- Você está paraplégica, e o seu caso não é reversível – sentenciou o médico – Sinto muito.

Elas já esperavam por aquilo, mas ouvir era muito pior. Lívia começou a gritar e se debater na cama, desesperada. Sua vida havia acabado, pensou chorando.

- Lívia, calma... Liv – Kayle tento fazer com que ela acalmasse mas Lívia não parava, estava transtornada. A própria Kayle não conseguia conter suas lágrimas.

Lívia pegou o travesseiro e lançou para o outro lado do quarto.

- Acho melhor deixá-las sozinhas. – disse o médico saindo da sala.

Kayle se virou para Lívia, após o médico sair, e viu seu olhar de dor, aquilo doeu em sua alma.

- Liv...  – foi até ela e sentando ao seu lado na cama, a abraçou.

- Acabou Kayle, minha vida acabou! – disse Lívia, os soluços sendo abafados no ombro da outra.

Kayle levantou seu rosto em sua direção e a fez olhar em seus olhos.

- Não, sua vida não acabou e não quero nunca mais que diga uma coisa dessas – beijou sua testa – Vamos passar por isso juntas, como sempre fizemos com tudo.

- Não sei se conseguirei. Não sei...

- Esqueça isso por um momento – disse Kayle e lhe depositou um beijo do lado direito do rosto, em seguida no lado esquerdo – só por um momento... – lhe tomou os lábios com paixão e todo amor que sentia – esqueça...

Ficaram ali juntas até que o cansaço tomou conta de seus corpos e adormeceram.

***

(KAYLE)

Há algum tempo não me sinto feliz em voltar para casa. Já faz seis meses desde que Liv saiu do coma. Seis meses que ela parou de trabalhar e que não vê mais os amigos. Seis meses que ela tornou-se fria e inalcançável, até mesmo para mim.

Nesse meio tempo as brigas começaram. Eu tentava fazê-la sair de casa mas ela não queria.Pedia para que procurasse um psicólogo mas ela dizia estar bem, não precisava de ninguém, Eu sabia que era o contrário, após a lesão na coluna e descobrir-se paraplégica, Liv se fechou em seu mundo e afastou todos aqueles que queriam lhe ajudar.

A última novidade era o ciúme incontrolável, meu celular não podia tocar e ela já me enchia de perguntas sobre quem havia ligado. Será que se esqueceu que eu a amo e somente a ela?

Comprei outra casa e a planejei perfeitamente para as necessidades de Liv. Nosso quarto ficava no segundo andar e para ter acesso a ele, tínhamos um elevador. Mas vez ou outra ela dormia no quarto do primeiro andar, separada de mim.

Entrei em casa e joguei as chaves do carro e da porta na mesinha de centro da sala. Ia indo em direção a cozinha quando ouço Liv me chamar.

- Kayle!

- Liv? – perguntei voltando à sala.

- Sua secretária acabou de ligar e disse que você esqueceu uma pasta importante lá.

- Droga! – xinguei, era a pasta com os desenhos do meu projeto mais recente e muito importante. Precisava acabá-lo logo.

- Essa mulher te liga todos os dias. Deve ser jovem, perfeita, não é?! – ironizou, o ciúme já aflorando – Aposto que também é boa de cama.

- Chega! – gritei me enfurecendo com o que ouvia – Elisa é uma amiga, casada, mãe de dois filhos e feliz em seu casamento... o contrario de nós.

Liv girou a cadeira de rodas e se aproximou mais de mim.

- Se está infeliz com o nosso casamento por que não me deixa? Sou uma incapaz mesmo, um peso em sua vida.

- Não Lívia! Você não é incapaz, você está debilitada mas nunca incapaz!

- Por que não deixa sua mulherzinha debilitada e não vai atrás de outra melhor?!

Aquilo me doeu. Eua jamais pensaria em ir atrás de outra mulher, ela era a única capaz de me completar.

- Porque eu te amo – sussurrei em resposta – Apesar de ter se tornado tão fria...

- Eu sou fria – interrompeu-me. É você que nem se aproxima mais de mim. Talvez sinta nojo em me tocar.

- Porque você não me deixa aproximar – respondi – O que mais quero é tocá-la, amá-la. Mas você impõe uma parede entre nós. Você está afastando todos de você! Acha que porque está paraplégica as pessoas gostam menos de você, mas não, todos te amam tanto quanto antes.

- Você não vê como todos me olham...

- Erga a cabeça e enfrente eles, enfrente os problemas. Abandonar o trabalho, que você amava aliás, não vai resolver nada! Se trancar em casa, não vai adiantar. Você é muito mais do que pensa Liv.

Seus olhos transbordavam lágrimas, eu sabia que ela estava revivendo cada erro que cometeu.

- Eu disse que sempre estaria a seu lado e não menti quando falei. Pense Liv, pense muito em tudo que te disse, não por mim mas por você.

Fui para o quarto e arrumei uma bolsa com algumas roupas, quando voltei, ela estava no mesmo lugar com o olhar fixo onde antes eu estava. Quando passei, ela levantou a cabeça e me chamou.

- Aonde vai? – perguntou assustada?

- Vou passar uns dias na casa dos meus pais – abri a porta e me voltei a ela – Mas não se preocupe, eu volto. Volto quando a mulher por quem me apaixonei voltar.

E assim deixei aquela casa  e a mulher que amava, com a esperança de salvar meu casamento.