“Oi pai

Nossa, nem sei como começar... Minha semana foi tão... Mágica! E não foi minha imaginação, isso posso garantir.

Conheci um garoto. Na verdade ele é o irmão daquela minha nova amiga, Júlia, se lembra dela? O nome dele é Gabriel e...

Pai, posso te contar um segredo? Bom, nessa altura do campeonato acho que posso te contar tudo, não...? Enfim... Eu acho que gosto dele! Sabe, realmente gosto dele. O conheci na casa de Ju, e desde então tenho o encontrado diariamente: na saída da escola, na porta do piano, na estrada indo para casa ao lado de sua irmã...

Pode parecer louca – e na verdade acho que é – mas ele também me olha de um jeito especial, tenho certeza... Imagine só! Ele gostando de mim também!

Essa é a parte que você tem um ‘troço’! Você falaria uma coisa mais ou menos assim: ‘Minha menininha? Com um namorado? Não vou deixar, ele terá que passar por mim primeiro!’

Nossa, só você para me fazer rir, não? Porque nem sei se ele gosta mesmo de mim! Vou tentar falar com a Júlia, talvez dê certo...

Ah, minha irmã... Bem... Pai, não sei, estou realmente preocupada. Ela anda diferente,como da ultima vez que te contei. E mais uma vez a vi entrando no carro de um homem diferente bem tarde da noite, com aquelas roupas novas que comprou, bem curtas e decotadas.

Espero que ela esteja fazendo o certo. E você também, tá? Te amo, estou com saudades!

\t\t\t\t\t\t\t\t\t\t     Para sempre sua Isabela”

Isabela fechou o caderninho, arrancando a folha e guardando-a em seus novos envelopes, grudando um selo. Olhou para trás, fitando a cama vazia da irmã e suspirando.

Mais uma noite que ela fora dormir fora. Pelo menos era o que dizia para Loane, sua mãe. Colocou a carta em seu casaco que usaria no outro dia para ir à escola, decidida que só colocaria na caixa de correios pela manhã.

Deitou na cama, relaxando. Tinha muito que pensar, muito que fazer. Mas às vezes só queria deixar sua imaginação fluir sozinha, ocupando todo o espaço vazio em sua mente. Ocupando o espaço vazio em seu coração.

Bagunçou os cabelos um pouco longos – já fazia alguns meses que não cortava, ele estava pouco abaixo do ombro – e suspirou, vendo o céu escuro pela janela quebrada de seu quarto.

Amanhã tudo daria certo. Só tinha que pensar positivo.