The Evil Angels escrita por Missfic


Capítulo 1
Capítulo 1 - Solidão


Notas iniciais do capítulo

"Alguns indícios me mostravam que talvez eu fosse um ser que não deveria existir. Não lembro de como nasci o ao menos da data do meu aniversário. O fato me machucou, me corroeu, me fez chorar noites e noites seguidas. Mas se o final vale a pena, o caminho talvez nem importe tanto..."



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O dia parecia estar nublado, com as nuvens sujas que estavam sendo facilmente deterioradas pelo vento forte. A rua estava quase solitária – deveriam ter uma ou duas pessoas paradas do outro lado, sentadas em um banco descascado e úmido, que me encaravam a cada cinco minutos. Pareciam se incomodar com minha aparência fraca e estranha. Não existiam muitos adjetivos que pudessem descrever como eu estava naquele momento. A resposta sempre seria fraca e com ares desiludidos. Minha face demonstrava justamente o que eu era por dentro – vazia, fraca, com traumas e dores que não poderiam ser esquecidos. Quando vista na rua – principalmente em dias nublados e sujos, como hoje –, as pessoas parecem ter pena de mim; mas não é de uma maneira tão explícita, tanto que pudessem me oferecer dinheiro ou um lar a cada olhada – eles me olhavam disfarçadamente, calmos e serenes, colocavam as mãos nos bolsos dos casacos e sobretudos para esconder os relógios e, depois, esboçavam um sorriso forçado que mais parecia uma careta. Pareciam tentar esconder algo de mim, coisas sobre minha existência que eram questionadas – eu imagino – até mesmo por meus próprios pais, que agora estão mais gelados e frios do que qualquer ser humano, jogados dentro de covas e com etiquetas amarelas ao redor do tornozelo, com uma tampa de granito em cima de seus corpos. Estavam mortos fazia algum tempo.

A rua podia não estar solitária como aparentava, mas eu estava. Não era algo comum de ser ver – as meninas jovens, com praticamente a mesma idade que eu, saíam para ir até o que costumavam chamar de "baladas", o que eu mesma atribuí como sinônimo de "festa onde pessoas vão para trocar saliva, encostarem-se frequentemente sem nenhum objetivo, entoarem canções sem conteúdo e dançarem". Meninos costumavam jogar futebol americano e abraçar meninas que não conhecem pela cintura, falar alguns versos chulos e trocar saliva com elas também. Infelizmente, não era o tipo de coisa que me encantava. A solidão me assustava, mas de alguma forma, ajudou-me a formar tudo o que hoje sou – por mais que isso inclua alguns traumas e arranhões no emocional.

As pessoas não são acostumadas a me ver como uma indivídua normal no meio desta sociedade corrompida – sou uma aberração. O mundo se afastou de mim mesmo não sabendo que tipo de ser eu sou. Aos olhos comuns, sou apenas uma jovem sozinha, com gostos estranhos, aninhada em seus castelos de solidão e tentando lhe dar com suas próprias crises existenciais. Vivo essa dissimulação, com medo de ser rejeitada e sofrer com os risos de alguns. Minhas habilidades especiais me impediam de ter uma vida monótona e sem sentido como todas as outras; no fundo eu sabia que não queria ter esse estilo de vida indecente e desorganizado, mas era o que o mundo me oferecia. Não havia mais nada a se fazer.

Enquanto aquela gente me encarava e escondia os relógios, eu andava sem saber onde estava. Eu deveria ter me perdido entre algumas avenidas e, consequentemente, vim parar exatamente na frente de uma quitinete que localizava-se em frente de um banco de madeira descascado e úmido. Eu segurava uma bolsa marrom e dentro dela haviam pelo menos mil reais – mesada inteira de minha melhor amiga e irmã de criação, Celéstica, quem tinha me ajudado a dançar conforme a música naquela situação toda. Tudo apontava para que eu entrasse no recinto a minha frente, alugasse um dos quartos e ficasse ali até que Cell viesse me buscar – ou pelo menos me achasse.

