Silêncio do Olhar escrita por Dumpling


Capítulo 16
A forma do meu coração




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- Nada demais, apenas a avisar-te.

Medo, tanto medo. Eu odiava alturas, desde o acidente, ganhara um pânico irracional até por escadas. Pior é que ele sabia, era um dos meus pontos fracos e ele estava a usá-lo como forma de vingança.

- Seiya, por favor. – Chorava tanto e ele sorria tão satírica e maldosamente.

Fingiu largar-me por segundos e o meu grito foi tão intenso que muito provavelmente o assustou e deixou-me cair…Seria impossível sentir o que quer que fosse. A sensação de adejar por uma varanda não era de liberdade mas sim de horror, julgara-o mal. Pensava ser impossível ele fazer algo assim.

* Darien *

Ainda não me queria crer bem na tarde que tinha passado e não parava de pensar nela, em como estaria e o medo que devia sentir depois de tanta surpresa no templo. Mas aquela tinha sido a última surpresa e a mais repentina de todas.

» Flashback «

É este mesmo. Ouvia aquele grupo aproximar-se de mim, com objectos na mão que com o escuro e a falta de iluminação urbana me fazia não conseguir entender. Aproximando-me, apercebi-me que eram armas, e o mais alto do grupo apontava uma para mim.

Foi ai que apareceu um homem na minha frente, que pelo escuro da noite não identifiquei rapidamente. Colocava a mão entre o meu peito e a arma. Então o loiro, ao lado do mais alto, voltava-se para trás para o resto do grupo.

- Ei, são dois! Afinal qual deles é?

Era Endymion, mas de roupas informais, naturalmente não o reconheceria assim, apesar de parecer mais estar a ver as minhas costas no espelho.

- Sou eu, - disse ele virando-se a seguir para mim e sussurrando – alinha comigo.

E assim fiz, entrei no jogo conduzido por aquele que não estava presente, repetindo a mesma frase quatro vezes até arranjar coragem.

- Não, sou eu. Foi o Seiya que vos mandou até aqui?

- Aqui quem faz as perguntas somos nós – respondia o loiro junto do mais alto – e agora parem de brincar e digam qual de vocês é o Darien, senão disparamos contra os dois.

Até num segundo ouvirmos sirenes da polícia e num instante começaram a correr. Olhei para o meu apartamento e três pessoas estavam nas varandas, a da casa abaixo da minha, apontava para o telefone e sorria…

» Fim do Flashback «

…Eu não. Preferia ter lutado e mostrado que era capaz de defende-la, apesar de imaginar que ela o sabia, naquele momento eu sentia-me inútil. Ele jogara baixo, sem escrúpulos e ali tinha começado a guerra, mas na próxima ele não ia esconder-se, mas sim ter-me na frente dele sem outros actores a intervir numa batalha desta vez entre humanos e não youmas.

.

He deals the cards as a meditation
And those he plays never suspect
He doesn't play for the money he wins
He doesn't play for the respect
He deals the cards to find the answer
The sacred geometry of chance
The hidden law of probable outcome
The numbers lead a dance

I know that the spades are the swords of a soldier
I know that the clubs are weapons of war
I know that diamonds mean money for this art
But that's not the shape of my heart

He may play the jack of diamonds
He may lay the queen of spades
He may conceal a king in his hand
While the memory of it fades

I know that the spades are the swords of a soldier
I know that the clubs are weapons of war
I know that diamonds mean money for this art
But that's not the shape of my heart
That's not the shape, the shape of my heart

And if I told you that I loved you
You'd maybe think there's something wrong
I'm not a man of too many faces
The mask I wear is one
Those who speak know nothing
And find out to their cost
Like those who curse their luck in too many places
And those who fear are lost

I know that the spades are the swords of a soldier
I know that the clubs are weapons of war
I know that diamonds mean money for this art
But that's not the shape of my heart
That's not the shape of my heart

* Serena *

Calculava sentir o chão. Errei. Senti um colo acolher-me como asas em minha volta, acolhedoras, afastavam o medo em meu redor.

