- Nós, antes de tudo, precisamos conversar.

Ele me olhou confuso, mas assentiu, pegando nossas camisas, calças, etc. Entregou-me a minha, e vestindo a sua, descemos para a sala.

Sentei-me no sofá, segurando minha cabeça entre minhas mãos que suavam frio. Minha respiração era pesada, meu estomago embrulhado, se revirava me causando aquele “frio na barriga”. Antes de se sentar a minha frente, na poltrona, fechou a janela, pois garoava forte, e o vento batia-a. Um dia horrível, perfeito, para uma noticia dessas que eu estava prestes a dar.

- O que foi Bill? – perguntou preocupado, quando levantei minha face para olhá-lo.

- Eu tenho muito a esclarecer Tom.

- Então, comesse seu “esclarecimento”. – pediu fazendo sinal de aspas com os dedos.

- Eu mal sei por onde começar. – falei meio que para mim mesmo- Tom me prometa uma coisa?

- Claro Bill! Qualquer coisa.

- Prometa que não me julgará um louco. Prometa me ouvir, até o final. Jure tentar me compreender, por favor.

- Eu juro Bill. – falou franzindo o cenho, não entendendo meu drama.

- Tom, eu não sei ao certo como lhe falar isso, mas eu vou começar pelas coisas mais fáceis de aceitar, e depois as mais improváveis.

- Nossa Bill! Você esta me assustando assim.

- Tom, eu... Eu era um... Um... Um Anjo. – falei novamente fechando os olhos e esperando por alguma palavra que ferisse, mas Tom sempre brincalhão não perdeu seu costume:

-Claro que é! Você é um Anjo que caiu do céu!- disse sorrindo.

- Você não entende... Eu era literalmente um anjo, que caiu do céu.

-HAHA Bill, essa foi boa. – disse sarcástico.

- Você não entende? – falei deixando uma lágrima cair de meus olhos.

- Bill, não tem mais graça, deixe de brincar comigo.

- EU NÃO ESTOU BRINCANDO! É VERDADE! – gritei batendo as mãos, no estofado ao meu lado.

- Então você quer que eu acredite que você é um anjo?!

- Sim, e eu me tornei humano, para poder viver ao teu lado!

-Bill, isso não tem a menor lógica!

-Não é pra ter. Eu não falei que isso seria lógico, muito menos óbviu. Mas você precisa entender.

-AHHH! Menos Bill. Você não era um anjo. Você não me protegia. Você não me conhecia. –disse pausadamente, como se eu fosse um débil-mental.

- Me escute. Você tem que me entender. Eu era um anjo-protetor. Eu protegia você!

- Uhum... - murmurou com desdém.

- Mas a proteção se tornou amor, e eu não suportava mais!- agora varias lágrimas molhavam meu rosto.

- E supondo que você realmente fosse tudo isso que está dizendo...- por um momento pensei que ele estivesse aceitando minhas palavras- Então você estaria mentindo pra mim por todo esse tempo?

-Como assim Tom?

- Não se faça de burro Bill. Você seria capaz de mentir pra mim, não seria?

-Claro que não Tom!

-Pare Bill! Isso é contraditório. Você quer que eu acredite que você era um anjo. E quer que eu acredite que você não esteve mentindo pra mim sobre isso?! Bill, você mentiu, você escondeu a suposta “verdade’.

-Tom, não é isso.

-Claro que é. Novamente você mente Bill.

-Eu não sabia como explicar, eu temia pela sua reação. E quer saber? Eu estava certo, eu deveria nunca ter lhe falado isso. Olha agora, o que eu mais temia está acontecendo!

- Sinceramente... Eu não sei o que pensar. Não sei lhe chamo de mentiroso, ou de louco. Ou talvez o louco seja eu, por ter confiado em você! Ter pensado que estava lhe amando. Apaixonado.

-Você me ama Tom?

-Eu amo Bill. Juro que lhe amo.

-Então, porque estamos brigando?

-Porque você mentiu. Mentiu sobre tudo. Mentiu sobre todos, sobre você mesmo.

-Não, eu não menti!

-Então está mentido agora, dizendo ser uma espécie surreal!

-Não...- ele estava certo, não havia saída – Okay, eu me rendo. Eu menti, menti sobre mim, sobre tudo. Mas me desculpe, eu apenas tinha medo de acontecer o que está acontecendo agora!

Tom pareceu notar meu desespero, mas ele pensava que estava apenas pregando-o uma peça. Mas não se deixou abalar. Tom era o tipo de pessoa que não suportava mentiras. E não perdoava quem mentia.

- E deixe-me adivinhar!- levantou o braço, como os estudante fazem quando tem duvidas- Você conversou com Deus, e ele resolveu te fazer humano, em piedade a teu amor por mim.

-Sim! Tom você tem que tentar compreender. Eu não estou mentindo.

Ele se levantou, e pegou o telefone discando alguns números.

- Pra quem você esta ligando?

- Eu tenho um amigo, psiquiatra, talvez ele possa ti ajudar...

- Não! Eu não preciso de um psiquiatra, eu não sou louco Tom! Você prometeu não me julgar! – falei segurando seu braço e tomando o telefone de sua mão, e reencostando-o no gancho.

