Ensina-me a Viver escrita por Graziele


Capítulo 17
Do Outro Lado


Notas iniciais do capítulo

Big thanks to: ivis, Cammy, LittleDoll, dridri, yarabastoss, Déh Oliveira, bonno, sheilaalves,RM, Miss15, Lai Cullen, Giih, jeniffas2, Marie May, Nathalia Lisboa, Isabelly_CM, Nathi Mellark



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/109199/chapter/17





Nagold, 17 de dezembro de 1944



Querido Edward,



Eu comecei contando os dias... Depois os meses... Agora, no entanto, eu não conto mais nada, a não ser com a esperança de que você retorne.



Tenho tentado viver uma vida normal, tenho tentado até mesmo, no estopim do meu desespero e saudade, esquecer que você apareceu em minha vida. Tenho tentado esquecer o que você significou pra mim, e o que aconteceu entre nós. Mas eu simplesmente não consigo. Alice disse que é porque estou preocupada, mas eu discordo. A simples verdade é que eu o amo. Mais do que já amei qualquer outra coisa em minha vida. E tudo o que nos aconteceu está cravado em meu coração e memória, de um jeito que é impossível retirar.



E essa guerra... Essa terrível e maldita guerra que me assola em aflição desde que começou, tirando minha mãe, meu pai... E agora, tirando-me você, dessa forma tão gratuita. Pergunto-me incessantemente quando ela acabará, quando a paz retornará. Eu já não aguento mais. Não aguento acordar todos os dias sem a certeza do que acontecerá, sem a certeza de vê-lo novamente. Sinto falta de acordar com seus beijos a carinhos, sinto falta de cobri-lo no meio da noite, sinto falta de sua voz, de seus olhos, sinto falta de voltar da floricultura com o braço entrelaçado ao seu...



Jasper também fora para a guerra e Alice não poderia estar mais entristecida. No entanto, é compreensível que ele vá, afinal, ele é alemão. Mas você... Oh, soldado tenho tanto medo do que pode estar acontecendo a você!



Lembra-se da promessa que me fez, quando estava prestes a embarcar? De que voltaria vivo? Por favor, soldado... Cumpra essa promessa. Volte para mim.



De sua alemã, Isabella.










Szczecin – Retaguarda polonesa, 20 de dezembro de 1943




– Masen, o general está te chamando – Max Steiner comunicou a Edward, com sua voz baixa e dolorida, devido ao tiro que recentemente tomara na garganta.


O inglês desviou minimamente seu olhar da pilha de cartas de sua alemã e encarou o outro soldado, indiferente. Já não lhe era mais novidade ser chamado pelo General. Na realidade, durante aquele mês tenebroso em que estava no Exército alemão, ele praticamente já conhecia a sala do General como a palma de sua mão.



Todas as vezes que visitava o velho Hans Vander Field, general das missões da retaguarda,voltava para o alojamento odiando o mundo e quebrando o que via pela frente – o que, numa vez fatídica, fora o nariz de um outro soldado.



Ele estava afogado numa revolta tão grande que quase não havia espaço para outros sentimentos. Revolta por estar ali, revolta por estar longe da sua alemã... E uma vontade imensa de matar todos e voltar para a Alemanha, nem que fosse a pé.


Como imaginara, aquele alemães imbecis estavam usando-o como informante. Eles sabiam que Edward havia feito parte de um grupo especial para furar o forte bloqueio alemão na Polônia, e estavam, a todo custo, tentando arrancar informações sobre isso. Nas três semanas, Edward fora até a sala do general três vezes e nas três revelara o que sabia e o que lembrava. Tentativas
de penetração pela retaguarda fraca, canhões potentes, infiltrados, grupos de soldados pequenos...
Ele dissera tudo, porque não tinha motivos para
esconder. Ainda tinha a esperança de que, dizendo tudo, eles o mandassem de
volta.



Mas não. Há uma semana, o General o chamava para seu escritório, pedindo informações sobre os próximos passos Aliados. E ele já não sabia de mais nada, o que causava a fúria do militar velhote. E Edward nunca fora de engolir sapos, nunca teve medo de peitar seus superiores ingleses e não teria medo de fazer o mesmo com os alemães. Ele não tinha que estar ali, não lhes devia o mínimo de respeito.


