A manhã seguinte foi tranqüila, tirando minha ressaca moderada, nada de demais aconteceu. Estávamos sentados no sofá vendo um filme, que pouco me interessava,  na verdade conversávamos sobre nossos hobbies, e digamos que eu consegui me “lembrar” de algumas coisas como: Meus pais haviam morrido (como ainda não sabia) e eu não tinha nenhum parente no país, nem nos outros próximos.

- Ai! – levei minha mão ao estomago- Me lembrar de algumas coisas, me deixou com fome.

- Tive uma idéia! Porque a gente não sai pra comprar umas coisas pra você, e aproveita pra almoçar fora. Eu conheço um restaurante legal perto do Shopping. Você gosta de comida chinesa?

- Eu... Não me lembro! – e massageei minha barriga que roncava cada vez mais- Acho que na situação em que estou eu gosto de qualquer coisa!

Tom concordou e se apressou em pegar um casaco para mim e para ele, já que o tempo estava meio estranho, talvez chovesse.

Surpreendi-me com o tamanho do Shopping. Era gigante, nem se eu passasse o dia inteiro lá, conseguiria passar por todos os andares e corredores. As lojas eram diversificadas, e o cinema era composto por 22 salas. Havia alguns filmes realmente interessantes em estréia.

- Que tal a gente vir na sexta?

- Por mim, seria ótimo!

- A gente poderia convidar Gee e o Gus.

- Com certeza!- exclamei pegando um folheto de filmes.

Descemos algumas escadas rolantes, entramos de lojas, saímos de lojas, subimos algumas escadas rolantes, andamos de um lado para o outro, carregados de sacolas nos braços. Eu parecia um cabide, apesar de Tom estar com a maior parte das compras.

Descarregamos tudo no carro e a pé mesmo fomos até o tal restaurante. Era pertinho e em menos de 10 minutos, estávamos lá. Apesar de ser um restaurante de comida chinesa, e estar todo caracterizado a música era Pop, e agradava a todos as outras pessoas ali. Também me agradou, mas uma vez me identifiquei com a letra.

I lie awake again, my bodies feeling paralysed

I can’t remember when

I didn’t live through this disguise

The words you said to me

They couldn’t set me free

Im stuck here in this life i didn’t ask for

There must be something more,

Do we know what we’re fighting for?

Breathe in breathe out

And all these masks we wore

We never knew what we had in store

Breathe in breathe out

The storm is rolling in

The thunders loud it hurts my ears

Im paying for my sins

And its gunna rain for years and years

I fooled everyone and now what will i become?

I have to start this over

Eu gosto de acordar de novo, sinto meu corpo paralisado

Não me lembro quando

Eu não vivo através deste disfarce

As palavras que você me disse

Eles não podiam me libertar

Eu estou preso aqui nesta vida que eu não pedi

Deve haver algo mais,

Sabemos por que estamos lutando?

Inspire, expire

E todas essas máscaras que usávamos

Nunca soubemos o que tínhamos na loja

Inspire, expire

A tempestade está rolando

Os fortes trovões machucam meus ouvidos

Eu estou pagando pelos meus pecados

E choverá por anos e anos...

Eu enganei todo mundo e agora o que eu me tornei?

Eu tenho que recomeçar isso

O almoço foi calmo e silêncioso. A música me disse exatamente o que eu queria, porém não achava as palavras para expressar. Olhei várias vezes para Tom, e percebi que ele sentia o mesmo em relação. Nossos olhares eram baixos, e por fim quebrei o silencio que assim como na noite anterior e corroia.

- Eu gostei muito do Yakisoba. Estava ótimo, obrigada.

- De nada, e eu concordo, estava realmente bom. – falou se levantando e dando uma gorjeta gorda para o garçom. – Vamos?

- Claro!

Assim fomos embora, e passamos o resto da tarde na internet, com Tom me mostrando músicas, sites, fotos, e algumas músicas e melodias criadas por ele.

- Então você toca guitarra? – perguntei incrédulo.

- Uhum. Também toco violão, mas só quando estou pra baixo.

- Isso acontece com freqüência?

- Não, na verdade quase nunca. Eu não gosto de ficar triste, eu acho que a vida é curta e que é uma perda de tempo ficar se queixando e chorando quando se pode viver. Se você não está feliz, recomece.

- Mas às vezes não é possível recomeçar.

- Então, apesar de parecer grosseiro, eu acho que não há porque permanecer vivo. Sinceramente, se não há motivos para ser feliz, pra que sofrer? Termine logo com toda a dor. – terminou me encarando, aquele olhar era m misto de emoções, como se ele falasse aquilo por experiência própria.

- Você tem razão.

Ele apenas sorriu tímido em resposta. Logo escureceu e nós acabamos dormindo na frente da TV, pelo cansaço das compras. Adquirir coisas de valor, com certeza esgotava energias.