POV Afrodite-> Como curar o tédio.

Eu estava completamente entediada, e isso com certeza não é pra mim. Quer dizer, hello! Eu sou Afrodite, baby. O que eu posso fazer? Visitar alguma das minhas filhas? Não... juntar algum casal mortal? Não, Eros têm feito isso... Juntar algum casal meio-sangue? Eles estavam na captura à bandeira agora. Ai-que-saco.

Quer dizer, o que tem de mais numa captura à bandeira? Cadê o romance? Só tem luta! Podre. Chato, chato, chato.

Ares está viajando a trabalho para uma dessas estúpidas guerras no Oriente Médio. Fala-sério. Tipo, brigar por causa de petróleo, religião e território. Há-há, que legal – estou sendo sarcástica, é claro. Quer dizer, não se fazem mais guerras como a Guerra de Tróia, quando tudo era por culpa do amor de uma mulher.

E, nesse momento, quando eu pensava no meu Ares fofuxo, lembrei-me no casalzinho que eu tentava juntar há séculos: Poseidon e Atena. Ai, vai dizer que eles não são uma fofura juntos? É tão cuti-cuti!!! Só os dois bobões não vêem isso. Humpf.

Mas... quem disse que não posso armar? Tudo em nome do amor, hehe.

***

Atena estava na biblioteca idiota. HÁHÁ, tudo conspira em meu favor! Fui até meu espelho que tinha formato de coração e disse” Poseidon”, de forma que logo visualizei o deus de mar. Sorri.

-Héracles! - gritei. - Héracles, homem! Venha logo aqui!

Logo ele chegou correndo.

-O que é? O que aconteceu?

-Ai, nada aconteceu... eu só preciso da sua ajuda, querido. Preciso que dê uma sacudida na biblioteca, ok? O suficiente para cair um bocado do teto.

-Pensei que Atena estava lá...

-E ela está. Não se preocupe, não vai acontecer nada demais, sério. É só uma pequena armação para juntá-la com alguém.

Ele olhou discretamente para o espelho e escancarou a boca.

-Ah, qual é? - Héracles perguntou ultrajado. - Você tá zuando? Poseidon e Atena? Você enlouqueceu, Afrodite?

-Queridinho, quem é a deusa do amor por aqui? Ah, é, sou eu. Agora, por favor, me ajude com isso, ok?

Héracles suspirou vencido.

-Se alguém perguntar, você nunca me viu fazendo isso, ok?

-Sim senhor – exclamei batendo continência fingida. Pulei e bati palminhas, expressando minha imensa felicidade. - Ai, finalmente! Olha, você vai lá dar uma sacudida enquanto eu chamo Poseidon, ok? Vai logo, Héracles, antes que Hebe perceba que você deu um fugidinha!

Ele correu para a biblioteca. Eu abri um imenso sorriso e em seguida fiz a minha melhor cara de pum no pote – o que foi muito difícil para uma mulher linda que nem eu -, olhando no espelho.

-Poseidon, o teto da biblioteca cedeu – murmurei e uma lágrima escorreu por todo o meu rosto. - E Atena está lá. Precisamos da sua ajuda e...

-Atena está lá? - ele perguntou num grito preocupado. Ai, que gracinha! - Estou aí em um segundo!

Quando mortais dizem algo como “estou aí em um segundo”, você sabe que ele gastará pelo menos 10 minutos. Mas quando deuses dizem isso, é no sentido literal. Poseidon surgiu no meu quarto e nem me dirigiu a palavra, só correu para a biblioteca. Se não fosse uma ocasião tão especial, eu teria lançado uma maldição sobre ele e faria suas cuecas se apertarem tanto que ele ficaria roxo.

Fui para a biblioteca também. Poseidon entrou antes de mim. Parei perto de uma coluna em frente à porta e me encostei nela enquanto esperava Héracles travar a porta com algumas pedras. Finalmente!

Eu tenho que estar excepcionalmente perfeita para uma ocasião dessas. Estalei meus dedos e meu cabelo ficou mais cacheados nas pontas. Meu vestido se transformou numa saia rosa shocking curta, uma regata branca e uma jaqueta de couro preta. Minhas sandálias gladiadoras da prada se transformaram em um par de sandálias abotinadas pretas.

Corri rapidamente para o meu quarto e parei novamente em frente ao espelho de coração. Ai que emoção! Murmurei “Poseidon e Atena”, e a imagem surgiu ali. Poseidon estava debruçado sobre Atena, tentando estancar o icor dourado na testa dela. Oin, que fofura! Ei, não me olhe assim; nada demais vai acontecer com ela, ela é imortal, dãa!

