Zherium! - A Chave do Apocalipse escrita por Dawn Bard


Capítulo 9
O Príncipe dos Raios




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– O que aconteceu? Vocês estão bem? - Perguntou Arthur com uma incrível dor de cabeça, tinha acabado de acordar e sentia como se estivesse tendo uma ressaca.


– Estamos todos bem! Olha, quando acordei, vi que estava com meu braço e minha perna de volta, e as outras partes que o Cérbero arrancou estão todas de volta! - Exclamou Peter, que estava deitado numa espécie de maca, completamente coberto de ataduras.


E então Arthur lembrou-se da feroz batalha contra o enorme cão de três cabeças.

– Bob está bem? E o Cérbero?

– Estamos vivos, não estamos? Quando perdemos, Bob foi lutar contra ele. Sozinho. E eu vi que ele é filho de Urano, criou asas, soltou vento pra todos os lados e entrou numa armadura de prata. - Disse, sem demonstrar importância, como se o que acontecera fosse algo normal...

– Ah, claro - Arthur fez uma cara de murcho - Nós pensávamos que acabaríamos com ele, não é? - Riu de sua própria desgraça. Peter não entendeu por que seu melhor amigo ria diante de uma situação trágica, mas apenas acenou a cabeça. Estava com os pensamentos lentos para seu amigo, pois estava se lembrando da mulher que o salvara.

– E... Quem é Urano, Peter?

– É um deus primordial, ex de gaia, e assim como sua mãe é a personificação da terra, da natureza, Urano é a do ar, dos céus, e talvez até mais que isso... Pô! Tu não se lembra do que Bob nos ensinou?

– Erm... Por sinal, que local é esse? - Esquivou-se Arthur, com maestria - Eu não me lembro de ter desmaiado aqui...

– Besta, é claro que a pessoa não se lembra onde desmai... - Calou-se quando reparou que seu melhor amigo tinha razão. O local que estavam era um campo cheio de verde, repleto de flores de tipos conhecidos e desconhecidos; a natureza sorria ali - pássaros, borboletas e outros animais brincavam por ali. Era cheio de... Vida. O cheiro fresco da grama ao alvorecer, a essência delicada, doce e suave da diversidade de flores enchiam-lhe os pulmões, trazendo uma sensação de paz, de tranquilidade. Nem pareciam que estavam no inferno.

Do meio do verde, da vida irradiada pelas plantas, surgiram duas figuras: uma era um garoto de porte médio, razoavelmente forte, vestia uma jaqueta preta de couro, com uma camisa branca lisa por baixo, e um jeans, acompanhado de um clássico tênis all-star, sendo que todos os componentes de sua vestimenta estavam manchados de sangue e em horrível estado; possuia exuberantes cabelos brancos e lisos, olhos verdes e profundos, como se olhassem direto para a alma das pessoas. Era Bob, e estava acompanhado de uma linda mulher, com cabelos de uma cor entre o amarelo e o vermelho, algo quase laranja, uma cor única, e ficava perfeita nela. Seus cabelos iam até as costas e lindos cachos ficavam sobre os ombros. Vestia um lindo vestido negro, que era exageradamente largo, de modo que a cauda do traje se arrastava atrás dela. A sua pele era pálida, quase gélida. Sua feição demonstrava grande tristeza que um dia deve tê-la destruído internamente, mas que hoje estava conformada... Era óbvio que acumulava sentimentos negros, mas tentava não os demonstrar. Apesar disso, era estonteantemente linda.

– Esse é o meu jardim - Disse a mulher, ao lado de Bob. Peter estava contente com a presença de sua salvadora.

– Q-Quem é você? - Gaguejou Arthur, afogado numa mistura de surpresa, susto, nervosismo e timidez perante á mulher.

– Bem vindos ao meu jardim. Eu sou Perserfone, a Deusa da Primavera e Rainha do Inferno, e sei como pegar o que vocês procuram.



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Fez uma cara feia, decepcionado; odiava quando faziam isso. Mais uma vez, olhavam para ele e sua mãe com cara de pena e passavam direto, sem ao menos dar algum dinheiro ou comida. Tudo bem que na mesma esquina em que se encontravam estavam vários outros se drogando, e sabia que naquelas bandas não iriam ganhar nada. Não sobreviveriam durante muito tempo. Ali também havia mulheres que ofereciam seus corpos por dinheiro, rapazes que faziam o mesmo e outras pessoas que eram descartadas pela sociedade.

