Os Dois Lados escrita por M4r1-ch4n


Capítulo 2
Sakito POV




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          De dois em dois, eu subia rapidamente as escadas de incêndio do hotel. Eu sempre me sentia estranhamente elétrico e bem-disposto depois dos shows, uma sensação de euforia, de realização... Eu não sentia o cansaço.
          Eu tinha acabado de virar para a minha direita, subindo mais um dos lances de escada quando ouvi os passos que me acompanhavam desde o térreo pararem. Espiando para baixo, vi Ni~ya parado rente à parede, descansando. 
          - Ni~ya? Daijobu?
          Ele ergueu o rosto e me fitou rapidamente, sorrindo e confirmando com a cabeça que estava tudo bem.
          - Hai. Apenas cansei dessa subida.
          Eu dei um sorriso energético:
          - Mas só faltam dois andares! Vai estar no quarto antes de perceber que chegou lá!
          Ni~ya não pareceu exatamente animado com a minha resposta, empurrando a parede como se tivesse ressentimento dela. Dessa vez, decidi esperá-lo e não subir na sua frente. Nunca se sabe quando seu companheiro pode ter outra recaída.
          - Eu realmente não acredito que tivermos de usar as escadas. De incêndio, ainda por cima. - o baixista abriu os braços, indicando o lugar. Não era exatamente bonito, eu tinha que concordar. Mas eu acho que ele estava um pouco mais irritado porque havia tropeçado alguns andares para baixo, por causa da falta de luz. Não que ele fosse admitir, claro. Eu sorri de volta.
          - Ni~ya... Pense pelo lado positivo. Estamos fazendo exercício. - foi o meu comentário, enquanto eu abria a porta que dava para o corredor. Ele pareceu surpreso.
          - Já chegamos?
          - Eu disse que nem ia perceber.
          Ele andou até o meu lado rapidamente, e entramos no quarto que ambos dividiríamos. Eu estava divindo um quarto com Ni~ya. Ni~ya! No momento, ele abria a porta do quarto, já que alguém tinha dado a chave para ele e não para mim. Acho que foi Yomi... Ou Hitsugi. Ruka talvez? Eu realmente não lembro.
          - Da próxima vez, eu reservo os quartos. - ele falou, ranzinza.
          - Vai ser tão divertido atazanar a sua paciência quanto é com o Hitsugi, Ni~ya. Vocês reclamam do mesmo jeito. - não resisti fazer o comentário, mais um sorriso nada inocente no meu rosto enquanto entrava logo depois dele no quarto e fechava a porta. As nossas malas tinham chegado antes?
          - O que quis dizer com isso?
          Ni~ya se virou imediatamente na minha direção, mas eu sabia que essa seria a sua reação padrão. Por isso, rapidamente me joguei sobre uma das duas camas de solteiro.
          - A minha é essa!
          Um semi-sorriso foi tudo que ele conseguiu de mim, já que não queria responder à pergunta anterior dele.
          - Escolhendo, agora? Sem me consultar?
          - Ahh, Ni~ya. Subir escadas te deixou de mau-humor. Vá tomar um banho e esfriar essa cabeça. - sugeri, indicando a porta do banheiro aberta.
          - Hmmm... Okkei.
          Chegou a ser engraçado o modo mecânico como Ni~ya piscou e foi para o banheiro, sem nem ao menos pegar qualquer coisa na sua mala. Deitando de barriga para cima na minha cama, eu comecei a recapitular partes do show, principalmente a parte do meu solo onde Ni~ya havia se colocado ao meu lado, propondo um duelo de habilidades silencioso.
          Fixei meus olhos nos dele, sem deixar suas íris escuras por um segundo. No fim do solo, ele me deu um sorriso altamente hipnotizador e convidativo. O tipo de sorriso dele que faz as fãs literalmente tentarem se jogar no palco.
          Ouvi a água ser ligada no banheiro. Imagens que eu não tinha chamado à minha mente se apresentaram à ela, em uma seqüência lenta. Cenas que eu havia presenciado ocasionalmente em sessões de foto ou banhos em vestiários de lugares onde havíamos nos apresentado.
          A visão de Ni~ya debaixo da água corrente, com os olhos fechados, deliciando-se com a refrescância de um banho. O jeito que ele leva as mãos ao seu cabelo negro, sedoso, enterrando-as nele para esfregar com calma e displicência, não se importando com mais nada no mundo... Isso sem esquecer de cada gotícula escorrendo pelo seu tórax bem definido, delineando e chamando a atenção para cada parte do seu corpo.
          Muito bem. Eu realmente não precisava daquele tipo de imagem na minha cabeça agora. Me virando de barriga para baixo e abrindo os olhos que eu nem sequer lembrava de ter fechado, procurei qualquer coisa para me distrair quando ouvi a água ser fechada no banheiro.
          Olhando pro lado, vi o controle remoto ao meu lado, e liguei rapidamente a televisão, sintonizando em algo que apagasse as cenas de Ni~ya na minha mente. Eu tinha que me controlar.
          Por sorte, encontrei os clássicos desenhos que passam de noite na televisão a cabo.

