Vida de Vampira escrita por Fany_ArmstrongJ


Capítulo 2
Dialogando




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Acordei.

Olhei para os lados para verificar onde estava, mas só consegui ver escuridão. Mas eu sabia que estava deitada em uma cama não muito macia e que minha cabeça doía. A porta se abriu e eu vi uma mulher com uma lamparina nas mãos, quando ela chegou mais perto vi que não era uma mulher, e sim uma garota, era Rachel.

- Ah, finalmente acordou. – Ela disse.

- O que aconteceu? – Eu não me lembrava de mais nada.

- Você conversou com o Billie.

- Então é verdade!

Eu até que tinha na mente alguns vestígios de memória daquela cena com Billie, mas achei que fosse um sonho.

- Claro que é verdade. – Ela disse sorrindo. Quando a vi pela primeira e pela segunda vez ela não parecia ser tão legal.

- Então eu sou mesmo uma... – Eu hesitei.

Uma pausa de silêncio se estabeleceu no ar e minha expressão mudou.

- Sim, você é uma vampira. – Rachel disse colocando a lamparina em uma mesa de cabeceira que só consegui ver agora. Ela dizia aquilo como se já tivesse dito muitas vezes.

- Ah, que ótimo. Minha mãe vai me matar.

- Sua mãe? – Ela riu. – Esqueça. Você não tem mais mãe. Agora nós somos sua família.

Eu não disse nada. Minha cabeça ainda estava processando aquela mensagem. De repente eu me sentei naquela cama e senti uma coisa esquisita. Nunca tinha sentido antes, era uma espécie de fome, mas uma fome diferente de um gosto que nunca senti.

- Eu estou esquisita, Rachel. – Eu disse a ela, e aquela sensação foi aumentando e eu sentia que se não me saciasse a dor se expandiria rapidamente e ficaria difícil suportar.

- Você está com sede. – Ela olhou profundamente nos meus olhos.

- Sede? Não. Eu não quero água, eu acho que...

- Quem falou em água? Eu falo de sangue. – Os olhos dela pareciam brilhar mais quando ela disse a palavra sangue. Eu tentei me imaginar sugando o pescoço de alguém e não consegui. Ela esperava uma palavra da minha parte, mas eu não consegui dizer nada. – Vou falar para o Julien te levar pra caçar. Não se esqueça de pegar alguém que ninguém sentirá falta. Essa é uma das regras que nosso senhor estabeleceu.

- Nosso senhor? – Eu não sabia de nada sobre essa nova vida, ou seria nova morte?

- Sim. É o Billie. Ele nos criou. Ele é o seu senhor também. Tem vários nomes para chamá-lo, senhor, líder, pai. Você tem que defendê-lo até a morte. Tem que sempre se lembrar de que ele é o seu dono, seu corpo não te pertence mais, é dele.

Fiquei paralisada. Aquelas palavras me assustaram. Mesmo Billie sendo um ótimo homem, eu não queria pertencer a ele, muito menos chamá-lo de pai. De repente uma pontada de dor no meu peito interrompeu meus pensamentos, eu precisava de sangue. Caí no chão com força e a dor nas minhas costas voltou.

- Rachel, o que está acontecendo? – eu disse ainda no chão.

Ela me ajudou a levantar e chamou pelo nome de Julien. Ele entrou, enquanto abria a porta um feixe de luz pequena, como as do final da tarde se direcionou ao meu rosto. A dor invadiu meu corpo. Era como mergulhar em uma piscina cheia de ácido. Soltei um grito.

- Desculpe. – Julien disse seriamente e sem mudar a expressão séria do rosto. – O que você deseja Rachel?

- Leve-a para caçar.

Só de escutar a palavra caçar a dor parou e eu me levantei.

- Então vamos logo! – Eu disse um pouco alto.

- Ei, ei, ei. – Rachel deu uma pequena risada de canto de boca. – O sol não veio hoje, mas ainda tem luz indireta lá fora, você está fraca demais pra se expor. Quando se alimentar vai poder sair a qualquer luz do sol indireta, mas se sair lá agora provavelmente vai morrer, de novo.

- Mas eu não vou poder suportar a dor até anoitecer! – Eu praticamente gritei desesperada, precisava muito de sangue.