Olhou inseguro - até quando teriam que viver sofrendo assim? -, e sua mãe balançou negativamente a cabeça, derramando lágrimas que apenas os que perderam suas esperanças de felicidade conhecem. Os Estados Unidos era conhecido por ser um país de oportunidades, em que quase todos possuem uma chance de subir na vida. Eles foram um dos poucos que não possuíram essa sorte.

O garoto de sete anos socou o chão, também chorando - estava indignado: onde estava o sonho americano? A felicidade suprema demonstrada nos comerciais de televisão? Por que milhares de crianças eram felizes, sorridentes e com suas famílias, enquanto ele tinha apenas a mãe, e viviam pedindo dinheiro e comida no meio das frias calçadas de Nova York? Perguntas como essa que assombraram o pobre garoto e destruíram uma infância que nunca existira, destruíram os sonhos inocentes de uma criança, de uma família. Que acelerou o processo de maturidade, forjando com as duras marretas da vida um adulto de sete anos de idade, que nunca sentiu a felicidade ou teve amigos, que tinha que cuidar da mãe, incapaz de sustentar-se e trabalhar, e sobreviver através do impossível, rezando por milagres. Sobreviver da mesma forma que um adulto mal-sucedido, no fundo do precipício e da pirâmide social, que faria tudo para permanecer vivo. O adulto de sete anos enfrentaria no outro dia o mundo do tráfico de drogas e trabalharia como aviãozinho, afim de sustentar ele e sua mãe, cuja era dependente de álcool e drogas. No momento em que decidiu isso, o céu rugiu e enfureceu, e um raio surgiu do alto, rasgando as nuvens e fazendo um barulho que arrepiou a espinha de todos os nova-iorquinos: o garoto cresceu em meio as maldades fornecidas pelo mundo. Ele enfrentava o pior monstro de todos.


Ele enfrentava a realidade.


Na manhã seguinte, o garoto despediu-se de sua mãe, pois iria ser o seu primeiro dia no ofício. Durante a despedida a mãe chorou muito, e seu filho julgou que seria de preocupação, ou apenas estava bêbada, não era fácil saber. Originalmente, não era nenhum dos dois, e sim lágrimas de arrependimento, de remorso - arrependimento pois sabia que aquele garoto era bom demais para viver uma vida de dor e sofrimento. Se arrependia por ter aceitado a proposta daquele homem, após aquela noite, de criar um filho. Agora, nem ela podia mais trabalhar, nem seu filho tinha condições de fazê-lo, por mais que quisesse tentar. Tinha um mal pressentimento sobre seu filho exercer a atividade aviãozinho, e quando o viu se perdendo pelos estreitos becos á procura de sobrevivência, ficou com o coração na mão, pois intuição de mãe não erra.

"– Ah, você de novo! Veio a semana toda! Não aguenta viver sem mim? - Deu um riso jovial e alegre. Sempre se sentia flutuando quando aquele homem aparecia.

– Você me pegou, Srta. Williams. Eu não consigo ficar sem ver esse sorriso - Sorriu, timidamente - Mas que pena que só posso te ver nessas condições.

– Ahn? Como assim?

– Eu gosto de você, Srta. Williams. Não queria te ver ASSIM, num programa. Você não merece isso.


Apesar de ele ser o homem mais belo e galante que ela já vira na vida, ninguém dizia isso para ela. Ninguém tinha esse direito. Ele não conhecia a história dela, e não podia cuspir palavras, julgando-a dessa forma. Logo inflamou-se de raiva.

– QUEM É VOCÊ PARA DIZER ISSO? VOCÊ NÃO ME CONHECE! EU NEM SEI SEU VERDADEIRO NOME!

– Eu me importo com você... Pode não parecer, mas eu te observo há muito tempo. Eu sei que nos conhecemos recentemente, mas... Eu posso te oferecer uma vida melhor - Ofereceu a mão para ela segurar - Eu posso te fazer feliz. Eu te amo, Srta. Williams.

Ela arregalou os olhos. Ninguém nunca tinha dito essas três palavras para ela, apenas sua mãe. Carolyn gostava dele. Realmente gostava. Mas... Apenas conhecia o homem há duas semanas, e sabia tão pouco dele! A vida a mostrou que ilusões como essa são frequentes, e costumam destroçar corações. Quem é o tipo de pessoa que se apaixona por uma prostituta? Isso não cheirava bem. Mas não precisava cheirar bem. Ela gostava dele, e ele gostava dela... Era um laço bizarro, mas ERA um laço. Ela conseguia sentir no fundo de seu ser. Segurou a mão do homem.

