Em Busca das Almas Perdidas escrita por vivaopato


Capítulo 16
Eu ataco, tu atacas, Ethan ataca


Notas iniciais do capítulo

gente, desculpa a demora, leiam com carinho



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No meu sonho, eu era outra pessoa. Estava parado frente a um espelho de corpo todo, fechando os últimos botões da camisa branda que usava. Era um garoto de uns 16 anos, alto e musculoso, com os cabelos bagunçados e um sorriso sacana no rosto. Era o topo de cara que faria as garotas suspirarem.

         Arrepiei os cabelos cortados curtos e vesti uma espécie de paletó cinza escuro, com um distintivo bordado que dizia algo que não consegui decifrar. Olhei pela janela e franzi o cenho. O céu estava como no palácio de Eos, com traços marcantes de branco, preto e vermelho, além das cores habituais.

                Ao meu redor havia um típico dormitório, que me parecia estranhamente familiar. Dois beliches, uma escrivaninha e uma estante com alguns livros. No canto havia uma porta de madeira, fechada, que supus ser o banheiro. Fui até a porta e bati com força.

                - Cloe, anda logo! – reclamei.

                A porta se abriu e uma garota de uns 13 anos entrou em foco, irritada. Ela tinha cabelos castanho-escuros e olhos azul-esverdeado. Tinha um corpo definido, um pouco avançado para uma garota de 13 anos. Tinha uma pele bem clara, e lábios carnudos e rosados. Era muito bonita. Aí meu sonho acabou. E eu acordei, sentindo como se tivesse dormido apenas quinze minutos, o que era bem possível.

                Alguém repetia ao meu lado:

                - Filho de Hades! Acorda, garoto!

                Abri os olhos e pisquei com força, olhando ao meu redor. Uma forma quase translúcida tremeluziu ao meu lado. Era um garoto. Devia ter 18 ou 19 anos, e usava um tapa-olho. Perguntei-me se ele realmente não tinha um dos olhos, ou usava aquilo por alguma outra razão. Seu rosto me parecia bastante familiar, mesmo que eu não soubesse o por que.

                - Até que enfim, pirralho! – o garoto reclamou.

                Me sentei e o olhei. Ele me pareceu bastante assustador.

                - Quem é você? O que faz aqui? E... você é um fantasma? – perguntei assustado.

                Olha, pra começar, eu consigo sentir, com meus poderes de filho de Hades a aura dos seres e criaturas, mas... ah, fala sério. Eu tinha acabado de acordar de um sonho intrigante e tinha um cara na minha cama. Depois, eu não sou medroso. Sério mesmo. Eu já enfrentei meu pai, lutei contra um exército de monstros e semideuses, corri o país sozinho com os poderes explodindo a todo momento.

                Enfrentei Melinoe, passei oitenta anos num hotel demoníaco, joguei pôquer com os Stoll (sério, vocês não tem noção de como isso é aterrorizante), rodei desbaratado o Labirinto de Dédalo, ouvi uma profecia e convivo com as fúrias diariamente. Eu não sou medroso. Mas acordar com uma forma translúcida de um cara estranhamente familiar, com um tapa-olho, do seu lado na cama é assustador.

                - Eu sou Ethan Nakamura, filho de Nêmesis, [n/a: Se você gritou nessa parte deixe um review. Se você nem ao menos sabe quem é Ethan Nakamura, largue o pc e se mate. Ou deixe um review.] e eu tenho que falar com você! Eu não tenho muito tempo. – ele disse.

                Fiquei calado por um minuto, Ethan me encarou esperando que eu dissesse algo.

                - Você é um fantasma? – foi tudo o que consegui dizer.

                Ele me olhou incrédulo.

                - Não, eu sou um E.T. e eu venho em paz. – ele ironizou, fazendo aquele símbolo de Star Wars com as mãos.

                Tá, acho que ele é um fantasma.

                - Como você entrou aqui? E por que você é meio transparente? – perguntei.

                - É um feitiço! Eu estou fingindo ser um dos criados invisíveis de Eos. Aliás, que deusa tonta, nem percebeu.

