando pelo interruptor de luz. Seu estômago estava pesado com apreensão. Ele não sabia o que veria quando acendesse a luz, mas algo lhe dizia que não iria gostar.


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Continua...



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Notas finais do capítulo

Nota: São 4:06 da manhã, não pude parar de escrever até terminar o capítulo! Este é um dos meus favoritos até agora, espero que também tenham curtido. Como podem perceber, adoro escrever (e ler) personagens com problemas de comunicação: um diz uma coisa, o outro entende outra bem diferente... o pior é que também é assim na vida real, isso me acontece de monte!...No próximo capítulo, a cena vai ser a mesma, contada pelo ponto de vista do coitadinho do Shun. (Vocês devem imaginar a confusão do menino, antes mesmo de eu escrever!)Obrigada a todos que têm acompanhado esta fic com tanto carinho!Mila