– Mas... É tão arriscado... Eu não posso simplesmente sair assim... - As palavras mal saiam de sua boca - Tenho o trabalho, dívidas... E eu sei muito pouco de você...

– Eu também sei muito pouco de você! Como pode ver, eu sou rico. Posso lhe oferecer uma vida melhor, e você não precisa sofrer desse jeito. Dê um salto no escuro. Não é só você que está arriscando tudo nisso.


– Certo... Primeiro, não me chame de Srta. Williams. Eu percebi que isso é uma maneira de me respeitar, e adorei isso, mas pode me chamar de Carolyn. E qual é o seu nome, príncipe encantado?

– Meu nome é um pouco exótico. Zeus. Chame-me de Zeus. - Falou com um voz firme feito trovão.

A partir de então demorou pouco tempo até Carolyn ir morar com Zeus numa residência de alta classe. Foi tudo um mar de rosas. Eles estavam apaixonados, e a felicidade abençoou o casal. Logo, ela estava grávida, e tiveram um filho. O problema começou nesse momento. Ela nunca soube o motivo, mas assim que o bebê nasceu, Zeus desapareceu. Do nada. Como eles não tinham se casado ainda, não tinha direito a nenhum bem dele, e logo voltou para as ruas. Com um filho. Carolyn nunca superou isso, e tornou-se alcoólatra e viciada em drogas."


E depois daquele dia, a mãe só encontraria seu filho dois anos depois, e muito diferente do que era antes.

Exatos dois anos depois, uma mulher imunda, nojenta, solitária, depressiva, bêbada e drogada acordou, com uma garrafa de bebida alcoólica em mãos, cuspindo um inseto pequeno que havia entrado em sua boca. Piscou duas vezes, ainda grogue de sono, drogas e ressaca, olhou para os lados enquanto bocejava, confirmando se acordava no mesmo local em que dormira. Certificando-se disso, levantou para procurar algo para comer no lixo de umas casas próximas, quando viu alguém se aproximando. Espremeu os olhos para se adaptar com a claridade e deixou sua garrafa de bebida quebrar-se ao cair no chão devido a visão que lhe foi fornecida: seu filho vestido com roupas limpas, sorrindo e acompanhado por um homem na faixa dos cinquenta anos, cujo usava uma grande e espessa barba e sentado numa cadeira de rodas.

Mãe e filho olharam-se felizes pelo reencontro. Palavras não precisavam ser ditas.

– Carolyn Williams? - Perguntou o cadeirante, enquanto filho abraçava a mãe.

A mulher confirmou com a cabeça, após soltar um indesejável arroto, consequente da bebida que ingerira.

– Mãe, minha vida melhorou! - Disse, com os olhos afogados em lágrimas.

– Eu, Quíron Cornelius, peço sua autorização formal para a obtenção da adoção de Adam Williams. Você a concede?



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– Peraê, Bob, o que você está fazendo com a Deusa?

– Dando uns pegas nela, é claro - Disse o filho de Urano. Logo que disse disso, Arthur, Peter e Perséfone o fuzilaram com os olhos, e ele voltou a se comportar.

– Eu estava falando tudo o que eu sei sobre o submundo para ele, assim como irei dizer-vos agora.

– Calma, senhora... Por que você está ajudando a gente? Por acaso você conhece Zherium? - Perguntara Arthur, cético.

A Deusa riu secamente - Sim, eu o conheço, filho de Gaia - Arthur assustou-se por ela ter conhecimento da informação.

– Arthur, pára. Ela está dizendo a verdade. Olhe a cara dela.

– Acalme-se Peter. Certo. Digamos que vocês realmente se vocês realmente se conheceram... - Continuou, ainda não convencido - Como você poderia provar isso?

– Não podem, tem de acreditar em mim - Sorriu a Deusa da Primavera - Como os mortais dizem... É um salto no escuro. Isso mesmo! Ou vocês acham que eu estou cuidando de vocês, ou acham que estou sequestrando vocês e lhes passando todas as informações sobre o inferno para convencer-lhes de que sou bondosa.

As hipóteses dadas pela Deusa deixou os três Heróis estáticos. A segunda opção não havia passado por suas cabeças, e por mais que foi dita com um tom jocoso, começaram a desconfiar de Perséfone, se bem que ela não entregaria o seu jogo de forma tão estúpida.

– Bem, obviamente vocês precisam descansar, já que esses dois sofreram graves ferimentos. Pretendem ficar aqui e repousar quanto tempo? Um mês? - A divindade estava com uma personalidade totalmente diferente de segundos atrás; estranhamente simpática.