Os outros soldados não sabiam de nada, embora um ou outro lhe perguntasse de onde viera aquele sotaque estranho e um ou outro lhe dissesse o quanto era petulante por discutir com o general como se fossem dois recrutas.


Edward ainda não havia participado de nenhuma batalha no tempo em que estava ali, entretanto não temia isso. Caso alguma invasão acontecesse, ele não teria remorso nenhum em simplesmente mudar de lado e contar aos soldados inimigos o que estava acontecendo.


O pior de tudo era que não estava conseguindo se comunicar com sua alemã. Ela lhe mandava uma carta a cada semana e ele a respondia, mas a mulher continuava lhe mandando cartas como se não tivesse recebido resposta. O inglês não duvidava de que os superiores interceptavam suas cartas, para que a alemã pensasse que estava morto e esquecesse-se dele.


– Masen! Seu infeliz! – Steiner chamou-lhe a atenção, estalando seus dedos magrelos na frente do rosto do inglês. Max Steiner era jovem, com olhos incrivelmente azuis e cabelos loiros escorridos. Não devia ter mais do que dezenove anos e Edward pegou-se tendo pena dele. Ele não era alienado por guerra como os outros recrutas e parecia um peixe fora d’água, tanto quanto si próprio.


– Parecom isso! – Edward rosnou, pegando os dedos pálidos do outro e torcendo-os minimante. Max fez uma careta de dor e Edward o soltou, bufando. – É um marica mesmo – censurou, rindo um pouco.


Max era o mais próximo dele ali... Ou o mais próximo na medida que Edward dava espaço. Como era bem mais novo, tinha em Edward um soldado mestre, alguém mais experiente que podia contar, o que não acontecia com os superiores.


– Às vezes eu me pergunto o porquê do general te chamar tantas vezes na sala dele – o loiro devaneou, sentando no beliche a frente de Edward, enquanto este arrumava as cartas de sua alemã numa pilha e as amarrava com um elástico.


– Isso não é da sua conta – Edward disse rispidamente, levantando-se e ajeitando suas calças camufladas e sujas.


– Você é o mais folgado de todo pelotão, nunca participa das corridas em volta do perímetro... – o soldado alemão continuava suas suposições sem se importar com as censuras do outro. Max não sabia de sua origem, como todos ali, mas não perdia a oportunidade de especular. Edward não se preocupava com o fato dele poder descobrir algo, porque o moço era tão bobo que não conseguia ver um palmo a frente do seu nariz. E se ele descobrisse, Edward pouco ligaria.


Fingindo que não ouvia o que o outro tagarelava, Edward saiu do alojamento-dormitório da Base Alemã, deixando o outro falando sozinho.


Saindo para aquele aglomerado de soldados alemães que tomavam todo o espaço da cidade polonesa, Edward revirou os olhos para sua própria situação insana. Depois de quatro anos se ferrando no Exército Inglês, agora estava no Exército Alemão, no Exército inimigo.


Isso ainda lhe parecia surreal... Ridículo, na verdade.


Apressou o passo mais um pouco, tentando ignorar os homens a sua volta, e logo chegou na frente do Escritório do General responsável. Aquela base das Potências do Eixo estava em melhores condições do que todas as bases inglesas que Edward já havia passado. Claro que a Alemanha tentava providenciar qualidades para os combatentes, certamente pra que continuassem na ilusão de que a guerra era uma coisa maravilhosa.


Sem bater na porta, Edward rompeu pela porta do general, altivo e impassível, como sempre fora.


Deu de cara com o general Vander Field andando de um lado pro outro na saleta, passando as mãos pelos cabelos calvos nervosamente, com a farda cinza cheia de insígnias cuidadosamente posta sobre os ombros caídos. Aquele bigode cinzento no rosto enrugado incomodava Edward e aquela gola vermelha da farda com o símbolo nazista também. O inglês tinha nojo daquele general.


– Oh, finalmente meu inglês preferido! – o general saudou sarcasticamente, abrindo os braços com um sorriso extremamente falso. Edward revirou os olhos.


