Os Dois Lados escrita por M4r1-ch4n


Capítulo 1
Ni~ya POV




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          Eu não me lembro de subir escadas com tanta dificuldade antes. Na verdade, acho que isso pode ter acontecido, mas não vou conseguir lembrar agora. Por que não estava usando o elevador?
          Ah, fan girls. Foi por isso que nos mandaram pela escada de incêndio. Decidi parar para descansar, apoiando minha mão direita na parede. Os passos ágeis do meu companheiro, que havia sumido do meu campo de visão há algum tempo, também se detiveram.
          - Ni~ya? Daijobu?
          Olhando para cima, encontrei o rosto preocupado de Sakito me espiando do lance seguinte de degraus. Sorri e balancei a cabeça afirmativamente.
          - Hai. Apenas cansei dessa subida.
          Como sempre, recebi uma resposta entusiasmada.
          - Mas só faltam dois andares! Vai estar no quarto antes de perceber que chegou lá!
          Relutantemente, concordei com a cabeça. Empurrando a parede, retomei o meu caminho. Sakito esperou onde estava, sem disparar na minha frente dessa vez.
          - Eu realmente não acredito que tivermos de usar as escadas. De incêndio, ainda por cima. - esticando os braços, gesticulei, indicando o estado não exatamente bonito do local e a falta ocasional de iluminação. Quase havia tropeçado dois andares para baixo, quando uma das lâmpadas estava queimada.
          Uma risada suave foi a minha resposta.
          - Ni~ya... Pense pelo lado positivo. Estamos fazendo exercício. - Sakito sorriu, como se quisesse reforçar sua teoria. Para minha surpresa, ele abriu a porta de saída da escada, voltando para o corredor do hotel. Eu não havia notado que tínhamos alcançado o oitavo andar.
          - Já chegamos?
          - Eu disse que nem ia perceber.
          Rapidamente me coloquei ao seu lado, abrindo a porta do quarto que dividiríamos pela noite. A chave tinha sido dada a mim por Yomi, antes de se retirar com Hitsugi para o seu quarto... No segundo andar.
          - Da próxima vez, eu reservo os quartos.
          - Vai ser tão divertido atazanar a sua paciência quanto é com o Hitsugi, Ni~ya. Vocês reclamam do mesmo jeito. - Sakito sorriu de um jeito maligno, fechando a porta atrás de si enquanto me empurrava para dentro do quarto. Nossas malas já estavam ali dentro.
          - O que quis dizer com isso? - me virei, encarando o guitarrista. Porém, ele convenientemente havia se jogado em uma das camas, escapando de responder à minha pergunta.
          - A minha é essa!
          Dei um meio sorriso para ele.
          - Escolhendo, agora? Sem me consultar?
          - Ahh, Ni~ya. Subir escadas te deixou de mau-humor. Vá tomar um banho e esfriar essa cabeça. - ele gesticulou, apontando a porta aberta do banheiro.
          - Hmmm... Okkei.
          Tenho que admitir que meu corpo estava pedindo por um descanso depois do show daquele dia. Sem pestanejar, entrei no banheiro e comecei a regular a temperatura da água. Não me importei em pegar as coisas na minha mala, afinal, colegas de quarto serviam para essas coisas.

          - Sakito?
          Inclinei a cabeça para o lado, enquanto secava o meu cabelo. Completamente ao natural, percebi que ele estava mais longo do que eu pensava... Algumas mechas já passavam do ombro.
          Enrolando uma toalha na cintura, abri a porta do banheiro, deixando as últimas gotas d'água do meu cabelo formarem filetes pelas minhas costas. Murmurando a minha parte em uma das músicas tocadas aquele dia, encontrei Sakito esparramado na cama, assistindo TV.
          - Sakito!
          - Hmmm? - ele se virou de barriga para cima, olhando para mim - O que é?
          - Eu estava chamando você... - continuei, atravessando o quarto em busca do meu pijama; estava ficando meio frio andar com o corpo ainda úmido.
          - Para quê?
          - Para que você pegasse as minhas roupas.
          - Você já está fazendo isso. - ele replicou, sorrindo. Revirando os olhos, com o pijama finalmente em mãos, reservei um olhar parcialmente duro para ele.
          - Eu sei. Queria antes, sem ter que passar esse frio todo aqui fora.
          - Ahhh, Ni~ya. O frio vale a pena, de vez em quando.
          Não entendi o comentário de Sakito, que voltou a sorrir. Ao invés de se jogar na cama, acabou levantando da mesma e parando do meu lado, esbarrando em mim ao abaixar para revirar a própria sacola em busca das suas coisas.
          Piscando, me afastei, mas não sem antes notar como o meu colega de banda conseguia transformar cada ato seu em algo cheio de sensualidade. Engoli em seco, desviando o olhar antes que ele percebesse. Comecei a vestir a minha roupa para dormir, ainda impressionado com a beleza cativante de Sakito.
          Ouvi ele entrar no banheiro e ligar a água, mas não dei maior atenção, preferindo assistir à televisão. Melhor dizendo, ao que quer que ele estivesse assistindo antes de mim.
          Descobri que eram apenas alguns desenhos animados sem pé nem cabeça que eram exibidos bem tarde da noite. Percebi que estava vendo televisão da cama de Sakito; era por isso que ele escolheu a cama, pegou a que ficava mais perto da televisão. Cretino.
          Suspirando, deitei a cabeça no travesseiro do guitarrista, que espantosamente, já tinha um pouco da sua fragrância nele. O cheiro dele era inconfundível.

