Csc: as Crônicas de Dk escrita por N_blackie


Capítulo 3
Capítulo 3




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Os Túneis

"A Nero Goat, que perdeu a vida atacado por um leão que costumava ser bom."

Meu plano era, como os senhores viram, encontrar Lemony no Mau Caminho, porém foi tudo por água abaixo. Quando algo vai ''por água "abaixo", significa que o que estava planejado não funcionou, talvez por que uma das partes que combinou não apareceu, ou talvez porque as terríveis coincidências do caminho não ajudaram, mas o fato é que nada deu certo.

Quando cheguei ao Mau Caminho, Lemony não estava mais lá. Entrei na sala dos répteis de Monty, como tantas outras vezes no passado, e vi que todas as minhas pesquisas foram em vão, pois a poderosa Mamba do Mal fora roubada, e junto com ela mais um dos códigos de nossa organização. Não me demorei muito por ali, pois o cheiro era insuportável.

A minha parada seguinte, o Lago Lacrimoso, me lembrou de como me desagradava, assim como a quase todos nós, as visitas aos Anwhistle. Não apenas pela extrema desagradabilidade dos dois em si, mas pelas terríveis e precárias condições da casa deles, frase que aqui significa "uma casa apoiada em estacas de madeira a beira de um penhasco", que tornavam cada reunião na casa deles extremamente incômoda, com pratos e copos escorregando pela mesa a cada furacão que havia.

Claro, hoje em dia não resta muito da construção em si para contar a história de quando os pobres órfãos moraram ali, e tive a extrema infelicidade de ver os marinheiros retirando, de dentro do lado lacrimoso, os restos de Josephine, embrulhados num colete salva vidas. Detesto ser pessimista, que aqui é o contrário de otimista, mas não é surpreendente esse final para ela, já que sempre foi dada a saltos naquele lago, entre aqueles bichos extremamente gulosos que são as sanguessugas.

Segui para Petryville, sempre em busca de pistas que me levassem não só a um motivo racional do por que ocorreu a cisão, mas de Lemony. Tive a felicidade de pôr minhas mãos num exemplar do "Mau Começo", lançado por Lemony após um mês ou dois de pesquisas, e me surpreendi não só com as incríveis situações impostas pelo Conde Olaf aos órfãos, mas em como as habilidades de Lemony como pesquisador haviam se desenvolvido.

A dedicatória do livro, claro, é para Beatrice. Não esperava diferente. Se eu escrevesse um terrível livro que narra a história dos órfãos Baudelaire, também dedicaria não à Lemony, mas a Jacques, já que foi ele que me amou genuinamente por tantos anos, mesmo sabendo que meu coração pertencia ao seu irmão.

Em Petryville, ouvi dos funcionários da Serraria Alto – Astral a incrível história de hipnotismo envolvendo a falecida Dr. Georgina Orwell e sua "recepcionista" Shirley, que descobri ser o Conde Olaf disfarçado. Doeu-me o coração, expressão que aqui pode significar, entre outras coisas tratáveis em um hospital, que fiquei realmente triste, em perceber que alguém maligno e completamente ambicioso como Olaf estava usando o nosso kit de disfarces para pegar a fortuna de Beatrice e Bertrand.

Mas infelizmente, a história é assim.

Descobri, também através dos funcionários, que os órfãos haviam sido mandados para um Colégio Interno onde eu mesma estudei, chamado Escola Preparatória Prufrock.

Não vou dizer que o caminho até as velhas histórias que foram meus anos naquele lugar tenha sido agradável, ou até mesmo meramente interessante. Mas quando cheguei ali, além de achar um bilhete de Lemony para mim encontrei Carmelita Spats, que sem dúvida é uma das crianças mais desagradáveis que já achei em toda a minha vida. Não vou me demorar na narração desse episódio terrível que envolve minha infância e parte da adolescência, pois me dá náuseas.

Em seguida, uma notícia terrível chegou ao meu conhecimento, que me fez quase ceder ao impulso de pular de um penhasco. Os Baudelaire haviam sido mandados para a casa de Esmé. Tudo menos isso.

Devo pedir que nesse exato momento fechem essa página, por favor. Os acontecimentos são terríveis, e nem sequer poderiam ser mencionados publicamente, pois vocês correm sérios riscos de ter ataques de choro e depressão. Se quiser continuar daqui, é por sua conta em risco.

Enquanto inspecionava as escadas do apartamento de Jerome e Esmé com cuidado, até chegar á cobertura, escutei várias coisas, incluindo algo sobre elevadores estarem out.

