Clan Of Vampires - The Letter escrita por weednst


Capítulo 67
66 Declaração e cicatrizes




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Lucas rodou seu olhar entre mim e Anabel. Ela sustentava uma expressão de que certamente seria a primeira opção, mesmo que aquilo na maioria das vezes fosse uma bela mentira, confesso que quis ter toda aquela garantia na minha pele, ao menos metade daquela fé em si mesma. Aquele olhar convencido no rosto dela me preocupou.

Depois de rodar sua cachola para os lados, sem pressa, ele deteve seu olhar em mim, um olhar hirto, um olhar assentado, era impossível decifrar seu pensamento ali – Eu fraquejei. O calor em minhas bochechas era um contraste estranho com a cena, alheio porque Anabel não sucumbiu nem mesmo um décimo de segundo. Aliás, esse constrangimento só se estendeu por algumas partículas do tempo, mas eu suava como um porco, aquilo soava como uma eternidade.

Entre um sentimento confuso e perturbado. Ele não sorriu a principio. Eu também adotei uma postura séria, embora quisesse rir e suspirar, por alguma emoção presa entre a minha epiderme e o meu imo. Permanecemos quietos. Anabela cruzou os braços esperando uma resposta presumível, seu pé direito começou a bater no chão, apressado. Já era visível que sua máscara de menina super confiante, parecia derreter sobre o sol do silêncio desértico de Lucas Oliver e suas olheiras. A plateia a nossa volta também esperava por alguma coisa, qualquer coisa, certa coisa, que talvez nem eu mesma tivesse consciência do quê exatamente, talvez eu tivesse esquecido. Mas os estudantes espectadores esperavam como leões em busca de carne fresca, nossa própria novela juvenil.

O tempo pareceu parar. Parar entre Lucas e eu. Eu sentia os holofotes me queimando.

Ele esboçou um riso fino, quase invisível, mas ele me dizia alguma coisa com aquele sorriso, totalmente conivente, direcionado a mim. Eu tive medo de entender o seu significado, como uma criança com medo do palhaço, correndo para longe. Entretanto de modo involuntário, eu também sorri com timidez. Secretamente nós rimos de tudo aquilo, de toda aquela situação, de todas aquelas pessoas, rimos de nós mesmos.

O professor entrou na sala de supetão, sim, uma brusca interrupção, uma total inconveniência do destino, nada parecia deter Lucas, ele parecia ter uma sorte enjoativa. Tinha acabado. O professor imediatamente mandou que nós nos organizássemos em nossos respectivos lugares, iriamos fazer um trabalho boboca de geografia, precisamente sobre placas tectônicas. Depois que todos nós nos sentamos, Lucas respirou aliviado e silabou para mim: “estou salvo”, mas acredito que isso era apenas parcialmente verdadeiro, já que Anabela o puxou para uma conversa séria, de algum modo ele não sairia completamente ileso. O casal ia ter uma provável DR na sala de aula, e o trabalho ia ficar para depois. Franzi a testa pensando nas minhas próprias placas tectônicas, nas minhas estruturas terrestres que sempre saiam do lugar, provocando o maior terremoto.

Depois que aquela aula bem empolgante sobre as placas tectônicas e seus efeitos colaterais, teve fim, ainda vieram mais duas outras lições. Aquilo era uma tortura! Não, eu não saberia sequer chutar qual tinha sido o assunto abordado nas aulas seguintes – Meu cérebro e meu estômago faminto, não eram capazes de processar tanta informação, não mesmo.

Finalmente por um milagre inesperado, o sinal bateu anunciando a liberdade de mais um dia. Agarrei meu material e enfiei tudo na mochila, de modo veloz e bagunçado. Ergui-me e sai pela porta, ao mesmo tempo senti um empurrão forte em um dos meus ombros, tropiquei um passo para frente, quase caindo. Minha mochila foi para longe. Anabel estava realmente zangada, saiu como uma mula-sem-cabeça, soltando fogo pelas ventanas. Meus nervos saltavam, mas mantive as coisas leves. Abaixei-me para buscar minha mochila e a ajeitei, de volta a uma alça pousada no meu ombro.

Quando me ergui lá estava ele. Estagnado ao meu lado. Cara de paisagem.

— O que vamos fazer agora? — A voz dele chegou a mim.

—Você é maluco? — Era uma questão retórica, mas ele como sempre teve a audácia de responder.

— Então estou no caminho correto, afinal você gosta de gente doida.

