Voltei pra casa e a primeira coisa que fiz foi me jogar no sofá. Estava exausto. Não apenas pelo esforço físico, mas minha mente precisava de descanso. Logo meus pensamentos foram interrompidos pelo toque de telefone.
- alô?
- e aí, cara? Já tá melhor? – era Frank do outro lado da linha.
- você não sabe o que me aconteceu...
- então fala. Espera, tenho uma idéia melhor. Daqui a pouco eu passo aí pra gente dar uma volta.
- eu não to a fim de sair hoje, Frank.
- ah que isso. Se anima cara! Você tá precisando esquecer o passado e viver mais o seu presente.
- mas esse meu passado me persegue. E hoje ele apareceu em carne e osso pra mim.
- hã? – ele perguntou sem entender - daqui a 15 minutos eu passo aí e você me conta essa história, valeu? Bye.
Desliguei o telefone e olhei pro meu pulso, mas não achei meu relógio.
- droga! Perdi meu relógio.
Andei até o banheiro e percebi que a navalha que quase foi a razão de minha morte ainda estava lá na pia. Sem querer e evitando todas as formas de olhar pra ela, entrei no box e tomei um banho bem quente. Vesti minha melhor roupa e passei o meu melhor perfume. Estava pronto para arrasar.
- eu não posso estar louco. Não posso. – eu disse olhando pra mim mesmo no espelho.

A campainha tocou exatamente em 15 minutos.
- pensei que ia demorar mais. – brinquei com ele.
- eu sempre sou pontual. – Frank entrou e se jogou no sofá enquanto eu terminava de arrumar meu cabelo. – tá pronto? Parece que vai casar, cara! Tá com um perfume mais forte do que o meu! – ele ria.
- hoje eu quero esquecer dos problemas. Esquecer que eu tive um passado. Minha vida vai mudar, Frank. Você vai ver.
- nossa, falando assim deu até medo. Vambora que a noite nos espera!

Nós dois saímos e fomos até a inauguração de uma danceteria na cidade. Frank era o mais empolgado, estava solteiro e azarava todas as meninas que via pela frente. Não era difícil ele ficar sem ninguém, já que a banda dele estava mundialmente conhecida naquele momento e ele, junto comigo, era um dos mais assediados.
Não demorou muito e ele desapareceu atrás de uma morena que no meio de tantos flashes de luz eu poderia jurar que era a mesma Suzy da cafeteria, me deixando sozinho no meio da multidão que dançava enlouquecidamente ao som de música techno.
Me sentindo extremamente sozinho, achei uma mesa vazia e me sentei. Fiquei olhando aquele povo dançando enquanto bebia meu copo de whisk. As lembranças aos poucos foram tomando conta do meu pensamento.

---- Flashback ----
Um dia, Julie resolveu que levaria Gerard para dar um passeio e ‘esfriar um pouco a cabeça’ dos assuntos familiares, depois da morte de seu pai. Os dois pararam na beira de um lago e se sentaram embaixo de uma árvore.
- prontinho. E aí, gostou?
- nossa! Julie, a gente não vinha aqui há tanto tempo!
- é mesmo, uns 3 anos ou mais neh?
- como você ainda lembra desse lugar? Você era tão pequena.
- existem momentos na vida que são inesquecíveis, Gee. E aquele foi um desses pra mim. – ela sorriu.
- acho que ainda está por aqui. – ele olhava em volta tentando encontrar alguma coisa. – achei! Continua perfeito.
Ele entregou a ela uma pedra em formato de coração e no meio havia as letras G & J escritas com o que parecia ser sangue.
- é mesmo... perfeito. – ela deixou uma lágrima cair – ai Gee, como eu te adoro!!
---- Fim do Flashback ----

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