Silêncio do Olhar escrita por Dumpling
- Serena? És mesmo tu?
A voz dos meus sonhos…
O único olhar que eu lembrava do passado.
Agora tudo fazia sentido… E tudo corria na minha cabeça bem rápido…
- Desculpa… Darien?
Largou uma pasta que trazia na mão e abraçou-me. Caloroso, um porte forte e poderoso rodeava me e quase me levava com os braços ao ar.
Era, sem dúvida, a voz… que não assombrava, pelo contrário, fazia-me ter esperança de me lembrar de algo…
E quando largou do abraço vi as lágrimas dele escorrerem lhe da face, caindo levemente na minha mão.
Pensei em poucos segundos como pude nem o lembrar, como era possível esquecê-lo? Não sei… mas aconteceu…
Estava ofegante por lembrá-lo tão de repente… E logo vieram todas as imagens mas uma principalmente: ele dera-me um anel quando eu tinha 16 anos, como promessa de casamento… e a seguir fui seguida na rua e violada… e então decidi evitá-lo… não lhe contar a verdade… e fugir com o bebé que carregava na barriga, para Cambridge… e hoje… de novo, com ele.
- Darien… eu… eu… desculpa-me. – E voltei ao abraço. – Não me lembrava e ti.
- Eu sei que não foi fácil melhorares… depois de tanto tempo deixei de ter contacto contigo… e agora estás aqui.
Continuava a ver as lágrimas caindo suavemente na sua face, dos olhos azuis-escuros mas maravilhosos, pelas bochechas com a barba curta negra como os seus cabelos, até ao seu pescoço, acabando na bata branca que usava.
E então olhou-me, com calma, deu uma festa na minha cara com as costas da mão e abriu o sorriso mais lindo que jamais havia visto.
- Mas eu sei que não vieste só…
Baixei a cabeça e lembrei-me do Seiya… depois daquele tempo onde mais nada existia senão eu e o meu amor do passado.
E apercebi-me… Ele devia ter seguido a sua vida, eu própria segui a minha.
O medo que o Seiya me dava era maior e se eu chegasse tarde a casa as perguntas iriam inundar a minha cabeça.
E o Darien…
O Darien…
Estava ali, mas com um olhar triste. Eu não podia interferir no seu presente, se eu fazia parte do passado…
Saí de cima da maca que já me incomodava, tirei a bata, calcei os sapatos tudo sob o olhar dele e saí.
Chamei a minha mãe.
- Que se passa querida?
- Nada mãe. - Ouvi então uma porta a abrir – Vamos embora.
E ouvi-o, antes de sair da porta da sala de espera já mais cheia do que antes.
- Rena…volta.
Mas não voltei e saí quase que a correr, entrei no elevador e vi o Darien antes da larga porta se fechar. Chorava… imenso. E a minha mãe perguntava-me o que se passava, e eu não disse mais nada senão "Já te digo no carro."
Quando cheguei ao carro, esperei que a minha mãe se sentasse e quando ia a entrar no lugar do condutor, ele segurou-me na mão, ofegante.
- Rena… por favor o que se passa?
- Nada. – Disse-lhe inquieta. – Volta ao teu trabalho, tens lá muita gente.
- Estás a pensar que segui a minha vida?
Aí levantei a cabeça e olhei-o nos olhos. Parecia adivinhar-me os pensamentos…
- Não Darien. Só tenho de ir. – E realmente tinha… por esta hora, o Seiya já me devia esperar em casa.
- Volta Rena. Ok?
Larguei-me da mão dele e entrei no carro, começando a conduzir.
Continuava surpreendida e algo tenebrosa dos sentimentos que tinham vindo à tona na minha cabeça.
Fui desperta pela voz da minha mãe.
