Ela desceu do meu colo e foi se deitar no chão, de frente para a parede oposta, de costas para mim. Fiquei observando-a sem reação, atônito. Ela não fechou os olhos para dormir, ou chorou como de costume, só encarou a minha foto na prateleira a sua frente.

            Quem chorou dessa vez fui eu. Uma lágrima solitária desceu vagarosamente pelo meu rosto até cair do meu queixo e cair no chão da sala. Porque ela não me queria mais? Será que eu parecia diferente? Ela conhecera outro alguém? Será que tudo o que tínhamos passado era uma mentira?

            -O que?

            Perguntei, segurando meu tom de voz normal para que ela não me visse chorando. Eu era o porto-seguro dela, não podia ser fraco. Ela suspirou, se sentou e olhou para mim.

            -Nas cinco semanas que você esteve fora... Todo mundo me disse coisas legais... Até Sharon! Quer dizer, quase... Disseram que ia ficar tudo bem, que eu não tinha com o que me preocupar... E que tudo voltaria ao normal. Mas... – Ela suspirou fracamente e respirou fundo algumas vezes – Quando... Fomos atrás de você... Quando ele ainda estava em você... Eu espionei você o dia todo... E era você... Mas não era... E quando chegou a hora, era indiferente à tudo, à mim... E...

            -Não era eu Serry, eu juro, não era eu!

            -Mas podia ser, se você tivesse resistido! Ele nem sabia meu nome! – Ela gritou – ELE ESTAVA NOIVO DA MINHA IRMÃ!

            Ficamos quietos por alguns segundos. Minhas narinas bufaram nervosas.

            -EU RESISTI! JÁ PAROU PARA PENSAR QUE ELE NÃO SABER O SEU NOME ERA UMA COISA BOA? QUE EU ESTAVA OCULTANDO MINHA MEMÓRIA DELE? RESISTI POR VOCÊ, MEL, PEG E TODOS OS OUTROS! NÃO ADMITO QUE DIGA QUE NÃO O FIZ!

            -COMO EU VOU SABER? E SE FOR MENTIRA? NÃO GRITE COMIGO, JAMIE STRYDER! VOCÊ NÃO FAZ IDEIA DO QUE EU PASSEI! EU VI VOCÊ BEIJÁ-LA E IR PARA A CAMA COM ELA! VOCÊ SUSPIROU O NOME DELA, E DISSE QUE AAMAVA! COMO ACHA QUE EU ME SENTI COM ISSO?!

            -EU TAMBÉM ODIEI AQUILO, ACHA QUE EU NÃO PREFERIA TE BEIJAR À BEIJÁ-LA?!

            -ENTÃO PARE DE GRITAR COMIGO E FAÇA ALGUMA COISA  

            -O QUE QUER QUE EU FAÇA? VOLTE NO TEMPO?

            Ela parou de gritar se entregou as lágrimas por longos minutos. Mesmo com raiva era difícil vê-la daquele jeito.

            -Só quero... Eu só... – Ela deu de ombros e enxugou as lágrimas – Você na faz ideia do quanto senti sua falta...

            -Por isso tentou se matar?

            -Não tentei me matar, Jamie não mude de assunto.

            -Quem vem sem água e nem comida para o deserto ou quer se matar ou é Jesus Cristo. Se não queria se matar, o que queria fazer?

            -Já disse, não queria ver você, não queria ver ninguém, e não havia lugar onde eu ficasse sozinha e eu não planejava ficar aqui por tanto tempo... E... Quer saber... Seria... Seria o plano perfeito... O mundo é... Bem mais complicado sem mim...

            -SHHHHH!!!

            Fiz, e com uma velocidade que a assustou pressionei o indicador contra seus lábios, ela não podia proferir uma calúnia daquelas.(Proferir uma calúnia? Credo! Serry está certa, estou ficando parecido com o tio Jeb. Mais dia, menos dia, meu cabelo vai cair e vou andar por aí com uma grande barba, uma bandana vermelha, uma arma e dizendo ho ho ho para todos)

            -Nunca mais diga isso entendeu? Nunca mais! – Ficamos um tempo em silêncio, e os olhos dela olhavam para mim com medo da violência do meu gesto, devagar eu baixei meu dedo – Você ainda precisa ficar sozinha? – Ela baixou o olhar e balançou a cabeça negativamente – E um dia você vai me perdoar?

            Ela voltou seu olhar para mim e os olhos prateados claramente diziam: Não sei. Eu me aproximei mais dela e coloquei uma mão em seus rosto, eu podia sentir seu hálito quente na minha bochecha.

         -Me perdoa Serena... Sei que foi horrível para você tanto quanto foi para mim... Mas coloque na sua mente que não era eu... – Eu disse devagar e gentilmente – Me desculpa? Por favor, eu, James Dylan Stryder, DONO desse corpo, te amo. Me perdoa Serena?

            Ela me olhou emocionada, e acho que um pequeno e quase imperceptível sorriso brotou em seus lábios rosados e cheios. Eu ria desses rostos apaixonados nos filmes que Melanie assistia com a minha mãe, e dizia que eram falsos, idiotas e que nenhuma mulher nunca iria fazê-los. Percebi o quanto era imaturo.

            -Só se você prometer que não vamos mais a nenhuma incursão. Vamos ficar nas cavernas onde é seguro.

            -Provavelmente Jeb não deixe mesmo, e de qualquer maneira, desde que estejamos juntos...

            -Então acho que posso te perdoar... Talvez a longo prazo...

            Eu sorri.

            -Ok, depois desse sorriso, à médio prazo.

            Dessa vez, quando a toquei ela não recuou. Eu a beijei e entre os beijos ela murmurou em meu ouvido.

            -Ok, você venceu, curto prazo, bem curto de preferência... James...

            Eu ri.