Lukas foi caminhando até chegar à bifurcação que levava tanto à cidade quanto ao quartel-general. Suspirou. Tinha saído de lá não só porque Nick e Juno precisavam ficar sozinhos, mas também porque ele precisava. Preferia ter sido derrotado por aqueles heartless a pensar em Brendah como inimiga. Algumas lágrimas escorreram em seu rosto. Lembrava de todos os dias felizes sob aquele eterno crepúsculo. Limpou as lágrimas com o dorso da mão. Estava decidido. Ele traria Brendah de volta. De qualquer jeito, a qualquer custo. Era uma promessa.

  Nick ainda olhava pro chão, cabisbaixo. Não sabia o que dizer. Não sabia o que fazer. Nem sabia mais como olhar pra ela. Por fim, abraçou-a, encostando a cabeça no ombro dela, inconsciente e silenciosamente pedindo desculpas. Juno correspondeu ao abraço com ainda mais força. O medo que sentira a pouco não era dele. Era de perdê-lo. Ela precisava dele ali, ao seu lado, como ele mesmo dissera que estaria a poucos dias atrás. Ainda ficaram alguns segundos abraçados, até que Nick levantou o rosto, deixando ambos bem próximos. Conseguiam sentir a respiração um do outro. Os olhares se cruzaram pouco antes de soltarem-se, violentamente corados. A garota logo começou a andar, sendo seguida por ele. Encontraram Lukas um pouco mais a frente.

 Novamente reunido, o trio seguiu até o quartel-general. Quando chegaram ao escritório, notaram que Tabitah não estava ali. Ouviram a voz dela, que vinha de um corredor que havia ao lado. Seguiram até se encontrarem em uma sala cheia de painéis eletrônicos, onde a feiticeira olhava atentamente para um dos monitores.

  -Incrível... – disse ela, virando o olhar para eles – Como conseguiram acabar com tantos heartless?

 -Como você sabe? – perguntou Juno

 -Esse monitor mostra quantos heartless existem pela área. – explicou Tabitah – Ele é ligado com o sistema de comunicação, assim, quando os níveis subiram alarmantemente, o castelo foi avisado. E agora está totalmente limpo. – ela deu um leve suspiro antes de continuar – Isso é um adeus, não é?!

 -Acho que sim. – respondeu a keyblader

 -Espero que da próxima vez que vierem aqui não seja para destruir heartless. – comentou Tabitah, com um sorriso no rosto

 Os três ficaram em silêncio, assentindo com o olhar. Era um desejo de cada um deles, para todos os mundos. Mas sabiam que essa ainda não era a real situação. Despediram-se e logo estavam na nave, embarcando de volta para Disney Castle.

  Mickey se encontrava sentado em uma cadeira em frente a uma mesa redonda, no que parecia ser uma sala de reunião. A sua frente, um homem de cabelos vermelhos trajando um sobretudo preto se levanta de sobressalto, batendo as mãos com força sobre a mesa.

 -Como assim a Brendah sumiu há dois dias e vocês não sabem nada sobre isso? – indagou ele, os olhos verdes faiscando de raiva

 -Axel, se acalme, nós... – respondeu o rei, logo sendo interrompido

 -Se eu a deixei em Twilight Town há tantos anos, foi porque sabia que ela estaria sendo vigiada. – vociferou Axel – Agora, quando ela chega aqui, você simplesmente abre a guarda e deixa Larxene colocar as mãos nela?!?

 -Ainda não temos certeza que Brendah sumiu por causa de Larxene. – Mickey tentou acalmá-lo

 -Claro que foi! Quem mais seria? – afirmou ele, se virando para ir embora

 Axel se virou no exato momento em que Sora entrava na sala. Ele fechou a porta e andou alguns passos sala adentro. O olhar revoltado de Axel foi suficiente para instalar uma leve tensão na sala.