Um homem com uma máscara nos olhos que me parecia familiar pegou-me, pousou-me e antes de eu puder dizer o que quer que fosse, fugiu. Os seus olhos pareciam os de Darien, mas tinha certas dúvidas que o fossem, idênticos talvez… a sua aura era diferente.

Fiquei sem força nas pernas pelo susto e sentei-me no chão. Ele chegava então apressado e olhava para mim como se não tivesse sido culpa dele, cuidadoso, pegava-me, sem trocar nenhuma palavra.

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Um mês se tinha passado desde o meu incidente com o Seiya. Incrivelmente, deve ter bastado para o assustar pois, desde aí, ele não me tentara agredir, pelo contrário, mostrava-se cada dia mais carinhoso e nunca tinha estado tanto tempo sem me tocar maliciosamente.

Também desde aí que não via o Darien. Apesar de em várias noites me parecer ouvi-lo perto do meu ouvido como um sussurro, não passava de um sonho. Pensava muitas vezes também ouvir a sua voz e os seus passos em casa, mas era tudo loucura na minha mente, confusão incessante e que me magoava intensamente, não feria o corpo mas pesava tanto o coração…

O Seiya aprovou que fosse trabalhar no local onde me aceitaram, um Jardim Escola novo em Tóquio. Iria iniciar no mesmo dia que os alunos e então, descobrir se era mesmo o que queria da minha vida para posteriormente poder cursar. Tinha sido um mês que passara rápido, entre Agosto e Setembro o Sol ia desvanecendo aos poucos, dando lugar a nuvens sombrias carregadas de chuva. Com elas, o meu olhar igualmente se ia acumulando esperança de um dia o poder voltar a ver.

Logo no dia que comecei, fui recebida da melhor maneira possível com sorrisos e cumprimentos calorosos. E logo depois com vozes que sussurravam mas que se faziam ouvir ainda assim. É a mulher do Dr. Kou; Mas ouvi dizer que ela há uns anos teve um caso com o Dr. Chiba; Soube que sofreu um acidente e há muito que tem amnésia. Tudo e mais um pouco era dito, mas eu preferia ignorar.

O bom era não só eu ser novidade, mas também a educadora da sala onde eu iria ficar a ajudar o ser. Assim, partilhávamos a ideia de que tínhamos de ignorar conversas exteriores, estávamos ali realmente pelas crianças e não pelos murmúrios. A professora Yume Tanaka já tinha perto da idade da minha mãe, e no mesmo dia fizemos amizade, falámos da nossa vida, e inclusive aconselhou-me a não desistir do sonho de ser educadora se era realmente o que eu queria.

Enfim, adaptei-me às crianças e estava feliz ali. Apercebi-me no mesmo dia que até àquele momento tinha tido falta de pessoas à minha volta, e era muito melhor quando estava rodeada de gente… Notei a solidão em que tinha vivido até agora. Fechada a sete chaves como uma prisioneira.

Cheguei a casa e falei do meu dia normalmente com o Seiya. Ali sim, naquele momento, começámos a parecer uma família vulgar, tinha lutado e ainda mais sofrido até chegar ao ponto da normalidade… Ainda assim, sentia a necessidade de me conhecer por completo. Queria recuperar a minha memória e sabia que no meio daquela normalidade não iria conseguir mas sim no meio daqueles com quem tinha estado há anos atrás, com quem tinha vivido a realidade e a felicidade.

* Darien *

Tinha a Rey na minha frente, séria, sentada e de braços cruzados, tinha um ar pesado de preocupação. Arregalava os olhos e tentava falar pela décima sexta vez desde que ali tinha chegado, sentado e dito Tenho de te dizer o que tenho encarado de uma vez por todas, mas nada. Parecia procurar pontos da casa para se concentrar e arranjar coragem entre a respiração descontrolada. Lembrei então do que ela tinha dito há mais de um mês, que me tinha feito pensar sempre que queria arrombar a porta da casa da Serena: Ela é casada, aceita isso de uma vez! Não podes mantê-la em masmorras só para que nada lhe aconteça, e tu estás tão farto de saber que ela não é criança nenhuma… cresceu de uma maneira que ninguém esperava, física e mentalmente. Deixa-a seguir o rumo dela. Se esse rumo der a ti pois seja, ela irá ter contigo.

