Se arrumou o mais rápido que pode, e saiu correndo, pra tentar chegar no horário na escola. Para o azar dela, o pai estava viajando à negócios e não teria como dar uma carona para ela, como normalmente fazia. Subiu no primeiro ônibus que passou, de tanta pressa que estava. "Ah, meu ônibus sempre é o que fica parado nesse lugar", pensou. Mas na verdade, era o ônibus errado, e ela acabou ficando muito mais longe da escola. O dia nem tinha começado e ela já estava pedindo pra que acabasse.

Mesmo correndo muito, ela só conseguiu chegar ao destino na hora do intervalo. Foi pro seu armário pegar os livros do dia, quando ouviu uma voz familiar:

- Eu sabia que você morava longe, mas pra você chegar a essas horas, só tendo voltado lá pro interior!!!

- BOM DIA pra você também, Liam...

William (ou Liam, como ele mesmo se apresentava) era o único amigo de Charlotte, a unica pessoa que ela não sentia uma vontade terrível de dar um soco. Desde quando tinha se mudado de cidade e se transferido de escola, Liam tinha sido a única pessoa naquele lugar que não tinha olhado torto pra ela. Talvez o ar meio caipira que ela tinha quando tinha se mudado pra lá tenha feito com que as pessoas se afastassem. Mas mesmo quando esse jeito de interior já tinha acabado, todos já tinham seu pré-julgamento e continuaram afastados dela.

- Ah, Charlotte, não te avisaram?

- O que?

- Sua turma não tem aula hoje.

- Por favor, me diga que é uma brincadeira de mal gosto... ¬¬

- Infelizmente não. Mas tenho algo pra te animar...

- O que?

- Tenho um presente. - Liam fuçou um pouco no armário dele e tirou de lá dentro um colar com uma grande pedra azul.

- Nossa Liam, que lindo! Mas porque você comprou isso pra mim, deve ter custado muito caro!

- Ah, não é nada, foi fácil arranjar o dinheiro. Só tive que vender minha TV e meu rim...

Depois dessa piada (infame, diga-se de passagem), o sinal tocou. Liam voltou pra sua sala e Charlotte ia voltar para sua casa. Mas, como desgraça pouca é bobagem, um garoto abriu o armário dele bem quando ela estava passando e ela deu de cara na porta. Diferente da batida que ela sofreu na hora que acordou, essa foi bem mais feia, fez um grande corte na testa e deixou ela meio perdida. Se arrastou até a enfermaria e ficou  lá um bom tempo. Quando saiu, já estava um pouco melhor, mas ainda meio zonza e com a testa toda enfaixada.

Depois de muito tempo, chegou em casa. Ela ficou deitada na sua cama o dia inteiro, vendo o tempo passar bem devagar. Quando anoiteceu, sua mãe chegou em casa do trabalho. E se Charlotte já tinha achado o dia dela horrível, a falação de sua mãe era a cereja podre no topo desse bolo:

- Menina, você não faz nada da vida! Você nem teve aula hoje e não fez nada aqui em casa! Saiba que quando eu tinha sua idade eu já trabalha, e depois ainda arrumava a casa inteira sozinha!!!

Pronto, estava completo: o dia agora entrava oficialmente pra seleta lista dos "piores dias dos últimos tempos". A única coisa que salvava o dai era o lindo colar que Liam tinha lhe dado. Se jogou na sua cama na esperança de dormir de uma vez e ver se conseguia enfim saber o final de um sonho. Antes de cair no sono, desejou muito ter nascido em uma outra época ou até em outra dimensão diferente, só pra saber se todo o que acontecia seria diferente. Mas tinha uma coisa pela qual ela não esperava: de vez em quando, nossos desejos são atendidos.