Família, Amigos e Missões escrita por VanNessinha Mikaelson
Capítulo 11 – Regresso
Os Winchester’s acordaram por volta da uma da tarde. Após tomarem os respectivos banhos e se arrumarem, saíram, de imediato, para comprar café e sanduíches de carne com tomate. Antes, porém, não deixaram de perceber, visivelmente impressionados, que o ex-rebelde permanecera na mesma postura durante toda a madrugada.
– Você ficou todo esse tempo assim... Sentado... Parado aí? – perguntou Sam, tamanha era a curiosidade dos irmãos.
– Sim. Resolvi não dormir dessa vez. O último pesadelo foi demais pra pra suportar – contra-argumentou.
– Entendemos – respondeu Dean. – Sammy e eu vamos comprar comida. Até logo – o anjo assentiu, e os caçadores saíram do cômodo.
Poucos minutos depois, Adrian despertou. Foi ao banheiro para lavar o rosto, para escovar os dentes e para tomar uma ducha. Ao retornar ao quarto, repassou mentalmente o ritual que faria com o objetivo de resgatar Castiel.
– Bom dia – disse o jovem, após instantes de um profundo silêncio, quase sepulcral. – Tudo ok? – o ser alado fez que sim com a cabeça. – Onde estão os rapazes? – Lúcifer lhe transmitiu tal informação e, a passos lentos, caminhou até a janela.
Campbell o observava minuciosamente. Percebia toda a crescente angústia do outro, que parecia buscar algo no horizonte, no azul do céu. Samael voltou a sentar na cama. Do bolso do inseparável casaco negro que trajava, tirou uma carteira de cigarros. Depois de acender um e de puxar uma longa e forte tragada, comentou, quebrando a quietude no ar:
– O céu está tão azul como os olhos dele... O dia lindo me faz relembrar nós dois – tornou a levar o fumo à boca e prosseguiu: – Desculpe... Eu não devia falar coisas tão...
– Tão românticas? – interrompeu o caçador. – E por que não? – questionou-o.
– Porque preciso ser forte para resgatá-lo – respondeu, convicto do que objetivava. Olhou uma vez mais, sem se mexer, para a beleza que a tarde emanava. – Sinto como se a presença de Cass estivesse em tudo: no astro-rei que brilha magnificamente, no puro e não menos singelo ar, no majestoso céu... Este querido planeta, que há tempos testemunhou quão grande é o nosso amor, saberá que, hoje, eu tirarei o meu anjinho de um local lúgubre... – tornou a tragar o cigarro e continuou o raciocínio: – Lugar esse que, aliás, jamais deveria ter existido.
– Você o ama demais, não é? É isso que traz forças para que o salve? – o ex-rebelde assentiu. – O que mais me impressiona é: como tamanho amor sobreviveu ao passar dos séculos, dos milênios, das gerações?!
– Eu não sei – o tom era sincero. – Quando Sam me libertou, não o sentia dessa forma. Inclusive quis acabar com este mundo... E em um ataque de insanidade matei o Cass... Mas Deus fez a coisa certa: o trouxe de volta. E hoje entendo o porquê. Ao recuperar minha graça, porém, tudo que eu era antes de ser jogado lá ressurgiu em meu peito – o anjo acendeu outro cigarro, enquanto os Winchester’s adentravam o cômodo e prosseguiu: – Acho que foi isso que me fez retomar os sentimentos antigos.
– Entendo – Adrian cumprimentou os rapazes e pegou o sanduíche e o café que Sam lhe alcançava. – Então isso significa que está pronto para o procedimento? – o jovem continuou a dialogar com Lúcifer.
– Mais do que pronto. Estou decidido a retirar Cass de lá... Custe o que custar – demonstrava firmeza na resposta.
– Eu não imaginava que anjos pudessem fumar – Dean comentou, visivelmente curioso ao ver uma cena do tipo.
– Eu sou um ser tido como rebelde, rapaz. Esqueceu-se disso? E, além do mais, tenho costumes bastante terrenos para me acalmar.
– Francamente... Com o comportamento tão amigável que tem tido, sequer me lembrava de que é o diabo – o anjo sorriu de canto. – Mas eu acho bem mais saudável você largar esse cigarro e vir comer.
Surpreso com o tom preocupado do loiro, o ser alado fez o que lhe foi dito: alimentou-se. Embora gostasse da atenção que recebia, considerava tal fato estranho. Afinal de contas, em seu íntimo, sentia que era a mesma criatura questionadora e violenta de tempos atrás. Aos poucos, porém, se habituava com o modo que os irmãos e que Campbell tinham de tratá-lo.
