Epílogo II

Beco Diagonal

- Onde vocês acordaram? – perguntou Harry em particular para os amigos, e Hermione deu um sorriso largo ao olhar para o grupo de onde Harry saiu.

- Em casa, normalmente. – Ron disse, dando de ombros – Aliás, Emmeline está casada como meu tio Fabian, dá pra acreditar?

- Quê?

- É, cara. E aí, quem são?

- Boa pergunta. – Harry riu baixinho. Olhou para o grupo, e apontou para algumas pessoas. – Olha, aquela lá, pelo que eu entendi, se chama Adhara e é a filha mais velha do Sirius. E aqueles dois garotos lá são irmãos dela. Isso, o parecido com o Mark Mckinnon e a cópia do Sirius. Aham. Os dois, até onde eu entendi, são gêmeos.

- E você tem algum irmão? – Ginny perguntou, e Harry sorriu.

- Tenho duas. Uma que chamaram de Sam, deve ser alguma coisa como Samantha, sei lá, e a Violet. Mas as duas, minha mãe e a Lene estão na Floreios e Borrões falando com o Lockhart. – completou o garoto, revirando os olhos.

- Ah, droga, esqueci que agora esse cara não perdeu a memória. – lamentou – se Ron, se escolhendo depois sob o olhar de censura de Hermione. – Quê foi, ele era um mala, não era, Harry?

- Ah, e aquele lá com o livro é o Romulus, filho do Remus.

- Quem quer dar uma olhada em vassouras? – chamou James, animado. – Vamos lá, meninada. Quero calar a boca de Lucius Malfoy e as suas preciosas sete Nimbus 2001. – completou ele com uma careta sarcástica. Harry lançou um olhar significativo para os amigos, que o acompanharam até a loja.

Assim que entraram, cada um correu para uma direção. Adhara e Jack correram para a parte de bastões e balaços junto de Sirius, enquanto Romulus foi procurar por um bom livro de artilheiros que fizeram história. Junto de Harry, Ron, Hermione, Ginny, Neville e Luna o único restante, Leonard, os encarou surpreso.

- Não vão sair correndo feito animais também?

- Hum... Não. – Harry resmungou, sem saber o que fazer. Desanimado, Leonard sentou – se num banco de espera próximo da porta e suspirou:

- Eu preferia ir a Floreios e Borrões.

- Então porque não vai, Leonard? Gilderoy Lockhart está lá, aiai! – Jack debochou, trazendo uma braçada de balaços imóveis. Leonard estreitou os olhos para o irmão e retrucou:

- Cale a boca, Jacques.

Jack ficou muito vermelho e seguiu em silêncio até o balcão, sob as risadas de Ginny e Ron.

- Porque ele ficou tão envergonhado? – Hermione perguntou. Leonard riu.

- Nossa, vocês todos esqueceram?

- Do que?

- Jack é só apelido, lembram? O nome dele é Jacques, mas ninguém nunca o chama disso. Só eu, quando quero irritá – lo. Não acredito que ele seja meu gêmeo.

- Ah, claro. – Neville tentou fingir que compreendia, mas parou subitamente de falar quando Harry pulou de susto ao seu lado.

- Mas o que... – começou o garoto, e uma risadinha foi ouvida de trás dele. Quando virou – se, um garoto gordinho sorriu para ele.

- Oi, Prongs! Onde estão Pads e Moony?

- Hum...

- WORMTAIL, você voltou, colega! – exclamou Adhara, e puxou Romulus junto dela. – Como foi na Espanha?

- Ótimo. Nunca vi tanta gente bonita. – o garoto sorriu satisfeito, e Romulus pulou para cima dele, arrepiando os cabelos cor de palha do menino.

- Esses dias mesmo estávamos lembrando de você, cara. Né, Prongs? Teve um problema nos chocolates da Dedosdemel e acabamos sem o nosso estoque de férias.

- Aham, e onde estava nosso salvador alimentício, Lewis? – Adhara reclamou.

- Na Espanha!

O garoto riu e tirou uma barra de chocolate do bolso, entregando um pedaço para cada um.

- Pronto, estamos todos salvos. Três vivas para mim.

Harry não pode evitar sorrir junto dos outros, e quando Sirius chegou junto deles, ele ainda estava sorrindo.

- Tudo bom, Lewis? – perguntou ele, e o garoto cumprimentou.

- Oi, tio Pads. Tudo bem, sim. Meus pais estavam procurando por vocês, mas mamãe e a Mary viram o Lockhart e arrastaram meu pai para a livraria.

- Pobre alma. - lamentou – se James, vindo com grandes sacolas nas mãos. – Vamos até lá.

O grupo saiu da Artigos de Qualidade para Quadribol animados, e não conseguiram sequer entrar na livraria, tal era a aglomeração lá dentro.

- Vamos sentar em algum lugar. – sugeriu Hermione, e todos seguiram para o Caldeirão Furado, conversando alto e pegando uma mesa grande. Aos poucos foram chegando os outros, e Harry sentiu uma crescente felicidade ao ver todos felizes e animados. Quando Remus chegou acompanhado de Nymphadora, porém, o garoto cutucou Romulus.

- Você não é filho do Remus?

- Sou, Prongs. Cara, hoje você tá estranho.

- Sua mãe é a Tonks?

- Não. Dorcas é a minha mãe. Pads, Wormtail, o Prongs tá mal mesmo.

- Remus e Dorcas são separados, cara. Não lembra? – Adhara sussurrou para ele discretamente, evitando olhar para Romulus.

- Como eles se separaram?

- Não sei. Moony não falou nada pra gente, mas tá tudo bem agora. – e deu um tapa na cabeça dele.