                - O que você quer? Por que Melinoe te soltou? – perguntei, me ajeitando para vê-lo melhor. [n/a: KKK! Que olhos grandes você tem, vovó! É pra te ver melhor... KKK]

                - Quero falar, cale a merda da boca e ouça. Primeiro, não confie nessa deusa, Eos, ela está armando algo, e acredite, sua namoradinha filha dela está no meio. A filha de Zeus sabe de algo, e tem a ver com Melinoe. Melinoe pode ser esperta, mas Eos também é, e não vai deixar que a filha dela se machuque, é tudo uma isca, e você é o peixe.

“Aquilo que Eos falou ontem, sobre Melinoe estar tramando algo é verdade, e a missão pode ser de qualquer um, mas sua, não é. Dédalo não está tentando reaver o labirinto apenas por tê-lo, ele quer abrir uma passagem para o castelo de Poseidon, ele quer algo ainda mais precioso para ele.

“O presente prateado não é seu, não o abra! Afordite está brincando com vocês, há muito tempo, na verdade, e você é o próximo! – Ethan pareceu pensar um pouco, depois acrescentou – E, desculpe. Eu tenho que fazer isso.

                Então ele tirou do nada uma faca longa, negra, e a manejou contra mim. Um corte pequeno e superficial surgiu em meu antebraço, e eu recuei. Pulei da cama, à procura de minha mochila, enquanto me esquivava dos golpes hábeis de Nakamura. Achei a mochila preta e corri até ela, procurando loucamente a garrafa térmica sugadora de almas.

                Ethan estava quase me atingindo quando consegui pegar a garrafa e abri-la, fechando os olhos com força, pronto para algo dar errado e eu morrer. Respirava ofegante, entrecortadamente. Não senti nada, então abri os olhos e olhei em volta.

                A boa noticia? Nakamura havia sumido. A má notícia? Eu tinha toneladas de avisos perturbadores para refletir sobre. Ainda em choque, escorreguei pela parede até o chão. Larguei a garrafa e respirei fundo, tentando me acalmar. Os acontecimentos corriam pela minha mente na velocidade da luz.

                Lembrei-me de onde o conhecia. Ethan Nakamura. Como num vídeo, eu voltei os acontecimentos até a guerra contra Cronos, dois anos antes. Nakamura, ajudante pessoal de Cronos. Um tapa-olho, pelo olho tomado pela própria mãe. Morreu pelas mãos do próprio Cronos, por voltar-se contra ele no final, Percy havia me dito.

                Pensei sobre o que ele havia dito, sobre o presente. Peguei o embrulho prateado. Era retangular, no tamanho de um livro. Havia escrito num canto, em grego antigo, “Cloe e Damon”. Cloe. Era esse o nome da garota do meu sonho. Lembrei-me do distintivo bordado no paletó do garoto, e sobre como o quarto me parecia familiar.

                Tentei decifrar o nome do lugar, porque me parecera algo como VESROETW LLAH. Worestsve Ahll... Wesrotev Lahl... Westerov Hlal... as coisas começavam a fazer algum sentido pra mim quando um pequeno miado me despertou. Nico estava parado ao meu lado, com aquela mesma carinha de ‘eu estou perdido, por favor me ajude’. Eu nem mesmo havia percebido que estava ofegando novamente. Respirei fundo.

                Fiz carinho nele, ainda com o presente prateado no colo. Antes que eu pudesse voltar a me perder em meus pensamentos, alguém bateu na porta. Olhei para a faca do fantasma caída à minha frente. Era a faca de Ally. Franzi o cenho e a peguei, rodando-a entre meus dedos. Bateram na porta outra vez.

                Levantei, quase como em transe, segurando com força o corte em meu antebraço, que, graças aos deuses, não estava sangrando muito, apenas um pequeno rastro, e abri a porta. Luke entrou em foco e fez uma expressão aterrorizada ao me ver.

                - Santos deuses, Nico, o que houve com você?! – ele exclamou, entrando no quarto.

                - Eu... ah... – balbuciei.

                Luke me olhou outra vez.

                - E... nossa! Você dormiu segurando uma faca? – ele gesticulou para a faca de Ally em minha mão. Então sorriu, malicioso. – E... a faca de Ally?

                - O que? Não, Luke! Quer dizer, eu... ah! – desisti de tentar explicar.

                - Tá, Romeu, sem detalhes. Vamos logo, o café está na mesa. Quer dizer, vá tomar um banho antes. – Luke disse, dando uma olhada no quarto.