— Lucas! Quantas vezes eu tenho que te dizer para não me encher... — Ele me interrompeu.

— Já sei o que você vai dizer....Mas... Apenas engula o fato, de que você me fez o cara mais afortunado do mundo hoje. A precaução te impede de ser feliz Annie, você sabe que não precisa me disputar com ela, ou com qualquer outra. Não seria uma disputa justa.

—Hãn, eu — Impacto dentro de mim — Eu não te disputo com ninguém. Eu tenho um N-A-M-O-R-A-D-O — Ele revirou a cara como se quisesse vomitar.  

— Você não pode disfarçar o fato de que foi a mim que você quis hoje, e não a ele — Ele estava cheio de um falso mérito, e aquilo muito me irritou, tentei ser superior e manter o silêncio.

Ele continuou ainda não estava satisfeito.

—  E a propósito do cachorro perseguidor, você já me contou essa história um milhão de vezes, você o ama, blá, blá, blá. Mas só dessa vez me escute a minha história, — Eu o olhei imediatamente a essa frase, uma curiosidade. Quase um comando.

— Você é a garota mais mal-humorada, temperamental, bipolar, contudo você é a detentora de coisas incondicionais para mim.

— Você está brincando comigo?

— Não. — Ele não parecia estar brincando, outra vez ele não tinha a postura de um adolescente de míseros dezessete anos. Aquilo me assustava um pouco.

— Quando você vai perceber?

— Perceber o que? — disse querendo fugir daquela conversa, e de todas as suas conseqüências.

Ele nada disse, caminhamos em silêncio, descemos as escadas, e quando estávamos no ultimo degrau, ele me encurralou de modo súbito abaixo das escadas. Era escuro. Lá não podíamos ser vistos. Lá naquele local, no mesmo lugar em que Anthony e eu demos nosso primeiro beijo. Minha mente girou com aquela idéia. Lucas sabia daquele fato?

— O que você pensa que está fazendo? — disse querendo me desvencilhar de seus braços.

Minhas costas coladas na parede fria, minha pele e a parede eram separadas apenas pela camiseta fina do uniforme... Isso nada me impedia de absorver todo o gelo. Nunca tinha notado que aquele local era tão frígido e escuro. Da ultima vez que estive com Anthony ali, aquele local pareceu pegar fogo, como se aquele cantinho tivesse um grande calor próprio, uma personalidade, uma luz.

— Eu preciso falar umas coisas para você. — Foi tudo que ele disse, ainda circunspecto.

Ele se justapôs de mim, eu podia sentir seu corpo, mesmo que ele não estivesse aderente ao meu. Aquele azul tão persuadido. Seus lábios pálidos e próximos. Minha respiração descontrolada. A dele totalmente controlada.

— Eu... — Ele parecia ter um bloqueio.... — Eu quero ser seu... Você não percebe?

Eu ri de modo amedrontado. Meu chão tinha se aberto ao captar aquela frase, e eu sentia um terrível tontura se aproximando, ele não quis... Dizer aquilo. Meu estômago se contraiu.  

— Não diz... — Silabei sem forças.

Ele me ignorou como consecutivamente fazia. Não pudemos ver a face um do outro, pois estávamos parcialmente no escuro, agradeci por isso. Mas percebi que ele fazia algum movimento com os braços. Ele estava... Tirando a camiseta? Sim. Eu já ia protestar, quando ele agarrou minhas mãos e a sobrepôs em seus estigmas acentuados. Ele contraía veemência, uma chama azul. Eu rapidamente puxei minhas mãos de volta. Confusa — Atordoada — Traída pelos meus sentimentos.  

— Minhas cicatrizes me lembram que meu passado é real. Eu quero que você conheça todas as minhas cicatrizes... Então, me deixe fazer o mesmo com você.   Eu quero ser o cara que vai laquear e arrancar todos os seus estigmas.

Eu quis abraçá-lo, eu quis chutá-lo, gargalhar, chorar desesperadamente, quis perecer e quis viver como uma fênix, tudo de uma vez só, em um só golpe. Minha goela secou, e eu me enchi de uma emoção competente e contraditória. Empurrei-o para longe, mesmo querendo deixá-lo próximo.

— Eu posso me salvar sozinha. Eu tenho as minhas cicatrizes, e você tem as suas.

— Eu acabei de me confessar. Eu não menti. — Foi sua defesa. Ele estava perplexo.

Ele agarrou sua camiseta e me seguiu. A escola já estava vazia, mas ele não parecia preocupado em ser visto.

***


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Notas finais do capítulo

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