– Eu não acredito. Como chegou aqui?!! - eu realmente não acreditava nos meus olhos.

– RENNESMEE! - ela pulou em meus braços fazendo com que eu derrubasse o pão. Ainda não podia acreditar que estava vendo justamente Nat, a minha Natasha. Mas é claro que tinha de ser ela, só ela gostava do meu nome estranho a ponto de gritá-lo aos sete ventos.

– Como você chegou aqui? - eu a afastei um pouco para poder vê-la melhor (e constatar que não era uma assombração). Ela estava com uma mochila de viagem pequena. Vestia um tênis surrado, calças jeans e uma camiseta preta com a foto da Avril Lavigne. Seus cabelos estavam cobertos por um boné que prendia um frouxo rabo de cavalo. Seu rosto estava mais magro e ela parecia realmente cansada. Na verdade parecia uma verdadeira andarilha.

– Eu fugi! - disse simplesmente e com orgulho, exibindo seu típico sorriso no rosto. Como eu sentia falta daquele sorriso.

– Como assim menina? Explica isso direito!

– Bem. Aquele dia que você foi ao orfanato, eu te vi lá, mas estava com muita raiva pra falar com você, então me escondi para que a diretora não me achasse. Vi você ir embora e fui perguntar pra velha o quê você queria. Ela disse que você só tinha ido falar da venda da casa que estavam. Rolha de poço! – exclamou com raiva. Eu ri de sua expressão. - Fiquei super mal. No outro dia, eu estava caminhando pelo pátio e vi um papel amassado no lixo, tinha o meu nome então peguei. Era uma carta de despedida sua. Aquela velha idiota não me entregou. - Bem que eu sabia que não podia confiar nela. Nat tirou a mochila e a colocou no chão. Apoiou-se em uma das prateleiras e continuou seu relato. Parecia cansada, mas muito feliz de ter cumprido sua missão. - Eu realmente chorei com aquela carta. Sabia que não podia te deixar tão fácil, então resolvi fugir. Mas me pegaram, em todas as minha 7 tentativas.

– Sete? - exclamei espantada. Eu conhecia as habilidades de Nat para fuga, e 7 era muito, até mesmo pra ela.

– É. Em dois dias. - arregalei mais ainda os olhos. - Então a velha se cansou e me colocou na solitária. É aquele quartinho que a gente fica trancada sem poder fazer nada. Fiquei lá dois dias sem comer, e fugi de novo. Consegui chegar até a estrada e pegar uma carona. Conheci um bocado de gente estranha no caminho! Demorei mas consegui. E cá estou! - ela abriu os braços, sorridente e orgulhosa de seu feito. - Estava indo até a delegacia, eu lembro que você tinha me dito que seu avô era o chefe de polícia daqui. Quem melhor pra saber onde você estava!? Vim atrás de você!

Meus olhos estavam marejados. Depois de tudo que eu havia feito, ela ainda se arriscara na estrada para vir até mim. Dessa vez fui eu quem se jogou em seus braços, um pouco soluçante. Ela afagou minha cabeça.

– Ah meu raio de luz, me desculpe! Eu fui uma péssima amiga.

– Pára com isso! Você é a minha melhor amiga, e amigas são pra isso! - ela sorriu me confortando de novo.

– Vem! - eu disse secando as lágrimas e recolhendo o pão que caíra. - Vou te levar pra minha casa.

Deixei o dinheiro do pão em cima do balcão e saí dali com Nat ao meu lado. Eu não poderia estar mais feliz. Contudo eu agora tinha um probleminha. Onde ela ficaria?

*Natasha PDV*

Caminhávamos pela rua rindo e conversando. Era realmente bom voltar a falar com Nessie. Por mais que tivesse ficado magoada por ela querer ir embora, eu não podia, nem conseguia, ficar muito tempo brava com ela. Afinal, ela era a única pessoa que eu tinha no mundo.

A rua deserta e o vento forte me provocavam arrepios, embora eu suspeitasse que não fosse apenas isso. Enquanto andávamos, o cachecol de Nessie voou com o vento forte e caiu bem no meio da rua.

– Mas que droga de vento! – ela exclamou e caminhou até seu cachecol para pegá-lo.

Uma luz apareceu ao longe na estrada. Um carro. Era estranho ver um carro no meio daquele vazio. Sua luz incidiu sobre Nessie e eu pensei que ele fosse diminuir a velocidade, mas o ronco de um motor me mostrou o contrario. O carro estava acelerando cada vez mais. Tudo foi muito rápido e ao mesmo tempo vi tudo em câmera lenta. Nessie se abaixou para pega o cachecol, alheia ao carro que ainda aumentava a velocidade conforme se aproximava dela. Joguei minha mochila no chão e corri em direção a ela.

– NESSIE! - foi só o que eu consegui gritar antes de tudo escurecer.