– O que é dessa vez? – perguntou, sem rodeios.


– Suas previsões estavam erradas. – Vander Field informou, acabando com o sorriso falso e com a sombra sarcástica, completamente sério. – Não haverá nenhum ataque inglês de grupos pequenos, eles estão vindo aos montes.

– Eu lhe disse que eu não sabia das novas táticas, estou fora de lá há quase um ano – Edward deu os ombros, completamente despreocupado.


O general socou a mesa de mogno de repente, com uma força brutal que fez a madeira até se desestabilizar.


– Você é um grande maldito! – o velhote brandiu, apontando o dedo para Edward, que continuava a se mostrar impassível. – Você está aqui para nos dar a informação correta!



– Eu não tenho culpa se não faço mais a mínima ideia do que eles estão planejando! – Edward disse, no mesmo tom alto que o outro. Não aceitaria se submeter, não àqueles homens. – Eles acham que eu estou morto há mais de um ano!


Hans Vander Field respirou fundo, tentando se acalmar. Aquele sotaque horrível do moço lhe irritava ao máximo, pois lembrava-o quem ele era, lembrava-o com quem estava lidando.



– Nesse último mês nós demos uma moleza inexplicável pra você – o velho começou, com uma voz baixa e sussurrante, numa demonstração falsa de que estava calmo. – Você não acompanhava as corridas pelo perímetro, não participava dos exercícios diários... Era nosso informante precioso, que nos ajudaria a ganhar a guerra. Mas agora já chega. Você será tratado como qualquer outro recruta alemão.


– Vai me colocar na linha de frente, então? – Edward provocou, levantando uma sobrancelha, petulante. – Vocês já deviam ter feito há muito tempo.


– O que a gente devia ter feito era ter te deportado! – Hans explodiu. – E matado aquela alemãzinha traidora maldita. – Concluiu sombriamente.



– Deixe-a em paz. – Edward pontuou entre dentes. – Ela não é culpada de nada.

– Se você não colaborar, ela sofrerá as consequencias também – chantageou, dando alguns passos e ficando bem perto do inglês, fazendo seu hálito de charutos golpeá-lo no rosto cansado. – Só a deixamos em paz por enquanto, porque confiamos muito em você. – A ironia era colocada pra fora aos montes naquela sentença.


– Coloque-me na linha de frente, dê-me uma metralhadora e verá como posso ser útil. – Edward disse sério. – Faça o que quiser comigo, mas deixe-a em paz.



– Mataria os ingleses? – O general indagou, inclinando a cabeça para a esquerda com falsa curiosidade. – Mataria seus semelhantes para deixar uma vadiazinha alemã a salvo?



Edward cerrou os punhos, controlando sua imensa vontade de socá-lo até drenar todo o sangue daquele desgraçado.

– Tenho que me contentar com eles, já que não posso ter o prazer de matar você. – O soldado sussurrou entre sua respiração acelerada em raiva.


Hans soltou uma gargalhada estrondosa e se afastou do soldado.


– Fique sabendo então, soldado – o velhote frisou sua função, causando repulsa em Edward. Ele só gostava daquele apelido sendo proferido pela alemã... – que você será tratado como qualquer outro recruta alemão à partir de agora. Se você não vai ser útil como informante, vai ter que ser útil como combatente. E esqueça as regalias.


Edward bufou.


– Vai me esquecer e me deixar morrer?


– Seria ótimo – o general deu de ombros. – Eu não vou te dar a moleza de te deportar de volta. Você vai pagar por ter feito nosso país de idiota.


Com um sorriso discreto de escárnio nos lábios, Edward virou-se e saiu da sala do General, deparando com sua nova realidade por... Só deus sabia quanto tempo mais.

Mas ele aguentaria aquilo tudo de novo, porque, se o fizesse, poderia voltar para sua alemã. E ele voltaria. Vivo. Pra ela.






Nagold, Alemanha



O pôr do sol, talvez, fosse uma bela coisa a se ver naquele dia meio cinzento em Nagold. Mas os olhos da alemã que o observava estavam tão marejados ao ponto de não conseguir enxergar. Há quase dois meses, era impossível controlar as lágrimas. Elas caiam incessantemente, sem que ela nem percebesse.