          - Sakito?
          Franzi o cenho. Eu podia jurar que havia escutado meu nome.
          - Sakito!
          - Hmmm? - só então me virei na direção de Ni~ya, somente com uma toalha amarrada na cintura. Ele não tinha noção do que ele podia causar andando daquele jeito, tinha? - O que é?
          - Eu estava chamando você... - ele respondeu, procurando alguma coisa pelo quarto. Provavelmente, suas roupas.
          - Para quê?
          - Para que você pegasse as minhas roupas.
          Bingo. Ni~ya é tão fácil de se prever...
          - Você já está fazendo isso. - respondi, recebendo um olhar cortante do baixista. Isso não tirou o meu sorriso do rosto, eu ainda fitando o seu corpo parcialmente exposto.
          - Eu sei. Queria antes, sem ter que passar esse frio todo aqui fora.
          - Ahhh, Ni~ya. O frio vale a pena, de vez em quando.
          Antes que ele pudesse pensar sobre o meu comentário, eu mesmo me levantei e me agachei ao seu lado para procurar o meu pijama na minha mala. Esbarrei de propósito no corpo ainda úmido de Ni~ya, o perfume do seu shampoo ainda forte do banho.
          Entrei rapidamente no banheiro cheio de vapor, sem olhar para trás. Liguei a água imediatamente, deixando-a mais fria que o normal. Eu precisava de uma ducha gelada.

          Balançando a cabeça, destranquei a porta do banheiro e voltei para o quarto. Não gostava de ficar muito tempo com o cabelo molhado, principalmente porque da última vez que havia feito isso, uma gripe nada agradável me havia feito companhia por quase duas semanas, sem contar as broncas de Yomi.
          Dando de ombros, eu me deparei com Ni~ya na minha cama, de olhos fechados. Ele parecia dormir, mesmo com a televisão ligada.
          - Ni~ya?
          Ele não respondeu ao meu chamado, mas eu via leves traços de... Alguma coisa no seu rosto. Ele parecia estar sonhando, e não parecia ser algo desagradável no começo. Porém, devagar seu rosto tomou uma expressão de angústia.
          - Ni~ya? - chamei pela segunda vez.
          Não adiantou. Agora eu estava ficando realmente preocupado com ele. Apoiando meus joelhos do lado do seu corpo, eu subi na mesma cama que ele, usando minhas duas mãos para balançá-lo pelos ombros.
          - NI~YA!

          Acho que meu grito acabou por acordá-lo. Ni~ya parecia levemente aturdido e confuso, como se houvesse despertado com um susto. Me inclinei sobre ele, examinando-o melhor.
          - Sakito? - ele perguntou.
          - Kami-sama, Ni~ya! - soltei os ombros dele, alívio visível no meu rosto - Você não acordava de jeito nenhum!
          - Eu dormi?
          O olhar cortante que ele me dera mais cedo voltou para ele.
          - Não foi engraçado.
          - Mas eu não estava fazendo uma piada!
          Suspirando com exagero, eu me deixei cair em cima dele, minha cabeça um pouco acima do seu ombro. O perfume do seus cabelos continuava ali, seu pescoço tão próximo dos meus lábios que eu podia tocar sua pele levemente com a minha boca enquanto falava.
          - Ni~ya-chan! Você me deixou preocupado, caindo em um sono pesado desse jeito. Os desenhos fizeram mal.
          - Não. Fizeram mal para você, que agora fica se preocupando com coisas bobas.
          Eu apenas ri. Se Ni~ya soubesse por que a televisão estava naquele canal... Não saí da minha posição, decidindo o que fazer. Por mais que eu gostasse de ficar sobre o baixista, cedo ou tarde eu iria ser expulso.
          - Anou... Saki-chan?
          Como eu disse, era apenas uma questão de tempo.
          - Ni~ya. - eu observei - Você está na minha cama.
          - A televisão fica mais perto daqui. Você fez de propósito.
          - Isso não muda o fato de que você está na minha cama. - insisti, um sorriso divertido no meu rosto. Ele havia descoberto o motivo da escolha da cama, então.
          - E se eu não quiser mudar?
          Levantei a cabeça, encarando a expressão de desafio no bonito rosto de Ni~ya. Erguendo uma das minhas sobrancelhas, ordenei:
          - Mexa-se.
          - Me faça ir para a minha cama, então.
          - Isso é um desafio?
          - Claro.
          - Hmmmm...
          Eu acho que Ni~ya não tinha idéia do efeito que as suas palavras surtiram sobre mim. Eu sabia que eu não podia, que eu não deveria fazer nada. Que deveria encarar como uma coisa normal e rotineira, mas o diálogo que havíamos acabado de travar me levou à uma única e impulsiva conclusão.
          Sem aviso, eu baixei minha cabeça novamente, alcançando os lábios do baixista com os meus. Lábios que eu sempre imaginara doces e viciantes. E não estava enganado.

