Os Outros escrita por Sochim


Capítulo 12
Acidez (editar)




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Acidez

No sábado, antes de ser convencido a tomar um banho, Naruto escrevu rapidamente no seu computador:

Depois de um ótimo sábado (e particularmente de alguns momentos memoráveis), posso dizer que não faço a mínima idéia se rezo para o fim de semana acabar e voltar para a escola, ou se rezo para que ele nunca acabe e eu possa ficar preso dentro de casa. Se eu pudesse escolher, iria direto para a casa dos meus pais. Tenho tanta coisa para resolver lá e quanto mais eu faço, menos parece que fiz. Iruka e Jiraya acham que eu não tenho idade para ir morar sozinho ainda e, especialmente, não querem que eu fique sozinho na casa dos meus pais. Provavelmente acham que é deprimente...

Quem eles pensam que são afinal? Jiraya, é um velho que ainda não percebeu os cabelos brancos caindo na cara, o que também indica que ele está ficando cego. Iruka... Eu não consigo entender como um cara como ele consegue sobreviver nesse mundo. Ele é sempre tão bonzinho, tão quieto, tão... Insuporavelmente pacato! Não me admira que esteja sozinho. Se ele ao menos tivesse uma namorada, não perderia seu tempo cuidando de um bando de adolescentes.

Que seja. Eu to cansado dessa porcaria de República. É muita gente andando para todos os lados.

A única pessoa que demora mais que as quatro meninas no banho é o Neji. Acho que ele faz de propósito. Se bem que para lavar todo aquele cabelo, deve precisar de horas mesmo. De qualquer forma, eu sou a favor de dar um passa fora naquela maldita cabeleira, digna do Primo It (ou seja lá o nome daquela coisa). E ainda tenho que aturar a "donzela" afastando os cabelos, para que seus "belos olhos" fiquem à mostra... Se ele soubesse como ele fica gay fazendo isso.

Outro que parece ter entrado na moda do metrosexualismo (a primeira praga do século XXI), é o Lee... Ele não passa horas trancado no banheiro se arrumando, o que de qualquer forma seria inútil, mas sempre que pode, passa a mão no cabelo, dá um sorrisinho daqueles e tenta chamar a atenção da Sakura. Patético. Será que ele não percebe que ele é feio e nada vai mudar isso? Devia ter nascido com outros pais...

O Shino seria mais bem sucedido se tentasse parecer bonito, porque, afinal, ele ao menos parece homem. Claro que eu não tenho muita certeza se ele gosta de mulher, mas isso é uma questão para ele resolver... Se quiser. Ou se tiver algum jeito.

Enquanto o Shino não se resolve, acho que tem outra pessoa nessa República que precisa se decidir urgentemente. Não dá mais para a Tenten ficar bancando a machona. Ou ela assume sua condição de mulher ou começa a, digamos, comprar uns sapatos dois números maiores... Se é que eu me faço entender. Mas essa é uma das pessoas dessa República que vai acabar parando na lista de solteirões.

Não vou ser injusto. Eu provavelmente serei o primeiro a entrar para a lista... Ou melhor, o terceiro. Jiraya e Iruka estão na minha frente à tempos.

Não sei se sou eu ou é mesmo um fato incontestável que essa tal de Karin é um estorvo. Deus ela estar ou não aqui, não faz a mínima diferença. Não é tão bonia quanto a Sakura, não é tão brigona quanto a Tenten, não é tão quieta quanto a Hinata... Ou seja, não é nada. Mas ao menos ela fala...

O que já não posso dizer da Hinatinha. Acho que tudo o que se refere a ela pode ser considerado no diminutivo... Ou melhor, quase tudo. Há uma coisa que ela tem mais que a Sakura... E é bem evidente... Mas isso não vem ao caso. Eu tenho tentado entender a dualidade sobre a Hinatinha e não consigo pensar em nada de útil ou esclarecedor. Ou ela foi muito reprimida pelo pai ou é outro caso sem solução. Sempre que ela fala, o que eu deveria corrigir para todas às vezes em que ela se lembra que se abrir a boca fica mais fácil emitir sons, ela tenta parecer confiante, mas no momento seguinte se entrega e seu rosto fica tão corado que parece que ela quer enfiar a cara em algum buraco. Não vou negar que seria um desperdiço, mas quem sabe não solucionava de vez esse defeitinho de fábrica...

