Imperfeição escrita por GabrielleBriant


Capítulo 12
A Fuga, o Beijo, o Pedido




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XII

A FUGA, O BEIJO, O PEDIDO

EMMETT

Quarta-Feira, 02 de Outubro de 1935.

Eu tinha apenas quatro dias.

Em quatro dias, eu pediria a mão de Louise em matrimônio. Em quatro dias ela seria minha e eu seria, irremediavelmente, dela.

Por que eu não estava feliz?

A resposta que eu não queria aceitar era clara: porque eu era um canalha idiota. Desde que Rosalie Hale me dissera para ficar longe dela, eu praticamente me mudara para a fazenda do Sr. Pace – tio de Louise. Quase todas as noites eu me esgueirava para o quarto da minha garota, na esperança de que eu pudesse voltar a me sentir como antes. De que eu pudesse me apaixonar novamente por ela. Não aconteceu.

O fato é que, apesar de minha cabeça estar constantemente gritando que Louise era a garota certa, o meu coração dizia que eu estava fadado a amar Rosalie para sempre. E o meu coração – o meu coração imbecil – dizia que ela sentia o mesmo.

E, naquele dia, eu havia finalmente decidido ignorar o clamor da minha cabeça, e me focar no coração.

Foi por isso que eu peguei meu velho Chevy e dirigi por quase cinco horas, sem dizer uma só palavra para as pessoas que estavam na fazenda. Eu tinha que vê-la mais uma vez. Eu tinha que... eu tinha que tentar!

Quando eu cheguei à estradinha de terra que levava à casa dos Cullen as minhas mãos começaram a tremer, e o pequeno e desconfortável percurso até a casa do lago me pareceu demorar mais do que toda a viagem. Mas eu cheguei. E, quando eu vi os jardins da propriedade, o meu nervosismo desapareceu.

Finalmente, parei o carro fora da garagem dos Cullen – e fui quase imediatamente recebido por Edward e Rosalie. Mas, naturalmente, não consegui olhar para Edward.

Rosalie estava... divina, de certa forma – não pude conter um sorriso. Eu nunca a vira tão desarrumada antes: os cabelos loiros desalinhados e o corpo coberto por um macacão jeans cheio de manchas de óleo. Manchas de óleo que também sujavam o seu rosto, deixando-o perfeitamente imperfeito.

E, quando ela finalmente me olhou, sorriu. O mais belo sorriso que eu já vira em minha vida, que fez com que todo o meu corpo estremecesse.

Como sentira falta dela! Como queria correr e abraçá-la!

- Emmett! – Ela sussurrou e se aproximou rapidamente. – Eu- O que você está-?

Meu sorriso abriu-se ainda mais.

- Eu senti saudades.

Rosalie desviou os olhos e um barulho escapou da sua garganta – era como um choro contido, apesar de não ter nenhum sinal de lágrimas em seu rosto.

- Bem, eu... Eu devo estar horrorosa!

- Não. Você está perfeita.

- Oi, Emmett – Edward disse alto, quebrando o encanto daquele momento. – Podemos lhe ajudar com algo?

- Na verdade, eu vim ver a sua irmã, Edward – Voltei a mirar os olhos âmbar. – Rosalie, eu preciso falar com você... eu dirigi cinco horas para isso! Eu- Eu quero te mostrar uma coisa. Na floresta.

Rosalie mordeu o lábio inferior, como se considerasse a minha proposta. Internamente, eu comecei a rezar para todos os santos que eu podia me lembrar. Eu apenas precisava que ela me desse essa chance. Só essa chance.

- Eu... – Ela finalmente disse, relutante. – Eu tenho que, pelo menos mudar de roupa. Me recuso a sair de casa com essa aparência!

Eu suspirei aliviado, e sequer me importei com a expressão azeda que tomou o rosto de Edward. Também não me importei quando ele saiu atrás da irmã, provavelmente para convencê-la de que... sei lá! De que eu queria esquartejá-la, ou algo assim.

Não sei quanto tempo se passou, exatamente. Não sei se foi um minuto, uma hora ou uma década. Mas quando Rosalie deixou a casa, ela estava deslumbrante. Não tinha mais nem um resquício de óleo na pele dela, e os seus cabelos estavam novamente perfeitamente penteados. Ela usava um vestido decotado e um pouco acima do joelho, e um sapato que não me parecia nada confortável para andar da floresta.

Ela também não estava sozinha ao sair de casa; ela vinha acompanhada da Sra. Cullen, que parecia ainda mais exultante que eu.

- Oh, Emmett! – Ela exclamou. – Nós todos sentimos muito a sua falta!

- Eu também – respondi.