Quando finalmente cheguei à cobertura, vi que havia chegado tarde demais, claro. Procurei por todas as cozinhas, quartos e salas, até ouvir o familiar bate – bate dos dedos de Lemony na máquina de escrever, e percebi que talvez tivesse algum conforto da parte dele.

"Lemony?" chamei, e o bate – bate parou.

"Dora?"

Entrei, retirando o chapéu de minha cabeça.

"Ora, que bom vê – lo aqui!" exclamei feliz. Lemony me deu um vago sorriso.

"Esmé se juntou ao Conde Olaf novamente." Ele comentou, e eu me sentei no sofá de frente à máquina.

"Não estou surpresa." Confessei, encarando os vários livros coloridos que ele trazia junto dele. "Esmé sempre teve essas... inclinações." Completei, usando a palavra que significa que "Esmé sempre foi amiga e admiradora de Olaf, mesmo quando ela era apenas uma estudante de teatro qualquer em uma de nossas bases."

"Pois é." Lemony reconheceu, e voltou a escrever. Eu podia ter me levantado e ido embora, mas não fui. Esperei que ele acabasse de escrever, e me assustei quando ele subitamente levantou – se e guardou as anotações na bolsa de viagem que trazia.

"Quer inspecionar os túneis?" perguntou ele, apontando para a porta do elevador.

"Quer ir à casa de Beatrice?" usei – me do sarcasmo novamente, e vi que as bochechas de Lemony coraram.

"Aquilo é um elevador ersatz." Ele limpou a garganta e continuou, apontando para a porta do elevador. Quando abriu, vi que uma corda, também ersatz, havia sido feita (segundo Lemony, por Violet, a mais velha dos Baudelaire, treinada em mecânica) para descer no poço escuro.

Descemos pela mesma corda, e quando atingimos o fundo do poço, literalmente, vi uma gaiola, onde, segundo Lemony, Olaf havia mantido presos dois dos trigêmeos Quagmire. Ainda segundo Lemony, Duncan era treinado em repórter e Isadora em poesias código, o que me deixou satisfeita. Eu mesma fui treinada em poesia.

O túnel era longo e assombroso, mas na companhia de Lemony, não houve momento para tristeza. Não que ele fosse uma pessoa extremamente alegre, ou com tendências a risadas ou piadas freqüentes. Mas perto dele eu me sentia segura, pois sabia que dentro daquela mala de viagem havia bem mais do que apenas as pesquisas e os conteúdos que ele coletara durante duas viagens.

Quando atingimos o alçapão na mansão, ele já estava semi-aberro, e não foi difícil relembrar os maravilhosos momentos que passamos com aqueles que moravam nessa casa, mesmo com as observações malévolas de Esmé sobre o papel de parede.

Lemony, hesitante, tocou as paredes e soltou uma risada nasal.

"Esmé detestava o papel de parede."

Eu disse?

"Sim."

"Dizia que Bertrand era tão rico que se quisesse, construiria outra mansão igual, exceto pelos horrorosos papéis de parede out dele."

"Ele sempre ignorou." Comentei, podendo visualizar vividamente aquele dia raro de sol, quando todos nos reunimos para discutir se atum ou salmão eram bons para treinamento, e Esmé decidiu descontrair reclamando da decoração. Até Lemony se esqueceu de sua eterna melancolia perto de Beatrice quando decidiu se por do lado dela para defender os papeis de parede.

Claro que em geral, dias raros não são esquecidos. Se você é um mecânico grandalhão e durante um único dia todo consegue dançar balé, você nunca se esquecerá. No nosso caso, um dia sem desgraças ou incêndios era muitíssimo raro, e até mesmo um atrito decorativo podia ser esquecido quando todos nos reuníamos para ouvir o doce sibilar da Mamba do Mal, que nos dizia que, naquele dia, podíamos descansar.

Lemony, como sempre, chorou ao lembrar – se dela, e de tudo que ela representou para ele, mas estive ali para lembrar – lhe que eu existia, e que como sobreviventes, deveríamos ser fortes. Dessa vez.

Quando nos despedimos na manhã seguinte, Lemony anunciou que iria para a direção do campo, e marquei de me encontrar com ele no parque onde Madame Lulu trabalhava, ou o que restou dele após a passagem dos Baudelaire.

Com uma última saudação de despedida, eu segui na direção de uma das últimas bases restantes da C.S.C, na Mão – Morta.


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