          Era muito estranho ver Sakito agindo daquele jeito... Ele tinha o sorriso de sempre no rosto, mas parecia diferente de algum modo. Muito mais malicioso, quase como se eu fosse... Sua presa?
          Descobri que não podia me mexer quando o guitarrista se atirou sobre mim, atacando meus lábios com os dele. Meus olhos se arregalaram de espanto, mas percebi que minha boca respondia aos abusos feitos por Sakito com considerável entusiasmo, meu corpo pouco a pouco recuperando os movimentos apenas para abraçar o guitarrista a trazê-lo para mais perto.
          O quê estava acontecendo? Nunca, em toda a minha vida, eu havia percebido que eu poderia sequer nutrir sentimentos tão...
          Tudo bem. Eu confesso a minha derrota. Eu já gosto de Sakito há algum tempo. É impossível conviver com esse homem e não cair por terra ao vê-lo. Tudo que ele faz é tão atraente, convidativo... Impossível resistir.
          - Ni~ya?
          Mas nunca contei isso a ninguém, muito menos a ele. Imaginem a minha imagem, o estrago que essa revelação não faria. A fama de hentai do grupo é minha e foi ganha com muito trabalho, mas eu aposto que ninguém pensava exatamente nisso quando me concederam o título.
          - Ni~ya?
          E depois, por mais que contasse... A reação de Sakito. Qual seria? Até onde eu sei, ele não tem namoradas estáveis, mas sai com uma boa quantidade de garotas. Todas muito bonitas, e geralmente escolhidas em locais que ele goste, ou às vezes nos shows.
          - NI~YA!

          Abrindo os olhos, acabei me deparando com o rosto de Sakito sobre o meu, parecendo ligeiramente preocupado. Sentia uma leve pressão nos meus ombros, e deduzi que ele deveria estar me segurando no lugar ou me sacudindo para que eu recobrasse os sentidos.
          Havia sido um sonho?
          - Sakito?
          - Kami-sama, Ni~ya! - ele me soltou, suspirando aliviado - Você não acordava de jeito nenhum!
          Foi um sonho.
          - Eu dormi?
          O guitarrista me deu um olhar gelado.
          - Não foi engraçado.
          - Mas eu não estava fazendo uma piada!
          Suspirando dramaticamente agora, ele se jogou sobre mim. Exatamente como no sonho, com a exceção de que seus lábios não alcançaram os meus, e sim a parte lateral do meu pescoço. Eu sentia a leve fricção deles contra a minha pele conforme ele falava.
          - Ni~ya-chan! Você me deixou preocupado, caindo em um sono pesado desse jeito. Os desenhos fizeram mal.
          - Não. Fizeram mal para você, que agora fica se preocupando com coisas bobas.
          Eu senti a vibração da risada dele, mas Sakito acabou se calando e não dizendo mais nada. Ele também manteve a sua posição, e a pressão do corpo perfeito do guitarrista contra o meu, ainda mais quando vestido em roupas leves de dormir, não estava exatamente me ajudando.
          - Anou... Saki-chan?
          - Ni~ya. - ele começou - Você está na minha cama.
          Piscando, respondi:
          - A televisão fica mais perto daqui. Você fez de propósito.
          - Isso não muda o fato de que você está na minha cama.
          - E se eu não quiser mudar? - desafiei, erguendo as sobrancelhas que estavam sendo parcialmente cobertas pelo meu cabelo escuro.
          Sakito levantou a sua cabeça, me encarando.
          - Mexa-se.
          - Me faça ir para a minha cama, então.
          - Isso é um desafio?
          - Claro.
          - Hmmmm...
          Foi a última coisa que o guitarrista "disse" ao sorrir. Agora sim, exatamente como no sonho. E os lábios dele também alcançaram o mesmo alvo que na minha imaginação, há poucos minutos.