POV Poseidon-> Reconquistando uma cabeça de coruja.

-Atena! - eu chamava preocupado. Seu cabelo loiro estava meio sujo de icor. - Atena, acorda, mulher!

-Au! - ela choramingou delirando.

-Você não vai mesmo acordar?

-Au! - ela continuou choramingando. Ahn... parece que ela não iria acordar.

-Ok, você é quem sabe – falei. - Não me diga depois que eu não tentei de outro jeito.

Segurei a cabeça de Atena e a ergui um pouco. Respirei fundo e aproximei nossos rostos, moldando nossos lábios. Minha língua pediu passagem delicadamente, e sua boca fraca se abriu. Para a minha surpresa, Atena retribuiu o beijo. E aquilo já estava se tornando selvagem e cada vez mais gostoso. Minha mão direita acariciava os longos cachos de Atena, enquanto minha mão esquerda apreciava as curvas de seu corpo. Até que ela tem tudo em cima, se é que você me entende. Atena puxava meus cabelos delicadamente e trançou suas pernas em meu tronco. Se ela quisesse parar, que parasse, mas eu não iria.

Mas aí, ela abriu os olhos. Aqueles lindos olhos cinzentos me encararam por um segundo e quando Atena percebeu que era eu, me empurrou para longe.

-Maldito seja, Poseidon! - ela disse esfregando os lábios. - O que diabos você está fazendo?!

-Eu estava tentando te acordar, ok? E você estava retribuindo muito bem, dona Atena. Aliás, você consegue ser bem selvagem para uma virgem...

Ela ficou muito vermelha mesmo. Se afastou de mim e sentou num canto, o semblante emburrado, enquanto esfregava o corte na testa. Eu me aproximei dela e toquei seu corte, mas ela virou o rosto.

-Ah, qual é? - perguntei irritado. - Eu quero te ajudar, Atena. Tenho um pouco de néctar aqui e...

-Mas suas mãos estão feridas!

-Mas seu corte precisa mais. Tome – e lhe entreguei meu cantil com néctar. Atena me olhou desconfiada, como se suspeitasse que eu havia colocado um estimulante sexual ali. Ei, é uma boa ideia! Por que nunca pensei nisso antes? Ela enfim bebeu o pouco conteúdo que tinha no cantil.

-Obrigada – murmurou a contragosto.

Me sentei ao lado dela e senti um calor me invadir. Pelos mares, essa mulher me deixa louco!

-Por que você me odeia? - perguntei sem pensar.

Ela me encarou sem entender e perguntou suavemente:

-O quê?

-Por que você me odeia? - repeti a pergunta.

-Você tentou pegar Atenas de mim sabendo que eu queria aquela cidade. Você deu água salgada e cavalos a eles. Sabe qual foi a enorme chance de lhe escolherem?

-Atena, eu tinha os mesmo interesses que você, ou seja: você não pode me culpar por isso. Além do mais, isso foi há séculos! Sei que não é por isso, então diz aí: por que você me odeia?

Ela suspirou vencida, e me encarou com os olhos cinzentos cheios de lágrimas.

-Eu só te odeio porque um dia já te amei demais... e você me magoou muito, Poseidon. Me profanou no meu próprio templo me traindo com outra. Eu ia te dizer que te amava e nós poderíamos ficar juntos, pois eu ainda não havia feito meu juramento. E aí você fez isso. Tem ideia de como eu me senti?

Eu estava perplexo.

-Você ainda acha que levei Medusa lá para te profanar? - perguntei em choque. - Você deveria ser a deusa da sabedoria, e não do besteirol americano. Eu levei Medusa lá para te deixar com ciúmes, Atena!

Ela arregalou os olhos. Pelo Olimpo, como aquela mulher era linda!

-Poseidon, eu...

-Shh! - pedi, colocando o indicador em seus lábios. - Eu te amo, Cabeça de Coruja.

Selei nossos lábios com um beijo, que foi interrompido pelo barulho de escombros sendo retirados. Nos separamos rapidamente, e logo demos de cara com Héracles liberando a entrada.

-Desculpem-me pela demora – ele pediu. - É que Afrodite só me achou agora e...

-Ahn... bem... er... ok, sem problemas – falei bagunçando meu cabelo sem jeito, - Ahn... valeu cara. Atena, nós er... terminamos essa conversa depois.

Ela olhou para o chão e corou. Saí andando e desapareci em névoa marinha, indo para o meu palácio.

POV Atena-> Não pelo Rio Estige.

