A Sweet Memory escrita por minsantana


Capítulo 20
Capítulo 20




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- Feliz Natal, senhorita! – Jamie abriu os olhos e se espantou ao me ver vestido de Papai Noel.
- Gee... você é doido?
- doido por você.
- ai que fofo!
- não vai querer seu presente?
- hum... você ainda pergunta??
Joguei o saco vermelho em cima da cama e fingi estar procurando alguma coisa dentro dele.
- poxa, acho que esqueci seu presente. Vai ter que esperar até o ano que vem.
- ahhhh... – ela fez biquinho.
- tô brincando, criancinha. – tirei uma caixinha de dentro do saco e os olhos dela arregalaram.
- Gerard, você não...
- essa é apenas uma parte do que você merece por me fazer feliz.
- não acredito! Você quer...
- te pedir em casamento. – os olhos dela arregalaram mais ainda com a surpresa.
Tirei a barba falsa, o gorro vermelho e ajoelhei no chão em frente a cama, onde ela estava ainda imóvel. Abri a caixinha e deixei a mostra uma linda aliança de ouro que reluzia com o raio de sol que entrava pela janela.
- você aceita se casar comigo? – fiz a tão aguardada pergunta e os olhos dela se encheram de lágrimas.
- mas é claro... claro que sim, Gerard! Eu te amo!
- eu também te amo, minha pequena. Te amo mais do que você pode imaginar.
Nos beijamos e nos amamos mais uma vez. Sim, nós não cansávamos de nos amar a cada momento que fosse possível, como se fosse a última vez de nossas vidas.

O dia de Natal foi perfeito, incrível, inesquecível. Bem diferente dos últimos anos em que passei solitário, à procura de algo que me fizesse esquecer o fantasma daquele passado sombrio. Agora era tudo diferente, eu estava feliz. Mesmo que aquela não fosse minha tão sonhada Julie, eu tinha a total certeza de que aquela doce mulher, Jamie, era a pessoa perfeita para me fazer eternamente feliz.

Passamos o dia inteiro comemorando a notícia do nosso futuro casamento. Sr. Walter, é lógico, ficou muito contente quando soube. Ele não cansava de dizer que eu seria o genro perfeito e que Jamie não podia ter escolhido melhor. Debbie também estava feliz, mas havia algo estranho que a incomodava e eu não sabia o porquê. Enquanto Jamie conversava com seu pai, fui até Debbie saber a razão daquela inquietude.
- a senhora está bem? – falei e ela não se mexeu. Continuava a olhar pela janela como se algo lá fora chamasse muito a sua atenção. – senhora Debbie?
- ah.. oi Gerard. Desculpe, eu estava só um pouco distraída. O que disse? – ela me olhou ainda com a feição assustada e era visível seu desconforto.
- quero saber se a senhora se sente bem. Parece um pouco pálida.
- eu estou bem, não se preocupe. É só um pouco de mal estar, mas já vai passar. – ela se distanciou de mim voltando para o lado de seu marido.

Aquilo estava muito estranho, aquela conversa, o sonho, o jeito de Debbie. Algo não estava certo e eu sentia que aquela história ainda precisava ser esclarecida. Resolvi que na manhã seguinte, 14 anos após a morte de Julie, eu iria desvendar esse mistério. E eu já sabia o que fazer, por mais que depois de tudo acabado eu parecesse louco de verdade.

Na manhã seguinte, acordei cedo e me vesti. Jamie dormia como um anjo. Fazia um vento frio, diferente do dia anterior quando o sol resolveu aparecer. A cobri com o lençol e ela se encolheu ainda mais, me fazendo rir em ver como ela era linda. Em todos os sentidos.
Dei um beijo em sua testa antes de sair e pôr em prática o que planejei durante toda aquela noite.
- eu te amo. Nunca se esqueça disso. – sussurrei em seu ouvido, mas ela não se mexeu.
Vesti o casaco e saí sem fazer barulho. A casa estava silenciosa, o relógio marcava 7:35h da manhã.

Caminhei pela rua deserta, parei em frente a minha antiga casa. Uma placa na porta mostrava que ninguém mais tinha entrado ali depois que fui embora pra New York. Dei a volta na casa e olhei a janela do meu antigo quarto, por onde eu e Julie havíamos entrado várias vezes depois da escola, escondidos de minha mãe. Com um pouco de força e jeito, consegui abrir a janela e entrar com uma certa dificuldade, pois eu tinha me esquecido que já não era mais tão pequeno como antes. Meu quarto continuava o mesmo, o mesmo lençol, os mesmo móveis. Quando parti, deixei tudo pra trás sem pensar em voltar. Eu só queria ficar longe dali, só isso.

Passei a mão pela foto na cômoda empoeirada pelo efeito do tempo, e sorri em ver aquela imagem que eu tanto adorava. Julie e eu sentados na beira do ‘nosso lago’ e nós dois segurando aquela pedra que simbolizava nossa eterna amizade. Uma lágrima quente caiu de meu rosto no chão e eu coloquei a foto de volta ao seu lugar.
Dei um último olhar em tudo e saí como entrei, pela janela.

