Depois da Morte escrita por adjr


Capítulo 3
De Volta a Vida




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Me senti no vazio novamente, mas desta vez eu não podia ver, sentir, falar... Eu não podia fazer nada. Era como se eu estivesse no melhor e no pior lugar do mundo ao mesmo tempo. Era como se eu flutuasse no nada.

Um lugar como aquele não existia, e se existisse eu nunca tinha estado lá, ou já tinha. Foi nessa hora que me veio o pensamento. Nós não poderíamos ressuscitar dos mortos, levantando dos caixões, isso seria loucura, mas e se nós reencarnássemos? E se aquele lugar onde eu estava fosse um útero? Tudo estaria perdido, eu na certa nunca conheceria Light, e mesmo se conhecesse não lembraria quem ele era, não lembraria do meu passado, não lembraria de nada.

Senti a maior frustração de minha vida, ou minha morte. Ter de viver tudo de novo, sem sequer lembrar que eu fui na vida passada.

Mas a frustração não durou por muito tempo, pelo menos não para mim.

Eu senti como se alguém tocasse minhas costas, como se tentasse me tirar daquele novo vazio.

Comecei a sentir meu corpo, sentia meus dedos, meus pés, meu tronco, minha cabeça. Fiz força para abrir os olhos, ainda temeroso, não sabia onde nem como eu estava. Abri os olhos muito pouco, a luz os incomodava. Meus pulmões se encheram de ar e um cheiro adocicado invadiu minhas narinas, cupcakes, que saudade eu tinha de cupcakes.

-Finalmente você acordou.- A voz de Light era inconfundível.

Meus olhos começaram a se acostumar com a luz. Eu virei a cabeça de lado e enxerguei sua silhueta, que tomava cada vez mais forma a cada piscada que eu fava.

-Onde estamos?- Eu sentia como se tivesse acordado de uma noite de bebedeira, pelo menos era assim que eu imaginava que devesse ser, nunca tinha bebido tanto a ponto de ficar de ressaca.

-Estamos em um hotel, eu acho...

Ele não sabia onde estávamos? Que estranho.

Levantei meu tronco. Eu estava deitado em um sofá, um sofá bege. Os cupcakes sobre uma pequena mesinha de centro que ficava entre o safá e a TV. Voltei a encarar Light. Ele estava abaixado próximo ao sofá, devia estar tentando me acordar a algum tempo. Sua roupa era a mesma que usava no vazio, toda esburacada, porém as manchas de sangue haviam sumido.

Atrás de Light e da TV se erguia uma grande janela de vidro com visão de prédios, devíamos estar pelo menos no vigésimo andar.

Eu sentei me como de costume, com os pés descalços sobre o sofá. Peguei um dos cupcakes e comecei a come-lo enquanto tentava descobrir onde estávamos.

-Eu sei onde estamos.- Disse enquanto dava uma mordida no bolinho.

-Onde?

-Estamos no meu prédio, no vigésimo primeiro andar.

-No seu prédio? O da força tarefa?- Light olhou para o chão, aparentemente não se sentia bem com aquele lugar.

-Sim, noventa e quatro por cento de certeza.

Eu levantei-me. Andei até a grande janela iluminada pela luz do sol, devia se perto do meio dia.

Estávamos no prédio mesmo, a vista, embora já tivesse se passado alguns anos, mudara pouca coisa, e era incrível como o prédio ainda existia, será que era usado por alguém?

Light se aproximou da janela também, parou ao meu lado.

-Mas como viemos parar aqui?- Essa era uma duvida que eu realmente queria que fosse esclarecida, mas duvidava muito que Light soubesse a resposta.

-Foi o lugar em que os dois passaram mais tempo juntos.- A voz vinha de nossas costas. Nos viramos abruptamente. Da parede surgia como um fantasma a silhueta alta e desengonçada de Ryuk. Ele estava com uma maça nas mãos e falava em quanto a devorava.

-O que... O que você está fazendo aqui?- Light perguntou, parecia estar indignado.

Ryuk não falou nada, em vez disse ergue um caderno negro e o balançou até que a capa falsa caísse. As inscrições me negro eram bem evidentes na capa branca. Life Note.

-Quer dizer que você irá nos seguir como fazia antes Shinigami.- Eu disse. Isso seria chato, viver aquele inferno novamente.

Ele apenas balançou a cabeça confirmando.

- Mas por...- Eu levei a mão na boa de Light, deixando cair meu cupcake no chão. Com a outra mão fiz sinal para que ele ficasse em silêncio.

Esperamos alguns segundos. Vozes começaram a ficar mais altas. Nenhuma que eu conhecesse.

-Você tem certeza que viu alguém no meu quarto?

-Sim, eram dois rapazes, um deles comeu seu cupcake.

O barulho do cartão passando na identificadora e dos botões de senha sendo apertados eram quase imperceptíveis. Estamos ferrados.

-O que está acontecendo aqui? Era pra vocês estarem lá em baixo!

Aquela voz, embora um pouco mais grave, era inconfundível.

-Senhor Near, desculpe é que vimos movimentos estranhos pelas câmeras do quarto.

Near?! Ele estava no meu prédio? Ele estava usando o meu prédio? Como ele se atreveu? Ah, eu estava morto.

Senti uma mordida na minha mão. Ai. Light me mordei? O que ele queria afinal?

Ele fez sinal para que fôssemos até o quarto. As saídas de emergência que levavam ao terraço. Ele realmente era muito experto.

Fomos correndo o mais silenciosamente possível.

Entramos no quarto e abrimos o guarda-roupas. Entramos na pequena porta que levava ao terraço. Enquanto subíamos as escadas pude ouvir um dos rapazes falar.

-Você deve estar delirando, não tem ninguém aqui.

A curiosidade de ver como Near estava era enorme, porém aquela não era a hora para isso.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, em breve o próximo capítulo.