 -O que houve, Sora? – perguntou ele – Vigiou tanto a sua filhinha que esqueceu da minha?

 -Como é? – replicou Sora – Está me culpando por ela ter seguido Larxene em vez de você? Que, alias, também não é o melhor exemplo!

 -É pra disputar o prêmio de pai exemplar agora? – esbravejou Axel – Se for, você com certeza também será desclassificado!

 -PAREM COM ISSO AGORA!! – berrou Mickey, fazendo ambos pararem e olharem para ele – Brigar agora não adiantará nada.

 Sora abaixou a cabeça, admitindo silenciosamente o erro. Axel, por sua vez, se limitou a estender a mão e fazer aparecer um portal.

 -Que seja. – disse ele, antes de sumir em meio à escuridão

 Os dois que permaneceram na sala ficaram calados por mais alguns instantes. O camundongo respirou fundo e, por fim, falou:

 -Você teve alguma notícia dela em Radiant Garden, não é?!

 Sora suspirou e assentiu com a cabeça. Saiu da sala para chamar a equipe, que pouco depois estava se sentando nas cadeiras ao redor da mesa.

 -Então, - começou o rei – qual de vocês chegou a vê-la?

 -Todos nós. – responderam juntos Juno e Nick

 -Ela chegou a falar algo com algum de vocês? – indagou Mickey

 -Comigo. – disse Nick – Eu a encontrei primeiro.

 -E por quê? – rebateu Mickey

 -Estávamos lutando contra alguns heartless... – Nick ainda hesitou um pouco em mentir, mas a verdade não diria – Quando eu vi de relance alguém ao longe, e decidi ver quem era, afinal podia ser quem mandou os heartless pra aquele mun...

 -E vocês dois? – indagou Mickey, interrompendo ele e se virando para Juno e Lukas – Por que não o seguiram?

 -Ainda havia alguns heartless... – falou Juno, sem olhá-lo diretamente – Então nós só fomos atrás dele depois.

 -E o que ela disse, Nick? – perguntou o camundongo, voltando-se para o garoto

 -Hum... – a sua mente ainda estava bem confusa, fazendo-o titubear um pouco – Ela disse que não estava mais do nosso lado, e algo sobre ser uma nobody... – ele fez uma pausa antes de continuar – Isso faz algum sentido?

 Mickey e Sora se entreolharam. O segundo suspirou e respondeu.

 -Os pais dela são nobodies.

 -Como é? – perguntou Lukas, que até agora ficara calado

 -Axel e Larxene, os pais dela, eram da Organização. – continuou Sora

 -Axel decidiu por sair dela, e nos ajudar. – completou Mickey – Mas Larxene simplesmente sumiu.

 -Achamos que ela desapareceu justamente para monitorar Brendah. Quando baixamos a guarda, ela deve ter conseguido levá-la para seu lado. – concluiu Sora

 -E por que não falaram isso antes? – indagou Lukas, em um tom de indignação

 -Não pensamos que fosse neces... – pela segunda vez, Mickey foi interrompido enquanto falava

 -Claro que era!! – protestou o loiro, levantando-se da mesa – Se isso tudo é verdade, Brendah era pra ter sido protegida! – ele baixou a cabeça, escondendo os olhos marejados – Era para eu ter protegido ela... – disse isso bem baixinho, como que para si mesmo

 Dito isso, Lukas saiu da sala. Caminhava sem rumo, tentando acalmar a mente. As luzes do crepúsculo coloriam o corredor claro do castelo. Ele parou e olhou para o céu. As mesmas cores que seus olhos se acostumaram a ver. As mesmas cores que os olhos de Brendah se acostumaram a ver. Ele respirou fundo, engolindo a vontade de chorar que tinha.

 -Acho que você preferiria ter sido derrotado pelos heartless a vê-la daquele jeito, não é?!