A Sakura também não pode ser esquecida, não é mesmo. Devo confessar que nunca entendi muito ela. Não vou dizer que acho lindo o jeito como ela se veste, embora teha que admitir que aquele modelito não ficaria melhor em mais ninguém. Como eu disse no começo da semana, não entendo como alguém como ela, sempre tão pacífica, possa fazer parte dos Populares e andar com gente como o Sasuke, mas pensar nesse cara me deixa com nauseas (por muitos motivos)... No entanto, até que posso pensar em uma razão, por mais que evite pensar nela como uma real possibilidade.

*

O domingo passou rápido para a maioria dos moradores da República. Para Naruto, o tempo era indefinido. Sua indecisão sobre querer que o tempo passasse ou parasse, pareceu não fazer efeito no relógio e, quando deu por si, estava sendo sacudido tão forte, que seu corpo doeu mais do que já estava doendo, depois do incidente com os Populares. Recusou-se a abrir os olhos por um momento, desejando que qualquer que fosse o infeliz que o acordava, sumisse de sua frente a tempo. No entanto, quando abriu os olhos, viu o rosto sorridente de Lee encarando-o animado.

Quem consegue ficar animado às seis da manhã, meu Deus?

Mas uma voz consciente e sábia em sua mente respondeu por ele:

O Lee consegue...

— Lee... Eu já acordei... - Falou, de mau humor.

— Ah... É que o Iruka mandou te chamar. Não quer que você se atrase.

— Ele não tem mais nada para fazer? - Naruto resmungou entre dentes.

— Quê?

— Nada.

Naruto tratou de afastar-se de Lee, que mais uma vez parecia alheio ao movimento do garoto e se afastou ainda sorrindo. Esticando os braços para fora do cobertor e sentindo a brisa gelada que inadia o quarto, Naruto criou coragem para sentar na cama. A janela estava escancarada e por ela entrava um fino e tímido raio de sol. Lançou um olhar tão gélido quanto a brisa que arrepiava seus pelos para o raiozinho de sol, afastou de vez as cobertas e se levantou. Não havia ninguém no quarto, mas a bagunça denunciava que seus ocupantes já estavam vestidos no desconfortável e ultrapassado uniforme da escola. Para que se vestir bem, se ele seria servido como saco de pancadas para os "cachorrinhos" de Sasuke de novo. Ainda se lembrava, claramente, da ameassa de Sasuke, antes que Kankuro o espantasse: "Segunda-feira, a gente termina com você". Era isso. O último dia de sua vida. Não tinha sido muito bom até ali, mesmo, se fosse parar para pensar. Acabar com ela talvez fosse melhor. Não teria mais que assistir às aulas de Kakashi, que instivamente Naruto sabia que o odiava. Não teria mais que sentir-se um perdedor por não ter se tornado um pequeno notável como seus dois ex-melhores amigos. Não teria mais que tentar não pensar em Sakura. Não teria que se sentir grato por Kankuro e Temari terem ajudado-o e sequer aceitar a incômoda vozinha em sua cabeça que dizia, insistente:

Você deve a eles.

Dever? A um Sabaku? Aos filhos do homem que tinha tirado tudo o que ele tinha? Sua família, seus falsos amigos...

Não. Não vou dever nada a eles. Eles é que me devem. Me ajudar uma vez não compensa o que o pai deles fez. Não compensa o que passei ontem...

Naruto saiu do quarto, ainda com a mente atordoada. Esse era um dos motivos que o faziam detestar acordar cedo. Invariavelmente, sua mente ainda estava anestesiada pela noite de sono. Ao mesmo tempo que tentava recuperar os sonhos perdidos, pensava em mil coisas ao mesmo tempo, das quais sempre se destacavam as piores lembranças e as menos atrativas idéias sobre o que teria que aguentar durante o dia. Isso sem falar nas músicas mais irritantes possíveis que assaltavam-no de repente, com rimas repetitivas e ritmos descompassados.