Quando se sentava sozinha na mesa redonda da pequena cozinha, sentia seu coração inflar-se e explodir em angústia, preocupação e, acima de tudo, saudade. Quando se deitava sozinha na cama de casal de seu quarto, sentindo aquele cheiro lascivo que seu soldado deixara nos lençóis e travesseiros, as lágrimas não conseguiam ser contidas.


Certa vez, ouvira que nós só damos valor em algo quando a perdemos. Isabella nunca entendera muito bem o sentido daquela frase, mas, ali, sem seu soldado, aquele dito fazia mais sentido do que qualquer outra coisa em sua vida.


Queria tanto voltar no tempo... Ter a chance de não ter ficado tão confusa com seus sentimentos, ter a chance de abraçar e beijar o soldado mais vezes, ter a chance de não ser tão conservadora e tola... Queria pode voltar no tempo para,
acima de tudo, dizer àquele homem o quanto o amava. E diria todos os dias,
incansavelmente. Jogaria a vergonha de lado e diria como ele mudara sua vida,
como ele lhe trouxera alegria e como ele fazia seu coração bater ridiculamente
acelerado.


Ela tentava reparar esse erro nas cartas que endereçava a ele durante aqueles dois insuportáveis meses desde que ele partira, mas não obtinha respostas... Talvez, ele já nem pudesse mais responder...


Essa preocupação a atemorizava ao extremo. Por que ele não a respondia? O que os alemães estavam fazendo com ele? O que queriam com ele?


Jasper havia ido para o combate também, defender a Frente Oriental dos domínios alemães na França e Alice parecia uma viúva de tão amargurada. Sua mãe ficara sabendo do que acontecia entre aqueles dois da pior maneira possível. Quando Jasper partira, apenas uma semana depois de Edward, Alice ficara desolada e sua mãe lhe perguntara o porquê de tanta choradeira. A espoleta, sem alternativa, lhe respondera que era porque estava perdendo o amor de sua vida e Esme Brandon simplesmente enlouquecera. Mandara uma carta para Jasper, ralhando com ele, por ter deixado Alice esconder tudo aquilo por tanto tempo; a senhora de cabelos embranquecidos dera um prazo para que o construtor-soldado pedisse sua filha em casamento.


Alice insistira para que Bella fosse para sua casa, assim ficaria mais segura,
entretanto a alemã negou veemente. Ficar aguentando as dores de Alice não lhe
era suportável. Já lhe bastavam as suas.


O pior de toda essa situação era notar que simplesmente tudo a lembrava de seu soldado. Desde as gritarias do futebol de rua, até as balas que vendiam na
lojinha da esquina.


Era impossível não entrar em seu quarto, ou sentar-se em seu sofá, sem lembrar-se das tantas vezes que se amaram ali. Das vezes que se entrelaçaram, jurando amor eterno e inabalável, com a certeza de que eram invencíveis contra o mundo. Ela desejava arrancar aquela saudade de seu peito, desejava fervorosamente um meio de curar-se daquela consternação intolerável... Um meio de trazer seu soldado vivo.


Tentava-se manter-se forte, mas não conseguia. Durante o dia, enquanto atendia os pouquíssimos clientes de sua floricultura, cerrava os olhos, mordia os lábios, fazia de tudo e mais um pouco para refrear as lágrimas e soluços, mas, quando abria a porta de sua casa, não conseguia mais. As lágrimas, os medos, a falta de Edward... Tudo vinha numa torrente só, impossibilitando-a de fazer qualquer coisa, a não ser chorar para tentar jogar para fora de seu corpo todo aquele sofrimento. Ela sabia... Precisava manter-se otimista, precisava acreditar que ele voltaria bem... Mas era tão... Impossível acreditar. Um inglês no meio de inúmeros alemães? Quais as chances disso dar certo?