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A noite havia chegado. Mostrava-se deslumbrante aos olhos humanos. A Lua estava linda. O céu, estrelado, parecia pressentir que algo de relevante ocorreria. Tudo era perfeito para o tão esperado resgate.
Depois de circularem, por alguns minutos, pelas ruas da cidade na qual se encontravam, Adrian pediu ao loiro que estacionasse o Impala próximo ao parque central.
– Ei... Mas não é arriscado fazermos o ritual em um lugar assim? – Perguntou Dean.
– Não. Eu preciso de campo aberto. Castiel será libertado com maior facilidade – explicou. – Não se preocupe, tenho tudo sob controle. Você e Sam cuidam dos possíveis inimigos, que certamente tentarão nos impedir. Quanto ao resto, deixe comigo e com ele – completou, apontando para o anjo.
– Ok, chefão, faremos isso então – o Winchester mais velho estacionou o Chevy onde lhe foi indicado. Os caçadores e o ex-rebelde desceram do veículo. Estavam todos preparados para encarar qualquer perigo.
Campbell – que levava consigo a faca usada para matar demônios e uma adaga angelical, a fim de tirar a quantidade necessária de sangue de Samael –, iniciou o doloroso processo nos fundos do lugar. Em frente a eles não havia nada; nem árvores, nem bancos. O espaço estava vazio, o que era perfeito.
Os Winchester’s, por outro lado, se concentravam em vasculhar toda a área do parque. Sam carregava uma arma com sal, caso precisasse utilizar tal recurso, além dos poderes que treinara. Dean, por sua vez, trazia o Colt em uma das mãos, e na outra levava um medidor de energia paranormal. Os irmãos se mostravam prontos para enfrentar qualquer obstáculo, como bons caçadores que eram.
Adrian começou a recitar as palavras que Baltazar lhe ensinara, ao mesmo tempo em que acertava o ser alado com a espada apropriada – tal combinação, junto com o símbolo intalhado nas costelas do caçador, seria suficiente para o propósito deles. O jovem parou, entretanto, ao ver entidades malignas perto demais de si. O Winchester mais novo, contudo, resolveu intervir, antes que eles se aproximassem ameaçadoramente do anjo e do rapaz.
– Continue... Dean e eu estamos aqui – recomendava, enquanto os aniquilava com os poderes que possuía.
Ao notar que estavam seguros – os Winchester’s lhes garantiam proteção –, Campbell prosseguiu com o ritual. Vez por outra ele olhava para Lúcifer, temeroso de que o ex-rebelde não resistisse à gravidade dos vários ferimentos.
– Eu... Tô... B-bem... C-confie em... M-mim... – o líquido vermelho jorrava farto dos machucados. Mas era necessário ir até o fim agora.
O buraco se mostrou de maneira lânguida. Abriu-se inteiramente alguns minutos depois que o sangue do ser angelical parara de verter, embora houvesse grandes dificuldades para que a jaula aparecesse, devido à intensa luta entre os demônios e os Winchester’s.
A oportunidade, no entanto, era única. O jovem caçador tinha tudo a seu favor para pular lá e para puxar Castiel. Mas foi atingido nas costas por Sammuel Campbell. Com extrema agilidade e com a ajuda energética de Kasbeel, o homem levou Adrian consigo sem deixar rastros.
Como o horrendo buraco estava aberto – e nada faria com que o plano arquitetado pelos irmãos, pelo rapaz e por Lúcifer fracassasse –, o anjo inimigo precisava do jovem e da inscrição feita nas costelas dele, a fim de reabrir o abismo, com o objetivo de que o general pudesse sair também.
– Tenho de entrar lá o quanto antes... Meu anjinho necessita de auxílio para abandonar a prisão – frente ao rapto do garoto e às dificuldades evidentes enfrentadas por Dean e por Sam, cabia ao ex-rebelde a missão de salvar Castiel.
Em um longo, elevado e preciso salto corpóreo – com as asas de penas negras e prateadas a mostra –, mergulhou nas profundezas da sombria jaula sem titubear.
Como conhecia cada pedaço do obscuro local, nadou em meio ao sangue e às enormes labaredas, ignorando a dor que o atormentava. Não demorou muito para que vislumbrasse quem tanto procurou: o moreno de belos e límpidos olhos azuis.