          Inconscientemente, passei meus braços pelo pescoço de Ni~ya, aprofundando ainda mais o beijo. Devagar, eles ficavam cada vez mais apaixonados e rápidos, tentando sugar o que cada um tinha para oferecer.
          A reação do meu companheiro de quarto foi estranha. Eu não esperava que ele correspondesse, e tinha medo que tudo aquilo fosse somente uma demonstração boba da parte dele. Ou qualquer coisa assim.
          Por mais que cada mão dele soubesse, como que por instinto, onde me tocar, acariciar e provocar, ele nunca dera mostras de que sentia algo por mim. Não queria continuar se ele não tinha certeza de nada. Aproveitei a pausa feita para respirarmos, enquanto eu encarava Ni~ya.
          - E então?
          Não sei como a minha voz saiu tão controlada assim. Eu não sei.
          - Não vai sair da minha cama?
          Ele pareceu não entender nada, e eu podia jurar que vi desapontamento nas suas feições. A mágoa que apareceu por alguns segundos nos olhos escuros de Ni~ya me cortou o coração. Eu estava agindo como um cretino, e ele não merecia aquilo.
          Antes que eu pudesse balbuciar qualquer pedido de desculpas pelo que tinha acontecido ou pelas minhas apalavras, ele conseguiu me empurrar para o lado e sair da minha cama, indo para a dele. Eu acompanhei imóvel os seus movimentos, puxando o cobertor da cama e dando as costas para mim.
          Desliguei a televisão e as luzes. Como era possível eu ser tão estúpido e estragar tanta coisa em questão de minutos? Eu... Precisava do perdão dele. Ou não dormiria aquela noite.

          - Ni~ya...? - comecei a chamá-lo, consciente de que não era provável que ele respondesse.
          De fato, silêncio foi a minha resposta.
          - Ni~ya? - tentei de novo.
          Nada. Nem sequer um movimento na cama.
          - Niiiiii~ya?
          Muito bem, ele podia não me responder, mas estávamos no mesmo quarto e a minha presença ele não tinha como negar. Aproveitando esse fator, desci silenciosamente da minha cama no escuro, subindo por cima do corpo de Ni~ya mais ou menos como havia feito na hora em que não havia conseguido acordá-lo, mais cedo. Mas dessa vez eu tinha certeza de que ele estava tão acordado quanto eu.
          Ele se virou para cima, sobressaltado. A pouca luz do luar era o suficiente para que eu divisasse onde estava o seu corpo, de modo que apoiei as mãos ao lado da sua cabeça. Eu precisava que ele ouvisse as minhas desculpas. Não era justo o que eu havia feito com ele.
          - Yuji.
          Ele piscou várias vezes. Geralmente, chamá-lo pelo seu verdadeiro nome surtia esse tipo de efeito. Os traços no rosto dele se suavizaram, porque ele sabia tão bem quanto eu que quando usava seu nome, era sério.
          - O que foi, Sakito?
          O tom de voz dele era duro. Bom, eu não tinha como culpá-lo.
          - Por que você não me responde? - pressionei.
          - Porque eu não quero.
          Ele tinha todo o direito. Suspirei pesadamente.
          - Me desculpe...
          - ...Desculpado. Agora durma.
          O jeito que ele havia dito que me desculpava havia sido um tanto estranho. Dobrando meus braços, me aproximei mais do rosto dele, não podendo negar que gostava da atual situação. Mas eu ainda precisava de uma confirmação sincera.
          - Você me desculpa? Hontou ni?
          Ele franziu o rosto, obviamente não entendendo o que eu queria.
          - Eu não diria que não... Se eu não desculpasse, Saki-chan.
          Não consegui esconder um sorriso quando ouvi ele me chamar pelo meu nome de forma tão carinhosa. Um alívio interno me percorreu; estava tudo bem entre nós novamente. Olhando rapidamente para Ni~ya, ele não parecia de todo desconfortável com a proximidade dos nossos rostos.
          Mas eu não queria correr o risco de machucá-lo novamente. Decidi usar um pouquinho de bom-senso e perguntei:
          - E me desculparia se eu fizesse tudo de novo?
          Ni~ya não disse nada, mas o modo como ele usou seus braços para me prensar contra o seu corpo responderam a toda e qualquer dúvida que eu ainda pudesse ter na minha mente.

          Eu me controlei muito para não rir durante o café da manhã. Yomi, Hitsugi e Ruka simplesmente não pararam de olhar de mim para Ni~ya por causa do nosso imenso atraso, e a desculpa que o meu companheiro de quarto deu foram... As escadas.
          Eu tinha que agradecer a quem quer que houvesse feito os arranjos dos quartos mais tarde. E também pelo fato de nos terem colocado em um andar alto. Se bem que eu não me importava com o lugar em que seria colocado, desde que Ni~ya estivesse comigo.


FIM

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