Pouco antes do nascer do Sol, Luke acordou. As almas assumem necessidades humanas na superfície, ou seja, comem, dormem, etc. Eu e Luke montamos em Mors e ela decolou. Era o final da tarde quando chegamos à base da Colina Meio-Sangue. Nos aproximamos e vimos no topo da Colina não apenas o pinheiro de Thalia, como também a própria Thalia, com suas roupas de caçadora, num estilo meio punk e a tiara descombinada, fazendo carinho em Peleu.

                Os olhos de Luke se encheram de lágrimas quando ele a viu. Transformei a mim e Mors em sombras para não atrapalharmos os dois. Luke se aproximou de Thalia e pôs as mãos em seus olhos por trás. A garota tremeu de leve e deu um pequeno gritinho com o susto e apalpou as mãos, tentando descobrir o dono. Então Luke aproximou o rosto e sussurrou no ouvido de Thalia:

                - Adivinha quem é?

                - L-luke? – ela gaguejou.

                Luke tirou as mãos dos olhos de Thalia e sorriu quando ela se virou, os olhos molhados. Então ela soltou as mãos de Luke, que ela estava segurando antes e lágrimas escorreram pelo seu rosto, sua expressão triste de partir o coração.

                - Thalia, eu... – Luke tentou pegar as mãos da garota, mas ela se esquivou.

                - Não, Luke. – ela disse, firme como sempre.

                - Mas, Thalia...

                - Não, Luke. – ela falou ainda mais decisiva, mas Luke a cortou.

                - Não, Thalia. Chega. Agora você vai me ouvir. Eu estou me desculpando, está bem? Por tudo. Desde aquele dia na casa da minha mãe até agora. Eu quero que você me perdoe. Não que me dê razão. Quero que você tire essa máscara que você põe, porque ela não me engana. Eu te conheci antes disso. Você é a mais frágil das garotas, Thalia.

                “Eu queria estar vivo para te proteger. Queria voltar no tempo e fazer diferente, Thalia. Mas não fiz. Eu quero só que você me ouça agora sem ser A Poderosa! Porque eu te amo, Thalia. Muito. Sempre e para sempre. Então só... cale... cale a boca e aceite, ok?”

                Ele disse tudo num fôlego só, como se tivesse medo de ser interrompido, o que era bem provável. Thalia o olhava, as lágrimas correndo, estupefata. Ele fez ela calar a boca e abaixar a cabeça! Uau! Eu realmente quero esse cara do meu lado. Ele também chorava, mas sua expressão era quase zangada.

                Então Thalia fez um raio atingir sua cabeça e ela sumiu. Luke secou as lágrimas e disse:

                - Vem, Nico, vamos descer.

                - Como sabia que eu estava aqui? – eu perguntei surpreso, saindo das sombras com Mors.

                Ele sorriu de leve.

                - Eu também faço parte das sombras. Vamos.

                Nós descemos a Colina e fomos até a Casa Grande. Todos os campistas olhavam para Luke, mas ele não ligou.

                Quíron e Dioniso estavam na varanda jogando pinochle. Quando Quíron nos viu, levantou-se em sua forma de cavalo e veio até nós.

                - Nico, meu rapaz. Soube de sua missão. Vejo que trouxe uma alma em forma... normal. – ele olhou para Luke.

                - Ele queria ver o acampamento. – expliquei.

                Quíron assentiu e disse:

                - Venham, vamos conversar. Ele entrou e nós o seguimos.

                Eu e Luke nos sentamos no sofá e Quíron assumiu sua forma de cadeira de rodas à nossa frente.

                - Como sabem... as almas rebeldes estão perturbando a paz mortal e dando muito trabalho extra a Hermes. Atena me informou de sua vinda e me pediu que lhe desse uma profecia.

                - Minha missão é simples, Quíron, não preciso de uma profecia. – retruquei zangado. Eu odiava profecias, elas sempre causavam mais drama que o necessário.

                - São ordens de Atena. E seu pai concordou com ela.

                Ah, ótimo, uma visita a Rachel.

                - Está bem , então. Posso ir logo? – perguntei.

                - À vontade. Segunda porta à esquerda. – Quíron instruiu.

                Me levantei e fui até o quarto de Rachel. Era branco com quadros. Muitos quadros. De tudo. Campistas fazendo oferendas, monstros na Captura à Bandeira. E em pé, de frente para a janela, pintando mais um quadro, estava o nosso adorado Oráculo.

                - Oi, Rachel! – eu disse, assustando de leve ela e fazendo ela se virar. Ela sorriu.

                - Ah, oi, Nico! Não te vi entrar. – nós tínhamos nos tornado amigos nos últimos 2 anos, depois da batalha. Ela era boa para conversar.

                - Preciso de uma profecia, Ray. Sinto muito.

                - Ah. Tá. Tudo bem. – ela disse, meio decepcionada.

                Rachel se sentou na cama, fechou os olhos e respirou fundo. Então a conhecida névoa verde a encobriu e sua voz triplicada disse:

                - Pergunte.

                - Hmmm... O que devo fazer?

                As almas perdidas irão buscar

                Os filhos da morte, peregrinos e ar

                A filha da aurora recrutar

               Os três em perigo auxiliar

                O traidor reerguer

                A caçadora perecer

                A perda notável será

                Para no final o amor encontrar

                Então Rachel tossiu e voltou ao normal.

                - E então?

                - Obrigado, Ray. Até mais. – e saí.