Bob estreitou os olhos, começando REALMENTE a desconfiar dela. Sabia que Perséfone tinha razão sobre descansar, mas um mês? Era tempo demais. Certamente queria atrasá-los, por algum motivo, e tinha algo RUIM por trás disso. Tinham de partir imediatamente daquele jardim. Daquela Deusa.

– Erm... Não. Temos de ir agora - Desculpou Bob, pegando Arthur e Peter pelos braços, que protestavam por estarem indo embora do local repleto de vida e alegria.

– Já? Não podem nem ficar por uma semana? - Insistiu Perséfone, forçando uma agradável voz e um sorriso. Estava na cara para Bob.

– Não. Vamos, pessoal.

– Calma! Nem sequer um dia a mais? Esses dois ainda possuem feridas que não cicatrizaram, e nesse estado não conseguirão atravessar os futuros obstáculos. Um dia é o tempo que eu preciso para preparar fragrâncias e misturas com propriedades curativas, e então eles ficarão completamente restaurados.

Ela estava irritando o garoto de cabelos brancos, mas dessa vez seu comentário fez sentido. Ou pareceu ter, ao menos. Bob mordeu o lábio inferior, incomodado diante da verdade da Deusa. Arthur e Peter olharam esperançosos para o filho de Urano, esperando sua resposta, e o veredito foi a favor dos argumentos de Perséfone. O clima no local ficara tenso.

– Tudo bem, mas apenas um dia.

– Certo! - Concordou ela, entusiasmada - Então vamos para as camas improvisadas perto das árvores, que eu irei contar-lhes sobre os segredos e perigos do submundo. Depois durmam, pois já é tarde.

No tardar da noite, quando os espíritos vagam livremente no inferno, Perséfone se dirigiu sorrateiramente para um pequeno lago que próximo ao jardim. Aproximou-se e tocou delicadamente com seu dedo indicador na superfície do lago, criando magicamente um pequeno arco-íris sobre a água, que posteriormente projetou uma pequena tela de plasma. Nessa tela, era mostrada a cabeça de uma mulher que estava com a feição séria, furiosa.

– Demorou, Perséfone - Disse a mulher, olhando para a Deusa, através da tela de plasma.

– Sim - Aliviou-se a dama que vestia negro - eles demoraram a dormir. Tive de contar tudo sobre inferno, inclusive sobre os Deuses e os rios. Essa foi a única abertura que encontrei.

– Certo. Me dê um relatório da situação - Pediu, com uma voz seca porém autoritária.

– Eles são três. Derrotaram o Cérbero e dois saíram gravemente feridos, mas tive de curar todos eles para formar uma boa imagem.

– Estão avançando mais depressa que o previsto, e não considerei a possibilidade de destruírem o Cérbero. Terei de refazer meus cálculos - Colocou a mão no queixo - conseguiu atrasá-los?

– Sim, mas apenas por um dia. O líder desconfiou e já quis partir, mas eu os convenci - Afirmou com orgulho.

– Você é uma péssima atriz, mas ainda assim foi um bom trabalho. Eu vou falar com o grupo. Tente atrasar o máximo possível. Conseguiu descobrir o que pretendem?

– Não. Nada.

– Certo, retorne se algo sair dos eixos.

– Compreendido, Atena. Câmbio e desligo - Terminou de falar e a imagem refletida no arco-íris se desfez.



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– Adam Williams, Capitão do Chalé de Zeus, aproxime-se - A voz vinha do centauro Quíron, em sua verdadeira forma - você evoluiu muito durante todos esses anos, completou milhares de missões sem maiores problemas e mostrou ser o semideus mais poderoso desse acampamento. Agora, com toda a honra, tenho o orgulho de lhe entregar a espada que seu pai guardou para você - uma salva de palmas, gritos que elogiavam suas características físicas vindos de garotas (e alguns garotos) foi ouvida no local. O centauro pegou a lâmina que estava guardada na bainha e deu para o garoto - Essa lâmina é a Daichi, a espada do ultimo desejo: o poder desta arma despertará quando sua vida estiver em risco. Finalmente, após esses nove anos, você terminou o treinamento no acampamento meio-sangue, e possui duas opções: pode ficar aqui e ajudar a lecionar os semideuses novatos e ficar em segurança ou pode partir para o mundo mortal, uma vez que possui condições de sobreviver sozinho. Saiba que sempre poderá transitar entre aqui e lá fora.

