A Lobisomem escrita por maribocorny


Capítulo 7
Voltando ao Hospital e ao Quarto Branco




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O quarto estava vazio quando eu cheguei pela lareira. Fiquei andando de um lado para o outro, bufando de raiva por causa do garoto Lupin, como uma besta enjaulada. Quando me dei conta do peso dessa ironia e de como eu seria, de fato, uma besta enjaulada em poucas horas, me joguei na cama e tentei dormir.

Encarei o teto pelo que pareceram horas antes de qualquer um entrar no quarto. O doutor Zimmer pareceu surpreso de eu estar acordada e me ofereceu uma poção diferente.

- Essa é outra adaptação da poção original de acônito. - Ele explicou enquanto eu olhava desconfiada para o líquido roxo viscoso. - Foi desenvolvida por um grande mestre posologista...

- E vocês estão testando em mim. - Eu disse, desanimada, e tomei a coisa toda em um gole só. Não me atreveria a dizer que o gosto era agradável, mas era mais tolerável que a outra poção.

O medi-bruxo sorriu para mim e me deu um tapinha no ombro. Quando ele saiu, eu desabei na cama e esperei que a lua cheia aparecesse e fizesse o trabalho dela.

- Vamos logo com isso. - Eu disse, não sei se para a lua ou se para mim mesma.

Horas mais tarde, quando ela finalmente apareceu no céu, eu senti tudo aquilo que senti nas duas transformações anteriores. O frio, a explosão no meu corpo, o meu braço saindo do lugar. As facas invisíveis cortavam a minha carne e meus ossos assumiam uma nova forma. Minha voz saía como algo entre um grito e um uivo e eu estava, mais uma vez, deformada, longe de ser um ser humano e perfeitamente encaixada na categoria de monstro.

Mas algo estava diferente. Como das outras vezes, eu não controlava minhas ações e queria desesperadamente sair dali. Mesmo assim, eu tinha mais consciência de quem ou do que eu era, conseguia perceber o que estava ao meu redor com os meus sentidos ampliados por mil. Ouvia os enfermeiros que estavam atrás da porta à prova de som do quarto branco, podia sentir o cheiro deles. E, quando eu grite barra uivei, eu pude sentir o medo e o pânico deles.

Era assustador. Das outras vezes fora mais doloroso que assustador, era como se eu estivesse presa num outro corpo e apenas assistindo. Essa transformação foi igualmente dolorosa, se não mais, mas foi a primeira em que eu e o monstro éramos a mesma criatura.

O ciclo se rompeu e a lua deu lugar ao sol, me fazendo voltar à forma humana. Não foi por muito tempo, mas eu consegui ficar acordada e dar algumas voltas pelo quarto, mais uma vez, parcialmente destruído. Tudo se repetiu por mais uma noite, e na outra manhã eu já estava acordada, limpa e vestida quando os enfermeiros viriam para arrumar o quarto.

Mas não foram os enfermeiros que vieram. O doutor Zimmer veio sozinho, trazendo mais um de seus cálices.

- É bom ver você de pé, Elizabeth. - Ele me disse. - Mas você precisa tomar isso e vir comigo.

Eu peguei o cálice e sacudi o líquido como um enólogo antes de provar uma taça de vinho. Ele mudava de cor à medida que se mexia e exalava um odor adocicado, mas que logo se tornou azedo.

- É uma Poção de Ilusão. - Eu constatei.

- Sim, e você precisa tomá-la. - Ele disse e empurrou o cálice contra os meus lábios.

A poção desceu fácil, mudando de gosto assim como mudava de cor e cheiro.

- Por que eu precisei tomar essa poção? - Eu perguntei, impaciente e dolorida.

- Você tem uma audiência com o Conselho de Hogwarts agora. - Ele disse. - O prof. Longbottom conseguiu que a sua identidade fosse mantida sigilosa, para a sua proteção e a proteção dos alunos. Agora venha comigo.

- Audiência? - Eu ecoei, mas o doutor já estava a meio caminho do corredor, eu precisei correr para conseguir segui-lo. - Conselho? Por que ninguém me falou disso antes?

- Porque é um caso sigiloso. - Foi tudo que ele respondeu.

A Poção de Ilusão cria uma espécie de névoa ao redor da pessoa que a toma, fazendo com que as feições mudem e não sejam reconhecidas. O estranho é que, se você tomou a poção, as coisas que você enxerga também ficam entrando e saindo de foco, e isso me deixou tonta. O doutor Zimmer já estava bem carrancudo naquela hora, e não ficou muito feliz de ter que me levar pela mão até a sala de reuniões do Saint Mungus.

- Ótimo, vocês estão aqui. - Eu ouvi uma mulher dizer, mas eu não tinha certeza de quem era ou para quem ela estava falando isso. - Doutor, acho que seria melhor se você fosse para o seu lugar, eu assumo daqui.

O medi-bruxo foi para algum lugar que eu não conseguia identificar e eu fiquei ali com aquela mulher. Eu estava com fome e atordoada, não muito bem recupera da transformação, sem falar que estava completamente perdida e sem saber o que estava acontecendo.

- Você sabe o que está acontecendo? - A mulher me perguntou, e eu amaldiçoei a poção por me impedir de conseguir vê-la direito. Fiz que não com a cabeça. - Um lobisomem em Hogwarts é uma coisa grande, não poderia passar despercebido pelo Conselho da escola. Você sabe o que é esse Conselho?

Eu me lembrei da conversa que eu tive com o professor Longbottom alguns dias antes, e as coisas estavam começando a fazer sentido.

- É um grupo de bruxos de famílias tradicionais que ditam as regras na escola. - Eu disse, esgotando tudo que eu sabia sobre o Conselho.

- Isso. - A mulher concordou. - Alguns desses bruxos acham que é muito perigoso tê-la na escola e querem expulsá-la, por isso dessa audiência. Eles não podem obrigá-la a mostrar sua identidade, isso vai contra as leis de proteção aos lobisomens, então eu e o prof. Longbottom conseguimos que você fosse tratada como uma testemunha anônima.

Eu fiquei sem fôlego e precisei me apoiar em alguma coisa para não cair. Eu acho que era uma cadeira, mas, nessa altura, eu não saberia dizer.

- Como assim, expulsar? Não é como se fosse minha culpa! - Eu disse assim que voltei a respirar, por mais que pensasse que talvez fosse um pouquinho culpa minha. - E os outros? O senhor Lupin e aquele tal de Wolff que o professor me falou? Por que o meu caso é diferente dos deles?

- Não é. - A mulher me garantiu. - Mas esses velhos do Conselho precisam ser convencidos disso. Nem todos são boas pessoas, Liz. Alguns deles não gostam de mestiços ou nascidos-trouxas ou qualquer coisa que seja diferente.

Eu não tenho vergonha de admitir que estava prestes a chorar.

- Quem é a senhora? - Eu perguntei quando me dei conta que ela sabia o meu nome, não, o meu apelido e eu nem conseguia ver se ela era morena ou loira. Eu pude ouvir a pausa que ela usava para sorrir.

- Eu sou Hermione Granger. - Ela disse. - E você pode me considerar sua advogada por hoje.


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Notas finais do capítulo

Nem demorei, vá! ;D
Resolvi que se frases de efeito servem para terminar os capítulos do George Martin, elas servem para terminar os meus capítulos também. Mas vou tentar não fazer disso um hábito.
Farei todo o possível para que o próximo capítulo não demore tanto. =)