Provavelmente, eu necessitaria de documentos para que pudesse ter disponível um quarto por dois dias ou mais; isso era um problema gigantesco. Eu não possuía documentos. Sou registrada com certidão de nascimento, mas ela se perdeu quando uma das maiores tragédias de minha vida ocorreram. Se eu precisasse deixar minhas digitais em algum papel, ainda assim eu não poderia fazê-lo – minhas digitais se apagaram com o passar dos anos. Era uma estadia improvável. Ser uma inquilina de dona Marrie seria algo complicado para mim, mas eu precisava daquele quarto. A noite estava a se aproximar. Fui, tristemente, obrigada a usar uma de minhas habilidades para que eu pudesse enganá-la por uns instantes. Deixei o dinheiro sob o balcão, vasculhei algumas das chaves pratas e douradas do anel que a senhora deixava preso nos suportes de cinto da calça jeans e segui para meu quarto. Por minha sorte, não havia ninguém normal o suficiente para julgar-me enquanto eu facilitava o processo.

O quarto me deixou alegre, pois era muito parecido com o meu. Esbanjava simplicidade e era muito aconchegante. Cobertores muito grossos estavam expostos em cima da cama. O chão era de madeira, a luz fraquinha e a madeira da cama rangia de vez em quando. Tirei o único celular que eu tinha desde pirralha de dentro da bolsa e o joguei em cima do criado-mudo que estava ao lado da cama. Não demorou muito pra ele tocar. A música que soava quando quando o aparelho vibrava era "Et in terra pax hominibus" de Vivaldi, e confesso que gosto muito de música clássica. A fotografia de Celéstica apareceu na tela do telefone moderno e acabei sendo obrigada a atender.

Ela falou sutilmente as primeiras palavras, mas depois voltou ao seu tom agressivo de sempre. Mandou-me voltar para casa, ficou preocupada comigo por estar perto de outros seres vivos sem ser os que eu estava antigamente propícia a ficar. Disse também que o dinheiro dela havia sumido e também lembrou-me da regra de não dormir fora de casa. Tentei explicar calmamente o assunto, mas eu era interrompida a todo momento por minha irmã. Irritada, mandei-a calar a boca e deixar-me em paz. Só que isso sondava impossível pra ela. Ela sempre esqueceu muito da vida dela para cuidar da minha e, de certo modo, isso me deixava contente, pois era sinal de que ela me amava. Querendo ou não, eu dependia dela.

Talvez, afundar-se num poço de ilusões falando sobre liberdade seja perfeito para uma bela história com felizes para sempre. Só que eu não nasci para ser feliz para sempre, nem ao menos feliz eu sou. Minha história é uma daquelas que possuem traição, falta de amor ao próximo e principalmente, muito sangue. Sinto alívios de estar viva - ou quase morta, porém eu acho que a morte seria melhor do que sofrer tudo que sinto. Os demônios e anjos do meu emocional não me deixavam por nem um minuto – eles são os fantasmas que me assombram. Todos eles me rasgam e comandam por dentro, entretanto, nenhum deles havia se manifestado. A Fúria era horripilante e, de alguma forma, conseguia enlouquecer-me em um quarto de hora, fazendo-me descontrolar e machucar quase todos ao meu redor, principalmente eu mesma. Ignorância não era tão ruim assim – eu a imaginava como uma menininha de cinco anos de cabelos ruivos e sardas correndo pela casa, não olhando no rosto de todos que tentavam fazer contato com ela. Era divertida. Indiferença era uma velha qualquer, desiludida pelo marido e traída tantas vezes que eram incontáveis. Frieza e Insensibilidade eram gêmeos engraçados e desajeitados; diariamente brigavam um com o outro e nunca se comoviam. Já os meus anjos eram mais amigáveis, como a Luxúria, uma moça loira com um sorriso convidativo. O Perdão, um cara magro, esguio e que levava tudo como se fosse um mal entendido. Nunca se embravecia, nunca chorava de ódio; ele apenas esquecia. Esquecimento nunca fora um menino levado; podia ter sofrido qualquer tipo de trauma, esquecia rapidamente e nunca mais lembrava. Mas o pior de todos os anjos – no qual eu queria ter nascido sem – era o Amor. Um casal que a cada briga que tinham, terminavam tudo com um beijo e sorriam um para o outro, sem se importar com o que seria do amanhã. Eles me enojavam porque eu queria ter a mesma certeza que a deles, mas eu não tinha. Flashback é um meio-termo grande, pois ele me tortura e as vezes me ajuda.

Meus sentimentos em relação a eles era de puro carinho. Eu podia contar com eles a qualquer momento, até porque, enchiam-me a paciência a cada segundo, mesmo adormecidos. Somente minhas asas não precisavam da ajuda dessa multidão toda, pois pelo que me lembro, ela abre sozinha.

Falando em asas, eu estou com saudades de voar.


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Notas finais do capítulo

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