O garoto olhou para trás e viu centenas de meio-sangues orgulhosos dele. Eles viam Adam como um verdadeiro herói, como um ideal. Como um exemplo a ser seguido. E já esperavam a resposta do filho de Zeus; ele iria ficar com sua segunda família, lugar onde realmente pertencia. Mas a resposta que ele deu ao mestre não foi a que todos esperavam, causando um enorme tumulto e indignação entre os jovens que assistiam ao evento. Adam ainda tinha péssimas lembranças do mundo mortal, mas seu sonho era mais importante que isso. Queria viver uma vida normal, terminar o colégio e a faculdade junto com sua namorada Louise Gherald, que já havia partido do acampamento há um ano. Adam queria realizar seu sonho de infância, e ser alguém na vida, ter dinheiro, felicidade, sonhos e esperança, coisas que nunca teve quando era mais novo. E foi dessa forma que o filho de Zeus partiu de seu lar - Chocando a todos.



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– Ei! Ei, acorda! - Arthur despertou com um sussurro em seu ouvido - Faça silêncio e me siga - Disse a voz, se distanciando.

O rapaz olhou para os lados, verificando se era alguma criação de sua cabeça, quando viu uma imagem negra próxima a ele. Totalmente assustado, ele se jogou para trás num ato reflexo, e iria gritar, quando uma gélida mão cobriu sua boca, impossibilitando-o de fazer qualquer som. A adrenalina foi jorrada em sua corrente sanguínea, e passou a sentir um estranho frio em seu estômago. Suas pupilas contraíram. Seu sistema digestório foi inibido, assim como sua bexiga. . Seu coração começou a bater num incrível ritmo, bombeando rapidamente sangue pelas suas artérias, arteríolas e capilares. Seu instinto de sobrevivência explodiu, assim como um vulcão em erupção, clareando e simultaneamente escurecendo sua mente. Todos esses episódios foram cancelados quando um doce e quente lábio encostou em sua boca. Na verdade, INTENSIFICARAM com esse beijo. Pois o que se passa na mente de um garoto que apenas foi atingido pelo amor platônico quando os lábios de uma pessoa encostam em sua boca é algo desconhecido e indeterminado, mas poderoso. Apenas essa ação foi o suficiente para que o garoto obedecesse a pessoa, ao menos temporariamente.

– Q-quem é você? - Perguntou ao vento, enrubescido.

– Perséfone, seu bobão. Por favor, siga-me. - Ordenou a Deusa, gentilmente, com um ar de ternura.

A Deusa o guiou para longe do dormitório improvisado em árvores no jardim, o suficiente longe para que os outros não acordassem com a conversa.

– Eu... Não entendo. Você é realmente do nosso lado? - Perguntou um Arthur sincero, quebrando o silêncio e o suspense.

– Mais ou menos - Começou a desabafar - Eu estou nos dois lados e ao mesmo tempo em nenhum - Coçava a cabeça, meio confusa com o que estava querendo dizer.

– Como assim? Contra quem eu e meus amigos estamos lidando?

– Isso é algo que eu não posso lhe dizer, mas você deve perguntar para Bob. Eu não me interesso em nenhum dos lados nessa guerra - Sorriu abertamente, ao mesmo tempo deixando claro que havia algo oculto em suas palavras - Na verdade, me interesso num terceiro lado: o SEU lado, Arthur Greenfeld.

E o garoto, achando que já tinha perguntas demais em sua mente, teve mais ainda. Pressionou os dedos polegar e indicador nos olhos, tentando absorver o conteúdo.

– O quê??

– Acalme-se, eu pretendo me explicar! - Gargalhou docemente - A sua mãe, Gaia, não se importa com nenhum lado dessa guerra, e nem pretende intervir nela. Contanto que não destruam o meio em que vivemos, digo, a natureza. E como você veio parar aqui, na guerra, ela diz que você fará que o acha certo, e lhe apoiará em sua decisão, não importa qual seja.

– Como assim? Que guerra é essa que você está falando?

– Depois você vai entender, e tudo que lhe falo agora fará sentido no amanhã. Agora deixe-me terminar - Disse a Deusa, que ficava impaciente - Pois bem... Onde parei mesmo?

– Você iria dizer quais são os meus inimigos nessa guerra, e que guerra é essa.

– Ah sim, seus inimigos são os... EI! Não vale trapacear! - A senhora da primavera ficou temperamental, e foi a vez de Arthur gargalhar alegremente - Tudo bem, agora sem gracinhas, em que ponto eu parei? Sabe, imortalidade faz as pessoas ficarem esquecidas...

