A Little Bit Longer escrita por Clara B Gomez Sousa


Capítulo 14
Gânglios e transfusão




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     Se você não entendeu por que eu quase ri, é que, quer dizer, eu me senti uma coisa frágil, tipo aquelas taças que a minha mãe guarda no armário da sala de jantar, e diz que me mataria com as próprias mãos se uma delas se quebrasse.

É tipo isso, uma hora eu estava ali, vivinho da silva, daí, de repente, assim, puf, eu morria, estava mortinho. Aquilo soou engraçado para mim. Também não sei o por quê, mas soou. 

Minha mãe me fuzilou com o olhar, e disse:

-Tá vendo? Eu avisei que era pra você se alimentar melhor!

*Dando uma de Kuzco (de "A Nova Escola do Imperador", da Disney) e pausando o 'filme' on*

Isso é típico de mãe! Elas parecem que estão ali sempre só esperando o momento mais oportuno de dizer o clássico "Eu avisei!".

Ok, eu sei que estou erradíssimo. As mães não servem pra isso. A minha mãe, pelo menos, não. Ela foi quem mais me ajudou naquele momento.

Mesmo com as brigas, com as discussões bestas,os castigos que me tiravam do sério, não importava o que acontecia, ela sempre estava ao meu lado. Eu nunca tive um momento difícil na vida em que a minha mãe não estivesse do meu lado.

 E eu juro que não estou falando isso por que sei que ela vai ler! Eu sempre senti isso, eu sempre soube disso. Sempre soube que a minha mãe me amava, ela, meu pai, minha família.

Caramba, eu estou falando que nem um desgraçado aqui! Olha o tamanho do discurso! É melhor eu voltar pro consultório da Dra. Barbie, senão vou chegar à mil palavras só nisso!

Ok, voltando!

*Dando uma de Kuzco off*

-E o que eu poderia fazer?

-Bom, sua Aids já aflorou, o mais prudente à fazer é começar a tomar os remédios necessários.

-Mais alguma coisa?

-Só pra saber o porquê da infecção, poderíamos fazer uma transfusão de sangue e alguns exames. Pode ser?

Espera: Nas situações sérias de que passei antes disso, os médicos só mandavam! Faça isso, faça aquilo! Ela não. Ela não ordenou? Não impôs? Ela perguntou se "Pode ser"? Isso só podia ser um sonho!

-Pode ser? - Ela tornou a perguntar, me tirando dos devaneios.

Pattie respondeu que podia, e passou a bola para mim.

-Pode... - Respondi, atônito. Aquilo era um sonho mesmo...

Ok, combinemos que só faltava eu babar, de tão surpreso que eu estava.E ela não era de se jogar fora, hahaha

Ok, meu pai foi para o hospital para me ver, combinemos que fazia um tempitcho que não nos víamos.

E, pra acabar, ok, combinemos que eu tinha medo de agulhas, mas ok, combinemos que eu adorava zoar o meu pai quando fazia.

Ele tinha muito mais medo que eu, minha avó dizia que ele desmaiava, mas ele diz que é papo dela, que é mentira. Mas eu não caía na dele, então, quando ele chegou eu ia fazer a transfusão, então comecei a provocá-lo:

-Atenção, ele vai pegar a seringa... - Me referia ao enfermeiro que segurava  a risada por causa da cara que eu estava fazendo. - Tã, tã, tã tã... Olha o tamanho da seringa! Ele vai enfiar no seu filhinho, no meu bracinho! -Nota: Eu já estava fingindo um drama enorme. - Vai enfiar, vai... AAAAHHHH!!!

-Você não tem jeito mesmo... - Ele disse, saindo do quarto. Daí eu caía na risada. Minha mãe ficava inconformada:

-Volta aqui, Jeremy, vem segurar a mão do seu filho! Já é um adulto, não tem vergonha? É um medroso mesmo! - Não acreditava como eles não brigavam, então era até bom pra mim, ver minha mãe sacanear meu pai e ele não fazer nada.

Talvez eles voltassem a se falar que nem duas pessoas civilizadas algum dia.Só espero estar vivo quando isso acontecer...

Resultado, ele teve que aturar minhas zoações. =3

Sem reclamar, senão lá vinha sermão da minha mãe. Fiquei por um tempo no soro, sentado numa cadeira que estava machucando a minha bunda, eu já estava sentindo câimbra no consultório. Meus pais saíram por um tempo, ele para esticar as pernas e ela para comer alguma coisa, minha mãe não comia nada desde quando chegamos no hospital. Eram umas três da tarde, e na hora da transfusão já era noite.

Enquanto eu esperava os minutos se arrastarem lentamente, olhando para o relógio, a moça do banco de sangue chegou. A transfusão seria simples, no tubinho do soro agora entraria o sangue. Só que, como era mais grosso, doía ao entrar na minha veia, mas a tia ficou o tempo todo lá, dosando a quantidade certa para não doer muito.

Quando comecei a sentir febre, os enfermeiros vieram fazer os outros exames. Tive que esperar um pouco para ver os resultados, e, quando soube, a primeira coisa que quis fazer foi ir pra casa. Dormi no carro, noooossa, novidade, e acordei exatamente quando o carro deu o solavanco que sempre dava quando entrava na garagem.

Nossa, eu passei o dia inteiro num hospital, que grande maravilha. Além de eu ter dormido em cima do braço, o braço da transfusão, o que me fez ter que dormir com o braço que já estava doendo formigando. Eeeeh, ti feliz...


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