Os Outros escrita por Sochim


Capítulo 13
Recados (editar)




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Recados

Naruto não devia estar com a cabeça no lugar, ou pelo menos era isso que pensava Kiba, enquanto andava apressado pelos corredores da escola. Tinha uma dúvida que latejava dentro dele há tempos e que tinha adormecido desde que começara a andar com os Outros há um ano.

 

O ano anterior, quando ainda pertencia aos Impopulares e era um dos braços direitos de Gaara, foi o ano em que Naruto entrou na Escola Secundária de Konoha. Garoto novo, quieto (a princípio), pequeno em comparação aos membros dos dois grupos que controlavama escola, fracote e, como Kiba e Neji costumavam dizer na época, tinha cara de retardado.

 

No entanto, apesar das facilidades, contrariando todas as espectativas, nem Gaara, nem Sasuke meteram-se com o garoto nos primeiros meses. Seus amigos também não tinham permissão para encostar nele.

 

— Por que não? — Perguntava Neji a todo o momento, tentando parecer displicente.

 

Kiba sabia que alguém deveria estar fazendo o mesmo com Sasuke. E, mais do que isso, sabia que a resposta do Uchiha também era a mesma de Gaara.

 

— Porque tanta pressa de bater no garoto? — Gaara mostrava-se como sempre pouco interessado no assunto. — Ele não aguentaria nem um soco! Não tem graça, tem?

 

Neji deu de ombros.

 

— Não. E não estou perguntando porque "eu" quero bater nele... — Disse, fazendo tanto Gaara quanto Kiba olharem-no curiosos. — Mas Kimimaru e os outros... Vão acabar fazendo besteira. Faz tempo desde a última vez que tiveram uma "vítima fixa".

 

Agora, Kiba percebia que o modo com que Neji (e ele próprio) falava das coisas que fazia na escola era banal. Vítima fixa? O que ele queria exatamente dizer com isso?

 

O assunto "Naruto" sempre fora discutido entre eles, como se falassem de um objeto a ser jogado aos cachorros para deixá-los contentes. Uma recompensa, ou menos, uma distração.

 

— Pelo que eu soube... — Neji continuou, vendo que Gaara não respondia. — O pessoal do Sasuke também "quer" o garoto...

 

Gaara encarou Neji por um tempo, depois olhou para Kiba.

 

— O que você acha? Kiba deu de ombros. — Você decide. Só acho que, se a gente não bater nele... Teremos que defendê-lo.— Disse, sabiamente, pois a verdade era que, geralmente, sempre que um novato tornava-se vítima de um dos grupos, imediatamente tornava-se protegido do outro. — Mas, se demorar demais, Kimimaru e os outros não vão querer defender o garoto. Ele é...— Kiba olhou para Neji, procurando a palavra certa. Ele parece...— Corrigiu depressa. — Ser intocável e isso os irrita.

 

Gaara não respondeu prontamente. Os três estavam sentados em uma mesa no fundo da aula de química com Kurenai. Seu olhar estava fixo na frente da sala, onde, tanto Neji quanto Kiba perceberam, estavam Sakura e Karin, na mesma mesa que Sasuke e Juugo.

 

— Vocês tocaram no ponto da questão. — Disse finalmente, sem olhá-los. — Tanto eu quanto o Sasuke não queremos ser os "responsáveis" pela proteção do garoto. Ele não nos interessa. É fraco e idiota.— Gaara vitou-se para eles. — Mas também não queremos comprar briga um com outro, por causa de um garoto como ele.

 

O argumento não foi contestado, embora Neji e Kiba conseguissem achar uma falha lógica nele. Se nenhum dos grupos queria proteger o garoto, porque não resolviam isso fazendo-o de vítima e empurrando-o a força para o outro?

 

— Vamos mandá-lo para o Aburame. — Sentenciou Gaara, como se aquilo fosse a mais cruel alternativa. — Ele sabe o que fazer. E vocês também!

