Silêncio do Olhar escrita por Dumpling


Capítulo 7
O Despertar de Novas Emoções




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Quantas vezes desejei ter uma vida diferente…

Talvez andar como todas as mulheres na rua que vislumbram de vestido até meio da coxa, ou saltos-altos que lhes fazem as pernas longas e vistosas a todos os que passam… ter lábios sempre vermelhos e, principalmente, sempre felizes de quem vive a vida perfeita e despreocupada.

Eu nunca poderei.

E tudo o que vejo é através da janela desta enorme casa localizada no Inferno com vista especial para o Paraíso.

Quando perguntei ao Seiya se podia ver os meus pais, na semana em que chegámos, ele só soube dizer "Só vais se eu for". E, três semanas após esta infernal chegada, prometeu-me pela manhã antes de sair, que iríamos lá nessa fatídica noite de terça-feira.

Mas assim que a trovoada chegou, também a porta se abriu o trazendo, bêbedo como sempre… E com a sua disposição, mantive-me calada, quieta, num choro interior bem silencioso, que ninguém conseguia arrancar do meu peito.

Acordou, no dia seguinte e, quando me viu, eu estava no mesmo lugar com o vestido que havia comprado especialmente para rever os meus pais. Mantive-me encolhida com a cabeça em repouso nos joelhos, um pouco dorida por manter a mesma posição toda noite, não tinha dormido, de tanto pensar…

Ele olhou-me com o seu olhar sossegado, chegou lentamente perto de mim, sentando-se ao meu lado e pousando a mão direita sobre as minhas mãos.

- O que se passa? – Perguntou, levantando a mão do meu colo e colocando-a na minha face obrigando-me a olhá-lo.

- Nada – Respondi, algo amedrontada.

- Nada não é de certeza, eu conheço-te Serena.

Será? Conhecia ele mesmo? Nada sabia do meu passado… mesmo eu não sabia quanto mais ele…

Mantive-me no silêncio igual ao anterior, com algum receio.

- Sere? Que se passa? – Olhou-me calmo.

- Nada Seiya, nada…

- Perdoa-me. – Suspirou – Sei que te prometi algo que acabei por não cumprir.

Ele lembrou-se… E foi isso que me meteu na face uma expressão de admirada.

- Não tem mal, já passou.

- Para mim não. – Levantou-se e esticou a mão na minha direcção. – Anda, é Sábado, vamos lá amor.

Olhei-o, quieta, sem perceber bem se o que dizia era possível – eu sabia bem o homem que ele era.

- Vá! – Agarrou as minhas mãos com a dele que antes me havia esticado, de seguida puxou-me o que me fez tropeçar. E quase caí, se ele não me tivesse pegado logo.

Com o susto, ainda nos braços dele, comecei a rir.

- De que ris paixão? – Olhou-me, algo confuso. – Vamos.

Chegámos a uma casa embora pequena, decorada com um belo jardim harmonioso com flores de várias cores, familiares aos meus olhos. Estava a ser levada pelo braço do Seiya.

Tocámos à campainha e logo de seguida ouvimos alguém dizer "Já vou".

Contorci-me um pouco, ajeitei de novo o cabelo que teimava em ir para os meus olhos e o cinto do vestido.

E quando ouvi o sim da porta a abrir vi a minha mãe que logo me olhou boquiaberta e com um brilhante olhar.

Abraçou-me, gritando o meu nome com muita felicidade.

- Filha… oh meu amor! Como tu estás… Deixa-me olhar bem para ti… Oh minha querida Rena.

De repente, parecia ter parado no tempo… Aquele nome soava-me familiar, mas na voz de um homem… Rena…

Acordei dos meus pensamentos e voltei ao abraço caloroso da minha mãe, com lágrimas na face…

- Oh mãe… Que saudade! Desculpa-me mãe…

- E eu minha querida… - Olhou para Seiya afastando-se um pouco do abraço – Apresenta-me então o jovem…

- Claro mãe! – Peguei na mão dele – Este é o meu marido, Seiya Kou.

- Prazer Senhorita Tsukino. – Estendeu a mão.

- Prazer o meu…genro. – A minha mãe esboçou um sorriso para mim. – Bem, entrem, não vos quero aqui na rua a passar frio.

Entrámos e o aroma era-me tão chegado ao coração… a decoração continuava igual fora uns extras. Até que me chegou ao nariz um cheirinho agradável…

- Hum… mãe, cheira bem! O que estás a fazer?

- Oh meu amor! – Riu alto e olhou o Seiya piscando o olho – Continuas a mesma faminta de sempre! É um bolinho de chocolate. Queres uma grande fatia?