E foi o que fiz, ou pelo menos tentei. Dentro daquele mês, desde aquela noite, que eu a visitava noite sim e outra também. Quando batia na porta, ele abria e ameaçava-me. Mas não passava disso. Chegou mesmo a haver um dia que lhe levantei o punho e o vi, fraco, fechar os olhos. Então passei a fazer como antes, para não ter de ver aquele crápula… como quando lutava com as sailors, subi à árvore perto da varanda do seu quarto e observei-a a dormir e, em algumas vezes, cheguei a abrir lentamente a janela e a olhá-la de perto enquanto ela dormia profundamente.

- É difícil para mim Darien… - Rey finalmente começara mas logo tinha desistido de continuar.

- Rey, alguma vez vais ter que dizer. Coragem, já tiveste muito tempo em silêncio e se é algo tão grave como dizes…

- Eu sei – interrompeu-me com voz grave – e se continuar a anular pode ser tarde demais… por isso… - levantou-se e foi até à janela, provavelmente para não me olhar directamente – tenho tido uma séria premonição… está relacionado com a Serena, contigo e com o Seiya. Sinto nas minhas visões a morte… e não consigo identificar mais rostos além dos vossos. Depois disso comecei a sentir um ponto em que tudo irá começar: quando o vosso futuro, o Endymion e a Serenity, vierem até aqui, à Terra – arrepiei-me ao ouvi-la, Endymion já tinha chegado e dito que tinha de falar comigo – falar-vos do vosso futuro, que está em risco, da Chibiusa… Darien, desculpa falar-te nisto… Mas a Serena precisa de saber o passado dela para quando tudo acontecer ela estar preparada e, para isso, só tu te podes aproximar dela. A Luna diz que com o Cristal Prateado ela pode recuperar todas as memórias.

Mas também sabia o que ela podia sofrer ao saber a verdade. O que iria ela pensar ao lembrar-se de que eu tinha estado em Cambridge e não a tinha trazido para Tóquio e feito tudo como devia… Mas ele tinha dito que ela tinha fugido de Cambridge e não me queria ver mais.

- E se ela sofrer com a verdade?

- Preferes que ela se magoe ao saber ou que seja o que for a autêntica premonição se torne real? – Baixei os olhos ao ouvi-la, ela tinha razão. – É preferível que ela sofra ao saber que foi uma guerreira, que sofreu com a vida e que após a amnésia continuou a sofrer ao invés de ser feliz e que… vai ter uma filha… contigo. Não com ele...?

- Sei que não Rey. Mas e se ainda assim, o futuro se alterar, mesmo que eu fique com ela, o que acontece com a Chibiusa?

- Não sei Darien, mas é preferível que esteja contigo a estar com ele e continuar a sofrer mazelas, física e psicologicamente, não é bom para ela. Mesmo como guerreira… ela não ia aguentar tanta dor.

- Rey… - apesar de continuar a conversa, não conseguia tirar o mesmo da minha mente - O Endymion apareceu.

- O quê? – vi a sua face ficar pálida e levar as mãos à cabeça – Não pode ser. Então quer dizer que já é tarde…

- Não é tarde. – interrompi rapidamente - De certeza que não. Ele disse que tinha de falar comigo mas Rey, ela está perto, logo vai ser fácil num dia em que ele não esteja em casa.

Olhou para mim com a expressão séria e voltou a sentar-se no cadeirão em minha frente.

- Então amanhã vais agir. Nem que para isso eu e as meninas tenhamos de a parar, ela tem de recuperar a memória e afastar-se dele. Vou pedir o Cristal Prateado à Luna.

- Rey, calma. Quer dizer,… eu sei que não há muito tempo para ter calma. Mas se nem tu consegues identificar bem a tua premonição, como saber o que há a evitar? Como irá ela saber? Aliás, como irei eu mesmo saber?