 

— Vamos transformar o garoto em um perdedor? — Kiba perguntou, tentando esconder a surpresa.

 

— Por mim tudo bem. — Disse Neji, encerrando o assunto, no momento em que o sinal tocara.

 

Kiba entrou em um corredor em que ficava seu armário e abriu distraido a porta. Separou um pedaço de papel e um caneta. Escreveu apressado e continuou seu caminho, repassando mentamente as cenas que protagonizara no ano passado.

 

Poucas horas depois da decisão de Gaara, Neji e Kiba deram início à exclusão de Naruto. Esbarravam nele constantemente nos corredores da escola, provocavam com palavrões, ameaças, pegavam-no desprevinido nos corredores e o empurravam contra os armários.

 

Os amigos de Sasuke pareceram gostar da idéia e começaram a fazer o mesmo, ao passo que Naruto tornava-se cada vez mais assustado e apreensivo. Havia dias que não aparecia na escola e outros que derrubava os próprios cadernos assim que via um dos "agressores" por perto.

 

Aos poucos, Kiba e Neji pararam de participar das operações, assim como Juugo e Suigetsu. A medida que o tempo passava, Naruto passava a ser escoltado por Shino e os garotos do grupo de jornalismo que, embora não causassem medo nos outros, já deveriam ter dito para Naruto o que estava acontecendo e que nenhum dos que o ameaçavam pelos corredores chegaria a cumprir as promessas.

 

Entrementes, Kiba começava a ter problemas nos Impopulares. Sai era quem mais perceguia Naruto e aos poucos a boataria de que estava subindo de cargo e que Kiba estava sendo rebaixado espalhou-se pela escola.

 

Naruto criou coragem e tornou-se atrevido. Começou a revidar as provocações, enfrentar as ameaças de cabeça erguida e rir debochado das expressões de seus perseguidores. Escolheu provocar particularmente Kiba. Com a cabeça cheia de problemas e o espírito raivoso, Kiba perdia a cabeça constantemente com Naruto. Tinha de se controlar para não fazer besteira, pois bater em Naruto ainda não era totalmente seguro.

 

Os Populares estavam sempre de olho, para ver se alguém dos Impopulares quebrava o "acordo" silencioso que havia entre eles, desde que o campeonato interclubes começara. Por alguma razão, Naruto estava incluso no acordo.

 

Ao final da participação do time no campeonato, depois de ter brigado com Ukon e de ter recebido uma chamada contrariada de Gaara, Kiba ficou até mais tarde nos vestiários e encontrou Naruto perto de seu armário.

 

— Problemas?

 

— Tá fazendo o que aqui?

 

— Vim assistir o jogo. Achei que seria melhor, mas não posso dizer que não gostei.

 

— Você gosta de perder?

 

— Eu estava torcendo para o outro time.

 

— Cai fora Uzumaki. — Disse, batendo a porta do armário e se afastando em direção à saída.

 

— Ou o quê? Vai arriscar levar outra bronca do chefe?

 

Kiba riu debochado.

 

— Você não tem medo do perigo, não?

 

— Não acho que eu esteja em perigo, agora.

 

— Seu senso de sobrevivência não está funcionando bem. — Kiba virou-se para ele. — Sinceramente, você acha que ainda me preocupo com o que Gaara espera que eu faça ou não?— Suspirou, antes de continuar, perguntando-se o que aquele garoto tinha de tão "intocável". — Sugiro que pense melhor nisso. Pelo que eu soube, agora você é oficialmente um dos Outros... É assim que vocês se chamam?— Perguntou com um ar sarcástico. — Escuta aqui... Depois do que aconteceu hoje, a pior coisa que poderia ter te acontecido foi entrar para esse grupo de perdedores. Agora, garotinho, você é alvo fácil e tem pelo menos seis garotos querendo de pegar de pancada, depois das suas provocações.