- Ah… - A minha aceitação foi logo interrompida pelo Seiya.

- Dona Tsukino, nós viemos para almoçar com a senhora, gostaria de ter a honra de a levar a um restaurante famoso pela música de violino bem calma, e pela maravilhosa comida. Depois então a Sere poderá comer o seu bolinho, fome nunca lhe falta.

E assim fomos. Realmente a um restaurante luxuosíssimo… Eu parecia simplesmente "um burro a olhar para um palácio". O namorado da minha mãe também nos acompanhou, alguém de quem eu tinha poucas memórias mas de certo uma boa companhia para ela, pelo menos ela ria muito com ele.

Uma ligeira dor de cabeça, como um "flash" passou na minha cabeça e fez-me cambalear um pouco.

- O que se passa amor? – Seiya olhou-me preocupado enquanto a minha mãe se sentava.

- Nada… nada…

Logo o empregado veio com os menus e a lista não tinha fim… E na minha cabeça aquela memória repentina parecia não querer desaparecer…

Entre muita conversa e muitos sorrisos partilhados, para além dos pratos cheios de comida que eu devorava facilmente, o diálogo ia fluindo, mas nenhuma culpa a minha mãe me atribuía sobre o meu desaparecimento. Mas logo a pergunta mais temida chegava…

- Então meus queridos, e para quando um netinho? – A minha mãe sorriu para mim mas a minha expressão desapareceu.

- Um netinho… - O Seiya começou sorrindo. – Está para breve com certeza. Temos estado só a organizar a nossa vida melhor, afinal chegámos recentemente.

- Então apressem-se meninos. – O meu padrasto sorriu. – A tua irmã já vai no terceiro.

Olhei-o sem saber se rir, se chorar. A Shiloh… tinha sido das primeiras que eu recordava… Quando eu partira, ela estava a estudar e agora já ia no terceiro filho?

- A sério? – Sorri – Bem… Tenho de falar com ela então, visto que já tenho sobrinhos e não sabia.

- Ora querida, tens de a visitar… - a minha mãe pegou a minha mão afagando-a – Ela e o Matt, lembraste dele? Estão muito felizes juntos… vivem agora na Finlândia, e a bebé que vai nascer é uma menina, e vai ter o teu nome minha querida.

- Que bom… qualquer dia têm a casa cheia.

- É verdade minha querida… - Largou a minha mão bebendo um pouco de água. – Por isso quero ter netinhos da tua parte também!

Era difícil… e colocar um sorriso falso para a minha mãe ainda mais…

Depois de ter perdido o bebé, eu e o Seiya sabíamos que era um risco, pois o aborto foi complicado principalmente porque arriscou o meu futuro como "mamã de família". Sinceramente, não me imaginava ser mãe, com um marido assim…

Era dar ao mundo uma criança infeliz…

Após um jantar maravilhoso, começámos a ouvir o som de um piano e de um violino. Observei a doce melodia vinda de duas formidáveis mulheres.

Ao pararem a primeira música, ambas pareciam bastante fixadas em mim, não desviando o olhar nem por um segundo.

O Seiya tinha ido pedir bebidas para todos e eu fiquei ali no meio da multidão.

Até que as observei a virem até mim algo apressadas. Ainda olhei para trás, para ver se realmente era em mim que fixavam o olhar e quando voltei de novo para a frente ali estavam elas.

- És a Serena Tsukino, certo? – A que anteriormente tocava piano, alta, vestida como um homem, de cabelo curto e loiro questionou.

- Ah… Quem é você? – Estava algo confusa com a repentina aparição das duas.

- Desculpa a falta de educação. Haruka Tenou, e esta é a Michiru Kaioh. – Olhei a outra, que tocara no violino, de cabelo azul-marinho, traços femininos acentuados e uma transmissão de calma formidável – Sei que não nos conheces… Não chegámos a poder conhecer-te… Mas mostraram-nos quem eras, as sailors… Lembras-te? A Rey, a Amy, a Lita e a Mina… elas falaram connosco… Para ficarmos a par de tudo.

Uma nova confusão na minha cabeça me fez quase cair… sailors… E aqueles nomes…

Mas fui logo interceptada de falar ao ver Seiya ao meu lado.

- O que se passa querida?

- Nada… Desculpem mas eu não sei quem são nem do que falam…

- Serena… precisamos que saibas algumas coisas importantes… nada sobre lutas, pois essas já tiveram fim… mas do teu futuro… estás em risco.

- Quem são vocês e que direito têm de falar assim com a minha mulher? – O Seiya gritou, quase batendo em Haruka. – Sejam quem forem, não estão na melhor altura. Com licença.