Lá fora, nem sinal do sol. O tempo ainda permanecia cinza, como se o dia não quisesse amanhecer. Andei sozinho, com as mãos nos bolsos da calça, em passos largos até meu lugar de destino.
Parei de andar quando vi que havia chegado onde já deveria ter ido há muito tempo...

Cemitério de New Jersey, 8:23h da manhã

Abri o enorme portão que separava os vivos dos mortos e entrei sem medo. Caminhei entre os túmulos até avistar aquele que fazia meu coração bater mais rápido. Em sua lápide, dizeres alegres eternizavam seu jeito alegre de quando ela ainda era viva. Ajoelhei na terra úmida pelo orvalho da noite e deixei as lágrimas caírem no lugar onde adormecia a minha doce princesa. Eu não queria acreditar, mas era preciso ou nunca viveria em paz.

Eu chorava como um bebê retirado do colo da mãe quando ouvi passos de alguém que se aproximava. Abri os olhos e vi que ela me olhava com pena e igual tristeza em seus olhos.
- olá, Gerard.
- ah... olá dona Susan. – enxuguei as lágrimas para tentar parecer forte.
- não precisa fingir que é forte, Gerard. Eu sei que isso é algo difícil de ser esquecido, me desculpe se lhe tratei mal aquele dia. Eu tinha acabado de sair daqui e ainda estava muito transtornada, entende? – ela estava sem graça e dessa vez parecia bem mais calma.
- tudo bem, eu entendo o sofrimento da senhora. Eu também sofro muito...
Fiz uma pausa e o silêncio continuou até ela tornar a falar.
- hoje faz 14 anos que perdi minha filha e até agora não consigo acreditar que ela se foi pra sempre. – os olhos dela estavam repletos de lágrimas. – Eu tento, mas não consigo acreditar.
Eu a abracei como se fosse uma mãe pra mim. Enquanto ela chorava em meu ombro, pensei bem e resolvi que era hora de fazer o que era certo. Por mais que fosse loucura, era o certo a se fazer.

- dona Susan...
Ela se soltou dos meus braços, enxugando as lágrimas no cachecol.
- ah.. me desculpe, eu não devia ter molhado sua blusa com minhas lágrimas. – eu ri da forma que ela falou, como se fosse um erro chorar.
- não precisa se desculpar. – fiz outra pausa, tomando coragem pra perguntar. – eu preciso que a senhora me acompanhe até um lugar. – ela me olhou confusa. – eu tenho que descobrir uma coisa e pra isso preciso da sua ajuda. A senhora vem comigo?
Ela assentiu com a cabeça e, depois de nos despedirmos de Julie, seguimos para onde eu queria.

Pelo caminho, ouviam-se os choramingos e soluços de Susan que ecoavam nas ruas desertas do bairro. Meu coração batia forte e quase saía pela boca cada vez que eu lembrava no que estava prestes a fazer e a arriscar.
Paramos de andar e Susan me olhava espantava e confusa ao se dar conta de onde estava.
- Gerard, pra quê me trouxe aqui? Quer me apresentar sua nova namorada? – senti um pouco de receio vindo de sua voz, mas ela estava certa em se sentir mal. Não seria certo eu agir assim no aniversário de morte da sua filha.
- vamos entrar.
Abri a porta com cuidado e Susan me seguia mesmo sem ter certeza do que estava fazendo naquela casa. Entramos na sala e imediatamente sentimos o cheiro do café fresco que vinha da cozinha. Uma cantoria alegre vinha daquela direção e meu coração palpitava mais rápido.
- Gerard... – Susan disse e passos foram ouvidos.
- amor, onde você estava? – Jamie apareceu na sala segurando o pano de prato e com um sorriso enorme no rosto ao ver Gerard ali. Esse mesmo sorriso se desmanchou ao ver quem estava ao lado dele. – por que você a trouxe aqui? Quem é ela? – Susan olhava pra Jamie com uma cara preocupada, como se a conhecesse...
- Jamie, precisamos conversar... – falei nervoso atraindo sua desconfiança.
- não estou entendendo. – ela pôs o pano em cima da mesa e veio em nossa direção.
- amor, essa é Susan, aquela senhora com quem conversei no outro dia. – o olhar de desconfiança de Jamie sumiu, dando lugar a um olhar de interrogação. – Susan, essa é a...