- Bill, você precisa de ajuda! – falou me segurando pelos ombros.

- Não! Eu só preciso de uma pessoa.

- Quem? Eu poderia procurá-la, se isso lhe fizesse melhor...

-VOCÊ!

Ele soltou meus ombros, e com os olhos arregalados e cheio de confusão passou por mim se reencostando no parapeito da janela.

- Não Bill, você não precisa de mim...

- Sim, eu preciso. Tom, eu te amo. – falei sem me mover, nem tentar privar as lágrimas que escorriam como cachoeiras sobre minha face.

Ele se virou para me encarar. Seus olhos estavam lutando contra as lágrimas. E com os braços cruzados na frente do corpo disse:

- Você não me ama do jeito que pensa que ama. Você me ama fraternalmente. – afirmou como se tentasse se convencer e me convencer de suas palavras. Fechou os olhos e continuou repetindo a frase sem emitir som.

- Você está errado Tom. Eu te amo, como você me amava. Eu te amo assim. – e selei nossos lábios mais uma vez naquela noite.

Ele me empurrou não se dando conta da própria força, me desequilibrei e cai no chão. Derramando mais lágrimas, me levantei me escorando nos móveis. E me sentei, chorando desesperadamente.

- Eu pensei que nós fossemos como irmãos. Melhores amigos. – sua voz era embargada. – E apesar de estar apaixonado por você, logo passaria. Que seria apenas uma experiência. Um tentativa que nunca daria em nada.

- Mas eu sinto muito mais do que um amor de irmãos por você Tom. Será que é difícil aceitar?

- Quando se é um desconhecido, que se diz ser um anjo, e depois declara amor por mim... Sim é realmente difícil de aceitar.

- Você prometeu tentar me entender... - disse negando em desaprovação com a cabeça.

- Você esta certo. – uma lágrima escorreu de seus olhos vermelhos. - Eu jurei TENTAR. Mas me desculpe Bill, você passou dos limites, eu não consigo te entender... Porque você brinca comigo dessa forma? Não vê que me fere?!

- Você nem sempre tem que ouvir sua mente falando mais alto do que seu coração sabia?!- gritei.

Nada disse, não tinha mais o que dizer. Apenas esperei para um julgamento final.

- Bill, saia da minha casa. – pediu apontando a porta principal.

O olhei pasmo, sem palavras pisquei me certificando que tudo aquilo não seria mais um de meus pesadelos.

-Eu... Eu não tenho pra onde ir. –ele assentiu em resposta.

Ele subiu as escadas e alguns minutos depois desceu com uma mala de viagem.

- O que isso significa?- perguntei me levantando.

- Eu vou embora.

- O que?

- Eu tenho pra onde ir, não se preocupe. E em relação ao resto das minhas coisas, depois eu peço para que Georg ou Gustav venham buscar.

- Tom, você não pode fazer isso comigo. Você não pode me deixar aqui... Tom, eu te amo.

- Eu posso, e eu vou. Me desculpe Bill, mas é a única escolha que você me deixou.

- Tom, não, por favor...

-Do que esta reclamando Bill?! Agora você vai ter uma casa só sua, um carro na garagem, e eu lhe mandarei dinheiro todo mês! Você não tem do que se queixar.

- Nada disso importa, eu não vou ter você. E isso é o que realmente me interessa.

-Desculpe Bill, mas eu tenho que fazer isso.É o melhor a ser feito. O melhor para mim e para você. Prometa-me uma coisa?

-Claro.

- Prometa nunca mais pensar e se lembrar de mim. Eu não lhe mereço, você é demais para mim. Quem saiba você fosse realmente um anjo, e essa seria a explicação pela atração que você exala. É por isso que estou partindo, não posso viver ao seu lado. Porque não sei controlar esse meu amor. Então, por favor, jure não tentar me impedir.

- Eu não posso prometer isso. Não sou capaz de fazer isso.

-Por favor Bill. Estou lhe implorando, eu só lhe farei mal.

- Você estará me ferindo se ir embora.

-Estarei lhe ferindo ainda mais se ficar.

- Não Tom.

-Eu sei o quão capaz eu sou de destruir o coração de alguém. Convivi comigo mesmo e com toda a dor que eu causo.

-Agora acho que também sei o quão capaz você é.

-Então, jure me esquecer.

- Não posso...

-Por mim, se me amas, jure me esquecer, jure fazer o bem a si mesmo, fingindo que nunca me conheceu.

- Isso está fora do meu alcance, e você sabe disso.

-Então, se for possível, apenas conviva com essa dor. Mas nunca se esqueça que alguém realmente lhe amou. E que esse alguém se chama: Tom Kaulitz.

Selou novamente nossos lábios, seu ultimo toque antes de se virar e sair pela porta.

Não pude o impedir, não tinha forças para mover um músculo sequer. Ouvi o motor de um dos carros, sendo ligado e depois se distanciando, até não poder mais ser ouvido. Apenas desabei no sofá e lá passei o resto do dia, chorando por fora e por dentro. Sentindo a sua falta, necessitando do seu amor. Se, me amava, por que não ficava? Ah, sim! Eu havia traído a sua confiança, havia traído a mim mesmo!