                Fui até o banheiro. Era incrível. Tinha a mesma arquitetura que faria Annabeth pirar, no mesmo estilo de mármore, ouro e pedrinhas cor-de-rosa. Havia uma banheira gigantesca, e eu me perguntei se alcançaria o fundo dela se ficasse de pé. Havia também as coisas normais de banheiros normais.

                Bom dia, Nico. Manhã agitada? , Mors perguntou mentalmente.

                É. Bastante.

                Sonho estranho nós tivemos, hã?

                Me despi e entrei num chuveiro que havia. Quer dizer, num dos três chuveiros que havia.

                Sim. Aliás, Mors, você se lembra do nome bordado no distintivo do paletó do garoto? , perguntei, me molhando e ensaboando com um dos diversos produtos de todos os tipos que havia numa bancada de mármore.

                O que? Claro que não. Distintivo?

                Suspirei. Comecei a cantarolar músicas aleatórias. É, eu canto no chuveiro. E aposto que você também. Me sequei e saí, com a toalha (havia várias e várias toalhas lá, e todos os outros tipos de apetrechos) enrolada na cintura. Busquei na mochila uma calça e uma blusa de manga comprida, porque estava fazendo um pouco de frio.

                Me vesti e peguei na mochila um pouco de néctar. Tomei, observando o corte no antebraço cicatrizar em instantes, e estremeci, por alguma razão. Saí do quarto. Ao mesmo tempo, do quarto à minha direita, saiu Ally.

                Seu cabelo estava solto, ela usava uma bota de couro marrom calças jeans brancas e uma blusa azul-celeste, com uma jaqueta de couro marrom, como a bota, por cima. E, deuses, o que eu estava fazendo? Eu estava mesmo reparando milimetricamente na roupa dela?

                Quando me viu, Ally empinou o nariz e saiu andando. Segui-a. fomos parar em uma espécie de sala de jantar, onde havia uma imensa mesa de vidro. As cadeiras eram de madeira escura, com detalhes em ouro (assim como as pernas da mesa), com assentos de veludo cor-de-rosa. Eu me sentia num paraíso cor-de-rosa, naquele lugar.

                Sentados à mesa estavam Eos (na ponta), Thalia (dois lugares à direita de Eos), e Luke (ao lado de Thalia, claro). E a mesa estava posta com todo o tipo de comidas de café da manhã. Havia frutas, bebidas, pãezinhos, bolos, panquecas, waffles, ovos fritos e mexidos, omeletes, queijos, bacon, salsichas e um bando de outras coisas que eu não conhecia.

                Ally se sentou à esquerda da mãe, e eu me sentei ao lado de Luke.

                - Ooh… Whoa… Whoa… You know you love me… I know you care… You shout whenever…  And I'll be there… You want my love… You want my heart… And we will never, ever, ever be apart… - Pois é. Assim eu fui recebido por Luke assim que me sentei. Com ele cantarolando Baby, do Justin Bieber.

                Todos o olhamos como se ele tivesse dito que odiava Thalia e queria, na verdade, se casar com Apolo. Ok, foi uma comparação um pouco bizarra, mas é verdade. Ele apenas riu. Olha... não é que não seja normal uma pessoa morta cantarolar no café da manhã. É que nós sempre achamos que Luke tivesse um gosto musical admirável, com uma lista de reprodução de Guns n Roses, AC DC e etc.

                E tudo bem gostar de uma ou outra música ruim. Tipo, tem aquela música péssima daquela tal de Rebecca Black, que é uma desgraça total, e que eu adoro. Mas não é normal um cara de 24 anos cantarolar Baby no café da manhã. Ainda assim, eu, infelizmente, tinha entendido a brincadeira de Luke, e não me agradava, então eu o fuzilei com os olhos.

                - Ok, Luke, depois dessa linda e incrível apresentação particular, acho que nós podemos comer. – Thalia disse.

                Eos a olhou feio. Acho que a deusa não gostava muito da idéia de uma semideusa adolescente dar uma ordem em sua casa. Ally soltou uma risadinha. Thalia usava uma calça jeans escura e uma blusa de manga comprida, cinza escura, com alguns rasgos propositais pela extensão das mangas. Um colar de caveira, e uma pulseira de couro com espinhos. O cabelo preso num coque alto.