Porque essas merdas tocam nas rádios? Aposto que se eu fosse músico, faria músicas melhores que essas.

Por mais que o pensamento de se tornar músico fosse agradável (apesar de inviável, pois ele não tocava nenhum instrumento), não foi isso que o despertou de vez. Shino e Neji estavam parados no meio do corredor, olhando um para o outro com um desprezo tão grande que infestava o ambiente. Quando perceberam a presença de Naruto, ambos se mexeram impacientes e se afastaram. Naruto esperou ver Neji desaparecer escada a baixo e voltou-se para Shino, que agora sustentava uma expressão quase descontraída.

— Algum problema?

— Não... Aparentemente alguém andou usando o shampoo especial da madame.

Naruto parou em frente à porta do banheiro, esfregando os olhos com força.

— Foi você?

— Não.

— Você sabe quem foi?

— Não.

Naruto segurou uma gargalhada sinistra, que entalou em sua garganta.

— Finalmente algo que o onisciente Shino não sabe!

— Onisciente? - Shino achou graça. - Gostei disso!

— Não foi exatamente um elogio. - Rosnou Naruto, antes de fechar a porta do banheiro e se trancar lá dentro.

Shino olhou na direção da porta, sem dizer nada. No momento seguinte, acompanhou uma sonolenta e cheirosa Karin escada a baixo. O cabelo da garota estavam molhados e Shino percebeu que eram deles que vinha o cheiro forte. Ele podia não ser onisciente, como Naruto dissera com tanta ironia, mas era difícil não perceber certas coisas tão óbvias.

Antes que os moradores da República se separaram em grupos para ir para escola, Iruka aproveitou o silencioso café da manhã (que tornou-se costumeiro, desde que os novos moradores chegaram), para fazer um pedido que, para Naruto, era quase uma súplica.

— Espero que mais ninguém chegue aqui hoje a tarde com a cara amassada e manchada de sangue. Se tiverem a remota pretenção de arranjar briga hoje, por favor, me avisem, antes de chegarem carregados. - E, lançando olhares significativos para Neji e Naruto, que ainda tinham as manchas dos socos na cara e nos brços, saiu da República antes dos outros.

Naruto sentiu sua afeição por Iruka ter uma brusca queda, mas não disse nada.

Neji foi o primeiro a sair, apressado e desapareceu na esquina, ao que ninguém reclamou. Sakura e Karin estavam à frente do grupo de estudantes, rindo de qualquer coisa que produzia instantaneamente caretas hilárias em Tenten, embora Naruto estivesse com dificuldade de achar qualquer coisa engraçada naquele momento. Tenten e Lee seguiam as duas a certa distância. Shino andava lentamente ao lado de Hinata e Naruto ia atrás, tomando o cuidado de não se aproximar o suficiente para ouvir muito do que eles falavam. Não estava interessado em ouvir mais do que os próprios pensamentos naquele dia.

Nas segundas-feiras não havia aula de fisica, o que significava que Naruto não precisaria ficar sentado na sala de Kakashi tentando enfiar um conjunto interminável de números e fórmulas na cabeça. Embora não tivesse certeza se se sentiriapenalizado ou vingado ao ver o rosto machucado do professor, após o soco de Sasuke. Pensou nas palavras que Shino escrevera no editorial e, pela primeira vez em semanas, concordou com o garoto. Era ridículo que os responsáveis não tivessem sido espulsos.

Apesar de ter se livrado das aulas de física, Naruto não se livrou das duas aulas seguidas de matemática com Shizune, que estava mais alienada que o normal naquele dia. À aula de matemática, seguiu-se uma aula de geografia com Asuma, que também não estava com o melhor humor.

Kiba tentava puxar assunto em todas as aulas, querendo saber o que tinha acontecido com o garoto, que sequer o olhava. O intervalo chegou depois do que pareceu um dia inteiro.

— E então? - Kiba segurou seu braço, antes que ele conseguisse sair da sala de Asuma.

— Eu arranjei uma briga com o Sasuke! - Naruto gritou, mais alto do que sabia que era necessário, sentindo uma dor no braço, onde Kiba o tocara, pois ali havia uma marca roxa que obviamente ainda doía.

