Sinceramente, eu acho que o céu está muito triste. De novo.
Suas lágrimas caem incansavelmente sobre esta cidade melancólica.
Às vezes eu tenho vontade que sua emoção tenha capacidade de destruir esse mal de concreto.
Realidade humana.

Embora soubesse do risco de sair sem guarda-chuva, lá estava eu.
Molhado, pálido, tremendo, dormente, sozinho. Perdido num ponto de ônibus qualquer.
Por um breve momento, eu imaginei que morrer afogado em lágrimas celestes não seria tão ruim assim.

Mas a chuva parou de me atingir.
Teria, o céu, se alegrado?
Não. A escuridão ainda permanecia a mesma. Os ventos úmidos e frios. O som das lágrimas ao encontrarem o asfalto.
Então, por que elas não me atingiam?

Virei meu rosto devagar. Uma pequena boneca segurando um guarda-chuva sobre mim.
Seus cabelos dourados acompanhados de suas grandes orbes azuis.
Seus lábios rubros em contraste com o vestido cor-de-rosa...
Um minuto.
Nós já nos conhecemos.

Seus finos lábios formavam um leve sorriso, parecia ser doloroso aquela ação.
Embora eu sabia que ela não poderia sentir dor. Há anos.
Ergui meus olhos, fitando um velho conhecido.
Enquanto eu cobria a pálida mãozinha que segurava o objeto com a minha,
Sussurrei, enquanto um sorriso irônico surgia em meus lábios.
"Olá, guarda-chuva cor-de-rosa.''

Ouvi um leve riso e, ao voltar minha atenção para meu anjo, o vi desaparecer.
Podem me considerar um louco, associarem uma confusão mental ao frio e à chuva.
Mas o guarda-chuva da inocência, no qual eu havia me despedido há muitas chuvas atrás,
Estava ali. Na minha mão. Protegendo-me das lágrimas da mesma forma que um dia ele a protegeu.


Talvez ela fosse mesmo um anjo, no fim das contas.