- Vai anoitecer daqui a mais ou menos meia hora. – Ela disse olhando para mim e olhando no relógio de pulso. Será que eu fiquei tanto tempo desmaiada? De repente se ouviu um barulho forte e abafado na parede daquele quarto. Nós três olhamos para a direção do som. – Ah, são os outros. Eles devem estar brigando outra vez, vou resolver.

Rachel começou a sair do quarto. Abriu e porta e quando faltava apenas um palmo para fechá-la eu comecei a dizer.

- Espera! – Rachel parou de fechar a porta e olhou para mim com a expressão duvidosa. – Por que está me tratando tão bem?

Ela fez uma longa pausa de silêncio. Julien olhou para ela provavelmente esperando a resposta também.

- Primeiro – ela começou -, por que nosso Pai mandou que eu a tratasse bem, ele disse que você tem dons especiais. E segundo, por que agora – ela pensou e olhou pra mim com mais intensidade com aqueles olhos incríveis e prateados -, você é uma de nós, Judy.

Ela fechou a porta com um pouco de força liberando pó pelo ar. Aquela casa era muito, muito velha. Estava quase caindo aos pedaços. Assim que ela saiu Julien se sentou em uma poltrona que eu ainda nem tinha percebido naquele quarto. Ele pegou alguma coisa em cima da mesa de cabeceira e começou a olhar, parecia encantado, ficou assim por muito tempo. Ele era sério, muito sério. E continuava com a blusa de frio e o capuz cobrindo todo o seu corpo. A única coisa naquele corpo que meus olhos conheciam eram seus olhos prateados e marcantes e seu peito, sua marca. Ele era incrivelmente forte. Me carregou em suas costas duas vezes como se eu fosse uma pena – não que eu seja pesada. O silêncio já estava me perturbando e garanto que a ele também. Aquele quarto escuro com apenas uma pequena chama estava me dando arrepios, mas por incrível que pareça eu não sentia frio.

- Eu não sinto frio – comecei -, por que não?

Ele levantou aqueles lindos olhos pra mim e levantou uma de suas sobrancelhas.

- Você está morta.

Eu me sentei na cama em frente a ele.

- Minha mãe não tinha reparado.

Ele fez uma pausa e apoiou o tronco nas duas mãos segurando o queixo.

- Ninguém repara. E além do mais, você não estava morta, até hoje.

- Até hoje?

- O encontro. Você se encontrou com seu senhor, só assim a profecia se cumpre. Há muitos vampiros incompletos por aí. Eles têm a marca, mas não os mesmos poderes. Alguns deles até tem algum dom doado por seu senhor, mas não sugam sangue, sentem frio e calor, suam, choram... Mas não duram mais do que onze meses.

Aquilo foi como um choque. Será que eu morreria se ficasse mais sem meses sem ver Billie?

- Quando é que meus olhos vão ficar assim – eu apontei feito uma criança para os olhos dele, ele continuava sério, era muito reservado -, prateados como os seus.

- Você diz como os nossos.

Ele usou uma mão para pegar um espelho em uma das gavetas da mesinha e me entregou. No reflexo eu pude ver os meus olhos, iguais aos deles, mas minha pele ainda não estava tão branca.

- Por que eu não estou tão branca como os outros?

- Você pegou sol há pouco tempo. Já nós – ele parecia se lembrar de alguma coisa -, eu não pego sol há mais de anos. O último sol que peguei eu tinha apenas dezoito anos.

Ele falava como se tivesse muito mais do que isso. Não sabia quantos anos ele tinha, mas posso afirmar que não passava dos vinte.

- E quantos anos você tem agora?

Ele pensou, pensou. Olhou para mim como se procurasse o melhor jeito de dizer, então mandou.

- Setenta e dois.

Demorei a processar a informação, mas quando terminei me engasguei como uma tola e levei as mãos à barriga. Não demorou menos de meio segundo e Julien estava atrás de mim com suas mãos me abraçando.

- O que há de errado?

Eu parei de me engasgar. Olhei para trás e ele se afastou de mim.

- Por que me protegeu tão rápido?

Ele se virou de costas e colocou a mão na maçaneta da porta.

- Por te resgatar da vida e trazê-la a morte – ele hesitou e olhou para mim -, é meu dever te guardar enquanto nossos corpos estiverem nesse mundo.

Eu fiquei parada como uma besta enquanto ele abria a porta, desta vez nenhuma luz entrou. 

- Venha – ele disse -, vamos caçar. 


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