- Eu sei; especialmente da Rose! – Ela mordeu o lábio inferior. – Bem, divirtam-se. Voltem antes do anoitecer.

- Obrigado, Sra. Cullen.

- Me chame de Esme, querido! Não sei quantas vezes terei que dizer!

E, sem mais, ela nos deixou.

Olhei maroto para Rosalie.

- Você sabe que nós vamos andar na floresta, não sabe?

Ela deu de ombros.

- Eu não vinha assim; foi Esme quem insistiu. Mas, acredite ou não, eu sou perfeitamente capaz de andar a floresta inteira nesses saltos!

- Nunca duvidei de você, meu anjo.

Ela sorriu timidamente e deixou que a sua mão procurasse a minha. Mesmo estando coberta pela luva, eu pude sentir que a mão dela estava fria.

- Bem... É por aqui.

Nós conversamos pouco enquanto eu fazia um caminho muito familiar – o destino era uma clareira que ficava um pouco ao norte da minha casa. O local era muito bonito e eu fazia questão de mantê-lo assim – tirando as ervas daninhas, aparando alguns arbustos e limpando as folhas que caíam no chão –, pois era o meu lugar favorito no universo. Foi lá para onde eu fui quando mamãe perdeu o meu irmãozinho e quando papai morreu... pois aquele era um lugar que simplesmente me fazia sentir bem.

Aquele lugar era, também, o meu único segredo. E, à medida que me aproximava, ficava mais e mais nervoso por está-lo dividindo pela primeira vez com alguém.

Finalmente chegamos. A clareira estava ainda mais bonita do que a última vez que eu a vira – o pé de amoras estava cheio e, apesar do frio das noites, algumas flores resistiram. O volume rio tinha subido com as últimas chuvas, encobrindo totalmente a lama que às vezes deixavam o seu leito feio.

Não pude evitar olhar para Rosalie. Ela parecia maravilhada.

- Por Deus, Emmett! Por que- Por que você nunca me trouxe aqui?

- Você gostou?

Ela me olhou sorridente.

- Eu amei! É tudo tão-

- Você é a primeira pessoa que eu trago aqui... então meio que espero que mantenha o lugar em segredo!

- Eu sou a primeira?

- É. – Me aproximei. – Eu nunca tinha encontrado alguém especial o suficiente, antes de lhe conhecer.

O olhar dela, então, ficou triste. Em outro momento, eu recuaria. Mas não daquela vez. Eu diria tudo que mantive trancando em meu peito nos últimos tempos.

Tomando coragem, dei mais um passo em direção a Rosalie – me surpreendendo quando ela não recuou.

- Rosalie, eu nunca senti por ninguém o que eu sinto por você.

- Emmett, por favor...

- Eu tentei ficar longe, como você me pediu, mas é impossível! Rosalie, eu acho que amo você.

- Não – Ela voltou os olhos cheios de angústia para mim. – Não. Você ama a Louise. Você vai se casar com ela, Emmett! A festa de noivado será domingo, certo?

Por um momento me perguntei como ela saberia daquilo, até que a resposta apareceu em minha cabeça: Eleanor McCarty, fazendo o que achava ser melhor para o seu filhinho. Talvez porque já soubesse, mesmo antes de mim, que eu não poderia mais deixar para trás o que sentia por Rosalie.

- Esse era o plano, sim; mas estaria aqui, se pretendesse levá-lo adiante?

- Por favor...!

- Diga que você não sente o mesmo por mim. Diga isso, e eu vou te deixar em paz.

Rosalie fez, novamente, o som que lembrava choro, apesar dos olhos secos. Mas, daquela vez, tinha tanta dor em seu rosto que o meu coração se encheu de pesar. Temi que ela pudesse dizer que não me amava.

Mas Rosalie não disse nada.

- Você me ama, Rosalie?

- Nós não temos futuro juntos!

- Bem, quem se importa com o futuro? Nós temos o presente!

Dizendo isso, levei a minha mão direita para o rosto dela e o delineei lentamente. Senti cada traço daquele rosto perfeito sob os meus dedos, até que ela fechou os olhos, entregue. Entregue a mim.

Os lábios vermelhos de Rosalie eram uma tentação muito grande; uma tentação a qual eu não queria, nem por um segundo, resistir. De uma forma masoquistamente lenta eu levei os meus lábios aos dela.

O meu coração deu um solavanco em meu peito quando eu finalmente tive os lábios de gelo sobre os meus. Apenas uma carícia tenra, para não assustá-la. Apenas isso... era tudo que eu precisava. Mas ficou impossível manter a carícia tenra quando a mão dela deslizou pelo meu abdômen e estacionou nas minhas costas, e ela foi um pouco mais para frente, colando cada centímetro do seu incrível corpo ao meu.