          Minha mente escolheu aquele momento para desligar o lado lógico do cérebro; meu corpo agia com vontade própria, como se eu inconscientemente soubesse o que fazer, que atitudes tomar, até mesmo cada lugar de Sakito que eu deveria tocar.
          Aos poucos, os nossos beijos foram se intensificando, mais profundos e ousados. Não havíamos nos separado para tomar ar ainda. Eu tinha a sensação de que no momento que nós tomássemos distância, tudo acabaria e seria um sonho novamente.
          Mas a vontade de respirar falou mais alto e o contato foi quebrado, os olhos castanhos de Sakito me fitando intensamente, uma emoção que eu não sabia descrever nos seus olhos.
          - E então?
          E então? O que ele queria dizer com isso?
          - Não vai sair da minha cama?
          Piscando várias vezes, eu simplesmente não acreditava no que ouvia. Não era possível que depois de tudo, ele tivesse me beijado somente por causa de uma brincadeira estúpida.
          Na verdade, ele era Sakito. Poderia muito bem estar brincando comigo, assim como fazia com as garotas que escolhia para sair. Eu não tinha como saber mesmo.
          Sem uma palavra, eu me levantei da cama dele o mais rápido que pude, me cobrindo e tentando adormecer em seguida. Sono que, logicamente, decidira me abandonar por aquela noite.

          - Ni~ya...?
          Ignorei o chamado que veio da outra cama, no escuro.
          - Ni~ya?
          O segundo chamado teve o mesmo destino do primeiro: silêncio.
          - Niiiiii~ya?
          Suspirei bem baixinho. Sakito não me deixava dormir por causa das suas ações anteriores; agora parecia decidido a me tirar o silêncio também.
          De repente, senti minha cama afundar ligeiramente com o peso de um outro corpo. Assustado, virei para cima, encontrando Sakito se equilibrando por cima de mim, em uma cama de solteiro.
          Ele colocou as duas mãos ao lado da minha cabeça, e mesmo estando escuro, era possível ver o brilho da determinação nos seus olhos.
          - Yuji.
          Acho que pisquei várias vezes antes de esboçar qualquer reação. Ninguém nunca me chamava pelo meu nome verdadeiro a menos que fosse realmente sério. Aliás, às vezes eu me esquecia do meu nome.
          - O que foi, Sakito?
          Resolvi jogar o jogo dele.
          - Por que você não me responde?
          - Porque eu não quero.
          Ele suspirou.
          - Me desculpe...
          - ...Desculpado. Agora durma.
          As minhas palavras não surtiram o efeito desejado, que era tirar o guitarrista de cima de mim. Pelo contrário, ele se inclinou ainda mais para baixo.
          - Você me desculpa? Hontou ni?
          Franzi a sobrancelha, um arrepio repentino correndo minha espinha com a respiração de Sakito tão próxima do meu rosto.
          - Eu não diria que não... Se eu não desculpasse, Saki-chan.
          Ele sorriu quando ouviu o seu nome no diminutivo. Aproximou-se ainda mais:
          - E me desculparia se eu fizesse tudo de novo?
          O corpo do guitarrista contra o meu, sua voz em um tom completamente diferente do normal e o seu perfume enchendo todo o ar não ajudaram exatamente. Então fiz a única coisa que eu poderia fazer:
          Usei as minhas mãos para puxá-lo para mais perto e alcançar seus lábios novamente.

          No dia seguinte, os olhares de Ruka, Yomi e Hitsugi sobre o nosso atraso para o café da manhã foram engraçados. Mas pelo menos, a desculpa de que demorava descer de escadas foi uma boa justificativa.
          Eu passei a gostar de escadas de incêndio, mesmo com pintura faltando e lâmpadas queimadas. E de quartos em andares altos, longe de tudo e todos. Menos de Sakito, claro.


FIM

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