Deitado, quase que inconsciente, ao fundo da prisão, Castiel mantinha os olhos entreabertos. A vestimenta esfarrapada, o corpo marcado pelas torturas e a expressão de pavor evidenciavam quão difícil fora sobreviver ali. Sentiu fortes braços o envolver, o puxar para cima. Mas foi quando ouviu a voz musical e lânguida de Samael Estrela da Manhã, que teve absoluta certeza de que estava seguro.
– Shhhhhh, se acalme. Eu não vou machucar você, meu doce Cass – iniciou o árduo caminho de volta, porém foi barrado pelo Arcanjo.
– Eu não permitirei que o leve... O soldado ficará aqui, exatamente como... – o ex-rebelde estralou os dedos e, aproveitando a fragilidade do outro, por estar em um lugar lúgubre, usou sua força mental para fazer com que o inimigo se chocasse contra a parede mais próxima.
– Foi um prazer revê-lo também – disse, debochado. – Mas eu tenho que ir, me desculpe desapontá-lo, irmãozinho – e retomou, a passos largos apesar da incômoda dor, o caminho que trilhava.
– Não! – bradou Miguel, que estava de pé novamente e perseguia o ser alado. – Venha... Lute... Covarde!
– Sinto muito mesmo, não pretendia frustrar seus planos – respondeu, irônico. Chegou à beira da jaula e alcançou Castiel – que ficara desacordado por uma nobre missão –, para Dean, que o segurou firme.
Sem saber direito como deveria agir, Lúcifer saltou para fora do abismo flamejante e recitou as palavras necessárias para fechá-lo de novo. E funcionou. Os caçadores e o ser conhecido como diabo conseguiram resgatar o anjo e, de quebra, manter o comandante das falanges angelicais na mesma situação: aprisionado.
– Não há mais nenhum demônio – falou Sam, e o loiro respirou aliviado. – Como ele ta?
– O Cass é duro na queda, vai ficar bem. Só precisa de uma cama quentinha e de... – o caçador paralisou ao ver o ex-rebelde ajoelhado.
– Obrigado, Pai. Não por mim, pois não valho nada. Mas sim por nos permitir que salvássemos o amor de minha existência angelical: o meu eterno menino, Cass.
Samael se levantou, caminhou até os garotos e lhes agradeceu pelo inestimável auxílio. Os Winchester’s, emocionados com o modo de agir do amigo, se limitaram a acenar positivamente. Até mesmo o mais velho – que se caracterizava por ser alguém durão –, demonstrou certa emoção.
Os três foram em direção ao Chevy Impala, que continuava no lugar exato onde o estacionaram. Assim que entraram no veículo, Dean deu a partida, enquanto que o ex-rebelde cuidava de Castiel, que fora deitado em seu colo pelo loiro.
– Como você pode estar tão bem assim, se tinha diversos ferimentos? – perguntou Sam, que sentara no banco do carona, ao lado do irmão.
– Foi o Cass – explicou. – Ele curou meus machucados, antes que eu o entregasse para o Dean. Por isso, e por ter o Arcanjo como péssima companhia, diga-se de passagem, é que o anjo está inconsciente. E vocês, tudo em ordem?
– Sim – responderam ambos. – Só estamos preocupados com o Adrian – falou o mais novo.
– É. Eu também. Espero que o garoto esteja bem – Lúcifer suspirou pesadamente.
– Sammy e eu vamos achá-lo – garantiu o mais velho. – Levaremos vocês pra casa do Bobby e...
– Não dá Dean – interrompeu o irmão. – Temos de deixá-los em um hotel. Afinal de contas, os demônios não devem ter ido muito longe. Faremos toda a segurança necessária para os anjos e vamos atrás do garoto – ponderou.
– Tem razão. Eles devem estar mantendo Campbell vivo... Vão querer barganhar... Ok então – após uma curta pausa, disse: – E você vai poder cuidar do Cass, hein, Samael? – brincou o loiro.
– E eu nem gostei de saber disso, rapaz – ironizou. – Obrigado por tudo, viu? – concluiu.
– De nada – falaram os Winchester’s.
Estacionaram em frente ao mesmo hotel que se hospedaram antes. Dessa vez, porém, Sam reservou dois quartos: um para seu irmão e para si, e outro para os amigos.
– Vá, seja feliz – recomendou o mais novo, enquanto entregava a Lúcifer as chaves do melhor apartamento do local. – Aproveite!
