— Gitah! Gitaah! Me desculpee! – Yui chorava e gritava desesperadamente, curvada sobre a mesa do clube. Tsumugi passava a mão na sua cabeça, tentando acalmá-la.

—Aquela era uma boa guitarra – Azusa disse, enquanto bebia chá na xícara de gatinho – pode ser difícil encontrá-la novamente.Logo agora que a gente ia se apresentar... Talvez você devesse comprar outra e...

—Não! – Yui a interrompeu, o rosto encharcado de lágrimas e a voz embargada – A Gitah era única! Eu quero a Gitah.

— Bem... só nos resta procurar... talvez nós possamos ir até a polícia, ou algum outro lugar...eu não consigo pensar em nada agora... – Mio falava olhando para o teto com a mão no queixo, pensativa.

—Polícia? A Gitah foi seqüestrada? Sequestrada! Ricchan! Vamos salvar a Gitah - ela agarrou o colarinho de Ritsu, sentada ao seu lado e a chacoalhava de um lado para o outro. Imagens agoniantes de Gitah sendo mantida em cativeiro, amordaçada e amarrada em uma cadeira velha de madeira surgiram na mente de Yui.

—Calma! – Ritsu conseguiu se soltar de Yui e a colocou sentada novamente – ela tá bem, eu acho, é só procurar que a gente acha tá certo?

—Na bolsa da guitarra tinha alguma forma de identificação?

Yui fungou e secou as lágrimas na manga antes de falar

—Sim. Ela tinha uma igual a essa – ela ergueu o pulso, mostrando uma pulseirinha rosa com seu nome, telefone e endereço escrito.

—Quantos anos você tem? – Ritsu murmurou para si mesma.

—Diga, onde você foi com a Gitah hoje? – Mugi falou calmamente.

— Eu fui na Vovó, e também parei pra falar com o gatinho, e depois fui na loja de doces, e então me encontrei com o Hiro-kun e ...

— Espera! – Ritsu interrompeu Yui, colocando as duas mãos na frente dela de forma dramática – esse Hiro-kun é um garoto? Você tava num encontro?

— É... acho que sim... a gente tomou sorvete - Yui falou, não entendendo muito bem a situação.

— Oh! Yui-chan já está nessa idade – Mugi colocou as duas mãos no rosto, o olhos brilhando.

— Você devia ter contado antes! – agora era Ritsu que balançava Yui para frente e para trás – e como foi? Ele é bonito? Se divertiram? Que sabor de sorvete você pediu? Em que nível vocês estão? Ele abriu a porta do carro pra você? Trocaram e-mail? Não me olhe com essa cara de quem não tá entendendo!!! Eu quero respostas!!!!!!!

—Você estava mesmo com um garoto, Yui? - Mio estava corada, mas parecia muito interessada.

Todas se aglomeraram ao redor de Yui bastante agitadas, fazendo perguntas, que na maioria das vezes ela não sabia responder. Apenas Azusa parecia se lembrar da razão de estarem agora reunidas na sala do clube, sem ensaiar.

— E a guitarra? – Azusa balançava os braços tentando ser notada, mas falhando miseravelmente. Até Yui parecia ter esquecido-se de Gitah, e agora narrava detalhadamente tudo o que havia ocorrido no caminho para a escola.

–

ttt O som do ressonar leve de Yui ecoava pela sala. Ela estava agora dormindo com a cabeça recostada na pequena mesa de madeira ao lado de um prato com cascas de melancia, e ao seu redor estavam espalhados materiais de desenho e papéis onde se lia “Guitarra seqüestrada. Atende pelo nome de Gitah. Caso tenha informações, por favor procure o Keionbu, ou a Sawa-chan-sensei!”, abaixo de um desenho feito com giz de cera de uma guitarra. O ventilador ligado a sua direita fazia com que os papéis coloridos voassem por todo o cômodo.

— Nee-chan. Nee-chan! Acorde por favor! Eu vou servir o jantar. – Ui tentava acordar Yui, que ao ouvir a palavra jantar, despertou automaticamente.

—Certo – disse com a voz enrolada pelo sono — Olha só – Yui mostrou os panfletos que havia feito, os olhos brilhando enquanto esperava pela opinião da irmã – ficou bom não é?

— Claro – Ui falou com o tom de voz de uma mãe orgulhosa pelo empenho do filho - mas eu não entendi porque você desenhou um abacate...

— Essa é a Gitah...

A campainha tocou no momento em que Yui começava a chorar e Ui foi atender.

— Yui! Vem aqui!

Yui correu até a porta desajeitadamente. Quando viu que Gitah estava ali, tomou-a dos braços da sua sorridente irmã e a abraçou com lágrimas nos olhos. O emocionante reencontro foi interrompido no momento em que Yui notou o garoto na soleira na porta. Era o mesmo garoto com quem ela havia tomado sorvete no dia anterior. Ele mantinha a expressão constrangida que apresentou no dia em que se conheceram, fitando o chão com a mão na cabeça e o rosto muito corado.

— Hiro-kun? Não acredito! – ela soltou Gitah no canto ao lado do local onde se deixavam os sapatos e puxou Hiroto pelo braço para dentro da casa – Foi você quem salvou a Gitah? Muito Obrigadaa!

— Na verdade foi você quem esqueceu a guitarra. Me desculpe por não ter devolvido antes, mas foi difícil encontrar seu endereço. – ele disse sem conseguir olhar para Yui, que estava com seu rosto muito perto.

Yui apresentou Hiro e Ui devidamente, sem soltar o braço do rapaz, que não ficou nada a vontade com as perguntas de Ui sobre seu possível relacionamento com a irmã.

— Você vai ficar pra jantar não é? – Yui arrastava Hiro em direção a mesa, que já estava arrumada, sem esperar pela resposta. Hiroto não conseguia parar de se admirar com a desinibição de Yui, e com sua facilidade para fazer amizades. Conheceram-se por um acidente no dia anterior e ele já estava jantando na sua casa como um velho amigo.

—Seus pais não vão se incomodar, Hirasawa-san?

—Eles vão demorar para voltar. Estão em uma longa viagem pela Europa, e depois vão ir para o Hawaii para uma segunda Lua-de-Mel – respondeu Yui entre uma mordida e outra, com um olhar sonhador.

—Entendo... – Hiroto imaginava que tipo de vida Yui tinha. Mesmo sem os pais por perto, parecia possuir uma família unida e amorosa, ao contrário dele, que apesar de ter os pais presentes, não passava nenhum momento com eles, nem mesmo nas refeições, pois ambos estavam sempre trabalhando, sem tempo para os filhos. Ficou feliz de ao menos pro um dia conseguir ter um jantar tão alegre e agitado, como devem ser os jantares em família.

Hiroto surpreendeu-se ao notar que horas eram. Havia passado tanto tempo assim? Não se lembrava de ter se divertido tanto em toda a sua vida. Depois do jantar que Ui preparara – Hiroto nunca havia visto uma garota comer tanto como Yui - eles jogaram jogos de tabuleiro e de cartas, e depois fizeram um concurso de mímicas. Despediu-se da sua nova melhor amiga, com promessas de voltar a visitá-la.

Mesmo com o ar frio da noite, Hiro sentia-se aquecido por dentro. As imagens do jantar, e de Ui e Yui não saiam de sua cabeça, e os sentimentos de afeto o preenchiam. Nunca havia sido tão feliz, e não sabia reagir a isso.

— Um dia... eu vou ter uma família assim – disse baixinho, sorrindo satisfeito para a Lua.