                - Bom dia, crianças. Comam e se preparem. Vocês partem em duas horas. – Eos falou, tentando ser amistosa, mas um pouco irritada, se levantando e saindo.

                Todos comemos até nos fartar. Eu, pelo menos, comi até sentir que explodiria com mais uma uva. De tempos em tempos, Luke cantava musiquinhas de apaixonados, me deixando a ponto de obrigá-lo a comer as pedras preciosas incrustadas nas paredes.

                Quando acabamos de comer, ficamos olhando um para o outro. Sinceramente, eu estava louco para sair daquele palácio demoníaco e encontrar Cloe e Damon, fossem lá quem fossem. Ally se levantou e me fuzilou com os olhos, antes de virar-se e sair, de nariz empinado.

                Suspirei. Thalia me olhou, mexendo no resto de suco no copo com uma colher.

                - Então, Nico... – ela falou calmamente – Eu não pude deixar de reparar que Ally parece meio zangada com você.

                Luke deu um sorriso safado.

                - Então a noite não foi assim tão boa pra ela, hein, Nico? – ele disse.

                Thalia arregalou os olhos pra ele. Eu apenas revirei os meus.

                - Não é nada disso! É que... Luke, a faca dela no meu quarto não significa nada, ok? – tentei dizer. Inutilmente, claro.

                - Espera, a faca de Ally está no seu quarto? Estou perdendo algo? – Thalia perguntou, correndo os olhos entre mim e Luke.

                - Está, Thatha! – Luke disse antes que eu pudesse retrucar. – Na verdade, eu não me surpreenderia se achasse alguma roupa íntima de Ally no quarto do Nico... E tem mais! Tem um presente pra uma tal de Cloe! Quem é Cloe, Nico?

                Thalia me olhou de olhos arregalados, eu olhei boquiaberto para Luke, e ele sorriu para as migalhas de pão no prato dele, que, aliás, tinha comido mais que eu.

                - Você não abriu aquilo, abriu? – perguntei preocupado.

                - O que?! Do que estão falando?! Nico! – Thalia parecia realmente confusa.

                Então de repente, nós três falávamos ao mesmo tempo, zangados, confusos e sacanas, e eu só entendia palavras soltas. Aí Ally entrou no cômodo e nós três nos calamos ao mesmo tempo.

                Ally nos olhou com a sobrancelha esquerda para nós, pegou o casaco esquecido na cadeira e, ainda nos olhando desconfiada, me fuzilou e disse:

                - Não parem de falar por mim. Eu não quero ser um empecilho para os seus planos de vida.

                E saiu. Droga. Afundei o rosto nas mãos e ouvi Luke exclamar um “UUUUUUHH”. Idiota.

                - Tá. Eu desisto. –Thalia falou, erguendo as mãos em sinal de rendição, se levantando e saindo, nos olhando como se fôssemos dois loucos.

                Luke sorriu bobamente para as costas da garota e murmurou:

                - Linda, não?

                Revirei os olhos.

                - Sabe quem tentou me matar hoje mais cedo, Luke?  Ethan Nakamura, filho de Nêmesis. Talvez, só talvez, você ainda se lembre dele. – falei, sarcástico.

                Luke empalideceu. Ele me olhou.

                - Tentou... tentou te matar? Como? – gaguejou.

                - Ah, você sabe, me acordou, falou algumas coisas, mandou recados, depois correu atrás de mim com a faca de Ally e fez um corte no meu braço. – falei casualmente.

                - O que ele disse?

                - Nada demais. – derramei sal numa colher e lambi, uma mania que, por alguma razão, eu tinha desde pequeno.

                Senti o gosto salgado arder em minha boca.

                - Não, Nico, isso é sério, é muito importante! – Luke exclamou preocupado.

                - Nossa, Luke, relaxe. A cada dia você se torna mais medroso e paranóico. Parece Quíron. – falei.

                Me levantei e saí, com Luke ainda parado no mesmo lugar.


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Notas finais do capítulo

eu imploro por reviews!! IMPLORO!!
Cloe - http://b6.img.v4.skyrock.net/b6c/biahenley/pics/2935107937_1_7.gif