— Com o Sasuke?

— É. E os amiguinhos dele resolveram ajudar.

— Seis contra um não é uma luta justa. - Disse Lee, atrás deles, assustando Naruto, que o encarou-o nervoso.

— Porque você se meteu com eles, afinal? - Quis saber Shino, que estudava as marcas de Naruto com interesse.

— Não é da sua conta.

— Eles estão preocupados com você, Naruto. - Intrometeu-se Hinata.

Naruto foi incapaz de ser grosso com ela, embora tenha sido pouco agradável ao dizer:

— Agradeço a preocupação, mas dispenso tantos cuidados. Já foi ruim demais ver a cara de deboche do seu priminho quando eu cheguei na República no sábado e as expressões de compaixão de vocês não vão ajudar em nada.

— Meu primo só fez o que vocês fizeram com ele. - Disse Hinata firmemente, mas corando quando Naruto a encarou ainda menos agradável.

— Qual é a sua Hinata? Você é um dos Outros ou uma Impopular?

— Não sou p* nenhuma! - Retrucou Hinata, dessa vez realmente brava, surpreendendo os outros por ter dito um palavrão. - Desculpe se ninguém aqui consegue ignorar essas marcas horríveis no seu rosto. Como poderíamos? Elas são enormes, não? - Perguntou com uma ironia que não parecia característica para uma menina como ela. - Caso você não tenha reparado, Naruto, mas... O que eles... - Apontou para Lee, Kiba e Shino. - Realmente querem saber é como você pôde ser tão idiota a ponto de brigar com Sasuke quando aqueles amigos deles estavam por perto. Talvez tivesse saído menos machucado se tivesse se encontrado com ele sozinho... Mas você provavelmente se acha melhor que isso, não é?

Naruto não respondeu. A raiva de Hinata talvez tivesse suas razões, mas o modo como ela falava denotava mais que pura raiva. Nenhum deles falou mais naquele assunto. Quando Tenten, Shikamaru e Chouji juntaram-se a eles no refeitório, os dois foram avisados a não tocar no assunto, pois não era uma boa idéia de qualquer forma.

Pouco antes de bater o sinal para as aulas seguintes, Naruto discutia consigo mesmo se devia ou não tentar falar com Hinata, mas uma mão tocou seu ombro de repente e, antes que pudesse olhar para ela, viu nos rostos dos colegas a sua frente, que só podia ser uma pessoa.

Sasuke estava parado logo atrás dele, com o olhar mais homicida que seu rosto permitia. Naruto reunindo toda a coragem que tinha, encarou-o e perguntou como se nada tivesse acontecido.

— Posso ajudá-lo?

— Pode. A gente quer conversar com você depois da aula. Pode ser?

Naruto deu um meio sorriso e concordou, para assombro dos colegas.

Quando Sasuke se afastou, Shino puxou-o com tanta força, que Naruto teve a impressão de ter ouvido sua blusa rasgar em cima.

— O que deu em você?

— A pancadaria deve ter afetado a cabeça dele! - Comentou Shikamaru exasperado.

— Ficou maluco? - Chouji arregalava tanto os olhos, que parecia que saltariam para fora a qualquer momento.

— Você deve estar brincando! - Lee mexeu-se na cadeira.

Hinata não disse nada. Levantou-se num salto e se afastou. Tenten olhava de Naruto para Shino, como se esperasse que ele fizesse alguma coisa. Kiba não olhava para ninguém, nem sequer falava qualquer coisa. Parecia absorto em pensamentos tão profundos, que o destino de Naruto não o afetavam. Levantou-se, tal como Hinata e se afastou, desviando de Sai, que parara propositadamente no meio do caminho, sem sequer lhe dar atenção.

— Me deixa. - Naruto soltou-se de Shino. - Eu quero acabar com isso logo... E... - Acrescentou, olhando para Shikamaru e Chouji. - Sem publicidade dessa vez.


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Notas finais do capítulo

Pequenininho dessa vez, mas... Eu tenho que ir agora, antes que meus pais cheguem e vejam que eu não estou nenhum pouco a fim de ir à missa hoje ¬¬
Teh mais



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