- A culpa foi minha Serena… - Olhei-a, parando o carro perto de casa dela. – Eu sabia que te podias lembrar dele, mas ele como veio de Cambridge meses antes de casares… pensei que o tivesses negado, só te levei ali pelo que te disse. Preocupa-me que não tenhas um bebé… queria saber porquê só isso… tu saíste daqui grávida Sere…
E aí lembrei-me dos olhos azuis numa manhã, no hospital em Cambridge… do anel que tinha no dedo…
Céus… todas as lembranças vinham tão de repente…E só disso me sentia tão cansada.
- Como… mãe… como é que só lembrei isso agora?
- Querida. – E aí ela retirou o cinto e aconchegou-se no banco, me dando a mão. – Estiveste com amnésia, só vieste para o lugar onde podias lembrar tudo anos depois… é normal… e eu agi muito mal ao levar-te ao Darien… pensei que seria uma agradável surpresa, ele disse, depois de vir de Cambridge que não o querias mas continuavam amigos…
Lágrimas, ainda mais lágrimas, caiam…
- Não me lembrava dele mãe… Mas tu não fizeste mal… quem sabe, foi melhor assim, contigo ao meu lado. E ao menos lembrei de que o passado não pode interferir com o presente – Olhei a minha aliança e sorri para ela. – E eu não tenho direito de interferir com o dele… e eu estou bem. Eu hei-de ficar bem… afinal, o amor do Darien é passado.
- Nem tu tens certeza do que dizes Serena. – Ela sorriu afagando-me a mão. – Pensa se realmente és mais feliz no presente do que alguma vez foste no passado querida. Uma mãe sente, sabias?
- Sei mãe mas eu sei que estou bem… Tenho o Seiya.
Ela abriu a porta do carro, saiu.
Quando ia a entrar e eu ia ligar o carro, ela voltou atrás e veio à janela do carro que abri de imediato.
- Tens a certeza que és feliz? Sabes o quanto isso importa para mim agora principalmente que te tenho a meu lado?
Coloquei os óculos escuros, olhei para ela e sorri. Dando-lhe um beijo na mão.
- Sou, porque tenho uma mãe maravilhosa. Amo-te muito mãe.
Então, apertou-me a mão fortemente e depois agarrou-a com as duas mãos.
- Nem sabes o bom que é ouvir isso filha. Mas pensa no que te disse.
Quando cheguei a casa o Seiya estava sentado na larga mesa da sala, escrevendo numa data de papéis.
Não desviou o olhar deles por um segundo, e então cheguei perto dele, beijando-o na face.
Desviei-me até o sentir pegar no meu pulso com força.
- Onde estiveste Serena?
- Com a minha mãe Seiya… - Senti o pulso doer e tentei tirá-lo da mão forte dele, em vão. – Estás a magoar-me.
- E vou magoar mais se não fores sincera! – Levantou-se e fez-me sentar na cadeira onde ele estava anteriormente, não me largando o pulso. – ONDE ESTIVESTE?
- Já te disse… com a minha mãe, fomos almoçar juntas, ela veio cá de manhã… Seiya por favor…
Largou-me o pulso então, pontapeou a cadeira onde eu estava e fez-me cair no chão.
Vi-o mover-se, e tentei-me levantar. Mas ele chegou logo perto de mim, pegando nos meus ombros e agitando-me, tinha uma folha na mão.
- O que é isto então?
Olhou-me e começou a ler a folha em voz alta.
- "Querida Serena, sabemos que chegaste. Sentimos muito a tua falta, e precisamos de falar contigo urgentemente. Quando puderes, dirige-te ao templo Hikawa. Um beijo, Mina."
Desconheci a carta… e olhei receosa o Seiya.
- Vais continuar a dizer que saíste com a tua mãe?
- Seiya… - Baixei a cabeça não o querendo mais olhar. – Eu não li sequer essa carta… Juro-te! Não tinha necessidade em mentir-te.
Vi-o então levantar-se, e virar-me as costas. Sentei-me no chão com os cotovelos ainda apoiados.