– Acho que sobre você ser do meu lado nessa guerra... - Coçou a pequena pelugem amarela que crescia em seu queixo.

– Ah sim! Eu quero que você saiba que existem dois lados nessa guerra que está por vir, e existe um terceiro lado, que é neutro. Como eu disse anteriormente, ele defende a proteção da natureza. O nome do grupo é 'Aliança Verde', e a líder dessa organização é a sua mãe. O nome 'aliança' é porque criaturas e deuses que defendem a natureza, juntamente com a titânide Gaia fazem parte do grupo. Tudo o que posso dizer é que eu participo desse grupo, e que nosso atual objetivo é garantir a sua segurança, e que a existência da Aliança Verde é secreto. Portanto, alguém sempre irá certificar que você não morra. E lembre-se de não comentar sobre isso com ninguém, nem mesmo Peter e Bob. Principalmente Bob.

– Que reconfortante... Morrer eu já não morro - Ironizou Arthur, e Perséfone indignou-se com tamanho desrespeito perante á Deusa - Você não vai responder as outras perguntas, não é? Eu estou morrendo de sono e de dúvidas, e pelo jeito você não vai responder nenhuma.

– Garoto insolente! Eu estava sendo legal com você! Não viverá para desrespeitar uma Deusa novamente! - Gritou ela, ofendida.

– Você não pode me matar, lembra? Você faz parte da Aliança, e tem que me proteger. Não é isso? - Desafiou o garoto, ficando arrogante.

– Eu digo que estou do seu lado, e você age assim... Pois bem. Então eu não lhe darei a arma que foi mandada para você! E eu já estou indo, não vou mais lhe proteger, nem aguento cuidar de vocês três, principalmente você! As poções virão junto com o café da manhã. Tomem depois do desjejum, e seus músculos ficarão saudáveis outra vez. Que os demônios daqui matem você! - Disse Perséfone, indo embora.

– Ei, espera! Você não pode fazer isso! Por favor, não! Me desculpe! E a Aliança? - Choramingou o garoto, se arrependendo.

– Dane-se a Aliança. Lembrei de outra coisa - Parou de andar, falando sem virar a cabeça em direção ao Herói de Zherium - Não deixem que destruam o cristal, mesmo que custe a sua vida. O mundo depende disso.

Arthur arregalou os olhos, ficando perplexo. "O mundo depende disso". 'O que diabos poderia significar isso?' 'E que cristal seria esse?' Perguntas como essas começaram a queimar os pensamentos do rapaz.

– Por que? Se eu impedir você me dará a arma?

– Tentando negociar com uma Deusa... Que patético, Arthur Greenfeld. Apenas impeça, ou as consequências serão grandes para TODOS. Adeus - Desapareceu instantaneamente, restando uma fumaça fina porém negra, no local onde a mulher se encontrava momentos antes.

– Mas... - Calou-se quando notou que ela havia partido. Arrependido de suas ações infantis, Arthur voltou para o dormitório improvisado e tentou dormir, pensando na conversa que tivera. E conseguia sentir em seus ossos que o dia seguinte seria difícil.



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– Com licença, essa é a Blanewood High school?

O homem em sua frente fitou-o com curiosidade e espanto. Achou que se tratava de uma piada malfeita, e apenas ignorou o visitante, voltando a enxugar os copos.

– Senhor!

– Tá tirando onda com minha cara, menino? Se quiser consumir algo, fique. Se não quiser apenas saia.

– Eu sou... - Fez uma pausa, escolhendo o termo adequado - Novo por aqui, e não conheço os lugares, ou como andar por essa região. Dito isso, volto com a pergunta: essa é a Blanewood High school?

– Se não for consumir, saia - O homem que apresentava seus cinquenta anos e uma feição séria fitou o jovem com seriedade e impaciência.

– Está certo. O que tem aí para mim, então?

O barman gelou. Não sabia se via aquilo por ter bebido demais ou se era alguma tecnologia oriental avançada. De qualquer forma, tinha entrado em choque, e a resposta para a pergunta que se fazia não importava mais. O visitante tinha dado um soco no balcão do deserto bar, e de seu braço saiam filetes de eletricidade.

– Sabe, você estourou minha paciência - Pôs um forçado sorriso alegre na face - Aonde se encontra o colégio Blanewood High School?

– A-a-ali... - Apontou para a grande construção, próxima ao bar, gaguejando com medo -... Do lado...