Como se tivesse vida própria, a minha boca abriu-se um pouco e a minha língua escapou para sentir o gosto dos lábios dela e, por Deus, Rosalie tinha os lábios mais deliciosos que eu já experimentara. E o meu copo inteiro estremeceu quando ela abriu os próprios lábios, aceitando que eu aprofundasse o beijo.

No momento que a minha língua tocou a dela eu senti um misto de prazer e dor tão grande que tive que quebrar o beijo rapidamente.

Era como se eu tivesse mastigado uma pimenta particularmente forte – toda a minha boca queimou. Aquilo me assustou, claro; mas, ainda assim, um enorme sorriso apareceu em meus lábios.

- Emmett? – Ela perguntou, sem fôlego e indiscutivelmente preocupada.

- Uau – Foi tudo que consegui dizer.

Rosalie riu e me abraçou, descansando a cabeça em meu peito e, por um momento, eu até esqueci qual o real objetivo daquela visita. A voz dela soou fraca, abafada pelo tecido da minha camisa:

- Acabou, não é? Você vai voltar para a sua Louise, agora.

Suspirei, afastando ela um pouco.

- Não. Não, se você me quiser.

- Emmett...

Com as mãos trêmulas, eu procurei em meu bolso a anel que minha mãe me dera um tempo atrás. Coloquei-o na mão de Rosalie.

- Me disseram que eu só deveria dar esse anel para a mulher que eu amasse de verdade.

Ela me olhou, entre confusa e horrorizada.

- Isso é-?

- Um anel de noivado? Bem... é. Eu sei que não posso lhe dar a vida que você leva com a sua irmã e o doutor. Mas um prato de comida nunca vai faltar! E eu juro que nenhum homem vai lhe amar mais, ou passar a vida inteira devotado a lhe fazer feliz, como eu passarei! Você quer se casar comigo, Rosalie?

Ela ficou em silêncio. Um silêncio tão aterrador, que, por um momento, eu quis implorar. Por fim, Rosalie se afastou de mim e virou-se de costas.

- Não seja ridículo, Emmett.

O meu coração parou por um momento e a dor no meu peito foi tão grande... Eu engoli seco.

- O que você disse?

Ouvi um soluço e a mão dela ergueu-se para tapar a própria boca. Por fim, ela respirou fundo algumas vezes e disse, fria:

- Você tem razão. Você não pode me dar a vida a qual eu estou acostumada. Eu gosto de dinheiro, Emmett e, apesar de você ser um bom homem, não tem condições de manter o meu estilo de vida.

- Se você ficar comigo, não vai sentir falta de dinheiro!

- Vou. Enquanto algumas pessoas, como você, conseguem viver de... amor, mulheres como eu precisam de coisas materiais. Eu logo irei com Edward para a universidade na Inglaterra, e é em Londres que eu pretendo encontrar o meu futuro marido. Eu não suportaria viver nesse fim de mundo. Nem mesmo com você.

- Eu não acredito em uma palavra do que você está dizendo!

Rosalie se virou para mim com uma expressão dura em seu rosto.

- Emmett, por favor, não seja teimoso! – Estendeu para mim o anel de mamãe. – Leve. Dê esse anel para a sua Louise e seja feliz com ela.

Calei-me. A rejeição doía imensamente, mas não mudava o que eu sentia. Tudo que eu tinha conseguido – além da humilhação – era a certeza de que eu estava alimentando uma ilusão. Rosalie estava certa: Louise era a mulher para mim.

- Eu vou me casar com Louise, sim. Eu tenho obrigações com ela que eu apenas largaria para ficar com você. Porém, Rosalie Lílian Hale, esse anel pertence à mulher que eu amo! E essa mulher é você! Se não for bom suficiente para você, jogue-o fora, venda, dê a uma amiga, eu não me importo! Mas não tente me devolver!

Ela assentiu lentamente.

- Eu guardarei até você recuperar o seu juízo e vir pegá-lo de volta. E, Emmett, se era só isso, acho que podemos voltar agora.

Eu sequer respondi. Apenas andei o caminho de volta o mais rápido possível, me certificando vez por outra de que Rosalie ainda estava atrás de mim. Quando, depois do que pareceu uma eternidade, chegamos à casa dos Cullen, encaminhei-me ao meu carro e parti dali sem me despedir.

Eu ainda não sabia que na próxima vez que eu pusesse os meus pés em Riverside, eu estaria morrendo.

XxXxXxX

Reviews, por favor.

Bjus e mais bjus para a Lou Malfoy, que betou mais esse capítulo.


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