– Certo, valeu – agradeceu, enquanto pegava, no Impala 1967, as malas que lhe pertenciam e, em um ágil movimento, trazia Castiel para perto de si. – Cuidem-se por aí, por favor – pediu, o tom carregado de preocupação. – Se precisarem de ajuda, pense nesse símbolo – pegou uma caneta e um papel que carregava no bolso do casaco e desenhou-o para Sam. – Irei imediatamente – o caçador assentiu e se despediu do outro. Em seguida entrou no negro Chevy, onde o mais velho o aguardava.
De forma lenta para não assustar Castiel, o ex-rebelde subiu as escadas até o cômodo reservado – número 226. Abriu a porta com dificuldades, já que não queria largar o menor no chão e, nessas horas, o peso da mala só o atrapalhava.
– Eu posso ficar de pé por alguns segundos – a frase do moreno surpreendeu o maior; ele não esperava escutar aquela voz rouca e sedutora tão cedo.
– Não. Eu não vou largar você um instante sequer – finalmente conseguiu abri-la e, depressa, deitou o corajoso soldado no confortável sofá. Observou, com rapidez, o imenso apartamento. Os Winchester’s tinham, de fato, reservado um belo recanto para os dois.
A sala era espaçosa e extremamente aconchegante. Uma mesa para as refeições, uma televisão, um rádio, um sofá com três lugares e dois pequeninos armários davam um toque especial ao ambiente, com os diversos tons de azul que o coloriam. O banheiro não tinha nada de mais. À direita de quem o adentrasse, ficava o vaso sanitário; à esquerda, a pia. E, por fim, o Box. Sem saber o que fazer primeiro para proporcionar conforto ao ser celestial, Lúcifer andou, passos incertos, até a mala que trouxera consigo. Dela retirou duas toalhas brancas, que deram a entender, ao ex-rebelde, qual seria a sua primeira atitude.
Ele carregou Castiel até o banheiro. Com cuidado lhe tirou a roupa e o ajudou a entrar no local destinado aos banhos, depois de regular a água em uma temperatura adequada. Após lhe alcançar o sabonete, viu o anjo começar a se lavar.
– Realmente é uma bela visão – murmurou. – Mas eu preciso fazer algumas coisas inadiáveis. Em um minuto estarei de volta – avisou. O menor assentiu, enquanto fechava a porta do Box. O maior decolou, então, ágil como sempre, indo parar na residência de Bobby. Pegou a mala que usara para guardar as roupas do moreno – inclusive o inseparável sobretudo bege –, e, com mais rapidez ainda, escreveu um recado curto ao velho Singer:
“ – Resgatamos o Cass. Explico tudo a você depois. Ok? Entre em contato comigo, por favor. Lúcifer”. – e o largou em cima da mesa da sala. Notou que o caçador brincava, em um dos quartos, com a pequena Evelin – Bobby sequer percebeu que alguém entrou em sua casa. O ex-rebelde se preocupou ao não ver Lilith, porém concluiu que ela poderia ter ido à procura de Adrian.
Em instantes Lúcifer retornou ao apartamento no qual o menor e ele estavam. Encontrou-o deitado em uma das duas grandes e confortáveis camas do quarto, com um lençol a cobrir-lhe o corpo nu. Ao vê-lo tão encolhido, jogou a mala em um canto qualquer do cômodo e foi conversar com Castiel.
– Tudo bem? – perguntou, tocando nos cabelos do moreno. – Sente alguma dor? – o anjo fez que não com a cabeça.
– Só um pouco de fraqueza, mas acho que vai passar – arrumou-se melhor na cama, convidando o maior a deitar também.
Samael se acomodou ao lado do amante e, em um abraço leve e carinhoso, expressou quão feliz estava por tê-lo junto de si. Permaneceram unidos, até que o menor dormisse.
Sem sair do quarto – ele não pretendia deixar Castiel sozinho –, telefonou à recepção do hotel. Solicitou à moça que lhe passasse o número de uma pizzaria. Em seguida, ligou para o local indicado e pediu comida para os dois. Aquela seria uma longa madrugada para os anjos.
Quanto a Lúcifer – temido pela humanidade, que não conhecia suas características e sua personalidade como Arauto de Deus, ou seja, anjo do Senhor, antes da famosa rebelião –, continuava atento à tarefa de que tanto gostava: a de zelar o sono do amante, para que tivesse a tranqüilidade necessária e tão merecida – longe das provações vividas no abismo flamejante –, antes que a saborosa refeição chegasse.
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