Mais tarde em sua casa, Sakura se revirava sob as cobertas, tentando inutilmente cair no sono, queria ver aonde seu sonho a levaria, mas a visita de Sasuke a tinha deixado mais acordada do que nunca. Contudo, fisicamente, se sentia exausta.

No café da manhã no dia seguinte, sua mãe lhe serviu um amontoado de panquecas, insistindo que precisava comer e que sua pele pálida e suas olheiras estavam deixando ela e seu pai preocupados. Mas depois de só ter dormido duas horas na noite, ela não tinha apetite, e então as colocou em seu prato entupido com litros de mel, incapaz de tirar sua mente de Sasuke.

E incapaz de ficar acordada.

Finalmente, depois de três mordidas e uns bons quinze minutos de brincadeira com o mel, se retirou da mesa e subiu as escadas até o banheiro. Fechou e trancou a porta atrás de si, sentindo um calafrio em seus ombros.

Não era como se não estivesse estado ali antes. Mas é que desde que descobriu o que aconteceu na casa, ela estava evitando ali como se o local tivesse um tipo de praga, optando pelo banheiro do andar de baixo.

Olhou em volta, desejando que parecesse como há vinte anos. Como eram as cores das paredes? Como eram os pisos de cerâmicas? O mesmo misturador de cobre?

E sobre a tubulação?

Olhou para baixo, seu coração batia tão alto que quase podia ouvi-lo em seus ouvidos. Imagens do dia de vinte anos atrás apareciam em sua mente, nunca tinha estado ali, ela nem tinha nascido ainda. Podia ver a figura de Sasuke e sua surpresa quando o pé-de-cabra veio contra ele. E o viu indo para trás, batendo a cabeça contra a tubulação de ferro fundido.

Virou-se, resistindo à urgência de vomitar e percebendo como ficava fria. A temperatura no banheiro tinha descido para dez graus.

- Sakura? - Sua mãe a chamou, batendo na porta - Você está bem?

- Bem.

Sakura disse, observando o radiador, desejando que aquilo funcionasse direito.

- Quer mais panquecas?

Disse que não queria, confusa que ela tivesse perguntado, ela não tinha percebido se prato não terminado?

Mexeu-se pelo banheiro checando a temperatura, passando suas palmas pelo radiador. Mas tudo o que sentia era frio, o gelado do radiador penetrava em seus ossos e deixava sua pele com coceiras.

Ao mesmo tempo, algo tocou em suas costas e subiu pela sua coluna.

Congelou de medo.

Devagar, se virou. Mas não tinha ninguém. Ninguém perto da pia ou da banheira, mesmo assim tinha a sensação de que alguém a observava.

- Mãe?

Chamou, desejando que ela estivesse do outro lado da porta.

Ela não respondeu.

Virou-se procurando, dizendo a si mesma que era apenas sua imaginação e que precisava manter o controle.

O radiador estava tão frio como o banheiro. Abaixou-se e colocou o ouvido contra ele. Queria ver se podia ouvir a pressão do calor elevando-se através dos canos, mas estava tudo muito quieto.

Um momento depois, estava parada perto do radiador. Algo chamou sua atenção, talvez um cordão. Tentou pegar com os dedos, mas eles estavam fora de alcance.

- Sakura.

Sua mãe chamou novamente atrás da porta.

Deu um suspiro profundo. O cheiro de maças assadas estava no ar.

- Sasuke?

Sussurrou.

- Sakura. - Sua mãe repetiu. - Se levante AGORA! - Ela encostou alguma coisa dura perto de sua cabeça, o impacto que causou a fez acordar.

Sakura não estava no banheiro. Estava na cozinha, na mesa, e sua cabeça estava cheia de restos de guardanapos. Seu prato de panquecas estava em sua frente.

- Me desculpe.

Disse, tirando a cabeça da mesa. Sua mãe estava perto dela, com a frigideira na mão, obviamente o que ela tinha usado pala lhe acordar.

- Eu devo ter caído no sono.

- Seu pai e eu estamos muito preocupados com você.

- Me desculpe.

- Você está usando drogas?

Sakura encarou a loira com incredulidade, a boca da mulher era uma linha fina, cheia de raiva. Balançou sua cabeça, muito cansada para discutir sua estúpida teoria.

Imediatamente, pegou uma faca de manteiga, e se retirou da mesa, dessa vez real, e subiu para o banheiro de cima.

O radiador de ferro está em plena vista. Exatamente como em seu sonho, tinha sido pintado de prata, mas ainda dava para ver o verde manchado embaixo da onde estava descascando. Aproximou-se devagar, sentindo o frio no banheiro, sentindo o frio em seus braços. Abaixou-se espiando o radiador.

E então foi quando viu – o cordão dos seus sonhos.

- Sakura? - Sua mãe perguntou, abrindo a porta. - O que está acontecendo?

Sua boca tremia semi-aberta, mas as palavras não saíram.

Seus olhos pareciam flechas, observando a faca em sua mão.

- O que você está fazendo?

- Eu deixei cair meu cordão - disse, finalmente.

Ela concordou, mas não pode dizer se ela acreditou. No entanto, ela lhe deixou sozinha, comentando sobre como o banheiro estava frio e dizendo que ela precisava checar o termostato debaixo das escadas.

Demorou algum tempo, mas conseguiu tirar o cordão do radiador usando sua faca de manteiga.

Era de prata esterlina com um pingente em forma de coração. Deslizou seus dedos por ele, percebendo como o fecho estava apertado, mas as ligações estavam quebradas. As iniciais estavam gravadas em bonita caligrafia.

Seu coração acelerou, revendo todos os artigos online. O primeiro nome da Sra.Uchiha era Mikoto.

Aquele cordão era dela.