Isabella estava enrolada numa coberta que tinha o cheiro maravilhoso dele, e ela não se privava de enfiar seu nariz por entre o manto, sentindo aquele cheiro
inconfundível de menta e canela, reafirmando para si mesmo que ele fora real. A
alemã encontrava-se enrolada na tal coberta sentada no meio fio da calçada de
sua casa, com um copo de chocolate quente nas mãos, olhando para o horizonte e sentindo o vento gélido cortar-lhe a face lacrimejada. Seu cérebro projetava,
inconscientemente, especulações aterrorizantes do que poderia estar acontecendo com seu soldado no campo de batalha, lá na Polônia. Um soluço alto lhe rompeu pela garganta ao cogitar a possibilidade dele estar ferido... De estar jogados às traças, como um indigente indesejado.


– Por que simplesmente não o deportaram? – ela indagou num sussurro atormentado. Tudo seria mais fácil de suportar. Ela aguentaria tudo, mas não essa preocupação... Esse tormento gratuito e desconhecido.


Passou as mãos geladas pelo rosto, secando as lágrimas e respirando fundo. Decidiu que não mais choraria, como se Edward já estivesse morto. Ela estava chorando e lamentando por uma dor que ainda não podia ser sentida. E nem seria, porque seu soldado voltaria vivo. Inteiro, como ele prometera.


– Oh, Edward... – lamentou, engolindo o choro e fazendo uma prece silenciosa para que tudo desse certo daquela vez.


Levantou seu olhar e deparou-se com um homem a sua frente. Fitou, primeiramente, as calças caramelo e, subindo o olhar – com os olhos amendoados um pouco cerrados devido à luz – notou logo o jaleco branco e a maleta preta sendo segurada fortemente por mãos enrugadas.


– Dr. Parkers? – ela indagou, meio incerta. Há quanto tempo não via aquele homem tão bondoso! Desde que abrigara o soldado, nunca mais o avistara pelas redondezas.


– Isabella – ele cumprimentou polidamente, estendo a mão para ajudá-la a
levantar. A moça escorou-se no braço do médico idoso e colocou-se de pé,
encarando-o e sorrindo minimamente.


– Quanto tempo, Dr. Parkers! – ela saudou, abraçando-lhe calorosamente e estranhando a impessoalidade do médico; ele sempre fora tão gentil com ela...


– Faz muito tempo mesmo – ele anuiu, suspirando. – Desde que você... Abrigou aquele homem.


Bella não pode conter o arfar que lhe rompeu o peito ao ouvir o Dr. referir-se ao seu soldado com tanta... Repulsa.


– Soube que ele fora convocado para a guerra – Dr. Parkers disse de repente, fazendo a moça franzir as sobrancelhas, surpresa.


– Como sabe disso? – indagou, sua voz num fio. Doía-lhe tanto recordar de onde Edward estava...


– A Polícia costuma dar informações dos denunciados para seus denunciantes.


O cérebro da mulher demorou a processar aquela frase, e ela tentou forçá-lo a isso franzindo seu delicado cenho. Mas, quando conseguiu entender as palavras daquele homem que fora o primeiro em quem confiara, sua boca se abrira em choque e sua pulsação fora a mil.


– Co-como é? – ela perguntou debilmente, como se tivesse a esperança de que ele começasse a rir, batesse ruidosamente em suas costas e lhe dissesse o quanto era tola.


– Eu denunciei aquele maldito inglês para o Departamento D6 da Gestapo* - ele clareou, sem nenhum receio ou traço de arrependimento no rosto engelhado e aparentemente gentil.


Bella cambaleou diante daquela informação insana e improvável. Dr. Parkers estava sendo o culpado por toda essa maldita situação? Aquele velhinho que a conhecia desde as fraldas estava sendo o culpado por seu sofrimento, por sua angústia! Aquele maldito senhorzinho em quem confiara tão tolamente!


– Eu sinto muito – ele desculpou-se descaradamente quando viu que lágrimas desciam pelo rosto magro da mulher. Não eram lágrimas de tristeza daquela vez, eram de raiva... Raiva de si mesmo por ter sido tão idiota! – Eu fiz o que era melhor pra você.