- VAI JÁ PARA O QUARTO ANTES QUE EU ME PASSE MAIS SERENA! JÁ!
E fui… não aguentava mais uma sessão de tortura psicológica.
Deitei-me e logo adormeci entre lágrimas.
Acordei sentindo uma mão no meu ombro.
Olhei o relógio e já era quase meia-noite.
- Falei com a tua mãe. – Disse-me, sentando-se ao meu lado. – Foste com ela, desculpa ter duvidado de ti. Mas pelo menos podias ter ligado.
- Desculpa.
Senti as lágrimas escorrerem novamente.
- Eu estava a pensar Serena… E nós estamos numa altura boa para tentar formar uma família… não achas?
Fitei-o, estava com um ar calmo. Eu não entendia o que lhe tinha dado mas nem queria pensar muito…
- Seiya sabes que tenho medo de tentar… tudo o que aconteceu não nos favorece.
- Se não tentarmos, não podemos saber.
E começou a beijar-me e a despir-me…
Não lhe dei para trás. Afinal era meu marido… Então continuei, o beijando também e aos poucos, a senti-lo dentro de mim, sem forças, mas sim com muita troca de beijos e de olhares…
A manhã chegou, anunciando um dia quente em fim de Julho.
- Bom dia.
O Seiya despertou sorrindo e beijando-me carinhosamente, como há muito tempo não fazia.
E a minha cabeça estava cada vez mais confusa… mais sem entender as atitudes algo "bipolares" dele.
Saiu para o trabalho e fechou a porta da frente e a da cozinha à chave.
Tirou todas as chaves de casa do sítio habitual deixando-me, assim, trancada em casa. Mesmo que saísse pela janela, de certo que ele tinha fechado todos os portões a 7 chaves.
Pior maneira de aproveitar um dia quente…
Sentia-me um animal enjaulado. Eu nunca o traí, nunca lhe tinha faltado ao respeito, e em troca nem a confiança dele tinha.
Sentei-me na sala a ver um filme, ligando o ar-condicionado e estendendo as pernas em repouso. Mas não conseguia prestar atenção alguma ao filme, só pensava no dia de ontem.
Afinal… se a minha mãe sabia que o Darien era meu ex… Queria mesmo que eu visse um amigo, ou tinha mais alguma intenção?
Pois ela viu que eu não estava assim tão feliz com o Seiya…
Acordei de repente dos meus pensamentos com o som da campainha… mas não podia atender – para além de estar PROÍBIDA a isso, o Seiya tinha fechado tudo.
E ali tinha de continuar… a ouvir aquele som irritante constantemente.
Até que depois de um pouco… desistiram.
*Rey*
- Não atende… Novamente… - A Amy disse-me algo preocupada com o meu estado.
- Vamos então para o templo. Há-de haver uma maneira.
E íamos as 5, a remoer no assunto.
Já era a 4ª vez que tentávamos falar com a Serena, e nunca a apanhávamos em casa… e nem a carta resolveu nada.
No caminho, que fazíamos a pé num dia de calor intenso, tive de novo a visão que há muito me atormentava… E senti-me sem forças para continuar.
Quando acordei, tinha os 4 olhares em mim visivelmente tristes.
- Como te sentes? – Perguntou-me a Mina.
- Bem…
Estava no hospital, ao olhar para aquelas paredes e aquele ambiente percebi.
A visão do futuro negro perturbava-me novamente.
Vi então o Darien chegar.
- Outra vez as visões?
E percebi… era o momento da verdade nua e crua… e podia doer, mas tinha de ser assim.
- Meninas. – Olharam todas para mim ajudando-me a sentar na cama. – Preciso de falar a sós com o Darien… pode ser?
- Claro Rey.
- O que se passa?
- Darien… nunca tive de ser mais sincera que agora… perdoa-me mas vou ter de te contar as minhas visões… tenho mentido às meninas, mas a ti não posso continuar a mentir… pois tudo depende de ti.
Continua
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