E virámo-nos. Até eu sentir uma mão no meu pulso o que me fez virar novamente, desta vez, para a outra mulher.

- Serena, nós não queremos o teu mal… quando te sentires à vontade, vem falar connosco ao Templo Hikawa. Por favor…

E voltei-me novamente em direcção à mesa. Confusa pelo que se tinha acabado de passar…

Sentei-me tentando esquecer e continuar a conversa com a minha mãe.

E a noite continuou assim sendo agradável… até chegar a casa.

Deitei-me depois de um longo banho, ao lado de Seiya que mexia freneticamente nas teclas do computador.

Dei-lhe um beijo e virei-me para o lado.

- Quem eram aquelas? – Perguntou quando eu quase adormecia e olhei-o.

- Não sei amor… Vieram falar comigo depois de olharem para mim mas eu não as conhecia.

- Vou tentar acreditar…

- Sabes que cheguei recentemente… - voltei a olhá-lo – Parece que ouviram falar de mim depois de eu ter ido para Cambridge… mas nem as lembrei.

- Ok Serena… tu é que sabes. – Olhou-me desafiador. – Só quero sinceridade, sou teu marido… mereço isso.

- Eu sei Seiya, mas não te estou a esconder nada!

- Ok bebé. – Fechou o computador e pousou-o na mesa-de-cabeceira – Dorme bem.

- Tu também. – Em seguida, beijou-me e deitou-se agarrando-me pelas costas.

Acordei com o som da porta, a campainha que insistia em fazer o som irritante. O Seiya já ali não estava… já tinha ido trabalhar…

Abri a porta e vi a minha mãe.

- Rena… ainda em pijama? Já é meio-dia, vá… vai-te vestir pois eu estou preocupada contigo.

- Mãe? Preocupada com quê? – Respondi-lhe ensonada enquanto me desviava da porta para ela entrar.

- Filha, eu entreguei-te a este mundo… e sei conhecer quando estás mal e quando estás bem.

Não percebi porque ela dizia aquilo assim mas uma vaga ideia vinha à minha cabeça…

- Tens de ir ao médico Rena. Vamos almoçar e depois já tens consulta marcada.

A minha mãe corria na larga escadaria à minha frente em direcção ao meu quarto, meio perdida por não conhecer a casa.

- Ma-mas mãe…O Seiya é médico e porque havia eu de ir?

- É só uma consulta com um excelente médico… Não duvido que o teu marido o seja, mas no que toca ao assunto de terem um filho nem um, nem outro foi sincero e tu sabes isso.

- Mãe não preciso de nada disso. – Ela continuava em revirar o guarda fato, realmente eu em teimosia só podia sair a ela!

Olhava-me séria enquanto colocava sobre a cama um vestido rosa e branco.

Vesti-me sem contestar… nem mais um pouco.

Fomos almoçar bem animadas… estar com a minha mãe de novo era um sentimento lindo no meu coração… Eu amava-a muito de facto.

Perguntei-lhe porque iria eu ao médico… e ela respondeu-me que sabia da minha gravidez aos 16. E que pelas caras, e a falta do bebé, algo tinha corrido mal e continuava assim…

De facto, era verdade… Após o aborto não era fácil vir a ter um bebé agora… e não era apenas o facto de eu e o Seiya estarmos a organizar a vida… mas o medo, também existia…

E amor de mãe… percebe isso.

Chegadas ao consultório, com uma larga sala cheia de gente, fui chamada depois de uns 10 minutos, pelo nome da minha mãe – ela marcou em nome dela.

Uma enfermeira dirigiu-me para uma sala cheia de quadros e com um painel de cortiça cheio de desenhos feitos por crianças.

Mandou-me vestir uma bata e deitar-me numa maca bem desconfortável e ali fiquei deitada por uns 20 minutos…

O cheiro daquela sala era-me algo familiar mas porquê… eu não sabia.

Sentei-me já um pouco dorida de 20 minutos deitada e ouvi a porta abrir.

- Serena?

Voltei-me para o lugar de onde vinha a voz – a mesma dos meus sonhos – e vi, depois de muito tempo… aquele azul misterioso.


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Notas finais do capítulo

Esta fanfic já está quase terminada.
Porém, não a postei aqui desde o início. Agora vem uma rajada de capítulos.
Não ando animada para o fazer pelo simples motivo de não receber muito feedback. Aos poucos apercebo-me que de nada vale postar porque só estou a escrever para mim mesma.
Ainda tenho vontade de escrever, mas isto não é animador e, com isso... bem... apesar de ter outra fic, tenho de pensar bem se a voltarei a postar.
Para quem lê, muito obrigada.



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