 Olhou pra trás assim que ouviu. Nick tinha saído da sala pouco depois dele. Conhecendo-o há tanto tempo, provavelmente era o único que sabia como se sentia. Baixou o olhar, subconscientemente assentindo, antes de virá-lo em direção ao crepúsculo novamente.

  -Da primeira vez que nos vimos, ela estava chorando. – contou Lukas – Desesperada porque não conseguia se lembrar de nada além de escuridão. Consegui acalmá-la dizendo que dali em diante eu seria amigo dela, e que ela não precisava ter medo de nada... Eu prometi a ela que a protegeria...

  A última frase saiu imersa em tristeza, revolta e sensação de fracasso. Baixou a cabeça, derrotado. Nick caminhou até ele, pondo a mão em seu ombro. O loiro levantou a cabeça e encontrou o olhar decidido do amigo.

 -Então nos tornaremos mais fortes. – concluiu Nick – A partir de agora, essa promessa é minha também. E cumpriremos ela juntos.

 Ao ouvir isso, Lukas esboçou um sorriso. Tudo é bem mais fácil quando se tem amigos.

 -E não se esqueçam de mim, ok?!

 Ambos olharam na direção daquela voz, e encontraram Juno próxima deles, com seu sorriso que não deixa ninguém ficar triste no rosto. Eles assentiram e o trio foi caminhando em direção aos seus respectivos quartos. Assim que chegaram, Lukas logo entrou no seu, mas Nick ainda esperou um pouco, querendo falar com Juno.

 -Juno, - começou ele – eu queria te agradecer por... Você sabe, não ter dito a verdade de porque eu encontrei a Brendah primeiro pra eles...

 -Ah, não foi nada. – replicou ela – Afinal, você é meu amigo.

 A última palavra saiu um pouco forçada. Amigo... Não, não era isso o que ela queria dizer. Seu coração entrara em conflito com sua mente. Sentia-se tão contente só por estar perto dele... As palavras se confundiam, fazendo ser difícil falar. Mas tinha certeza que não era essa palavra que queria dizer. Pensando no que realmente sentia, ela rapidamente entrou no quarto, sentindo a face ruborizar. Nick ainda respirou fundo antes de entrar. Amigo... Também não era essa palavra que queria ouvir.

Na manhã seguinte...

 Sora andava preguiçosamente pelos corredores do castelo. Era cedo, mas o rei havia o chamado para a sala de comunicação. Assim que chegou perto da porta, o sono sumiu. Reconheceu facilmente a voz que falava. Entrou na sala. Tinha um visor extenso acima de vários controles. Olhou para o visor. Kairi. Ela notou o barulho da porta, assim como Mickey, fazendo ambos olharem na direção dele. A ruiva abriu um extenso sorriso enquanto ele caminhava na direção deles.

 -Fico feliz que tenha chegado aí bem. – disse ela

 -Eu acho que, se você está entrando em contato, não posso dizer o mesmo... – comentou ele, com um tom de preocupação

 O sorriso dela sumiu, enquanto assentia com a cabeça. Sora automaticamente entendeu. Novamente heartless surgiram em sua terra, sua casa. Virou-se e rapidamente saiu da sala, indo chamar a equipe. Kairi ainda perguntou aonde ia, mas ele nem ouviu. Ela direcionou o olhar para o camundongo.

 -Acalme-se, Kairi. – falou ele – Em pouco tempo, a NewHighwind pousará em Destiny Islands.

 -Como assim? – indagou ela – A keyblade voltou para Sora?

 -Não exatamente. – respondeu Mickey – Temos uma nova equipe de keybladers. Só isso que você precisa saber.

 Mickey desligou pouco depois. Kairi ficou algum tempo ainda pensando. Uma nova equipe? Mas, quem... De repente, um lampejo veio a sua cabeça. Nick, o filho de Riku. Lukas, o filho de Roxas. E, talvez, e esse pensamento fez seu coração quase saltar do peito, a sua filha...

Fim do capítulo VI