Ouvimos um barulho de algo quebrando e quando viramos, vimos Debbie parada na beira da escada e a xícara de café quebrada no chão. Seu rosto estava pálido e suas mãos tremiam.
- você??? – Susan exclamou surpresa.
- o que faz aqui?? – Debbie perguntou com tremor na voz.
- eu que pergunto. O que faz aqui nessa casa??
- essa é minha casa. Eu moro aqui.
- há quanto tempo?
- alguns anos.
- será que alguém pode me explicar o que está acontecendo aqui?? – Jamie perguntou confusa. – vocês duas já se conhecem??
- ela foi a enfermeira que cuidou da minha filha quando ela sofreu o acidente e... – Susan parou de repente e deu um grito. – foi você!! O que você fez com ela?? Você a matou??
- o quê?? – Debbie ficou roxa de repente. Seus olhos espantados transmitiam medo.
- mãe! O que a senhora fez? – Jamie quase chorava entre as duas, no meio da discussão.
- dona Susan, se acalme. – eu tentei controla-la. Em vão.
- Gerard, você não vê?? Ela fez alguma coisa com a minha Julie, com a nossa Julie!! Ela a matou!! Ela a matou!!
- não, dona Susan. Se acalme. Ela não fez isso. – eu tentava dizer e todos me olhavam apreensivos com a minha tranqüilidade.
- como não?? Ela foi a última pessoa a estar com minha filha no hospital, foi ela que me ligou dizendo que Julie havia morrido e ainda me impediu de vê-la dizendo que ela já estava na autópsia. A culpa é dela, Gerard!! É sua culpa a Julie estar morta!
- a Julie não morreu, dona Susan. A Julie não está morta.
- o quê?? – todos gritaram espantados, menos Debbie que sabia muito bem do que eu estava falando.

- eu preciso dizer mesmo que todos me achem um lunático. Tirei um papel do bolso e comecei a ler. Todos pararam para ouvirem o que eu tinha a dizer. “Há 14 anos, no hospital San Jordin, em New Jersey, Julie Canne foi dada como morta pela enfermeira Debbie Heath após a enfermeira ter simulado um ataque cardíaco em decorrência do coma em que se encontrava Julie. Ao contrário do que todos pensavam, Julie não estava morta e tinha se recuperado do coma muito bem, apenas continuava adormecida. Debbie então, a levou desacordada para sua casa e a tratou como se fosse a filha que ela nunca teve, trocando a identidade da menina para que ninguém desconfiasse do acontecido. Debbie e Julie, que passou a se chamar Jamie, viveram em New Orleans até Jamie completar 13 anos. Por causa do coma, Jamie não se lembrava de nada de sua infância, apenas do que Debbie inventava e a fazia acreditar ter realmente acontecido. As duas se mudaram para New Jersey logo após Debbie se casar com Walter Dolphins e após isso, Debbie largou a profissão de enfermeira para se dedicar a filha e não levantar mais suspeitas sobre seu crime.“ – todos me olhavam espantados. - Essa é a carta de uma outra enfermeira que trabalhou com Debbie durante esse tempo no hospital San Jordin e que aceitou depor contra ela no tribunal como testemunha de tudo o que aconteceu.

Quando terminei de ler, o clima era de comoção e revolta. Susan olhava pra Jamie com lágrimas nos olhos e fúria por Debbie.
- eu vou te matar, sua vagabunda!! Você roubou minha filha! – Susan ‘voou’ em direção à Debbie, que tentou fugir, sem sorte.
- ela não irá fugir. – Walter apareceu no caminho e segurou Debbie pelas costas.
- amor, me solta. Não vê que essa maluca quer me matar? Eu não roubei nossa filha por mal, ela é minha. Só minha. – Debbie suplicava lágrimas falsas e gritos histéricos.
- eu já chamei a polícia. – Walter disse sério e frio. – eu ouvi toda a conversa e não acredito que passei 11 anos da minha vida ao seu lado. Você não é humana, você não tem coração.

Debbie chorava, mas era tarde. A polícia havia chegado e não havia tempo nem razões para seu perdão. Ela foi algemada e presa sendo assistida pelo olhar incrédulo de Jamie, ou melhor, Julie.
Walter seguiu com a polícia até a delegacia para preencher os papéis da prisão de sua esposa.

Na casa, apenas Susan, Julie e eu estávamos ao mesmo tempo surpresos e comovidos com o fim desse grande e doloroso mistério.
- como... como você conseguiu aquela carta?? – Susan perguntou gaguejando.
- há tempos que eu tinha essa dúvida e um pressentimento sobre isso. Fui juntando ‘as peças soltas’ e resolvi ir até o hospital falar com alguém que tivesse presenciado toda aquela história e que pudesse comprovar minhas suspeitas. Por sorte, encontrei uma das enfermeiras que era amiga de Debbie. Seu nome é Marcy e ela concordou em me contar tudo depois que eu disse que minha felicidade dependia disso.
Olhei pra Jamie que chorava encostada na janela olhando fixamente pra rua.
Susan concordou com a cabeça para que eu fosse até lá e resolvesse nossa história.
- amor, eu sei que isso está sendo muito difícil pra você, saber tudo isso assim sem lembrar do que realmente aconteceu...
- eu lembro. Lembro de tudo, Gee. – ela disse séria, ainda fixa na janela.
- como?? Você se lembra... de tudo??
- sim. Agora eu lembro de tudo. De quando éramos crianças, do acidente, da morte de seu pai... de tudo.

[...]


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