Eu estava sentada no chão da biblioteca, chorando. Ele me amava e o sentimento era recíproco. Mas não podia ser; eu havia jurado ser virgem para sempre e nunca me casar. Eu tinha que resistir por toda a eternidade, me afastar de Poseidon.

-Ainda não desistiu de fugir de mim, maninha? - uma voz feminina perguntou.

Eu não precisava nem olhar para saber quem era. Sabia que era loira, tinha olhos azuis brilhantes e era a deusa mais bonita de todas. Sem falar, é claro, que era a minha meio-irmã parte de pai.

-O que você quer, Afrodite? - perguntei irritada.

-Só que você admita que o ama, dãa – ela falou como se fosse óbvio. Talvez fosse, e eu nunca conseguira perceber antes. - Vocês são tão fofinhos juntos, Atena... é muito cuti-cuti!

-Ok, Afrodite; eu o amo – admiti. - Satisfeita?

Ela pareceu decepcionada.

-Não, nada satisfeita. Você não está feliz. Não tem motivo para você não estar feliz. Por que não está feliz? Você deveria estar feliz...

-Se eu ouvir a palavra feliz mais uma vez saindo da sua boca, vou desistir de viver – falei alto. - É por causa do meu juramento, Afrodite – respondi à pergunta dela. Ela começou a gargalhar. Ok, agora estou confusa. - Por que você está rindo?

-Você é tão sábia, mas TÃO SÁBIA, que conseguiu enganar a si mesma!

-Do que você está falando?

-Atena, Atena; você queria tanto não se machucar novamente com o amor que fez esse juramento; mas sentia que iria querer amar de novo. Você fez o juramento de maneira errada e se fez esquecer disso. Mas EU, queridinha, nunca esqueço nada de casais teimosos.

-Afrodite, não me enrole. Do que é que eu esqueci?

-É tão óbvio! Atena, você não jurou pelo Rio Estige! Então seu juramento NÃO foi válido. Ai, isso é maravilhoso!!!

De repente, o choque me invadiu. Era verdade. Ao ver Poseidon e Medusa juntos, eu me senti tão horrível que simplesmente murmurei “juro ser virgem para sempre, para nunca mais ter de sentir isso”. Eu fiquei radiante. Nós poderíamos ficar juntos porque eu havia sido sábia – ou tola – o suficiente para me enganar.

-Tenho que falar com Poseidon – eu disse me levantando. - E... bem... obrigada, Afrodite.

-Vai logo, sua boba!

Corri para fora sorrindo, mas esbarrei em alguém. Esse era o deus perfeito para a minha estratégia agora.

-Oh, olá, Hermes. Você poderia me fazer um favor?

POV Poseidon-> eu te amo, Sabidinha.

Eu estava no meu trono, banqueteando com as oceânides, os tritões e com meu filho Tyson. Anfitrite tava puta comigo porque eu havia a traído. E foi aí que eu disse que não a amava e que não queria mais ficar com ela, independente do que Atena fosse fazer de agora em diante. Anfitrite estava se preparando para ir para outro palácio no fundo do mar. Todos estavam felizes, mas eu estava pensando em Atena o tempo todo. E então, Hermes apareceu ali.

-Poseidon, tenho um bilhete para você.

-De quem? - perguntei sem emoção.

-Atena.

Meu coração saltou. Eu me levantei, corri até Hermes e peguei o bilhete em sua mão. Sorri ao ler o mesmo.

“Eu te amo, Cabeça de Alga.

Nos vemos no McHalls da 5ª avenida às 19:00h?

Ass.: Atena”

Olhei para Hermes e perguntei:

-Você pode mandar a resposta para ela?

-Claro!

Peguei um papel e rabisquei um bilhete rápido. Entreguei-o a Hermes e ele desapareceu. Desaparecei em brisa marinha e surgi no McHalls. Ali, na minha frente, pude ver a bela mulher loira trajando jeans, blusa branca e casaco bege. Ela olhava o cardápio, mas se distraiu ao perceber um homem grisalho falando com ela. Ele lhe entregou um bilhete e Atena sorriu ao ler as palavras que eu rabisquei.

“Estarei no McHalls. Sabia que você mudaria de ideia,

e foi por isso que expulsei Anfitrite da minha morada.

Eu te amo, Sabidinha.

Ass.: Poseidon”

Ela virou os olhos para a janela de onde eu a encarava e correu até onde eu estava, dando-me um imenso beijo.

-Eu sabia que isso daria certo – murmurei em seu ouvido. - Mas e o seu juramento?

-Não pelo Rio Estige, querido; não pelo Rio Estige.

Antes que eu pudesse perguntar, ela me beijou de novo. Parece que Corujas e Algas podem se dar bem afinal, não é?