 

— Minhas provocações? O que eu fiz antes de que vocês começaram a me encher? Kiba não soube responder.

 

— Não sei. Mas fica a dica. Fique longe de Kikimaru, Dozu e Zaku. E do pessoal dos Populares também. — Virou-se novamente para a porta e estava quase saindo quando falou: — E torça para que eu não entre na lista dos que querem a sua cabeça à prêmio.

 

A ameaça, porém, nunca se cumpriu. Kiba fora expulso dos Impopulares, tratado da mesma forma que Naruto e teve de engolir o orgulho ao ver que o único que lhe estendeu a mão fora o garoto.

 

— Por que? — Perguntou, quando os dois caminhavam em direção à casa de Kiba. — Eu fiz aquilo tudo com você.

— Eu sei. Mas não tem graça pisar em quem já está no chão. — Naruto respondeu com um leve aborrecimento. — Embora vocês achem isso muito divertido.

 

— Sinto muito. — Falou, sinceramente.

 

— Não se preocupe. Você me avisou para não mexer com aquele pessoal depois do jogo. Estava certo. Mas eu não precisei fazer nada para apanhar. Eles me pegaram no dia seguinte, como você deve saber.

 

— Foi o pessoal do Sasuke...

 

— Faz realmente alguma diferença? — Naruto encarou-o. — Eu decidi que posso apanhar quantas vezes eles quiserem me bater, mas não vou ficar calado. Se eles querem me bater, ao menos terão um motivo.

 

— Você é suicida?

 

— Não. Mas... — Naruto fitou o chão. — Não acho que seria uma perda tão grande assim. Há coisas piores que a morte.

 

— Tipo o quê? — Kiba perguntou descrente.

 

— Ter uma meia vida. Arrepender-se por ter deixado de fazer algo ou ser impedido de fazer.

 

Kiba descobriu mais tarde do que Naruto estava falando. Seu pai estava entre a vida e a morte há anos.

 

— Amanhã eu vou a uma premiação de redação que eu ganhei. — Falou Naruto. — Shino e os Outros estarão lá. Se quiser... A gente pode...

 

— Não. Eu... Obrigado, mas... Eu não quero fazer parte de outro grupo por enquanto.

 

Naruto encarou-o novamente. Kiba sabia que fora rápido demais a negar. Sentindo-se incomodado, despediu-se do garoto e entrou em casa.

 

Kiba precipitou-se por outro corredor, mas parou de chofre, escondendo-se atrás dos armários ao ouvir uma voz perguntar alto:

 

— Com Sasuke? - A voz parecia ansiosa. - Ele é louco? Kiba não ouviu o que a outra pessoa dizia. - Ele estará acabado se enfrentar o cara de novo. - Disse a primeira voz outra vez. - Não. Eu sei o que fazer. Depois eu falo com você.

 

Kiba só teve alguns segundos de aviso.

 

— Escutando atrás do armário, Kiba? - Gaara apareceu de repente, parecendo surpreso ao vê-lo. - Sempre achei que você precisava sair do armário.

 

— Olha quem fala. - Retrucou Kiba. - Está preocupado com o Naruto, agora? - Kiba viu um sorriso perpassar o rosto de Gaara, mas continuou, impassível. - Ou isso ainda faz parte daquele acordo de não encostar nele?

 

— Apesar de não ser da sua conta... - Começou Gaara lentamente, olhando ao redor e arrastando Kiba para dentro do corredor, para que ninguém os visse ali. - Seja útil para alguma coisa. Diga ao seu novo amigo para me esperar na saída para a aula de química.

 

— Por quê?

 

— Digamos que eu ache que foi um erro, entregá-lo aos cuidados do Aburame. Não esqueça do que falei.

 

Dizendo isso, Gaara saiu apressado. Kiba entrou no outro corredor, encontrou o armário que estava procurando e enfiou o bilhete entre as frestas e correu para a aula línguas, que já começara.


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