– Ah! É aqui pertinho! Muito obrigado, senhor! - Agradeceu, mudando radicalmente de comportamento - Eu sabia que iria responder! Até logo! - Saiu do estabelecimento, dando pequenos pulinhos.

Após andar poucas quadras na direção onde o (gentil) barman havia indicado, se encontrou diante do colégio Blanewood, seu local de destino. Maravilhou-se ao estar tão perto do seu sonho, de sua amada, de um colégio, e partiu correndo como uma criança até a parte interna do local. Estava num corredor repleto de armários de parede e portas, mas não havia ninguém. Julgou que estava no período de aulas. Andou então sem rumo pelo corredor, quando encontrou um homem de aparência velha e cansada, que limpava o chão com uma estranha máquina de esfregar, era o zelador, provavelmente.

O idoso interrompeu o seu trabalho e olhou profundamente nos olhos do visitante.

– Senhor, eu...

– Parabéns, Adam Williams. - Comemorou o zelador, aplaudindo-o com um ar de ironia - Você é muito impaciente, e isso será a sua ruína algum dia. Não se pode agir com violência em todas as horas, e muito mais mostrar os seus poderes, garoto.

– Quem é você? O que sabe sobre mim? - Disse um Adam assustado - Como sabe o meu nome? Como...

– Os deuses podem assumir diversas faces. Você, meu filho, deve cumprir uma importante missão para mim, para todos os Deuses do Monte Olimpo.

– P-pai??

– Tenho que ser breve. Você terá de eliminar um garoto, suspeito de ter cometido algo terrível.

– Que garoto é esse? O que ele fez? Eu tenho de MATAR alguém? - A possibilidade de fazer isso com alguma pessoa o assustava.

– Ele é suspeito de ser um dos escolhidos da profecia áurea, que deve conhecer. Nós chamamos esses escolhidos de 'Anjos da Morte'. E o alvo se encontra nesse colégio.

– Um anjo da... Morte?

– Adapte-se ao ambiente, e elimine-o quando encontrar a hora certa. Em caso de falha, volte imediatamente com a filha de Apolo para o acampamento.

– Mas... Meu sonho...

– Filho, é necessário. O destino do mundo está em jogo. E lembre-se do seu destino: você despertará como o príncipe dos raios, assim como aconteceu com o meu filho que lutou na antiga guerra da titanomaquia, e quando essa hora chegar, você será o semideus mais poderoso de todos. Só você poderá fazer isso.

– Tudo bem que ele é esse tal de 'Anjo da morte', mas o que tem demais nisso? O que esse menino fez?

– Você não conhece a profecia áurea, não é, Adam?

– Muito pouco... Conheço apenas alguns rumores.

– Filho, de acordo com a profecia, os anjos da morte são aqueles que... Que... - O Deus dos Deuses começou a hesitar, apenas por pensar nas consequências que seriam trazidas se os anjos continuassem vivos.

– Que...?

– Que trarão a destruição do mundo.

Adam ficou espantado. Não esperava que um estudante pudesse causar a destruição do mundo... E a responsabilidade está em suas mãos - Qual o nome do alvo? - Perguntou Adam, decidido, e cheio de orgulho.

O zelador fitou-o seriamente, ao mesmo tempo em que sentia orgulho de sua cria, seu filho, seu amado filho. Mas era indiscutível a importância da tarefa.

– O nome dele é Arthur Greenfeld.



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Assustou-se. Não se lembrava de ter chegado ali. Jurava que estava num lugar pacífico cinco segundos antes, mas agora era completamente distinto. Olhou para o cenário onde se encontrava: havia ossos espalhados pelo chão, assim como cadáveres e muito sangue.

Um nauseante odor de enxofre circundava o local, e a temperatura estava absurdamente fria, tão fria que sentia sua alma gelar. Observou os personagens presentes: em sua frente via um homem trajando um manto negro, e ombreiras negras protegiam seus ombros e parte dos bíceps; de suas costas se encontrava um enorme par de asas também negras, porém sua face estava oculta por uma máscara de um ser gritando em agonia. Ele portava um tridente e emanava uma enorme atmosfera assustadora. O que despertava curiosidade era o fato desse ser possuir uma grande ferida no centro de seu abdome, e estar caído no chão, envolto em uma larga poça de uma substância dourada.

Olhou para a direita: um homem de aparência régia e alta estatura encontrava-se ferido, mas estava de pé. Este vestia uma armadura de placas negras nunca antes vista, tamanha era sua superioridade. Grandes cabelos negros e lisos cobriam-lhe a face, impossibilitando uma melhor observação, e carregava uma larga lâmina de duas mãos, também negra, com apenas uma mão. O homem tinha um olhar cansado, desesperador, exausto.