- Pelo Endymion… De certeza que ele te há-de dizer algo sobre este assunto. Agora vou embora e espero que reflictas e te prepares. E… Darien – olhei-a de novo – não te preocupes, aposto que a Chibiusa vai ser feliz convosco.

Fosse ou não possível preparar-me, tinha de o fazer. Seria aquela premonição pior do que todas as outras anteriores sobre batalhas com seres não humanos? Afinal, era de corações verdadeiros e com sentimentos que estávamos a falar. Se o Seiya tinha ou não coração eu em todas as vezes duvidava, mas corria-lhe medo nas veias. Não temia fazer mal a uma mulher mas perante mim…

* Serena *

- Eu quero falar com ela!

- Já lhe disse para sair da minha casa.

Era Sábado, e dormia até mais tarde no mais merecido descanso da gritaria das crianças, mas acordara com outro tipo de berreiro. Do quarto ouvia uma mulher gritar à porta, enquanto o Seiya respondia, primeiro calmamente e aos poucos alterando a voz. A voz da mulher era-me desconhecida quando levantava a voz mas aos poucos me parecia mais familiar, era uma das raparigas daquele dia, Lita.

Até que ao fim de uns minutos ouvi a porta fechar e ouvir passos ruidosos pela escada. Abriu a porta repentinamente, com a face vermelha enfurecida e um cigarro na mão esquerda que levava à boca, isqueiro na mão direita que tremia constantemente tentando acender o cigarro, barafustava como se estivesse sozinho no quarto.

Sentei-me na cama a esperar o pior, sem dizer nada mirava-o nervoso como se perseguisse os seus próprios pés. Aos poucos aproximou-se, sentou-se na cama perto dos meus pés e olhou-me austero.

- Sinto-me obrigado a ter de sair desta casa… ou do pais num caso mais extremo – olhava-me então de soslaio – sabes que gosto do silêncio a que estava habituado em Cambridge, só nós dois e lá de vez em quando a minha mãe e os meus irmãos. Mas isto é demais. Sou médico, trabalho praticamente 24 horas por dia Serena, - começava então a levantar a voz – e quando tenho direito a um dia UM DIA de descanso tenho de aturar as tuas vozes do passado? – pegou-me no queixo com a mão fria ainda que tivesse terminado o cigarro – este é o último aviso Serena. Ou estas tuas amiguinhas e amiguinho se afastam de vez ou vejo-me obrigado a levar-te para Cambridge e deixar-te sofrer as consequências dos teus erros passados, ainda que não te lembres deles e que eu te proteja o máximo que tenho podido até agora, mas eu também te posso colocar em frente dele. Não tens sido a mulher que prometes-te ser, nem mesmo depois de eu te deixar trabalhar onde querias cumpriste os teus deveres enquanto esposa. Nem assim…

- Seiya, eu…

- Cala-te! – não conseguia deixar de derramar lágrimas após a sua ameaça – Engraçado como uma miúda de 16 anos escreve uma carta no qual chama um homem, pai do seu filho, para se encontrar com ela e que iria arrepender-se de alguma vez lhe ter tocado e lhe arruinado a vida, e um dia depois tem um acidente, e nem tu mesma sabes porque o fizeste, apenas sabes que te seguiu para Cambridge com uma primeira carta para assumir o filho. Isto tudo dito pelo irmão dele o qual não quiseste enfrentar, e eu feito palhaço ainda me meti na tua frente porque tu não te lembras de nada e é isto que recebo em troca?

- S-Seiya, eu já te respondi a isso… que…

- Que sabes que é impossível ter provocado o acidente, mas quanto à carta… Responde-me então, se tenho feito tudo o que posso por ti, mereço em troca segredos? Para vir aqui uma rapariga gritar e exigir falar contigo? – Começou a alterar o volume da voz e eu sabia que iria começar de novo…

No momento seguinte, só me lembro das dores, dos olhos e boca tapada, de não conseguir mover os braços e as pernas e voltar a desvanecer.

Continua…


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