Tédio. É, acho que é isso é a única coisa que eu consigo sentir neste momento, nada mais. Já era a terceira vez que eu tentava fazer aquilo, porém, foi em vão. Sabe, acho que, na minha vida passada, fui uma pessoa muito maldosa e insuportável, é a única lógica para o ódio de todo o universo estar cravado em mim.

Tentei fechar meus olhos novamente e, quem sabe, dormir, o que seria algo praticamente impossível naquele recinto em que eu estava.

Escuro.

Havia acabado de fechar meus olhos e o escuro era minha única visão naquele momento.

Ainda com os olhos fechados, senti uma leve claridade. Tentei ver o que era aquilo que estava em minha direção. Atitude muito idiota essa minha, pois minha visão ainda não havia se acostumado com todo aquele clarão. Ainda assim, consegui ver – mesmo que de maneira embaçada – uma luz branca muito forte na minha frente. Achei que estava ficando cego. A única coisa que eu pude ver de relance, além da luz, foram dois olhos azuis me encarando e um sorriso sinistro.

Será que estes são mesmo os olhos da tão temida morte?, pensei.

— Sasuke? — uma voz rouca me chamou — Que cara é essa? Até parece que não me conhece.

Não tive mais dúvidas. Minha hora havia chegado e a própria morte estava falando comigo. Naquele pequeno instante eu pude confirmar que a voz da morte era masculina e, acreditem ou não, com um leve tom de ironia.

— Seria tolice perguntar se terei uma parada cardíaca ou o avião que irá cair, causando minha morte?

— Como é? Por acaso você bebeu antes de entrar no avião?

Aquela voz... Tão debochada e inconfundível. Admito, uma vontade sádica se apossou de mim e meu desejo era de fazer aquele ser deixar de existir. Incrivelmente, consegui controlar essa sede de sangue e, como nos clichês, contei até dez, tentando me acalmar. Olhei novamente para aquela pessoa e, com toda a minha boa educação, disse:

— Faça-me um favor, Naruto, apenas um – pedi para ele, vendo-o me olhar com uma feição curiosa. Eu continuei a falar. – Nunca mais diga “relaxe e aproveite o vôo”, quando formos viajar novamente.

— Por que está me dizendo isso agora? – ele me perguntou. Eu não conseguia acreditar que existia alguém tão cínico assim. – Você não aproveitou?

Ah, juro que, naquele momento, minha vontade foi de quebrar a janela do avião, jogá-lo lá fora – não importando de que maneira – e gritar “Relaxe e aproveite a queda”.