- Bom... é só escolher a carona de vocês. – disse Nico depois de um tempo de festa.

Percy e Annabeth subiram em Senhora O’Leary, enquanto Nico Sally e Cath foram em Elvys, que era ligeiramente maior. Todos se agarraram como puderam a seus Cães e mergulharam no escuro. Foi antes de chegarem à Grécia que Catherine se lembrou de algo muito importante: seus meio-irmãos estavam vigiando viagens pelas sombras e muito provavelmente dois Cães do Inferno carregando cinco heróis não eram indetectáveis.

Ela pensou em se virar e gritar para eles, mas o ar fresco da madrugada já a atingira em cheio. Ou melhor, explodira em suas caras e os derrubara, fazendo os dois cachorrões rolarem e arrancarem um pedaço da relva por onde passaram.

- Que infernos... – bradava Percy se reerguendo do chão.

Sally gritava de dor apertando a costela quebrada. Annabeth jazia imóvel encostada a uma árvore com a qual tinha aparentemente se chocado. Catherine sentiu que a puxavam pelos cabelos e reconheceu uma voz que berrou:

- Anda logo, Brandon! Se Cath decidir fazer alguma coisa... É melhor chamar os outros!

Percy, por sua vez, reconheceu a voz que o respondia:

- Fique quieto, Doherty. Não vou chamar ninguém. Isso aqui é pessoal. Não consegue segurar os feitiços de uma garotinha de oito anos? Deixe de moleza.

Eram os mesmo rapazes que vieram com Catherine atrás de Sally e a deixaram para trás, os mesmos que seqüestraram Nico. Percy teve certeza quando os viu, mas embora quisesse fazer alguma coisa, deparou-se com Annabeth desmaiada e foi até ela. Brandon – que era o mais velho dos garotos – também não deu muita importância a ele. Ignorou todo mundo e foi logo levantar Nico do chão. Ele estava agachado ao lado de Sally, amparando-a. Quando ela o viu se aproximando, fez uma careta mostrando os dentes e recuou, empurrando Nico.

- Maldito seja, filho de Hades. – Murmurou ele. – Achou que podia escapar e levar a minha garota assim? Vão pagar por terem fugido.

- Fique longe dele, Brandon! – gritou Sally, lutando contra a dor da fratura e levantando para se interpor entre os dois.

- Oh, fique quieta. – ele retrucou, empurrando-a violentamente para longe.

- O que pensa que está fazendo? – Nico ruborizou de raiva e o agarrou pelo colarinho.

- O que você acha? – respondeu com um riso sardônico.

Tudo aconteceu muito rápido. Percy estava paralisado, não podia ajudar Nico, Annabeth, Sally ou Catherine. Senhora O’Leary e Elvys também arfavam sem se mover. Nico dera um murro em Brandon e ele recuara, ainda dando risada. Repentinamente, Percy recuperara os sentidos. Quando olhou para Catherine entendeu o que estava acontecendo.

Ela e o outro rapaz competiam quem tinha feitiços mais fortes. Percy se levantou assim que se vira livre do feitiço. Achou que era melhor descartar o filho de Hécate primeiro, mas mal tinha decidido fazê-lo quando sebes o agarraram pelo tornozelo o derrubando, se enrolando nele com uma força monstruosa. Aquilo ia demorar.

Nico nem percebia, só se importava em acabar com a raça do rapaz que viera se meter com eles. Eles se engalfinharam de tal maneira que era difícil distinguir quem era quem ali. Não demorou muito até eles estarem no chão. Nico estava aplicando uma chave de perna no garoto quando as ervas que estrangulavam Sally, Percy, Cath e Annabeth afrouxaram e secaram. O outro garoto, Doherty, estava gritando. Percy soube que Catherine tinha vencido. Ele corria com os cabelos pegando fogo, tentando apagá-los com as mãos – aparentemente nenhum feitiço era forte o suficiente pra fazê-los parar de queimar.

                Percy foi direto. Foi até o garoto e deu-lhe uma pancada, forte o suficiente só pra deixá-lo desacordado. Catherine parou de cremá-lo e o olhou com seus grandes olhos cor de violeta muito ressentidos e vorazes. Sally também estava possessa. Se escorou a uma árvore e se pôs de pé. Brandon urrava de raiva, sem conseguir se desvencilhar de Nico. Ela foi até onde eles estavam e enterrou um chute nos rins de Brandon. Ele se dobrou de dor.

                - Agora você vai dizer direitinho onde estão seus amiguinhos. Eu não tenho a madrugada toda, Brandon, e também não tenho pena de te fazer falar. – ela chispou.

                - Se eu não disser, vai fazer o que? – retrucou.

                Nico apertou a chave de perna. Sally o acertara de novo, no estômago desta vez. Agora era ela quem ria de maneira sarcástica.

                - Se você está achando pouco, eu consigo ser mais criativa.

                - Atrás do antigo Parnaso. Não tem muita gente. – ele gemeu, mas olhou para cima com um sorriso ensandecido – Ainda.

                Uma corda começou a se enrolar ao redor de Brandon. Eles se viraram e se depararam com Catherine, de braços cruzados e cara de desdém. Doherty já estava amarrado havia bastante tempo. Não fosse pelo contexto, todos teriam achado que ela ficava muito bonitinha irritada daquele jeito. Nico tratou de nocauteá-lo.

                Percy que assistia de longe com Annabeth nos braços viu que ela recobrava a consciência. Mas ele também precisou pedir silêncio por um momento.

Os Cães Infernais farejavam o ar, rosnando e choramingando. E eles escutaram mesmo passos pesados se aproximando.