Isabella arfou, completamente incrédula. Sua mente rodava e rodava e, de repente, algumas coisas faziam sentido, como, por exemplo, o porquê dos alemães não terem ido atrás dela ainda... Em seu íntimo perturbado e alquebrado, ela amaldiçoava aquele maldito médico eternamente, desejando-lhe um mal ainda pior do que aquele que ele lhe causara.


– Melhor pra mim? – perguntou retoricamente, descrente. – Veja a minha situação! – e apontou para si mesmo, mostrando-lhe sua situação de magreza e palidez extrema. – Acha mesmo que denunciá-lo para a Gestapo e fazê-lo ir para a guerra foi o melhor pra mim?


– Você se livrou de um problema enorme – o velho argumentou calmamente.


– E você é um grande maldito! – a mulher esbravejou. – Eu confiei em você! Eu confiei em você e lhe disse quem ele era! Você me prometeu que guardaria segredo!

– Eu apenas pensei no melhor para meu país.


– Então pense no melhor pra mim e diga a Gestapo para que me busque também! – Bella implorou. – Seja um pouquinho mais desgraçado do que você já é e diga a Gestapo para que me busque e me leve até ele!


– Não seja insana, Isabella Swan! – Dr. Parkers brandiu, sacudindo-a pelos ombros ossudos. – Não vê que foi o melhor? Não vê que, junto dele, todos seus
problemas também foram embora?


– Meus problemas apenas começaram com a partida dele – ela disse o mais firmemente que pode, mas as lágrimas já denunciavam o quando aquilo o maltratava. – Quanto o senhor ganhou para prestar essa informação? Um broche nazista? – levantou a sobrancelha, sarcástica.


– Não pense que foi fácil pra mim! – o médico confessou, fazendo-a bufar. – Mas eu fiz o melhor, quando vi que vocês já estavam mais do que ligados e que você não o colocaria para fora de sua, como havia prometido, eu o denunciei. Lhes disse que ele era inglês e eles planejaram levá-lo para a guerra, como se ele fosse alemão. Então, ele se aliou ao Partido, e praticamente fez todo o trabalho para ele, porque, como cidadão alemão, ele tinha que ir para a guerra.


Bella ouvia tudo, calada. Percebendo o quanto aquela ideia de Alice de fazê-lo aliar-se ao Partido era idiota. Eles deram a faca e o queijo para os alemães. Se o soldado não tivesse se aliado, se eles tivessem fugido, como o próprio lhe
sugerira tantas vezes, ainda estariam juntos.


– Espero que algum dia me perdoe e perceba que foi o melhor – o doutor sussurrou, virando as costas e deixando uma Isabella estática para trás.


Lentamente, o peso de tudo ia caindo-lhe nas costas. Medo, saudade, angústia, traição, culpa, arrependimento... todos esses sentimentos se misturavam dentro de seu coração que sangrava, transformando-se em lágrimas ruidosas, fazendo-a cair no chão.


Isabella chorou. Ali, no meio do meio fio de sua calçada, embrulhada no cobertor que tinha o cheiro dele, sem se preocupar em mostrar-se fraca. Apenas chorou sem medo, colocando tudo pra fora, de uma forma que não havia mais espaço para nada.


Ela queria seu soldado. Perto de si. De um jeito pleno, sem medos ou metades. De um jeito que ninguém pudesse separar. Para sempre.



* Departamento D6 da Gestapo: A Gestapo - a polícia secreta alemã daquela época - era dividida em vários departamentos, cada qual responsável por cuidar de um "grupo de inimigos". O D6 era o responsável pelos estrangeiros.



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

hey , suas lindas! *---*
até que não demorou dessa vez , né ? é que houve Cannes , então né ... me inspirou total *ooo* omg , eu devo ter morrido só umas dez vezes na semana passada, sério , foram horas seguidas sem conseguir parar da rir , kkkkk
tá , sobre o capítulo ... ficou bom , gente ? '-' sei lá , to meio insegura com esses lances de passar sentimentos , não sei se eu consigo fazer isso direito , kkk
ah , e essa maldita formatação ? _|_ eu não sei mais o que eu faço, já tentei de tudo e essa porra não muda -'- amanhã eu tento mudar de novo, juro :)
agora, vou-me indo :***
até mais, suas lindas s2s2