Em sua esquerda, se encontrava Arthur, que agonizava de dor, pois havia um enorme corte que partia de seu umbigo e alcançava seu ombro esquerdo, e sangrava com gosto. Desconhecia como seu melhor amigo ainda não estava morto, mas seu estado era muito grave. Atrás de seu amigo se encontrava um sublime mineral de coloração dourada, e possuía um brilho interno. Pequeno, mas sublime, da mesma forma que as Esferas Zherium. Esse mineral parecia com um enorme cristal, e havia a mesma altura que Arthur.

Estava diante de uma carnificina, e não iria perdoar o autor desta macabra obra. A raiva e tristeza assolaram seu coração, e apertou seus punhos com força. Quando apertou seu punho direito, reparou que segurava uma espada. Confuso, olhou novamente para frente, e o que seguiu lhe atormentaria pela eternidade.

O homem encapuzado que aparecia em seus pesadelos se encontrava em sua frente.

Assustado, em posição de combate, e o homem reproduziu o movimento do rapaz com perfeição.

– Muito bem, Rhadys. Isso o que você viu foi tudo obra sua. Era o seu destino. Agora destrua o cristal.

– O MEU NOME É PETER! - Gritou o garoto, desferindo um corte contra o homem encapuzado.

Peter Brandfort não sabia como descrever aquilo. Após desferir o ataque, o homem começou a rachar, e em seguida quebrou-se em cacos de vidro que caiam no chão, e fazendo grande barulho. Peter olhou com detalhes o caco de vidro.

E viu que não era apenas um pedaço de vidro.

Era um fragmento de um espelho.

E foi nessa hora que o mundo do garoto desabou.

Peter Brandfort se olhou através dos fragmentos do espelho, e viu que vestia um capuz negro, igual ao do homem.

O homem encapuzado que aparecia em seus sonhos era ele mesmo.



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No outro dia, Arthur, Peter e Bob acordaram, comeram o desjejum que já estava posto ao lado de suas camas improvisadas, e tomaram os estranhos líquidos com gosto de morango que se encontravam em pequenos frascos de vidro. Quase que instantaneamente, os líquidos cicatrizaram as feridas que ainda restavam, e recuperou perfeitamente a musculatura dos Heróis de Zherium. Não perderam muito tempo e partiram na direção apontada pelo mapa. Bob e Peter perguntaram por Perséfone, mas Arthur apenas balançou a cabeça negativamente - poucas palavras foram trocadas nessa manhã, pois sabiam que enfrentariam algo pior que um Cérbero em uma questão de tempo.

Logo que saíram do jardim da Senhora da Primavera, sentiram o desagradável odor característico do inferno, de corpos apodrecidos, enxofre, lama e outras coisas as quais não sabiam identificar. Era frequente a visão de esqueletos de todos os tipos de criaturas, do desagradável céu vermelho, e ouvir gritos de horror ecoando por todos os lugares. Não era um cenário que ansiavam em ver. Peter repentinamente parou de andar, com um curioso olhar em direção ao longe, e os outros estranharam.

– O que foi, Peter?

– Não é coincidência! Eu estou ouvindo a voz de Louise... - O garoto olhou para trás, de onde vinha o som, e realmente encontraram a garota um pouco distante. Ali, no inferno, e ao lado de duas pessoas.

– LOUISE!! AQUI! - Acenou o filho de Gaia, gritando.

– Não, seu idiota! Ela está acompanhada, veja quem está ao lado dela! - Peter tentou impedir o amigo, mas era tarde demais.

– Vocês conhecem aquelas pessoas? - Era possível ver uma casual curiosidade nascendo dentro de Bob.

– Sim, nós conhe...

– PARE ONDE ESTÃO! - Um dos garotos que acompanhavam Louise cortou a fala de Peter, com um alto berro, e Bob começou a vestir suas luvas metálicas calmamente.

– Por que está colocando as luvas? - Perguntou Arthur.

– Porque vamos lutar - Respondeu calma e friamente.

Aparentemente irritado , o Herói de pele escura e armadura destroçada começou a suar frio e apertar seus punhos em fúria.

– O que foi, Pete?

– Adam Will está com ela. - Disse como uma sentença de morte, puxando sua larga espada.



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Notas finais do capítulo

Capítulo Nove - A Sinfonia do Caos



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