- Ai!

- Bom, e como vão formar o time desse ano? – Remus perguntou, interessado enquanto afagava o menininho que tinha no colo. Harry viu que todos os olhares se puseram nele, e notou que era o capitão do time. Sem saber o que dizer, sentiu o peso da responsabilidade sair quando Adhara tomou frente.

- Bom, esse ano nós vamos arrebentar. Venho treinando Jack o verão todo. Desde a saída dos Weasley que não tenho alguém bom pra revezar comigo, sinceramente. Mas Jack vai se dar bem, tem uma boa mira.

Jack sorriu pomposo, fato que foi ignorado completamente por Adhara.

- Prongs aqui disse que não vai mudar muita coisa. Ron jogou bem demais na última temporada, e os artilheiros estão tinindo.

Harry tentou sorrir confiante, como se tudo aquilo tivesse sido sua ideia, e por um instante tentou se lembrar de alguma coisa útil dessa vida.

Subitamente, ele desmaiou.

- Prongs! – gritava uma garotinha, correndo pela plataforma freneticamente, com Sirius no seu encalço.

- Me espera, Pads! – Harry sorriu guiando o carrinho até o Expresso de Hogwarts. Estavam com onze anos.

- Não importa a casa em que vai ficar, meninão. – assegurou James, ajoelhando no nível do filho. Harry sorriu, ainda preocupado.

- Vou ficar na grifinória, papai.

- Isso não é importante, anjo. – Lily sorriu carinhosamente, segurando Violet e Samantha (é esse o nome dela!) em cada mão. Samantha correu até o irmão e lhe abraçou com força.

- Vou sentir sua falta, Harry. Ano que vem sou eu!

- Eu ainda tenho dois anos! – reclamou Violet, os olhos se enchendo de lágrimas. – Dois anos é muito tempo!

James riu e pegou a filha no colo.

- Vai passar dois anos a mais com o papai, minha flor. Vou tirar umas férias prolongadas, e podemos ir tomar sorvete, que tal?

O choro de Violet se transformou em um sorriso.

- Então tchau, Harry! - acenou ela, ainda amparava pelos braços de James. Ansioso, Harry virou – se para olhar o Black. Sirius beijava Adhara na testa.

- Fique onde ficar, princesa. Estamos esperando por você no Natal.

A menina sorriu, e depois gritou, acenando para um ponto ao longe;

- Tio Moony!

Remus chegou pálido, carregando Romulus no colo.

- Pronto, lobão. Hora de ir.

- E aí? – James perguntou, preocupado. Remus sorriu.

- Está tudo bem, James. Dorcas é racional, sabia que não daria mais. E aceitou bem demais meu namoro com Dora. Acho que Gideon está investindo nela.

James e Sirius sorriram, e um grupo animado chegou. Peter trazia uma garotinha no colo, enquanto Lisa arrastava o malão do menino para perto do trem.

- Estão prontos? – perguntou Lewis, e Harry sorriu.

- Estou esperando Ron... Será que o tio Fabian vem trazer ele?

- Estamos aqui, garotada! – disse Fabian, sorrindo. Parou ao lado de James e vários garotos ruivos saíram de trás dele. – Deixei Molly cuidando de Ginny em casa e resolvi trazer os meninos. Agora, chamada pessoal!

Emmeline trazia um garoto louro agarrado à sua mão, mas ele saiu correndo na direção de Jack antes que ela pudesse dizer qualquer coisa.

- Rick!- exclamou Jack, saindo de perto dos pais na direção do amigo.

- Jack!

- Achou as lagartas?

- Aham! Fred e George disseram que elas mordem, mas acho que é só brincadeira.

- Mordem sim. – Fred sorriu, e depois arrepiou os cabelos amarelos do primo. – Vão ter que usar luvas. Também quer uma lagartixa, Leonard?

O gêmeo de Jack, ainda agarrado na mãe, não disse nada.

- Bom, vamos? – chamou George – Lee Jordan tem uma tarântula que eu quero ver.

Animados, as crianças se despediram dos pais e correram para dentro do trem.

- Harry! Harry, diz qualquer coisa, cara! – sacudia Adhara, preocupada, enquanto Harry abria os olhos, sorrindo.

- Eu to bem.

- Nossa, você nos deu um susto, cara! – suspirou Romulus, irritado. – Caiu aí do nada!

Lembrando da cena da plataforma, Harry sorriu para os dois.

- Estou bem.

Enquanto a conversa começava a voltar ao normal, Hermione sussurrou para Harry:

- Isso me lembrou aquele último jogo de quadribol, lembra? Quando James quase caiu da vassoura?

Por mais que se esforçasse, Harry não conseguia visualizar jogo algum. Ron e Ginny tampouco. Hermione arregalou os olhos.

- Você não lembra?

- Não. Quando penso em último jogo só me vejo erguendo uma taça. Deve ser do ano passado.

- Oh, Deus.

- O que?

- Acho que estamos esquecendo do que passou, Harry. – Hermione disse, intrigada. – Essa vida é a nossa agora. Vamos esquecer tudo.

- É melhor assim. – divagou Luna, se juntando ao círculo em sussurros. – Eu gosto deles.

- Eu também. – sorriu Harry quando Jack afundou a cara de Leonard no pedaço de torta que comia. – Agora que estamos salvos, quero curtir a minha família. Com licença.

E tornando a olhar para o grupo, Harry tentou guardar pequenas lembranças daquele passado do qual havia saído, e concentrando – se em focar no que, para ele, realmente importava. Agora, o 1997 dele seria diferente, e ele tomou aquele gole de cerveja amanteigada na esperança de que nada de ruim voltasse a acontecer.